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The Fall of the Stars : Capítulo 5 - Reforços Não Solicitados

  • Foto do escritor: AngelDark
    AngelDark
  • 27 de out.
  • 56 min de leitura

Volume 8: Desafio das Coroas

Parte 1

O foco muda para um laboratório sinistro, quilômetros abaixo da superfície. A sala fedia a produtos químicos e ozônio. Líquidos verdes borbulhavam em tubos enormes, e silhuetas humanas flutuavam dentro de alguns deles.

William Tricky estava reconectando uma série de cabos grossos a um gerador.

— Tsk... Nene e seus ataques de raiva. — ele murmurou para si mesmo. — Derreteu os cabos antigos. Como esperavam que eu ligasse o gerador de suporte da base?

Ele conectou o último fio. Com um zumbido profundo, o gerador ganhou vida. As luzes da sala piscaram e se acenderam, e William sentiu a energia fluindo para o resto da instalação. As luzes nos outros andares, uma por uma, começaram a se acender.

Primeiro, ele sentiu o abalo gigantesco. Segundos depois, uma onda de Éter sombrio e opressor varreu o local, vinda de cima.

— Hm. — William sorriu, o som das batalhas finalmente chegando até ali. Ele limpou as mãos no jaleco e começou a andar, sua moeda de 25 centavos brincando agilmente entre seus dedos.

Ele passou por um enorme contêiner de vidro, muito maior que os outros. Dentro dele, flutuando em uma solução pálida, estava Sophi.

Ela estava conectada a dezenas de tubos, que pareciam estar extraindo algo de dentro dela. Fios finos estavam conectados à sua cabeça, ligados a um monitor que acabou de se ligar com o retorno da energia. Barras de dados começaram a subir, mostrando que algo estava sendo extraído de sua mente.

William parou e encarou a garota.

— Quem diria... que uma brincadeira boba feita por Lidyan traria para nós um tesouro tão interessante.

Ele tocou o vidro frio. O som das bolhas borbulhando em outros tanques era o único ruído, até que foi interrompido.

Passos.

Eles eram calmos, deliberados.

— Quem está aí? — William perguntou, sem se virar.

A voz demorou a responder, mas finalmente chegou, baixa e fria, enquanto ele movia a cabeça em busca de uma explicação.

— É melhor parar por aí.

William parou, sua mão ainda no vidro.

— Eu estou tendo um péssimo dia — a voz continuou. — Então, aconselho a não virar e continuar seu caminho pelo outro lado. Se não... eu não irei me responsabilizar pelo que vai acontecer.

William sorriu, um sorriso genuíno e divertido.

— Essa é uma grande decisão. — Ele tirou a mão do vidro, ainda brincando com sua moeda. — E, pare decisões assim, eu costumo deixar nas mãos da sorte.

Ele jogou a moeda para o alto, observando-a girar.

No momento em que a moeda atingiu o auge de sua subida, antes mesmo de começar a cair, o tempo pareceu distorcer. Kai já havia se teleportado.

SHIIIING!

William nem teve tempo de registrar. Uma lâmina de katana surgiu em suas costas, atravessando seu peito em um jato de sangue.

A moeda caiu. William olhou para ela, pousada em sua mão aberta, encharcada de seu próprio sangue.

Coroa.

O modo sádico ativou. William começou a rir, um som borbulhante e maníaco.

— Hah... Hahaha! Que má sorte... para você!

Uma enorme nuvem de gás tóxico roxo explodiu de seu corpo. Sem saber o que era, Kai teleportou-se instantaneamente para o outro lado da sala, seus olhos sérios e focados, observando o inimigo.

— Ah, é você! — William gargalhou, agarrando o cabo da katana em seu peito, mas sem tentar puxá-la. O gás corrosivo sibilava ao redor da ferida. — Lidyan contou tudo sobre você! O clone patético que ela derrotou de forma humilhante! E agora você veio testar a sorte comigo? É hilário!

— É verdade. — A voz de Kai era fria, desprovida da raiva que William esperava. — Eu perdi de forma patética. Mas pode relaxar.

Kai abriu lentamente sua jaqueta preta.

— Eu não sou mais o mesmo de antes.

O interior da jaqueta estava forrado com um número enorme de lâminas e facas de arremesso.

William parou de rir. O sorriso sádico vacilou. Algo estava errado.

"Algo está errado" — ele pensou. — "De acordo com os dados de Lidyan, ele deveria ter ficado furioso e vindo para cima de forma desgovernada. E mais que isso... ela não disse que ele utilizava qualquer tipo de arma."

Kai ficou encarando o cientista, mas sua mente vagou por um segundo.



(Flashback)

Ele estava com as roupas rasgadas do hospital. Ele arrombou a porta do dormitório de Hakurei. Lá dentro, outro garoto de camisa havaiana o encarou, surpreso, e uma garota bebia algo perto da janela. Kai ignorou-os. Ele foi diretamente até Hakurei, que o observava com seus olhos heterocromáticos (vermelho e roxo), e o agarrou pelo colarinho.

— Muito bem, seu merda. Você vai ter o soldadinho que tanto deseja. Mas em troca... me torne mais forte. Agora mesmo.

Hakurei sorriu.

— Seja bem-vindo à Black Dragons.



(Fim do Flashback)

Kai puxou as lâminas de sua roupa em um movimento fluido e contínuo. Com uma velocidade incrível, seu corpo se tornou um borrão de saltos e giros, usando as paredes e os próprios tubos de vidro como plataformas. Ele jogou as lâminas por toda a sala. Elas se cravaram nas paredes, no teto, nos outros tubos de vidro, em ângulos aparentemente aleatórios.

— Hah! Ficou louco ou algo assim? — William zombou, observando o que parecia ser um desperdício de armas.

— Deve ser algo assim. — Kai respondeu, aterrissando em uma postura agachada. Ele estendeu a mão e, com um piscar de luz, finalmente teleportou a katana que havia usado para perfurar William de volta para sua mão. Ele imbuiu a lâmina com Éter, a borda brilhando com uma vermelha, e encarou seu inimigo.

A batalha começou. William, em seu modo sádico, era pura agressividade. Ele bateu o pé no chão e válvulas nos cantos da sala assobiaram, inundando o ar com um gás alucinógeno. Ele riu enquanto as paredes pareciam derreter, as luzes se distorcendo em cores doentias.

Kai começou a se teleportar. Ele aparecia e desaparecia desgovernadamente, sua forma se dissolvendo e reaparecendo em flashes, como um fantasma piscando pela sala. Ele se tornava um borrão de pós-imagens, atacando e recuando em um ritmo impossível. Mas William percebeu: ele não estava se teleportando ao acaso. Ele estava trocando de lugar com as lâminas que jogou. 

Kai apareceu no teto, pendurado de cabeça para baixo pela lâmina que havia cravado lá, e se impulsionou para baixo em um golpe mortal sobre William. William, rindo, nem se moveu; em vez disso, respondeu com uma rajada concentrada de gás neurotoxina de sua mão.

No meio da queda, Kai desapareceu no ar. A imagem de Kai foi substituída pela kunai que estava no teto, que caiu inofensivamente no chão, e no mesmo instante, Kai reapareceu do outro lado da sala, trocando de lugar com uma kunai cravada em um tubo atrás de William, já se impulsionando para o próximo ataque, e cortando William pelas costas.

William, frustrado com o jogo de gato e rato, rosnou enquanto rolava para frente saindo de perto dele. Ele ergueu a mão e criou uma zona de vácuo, sugando todo o ar com um whoomp silencioso, tirando o oxigênio da área em volta de Kai.

Kai, sentindo seus pulmões queimarem instantaneamente e a pressão tentando arrancar seus olhos das órbitas, não tentou trocar para uma lâmina distante. Ele cravou sua espada no chão. E trocou de lugar com a lâmina que havia caído do teto em seu lugar no último ataque que agora estava próxima de William.

Aparecendo colado às costas do cientista. Antes que William pudesse reagir, Kai agarrou seu jaleco com a mão livre e, em um segundo movimento, teleportou o cientista trocando ele de lugar com sua espada, bem no centro da zona de vácuo.

— Irritante! — William rosnou, reaparecendo do outro lado da sala, agarrando o próprio pescoço, seus olhos arregalados em pânico enquanto seus pulmões imploravam por ar. 

Ele foi forçado a reverter sua própria técnica, devolvendo o ar daquele local para poder respirar, caindo de joelhos e ofegante.

William estava sendo extremamente pressionado. O sádico não conseguia lidar com isso. A moeda em seu bolso pareceu vibrar. Sua personalidade mudou. Ele se endireitou, a postura maníaca e curvada dando lugar a uma presença ereta e militar. O sorriso maníaco desapareceu, substituído por uma expressão fria, pragmática e analítica. 

— Análise: habilidade de teleporte baseada em objetos marcados. Alto consumo de Éter. Alta mobilidade.

William mudou de tática. Ele não mais inundava a sala com gás; ele segurou uma pequena quantidade nas mãos. E usando uma magia fraca de fogo criou uma faísca para incendiar o gás, e com um whoosh controlado, criou uma lâmina de fogo azul denso em sua mão. Ele avançou, não mais como um animal, mas como um esgrimista, sua técnica agora precisa e mortal.

Kai foi forçado a recuar, a lâmina de sua katana encontrando o fogo químico. O ar sibilou. Ele desviou de um golpe de fogo preciso que visava seu pescoço. O calor fez o suor escorrer de sua testa, chamuscando suas sobrancelhas. William o pressionou, a lâmina de fogo azul cortando o ar em arcos metódicos e implacáveis, forçando Kai a usar sua agilidade física, saltando para trás, desviando, aparando. Em um desses desvios, Kai rolou para perto, quase se queimando, e usou o movimento para lançar algo baixo, na direção das pernas de William, um movimento perdido no calor da lâmina de fogo.

E então Kai desapareceu.

William parou, sua lâmina de fogo ainda vibrando. Ele estava em uma postura de guarda perfeita. Seus olhos frios escanearam a sala, procurando as lâminas cravadas nas paredes, calculando as prováveis trajetórias de ataque. Mas ele não sentiu nada vindo das paredes. Ele sentiu um puxão estranho, uma súbita distorção no ar atrás dele.

Kai havia reaparecido no ar, bem nas suas costas. Ele não usou uma das lâminas. Ele usou uma única gota de suor que voou da testa de William durante a troca de golpes como sua âncora de teleporte. E assim que reapareceu no ar, em um giro acrobático, desferiu um chute com toda força na cara de William, que o jogou contra a parede dos fundos com um estrondo.

O Estrategista sentiu um arrepio. Ele limpou o sangue do nariz, seu cálculo quebrado. 

— FIM DE JOGO, CLONE! — William gritou, sua voz perdendo a frieza e voltando ao pânico do sádico. Ele correu para o tanque de Sophi. Ele cobriu o vidro com um gás corrosivo e altamente instável que sibilou e começou a congelar a superfície. — Um movimento, e eu explodo ela!

Kai parou, seu corpo tenso, pronto para o próximo teleporte. Ele olhou para William, que estava ao lado do tanque, com a mão coberta de químico pairando sobre o vidro. Durante a troca de golpes, quando Kai rolou pelo chão para desviar da lâmina de fogo, ele havia conseguido cravar uma pequena lâmina na panturrilha de William. O Estrategista, focado na luta principal e na ameaça óbvia, havia ignorado a ferida menor.

— Idiota. — Kai murmurou.

Ele ativou sua habilidade, usando a faca na perna de William como âncora. Ele não se moveu. Ele moveu William.

Em um instante, em um flash prateado e o som de ar sendo deslocado, William foi teleportado para o outro lado da sala, trocando de lugar com a katana de Kai.

A realidade de William mudou em uma fração de segundo. Em um momento, ele estava ameaçando Sophi; no seguinte, o tanque desapareceu. Ele estava longe de Sophi, tropeçando no ar onde a katana estava. E bem na frente de seu inimigo,

Naquele momento, outra memória atingiu Kai.


(Flashback)


Hakurei entregou a ele o conjunto de lâminas. "Isso só vai refinar sua força. Precisão. Letalidade. Mas se você realmente deseja se tornar mais forte..." Ele segurou uma seringa cheia de um liquido negro e espesso. "...existe uma chance de você morrer nesse processo. Tem certeza de que é isso que deseja?"

Os olhos de Kai eram penetrantes.

— Pare de perder tempo com essa falação de merda. E faça de uma vez.

Hakurei injetou o líquido no braço de Kai. O sangue negro se moveu sob sua pele, queimando, e se assentou em seu braço como uma marca tribal sombria.



(Fim do Flashback)

Kai voltou ao presente, o ar ainda vibrando da troca de lugar. Seu braço esquerdo, onde a marca estava, queimava como fogo, uma dor aguda que pulsava em sincronia com seu coração. 

Ele lembrava do momento em que viu Dante usando seu "Chronos Breaker", mas isso era diferente.

"Essa técnica" — ele pensou, e sua aura explodiu, não em uma onda de calor, mas em um pulso de silêncio glacial. —"é somente minha."

A aura não era mais Vermelha. A energia carmesim foi sugada para dentro e substituída. Era fria, azul e roxa, uma luz ártica que parecia sugar todo o calor e cor da sala. O ar ao seu redor começou a congelar. A umidade se condensou e se transformou em névoa, depois em flocos de neve negra. Cristais de gelo afiados como navalhas se formaram em seu braço esquerdo, subindo por sua pele.

Ele ergueu a mão e os ventos gélidos se concentraram. Uma enorme espada de gelo negro, materializou-se, ventos sombrios e gélidos uivando ao seu redor. A sala inteira mergulhou abaixo de zero. O metal das paredes estalou, os tubos de vidro racharam sob a pressão do frio súbito.

Um dos olhos de Kai brilhava agora com uma luz azul e preta, uma estrela morta e fria.

Ele olhou para William, que ainda estava atordoado pelo teleporte, tentando entender sua nova posição na sala.

— Caixão de Gelo. — A voz de Kai saiu baixa, cheia de ecos e tão fria quanto o ar.

Kai avançou. Ele não correu, ele deslizou, o chão congelando sob seus pés, deixando um rastro de gelo.

William, em pânico, tentou levantar uma nuvem de gás, seus instintos gritando. Mas o frio extremo a congelou no ar. A névoa química verde parou, solidificou-se e caiu no chão como vidro quebrado.

Kai estava sobre ele. Ele balançou a espada. um arco descendente de pura entropia.

William foi congelado instantaneamente. Seus olhos se arregalaram, sua boca se abriu em um grito silencioso. Uma casca de gelo negro e espesso o cobriu da cabeça aos pés em menos de um segundo. seu corpo congelado se partiu ao meio, verticalmente.

Houve um som oco, como um tronco de árvore antigo quebrando. As duas metades caíram no chão em dois pedaços, estilhaçando-se levemente no impacto.

A espada de gelo negro se desfez em uma nuvem de neve escura e vento. Assim que o poder recuou, a dor atacou. Kai caiu de joelhos, sua mão livre agarrando o chão congelado antes de agarrar a cabeça. Ele ofegava, o ar quente de seus pulmões criando nuvens densas de vapor. A dor de cabeça era lancinante, como agulhas de gelo perfurando seu cérebro, e seu braço esquerdo queimava com uma dor diferente. O preço pelo novo poder.

— KAI!

Vivian apareceu correndo na entrada do laboratório, parando chocada ao ver o cenário: o cientista congelado e partido ao meio, os tubos quebrados, e Kai no chão.

— O que... aconteceu aqui?

— Nada. — Kai rosnou, forçando-se a levantar. Ele cambaleou em direção ao tanque de Sophi, mas quase caiu.

Vivian correu e o segurou, colocando o braço dele ao redor de seu pescoço.

— Eu não pedi ajuda. — ele ofegou.

— Eu sei muito bem disso. — ela sorriu, um sorriso genuíno, e o ajudou a andar.

Eles chegaram ao contêiner. O monitor ainda funcionava, mostrando dados sobre a habilidade de Sophi. Eles estavam estudando-a.

Kai lembrou do que William havia dito: "um tesouro tão interessante".

— Isso ainda não acabou… — ele murmurou.

Ele se livrou do apoio de Vivian, invocou sua katana com um teleporte, e cortou o vidro do contêiner. A água e o líquido jorraram. Kai entrou e pegou Sophi, que estava inconsciente.

Ele a segurou por um momento, tocando seu rosto. Então, ele olhou para Vivian.

— Vivian. — Ela se assustou; ele nunca usava o nome dela. Foi a primeira vez. — Leve ela. — ele disse, seus olhos sinceros. — Leve ela até o hospital. Estou confiando em você.

Vivian engoliu em seco e assentiu rapidamente, pegando Sophi dos braços dele. — Pode deixar. Eu vou.

Kai se virou. Usando sua habilidade, todas as facas e lâminas espalhadas pela sala desapareceram de suas posições e reapareceram em sua jaqueta. Ele embainhou sua katana e caminhou até a porta dos fundos do laboratório.

— Kai! — Vivian chamou. — O que você vai fazer agora?

Ele parou na porta, sem olhar para trás.

— Só tenho mais um assunto para resolver.

Parte 2

A visão voltava para o lado de fora da fábrica. O caos da batalha dos reforços havia diminuído. Naroke, Maria e Akira, todos inconscientes e amarrados com restrições de Éter, estavam sendo carregados em um caminhão de transporte pelos membros do Comitê de Disciplina.

Sentados sobre alguns destroços de concreto, Chuya, Miguel, Mio e os demais Corvos da equipe reserva — Charlotte, Kurokawa e Asuna — observavam a cena. A atmosfera estava pesada; todos tinham uma cara estranha, um misto de alívio e pavor.

Sonia, uma das membras do Comitê de Disciplina, aproximou-se do grupo, ajeitando seu quepe. — O caminhão levando os prisioneiros irá partir para Babylon em breve, junto com os feridos, como a Juíza Nastácia. Algum de vocês gostaria de ir junto?

Seguiu-se um silêncio desconfortável.

Chuya tirou o cigarro da boca, soltando a fumaça lentamente. — Eu vou. — Ele deu um tapa leve no ombro de Miguel. — Vamos.

Miguel se levantou em silêncio. Chuya então olhou para os demais. — E vocês? Não vêm?

Charlotte levantou a cabeça, assustada. — Não! Nós não podemos! Nós somos a equipe reserva, temos que... 

— Está falando sério? — Chuya a cortou, o tom desprovido de zombaria, apenas seriedade.

Charlotte perdeu a confiança, sua voz sumindo, e ela ficou quieta.

Chuya então virou o olhar para Mio. — Me diz, ruivinha. Você está mesmo pensando em entrar lá... depois do que viu?

Mio, que estava encarando o chão, abraçou os próprios joelhos. — ...Na verdade — ela murmurou. — eu perdi essa vontade.

A cena voltou alguns minutos antes, no momento exato em que o soco de aço de Mio derrubou Naroke.



(Flashback)

Chuya acendeu seu cigarro no meio da fumaça que ele mesmo criou. Miguel chegou em seguida, silenciosa como sempre. 

— Precisamos ajudar a Juíza! — Charlotte gritou, correndo para Nastácia, que estava caída e inconsciente. 

— Temos que buscar o corpo daquela raposa antes que ela fuja pelo laboratório... — Mio ofegou, limpando o suor da testa.

Ela mal terminou a frase quando o chão tremeu.

BOOOOOOM!

Um abalo gigantesco, vindo das profundezas da fábrica, sacudiu a terra. Segundos depois, uma onda de Éter sombrio, opressor e cheio de ódio, varreu a todos.

Todos pararam, congelados. — O-o que foi isso...? — perguntou Asuna. 

Os olhos de Mio se arregalaram — ...Dante — Ela parecia preocupada, então olhou para Chuya. — Precisamos ir ver o que foi isso! 

— Ah, qual é... — Chuya reclamou. — Eu odeio trabalho extra.

Apesar das palavras, ele começou a correr na direção da entrada da fábrica, com Miguel o acompanhando.

Até que eles pararam. Todos pararam.

Alguém apareceu, caminhando lentamente para fora da noite e em direção à entrada da fábrica. A presença que essa pessoa emanava era tão grande, tão avassaladora, que todos pararam de se mover por puro reflexo instintivo.

Então, outra pessoa apareceu ao lado dela. E outra em seguida.

Eles nem tentaram olhar para as misteriosas figuras, cuja força era palpável. Eles apenas deixaram elas passarem direto, ignorando-os como se fossem pedras, e entraram na fábrica.

Ninguém presente falou nada para impedi-los.

Somente quando o último deles desapareceu na escuridão, Charlotte conseguiu se mover. Ela se virou para o único Juiz que havia ficado, Elias, que estava pálido. — O que... o que devemos fazer?

Elias simplesmente ficou em silêncio. Charlotte já imaginava, mas ninguém ali tinha ideia do que fazer a seguir. — Precisamos ajudar os outros! — Charlotte começou a entrar em pânico. — A energia do Dante! Precisamos ver se ele está bem! — Ela estava desesperada, tentando tirar alguma reação de alguém.

— Calma, jovem.

A voz veio de cima. Do teto da fábrica.

Uma figura estava lá, balançando um braço de um lado para o outro casualmente, com o outro cruzado sobre o peito. — Você Parece meio emocionada. Será que algo bom aconteceu?

Quando Charlotte ergueu seus olhos, ela prendeu a respiração. A figura que surgiu era de tirar o fôlego. Cabelos escuros e volumosos esvoaçavam ao vento, com marcantes mechas brancas na franja, presos em um rabo de cavalo alto adornado com fitas azuis e amarelas.

Elias foi o primeiro a falar, sua voz tremendo: — M-Mi... Misaki... — Ele se calou rapidamente quando os olhos dela se viraram para ele, frios e divertidos.

Ela sorriu. — Vocês estão fazendo algo bem divertido aqui embaixo, né? Senti algo e quis vir assistir.

Ela saltou, aterrissando suavemente no chão. — Bom, parece que eu não fui a única atraída pra cá. — Ela virou os olhos para Charlotte. — Não sei o que vocês vão fazer. Mas se entrar lá em pânico assim, só vai acabar morrendo.

Misaki Albran fez um gesto casual com a mão, dois dedos na testa e depois afastando-os, como um "tchau". — Aproveitem a juventude.

E, sorrindo, ela também entrou na fábrica.



(Fim do Flashback)

Chuya jogou o cigarro no chão e o apagou com a bota. — Seja lá o que for acontecer lá dentro — ele disse, resumindo os sentimentos de todos —, nós seríamos apenas esmagados como insetos caso entrássemos. Eu prefiro aproveitar minha juventude evitando morrer sem necessidade.

Ele ecoou as palavras de Misaki. — Mas, é claro, não vou obrigar ninguém a me seguir.

Ele começou a andar em direção ao caminhão do Comitê.

— Ainda assim! — Charlotte protestou, lágrimas de frustração em seus olhos. — Não podemos abandonar todos! Não podemos abandonar a Sophi!

No momento em que ela disse o nome, um som de corrida veio da entrada escura da fábrica. Uma Vivian ofegante, coberta de poeira, apareceu, carregando o corpo inconsciente de Sophi em seus braços.

— Preciso levar ela para o hospital! Alguém! É urgente!

Imediatamente, os membros do Comitê de Disciplina correram até ela com uma maca. Charlotte ficou paralisada, observando Sophi ser levada.

Chuya, parado ao lado dela, virou-se mais uma vez. Ele olhou para Charlotte, que agora não tinha mais um motivo claro para arriscar a vida.

— Então... — ele perguntou, sua voz baixa. — ...ainda assim vai querer entrar?

Charlotte ficou confusa, seu senso de dever colidindo com a realidade da situação.

Parte 3

A visão retornava ao quarto rosa-choque, agora um matadouro caótico, o ar espesso com o cheiro metálico de sangue fresco e o eco distante de metais rangendo. A batalha entre Ludmilla e Elizabeth continuava intensa, os sons de impactos e grunhidos preenchendo o espaço confinado.

Ludmilla, usava sua maestria para cortar e derrubar canos do teto e pedaços de parede, deixando os destroços caírem contra a dampira em arcos calculados. Era uma estratégia frustrante; ela não podia mirar em Elizabeth diretamente, pois contanto que sua vontade de atacar estivesse focada nela, a Contra-Intenção devolveria o dano como um espelho cruel. Ela tinha que contar com ricochetes e danos adjacentes.

Elizabeth, por outro lado, agora estava mais forte, endireitando a postura com um brilho predatório nos olhos. Desperta pelo sangue do Juiz Kol. Ela se tornou a predadora, lâminas de sangue coagulado disparando de suas mãos em movimentos, forçando Ludmilla a se defender constantemente. O corpo de Elizabeth era frágil, mas com sua regeneração vampírica acelerada, ela podia se curar dos arranhões dos destroços enquanto atacava Ludmilla diretamente, rindo baixinho ao ver a mestra do metal recuar.

Ludmilla estava em desvantagem, o suor escorrendo pela testa enquanto trocava olhares rápidos com os feridos ao redor.

De repente, o chão tremeu, um tremor profundo que fez as paredes vibrarem e poeira cair do teto.

BOOOOOOM!

A explosão massiva de Éter vinda dos andares inferiores fez a sala inteira vibrar. Ludmilla, reconhecendo instantaneamente a aura de Dante, paralisou por uma fração de segundo.

Foi o erro que Elizabeth esperava.

Cega pela raiva de ter sido ferida pela primeira vez em anos, a dampira nem percebeu a explosão, os dentes cerrados em fúria. Ela viu a abertura de Ludmilla e atacou com tudo. — Morra!

Um dragão feito de sangue puro irrompeu de seu corpo com um rugido viscoso, avançando contra Ludmilla como uma serpente viva, espirrando gotas vermelhas pelo ar. A Mestra do Metal notou seu erro, piscando em pânico, mas já era tarde. Ela tentou se esquivar com um rolamento desesperado para o lado, mas o dragão a atingiu em cheio.

A criatura de sangue não apenas fez um buraco no lado de seu abdômen, rasgando carne e músculo, mas, ao contato, sugou uma quantidade massiva de seu sangue, deixando-a pálida, anêmica e fraca.

Ludmilla caiu de joelhos, o sangue jorrando de seu ferimento em pulsos quentes, pressionando a mão contra a ferida com um gemido abafado. Elizabeth riu, um som agudo e vitorioso que ecoou pelas paredes, inclinando a cabeça para trás em êxtase. — Hah... Hahaha! Finalmente! — Vendo sua principal ameaça neutralizada, ela começou a rir mais alto, pensando em como iria torturá-la lentamente por ter ousado feri-la.

Enquanto ela gargalhava. 

CLICK. 

As luzes do quarto se acenderam de repente, inundando o espaço com uma claridade fria.

O zumbido do gerador de suporte e a felicidade de ter finalmente atingido Ludmilla trouxeram Elizabeth de volta ao presente, piscando para ajustar os olhos à luz. E, com a clareza, veio o pavor, os ombros tensos enquanto estendia seus sentidos, o rosto empalidecendo. As auras de Naroke, Akira, Maria... William... todas haviam desaparecido, como velas apagadas no vento.

No corredor ao fundo, passando devagar por aquela sala, estavam Anna e Cat, espiando cautelosamente pela porta entreaberta. Anna viu a carnificina e o momento em que Ludmilla caiu. — Precisamos ajudar!

— NÃO! — Cat a agarrou pelo braço, puxando-a para trás da parede com força urgente, sua cauda de gato completamente arrepiada como um pincel eriçado, e ela suava frio, tremendo visivelmente enquanto se agachava. — Não se mova. De jeito nenhum.

Anna, vendo o terror puro no rosto de Cat, congelou no lugar, o coração acelerado. — O que foi? Aquela garota... ela é tão forte assim?

— Elizabeth... — Cat sussurrou, os olhos fixos na sala através de uma fresta, a voz trêmula. — ...é o menor dos problemas agora.

Assim que a luz havia ligado, alguém estava lá. Alguém que estava atrás de Elizabeth o tempo todo, mas que ninguém havia reparado na penumbra, uma presença sutil e inofensiva. Ludmilla, caída, foi a primeira a vê-la e seus olhos se arregalaram. Elizabeth, sentindo a mudança no olhar de sua vítima — um desvio sutil para algo atrás dela —, saltou para frente instintivamente e se virou com um giro rápido.

Em sua frente, parada com uma curiosidade inocente, havia outra garota, imóvel como uma estátua. Ela parecia uma boneca de porcelana, frágil e etérea. Seus cabelos eram brancos, quase prateados, contrastando com um vestido preto que farfalhava levemente. 

"Uma vampira….? Talvez uma sangue-puro?" — Elizabeth pensou, semicerrando os olhos enquanto avaliava.

A garota olhou em volta, seus olhos vermelhos registrando a cena com lentidão infantil: Kol, morto no chão em uma poça escura; Leona, agarrando a garganta cortada, sangrando; Luck, respirando mal, apoiado na parede; Riana Acorrentada com correntes de Ether; e Ludmilla, com um buraco no abdômen, ofegante.

Ela começou a andar para mais perto de Elizabeth com passos leves e curiosos, inclinando a cabeça para o lado como uma criança intrigada. — O que vocês estão fazendo? — sua voz era suave e infantil, ecoando com genuína confusão.

Elizabeth suou frio, um pavor irracional subindo por sua espinha como dedos gelados, recuando um passo involuntário. — Nós... nós estávamos brincando. É óbvio — respondeu ela, forçando um sorriso falso.

O rosto da garota se iluminou com um sorriso puro e radiante, os olhos se iluminando de empolgação. — Brincando? Então me deixa brincar também!

Elizabeth analisou a situação, trocando olhares rápidos entre Ludmilla e a nova intrusa, o coração acelerado. Ela podia vencer todos eles. O problema era essa garota estranha. 

"Tudo bem" — ela pensou, cerrando os punhos. — "Tudo que eu tenho que fazer é acabar com ela. Bebo o sangue dela, me recupero, mato a maldita que me feriu, e me junto a Noitora."

Ela deu um passo à frente, endireitando a postura com determinação. Mas, quando olhou para a garota, que agora estava com os olhos fechados e sorrindo serenamente, ela sentiu um pavor tão absoluto que recuou um passo, o corpo tremendo incontrolavelmente. A garota abriu os olhos devagar, inclinando a cabeça para o outro lado, confusa com a reação.

Elizabeth estava tremendo, o suor escorrendo pelo rosto enquanto olhava ao redor em pânico. Ela não entendia. Um sentimento de morte a impedia de avançar, como uma barreira invisível. Ela olhou em volta, buscando uma saída, os olhos se fixaram em Ludmilla, que estava mais perto.

"É isso! Eu vou até ela, bebo o sangue dela e corro para a saída! Não posso perder mais um segundo aqui!"

Na hora em que ela tomou a decisão e se virou para Ludmilla com um movimento rápido, a garota já estava na sua frente, sem esforço aparente. Ela não correu. Ela simplesmente estava ali.

Seu dedo indicador estava apontado para o abdômen de Elizabeth, o gesto casual como o de uma criança apontando um brinquedo. — Vamos lá. Me deixa brincar também.

E ela disparou.

Não foi uma técnica. Não foi uma habilidade. Não foi uma emissão ou manipulação complexa de Éter como o golpe de Dante. A garotinha apenas juntou sua aura em seu dedo com um brilho sutil e a soltou para frente, o ar crepitando levemente.

Uma rajada de Éter branco-avermelhado, puro e absoluto, explodiu com uma força cegante.

O som foi ensurdecedor, um rugido que fez as paredes tremerem. O golpe destruiu Elizabeth em um flash incinerador. Destruiu a parede da fábrica em uma explosão de entulhos. Destruiu o subterrâneo e quilômetros de rocha sólida, parando apenas no mar aberto, onde uma coluna de vapor subiu a centenas de metros de altura, o horizonte tremendo com o impacto distante.

Antes de morrer, Elizabeth teve uma fração de segundo para ver seu próprio corpo, piscando em choque. Ou o que restava dele. Seu ombro, metade de seu abdômen, pescoço e cintura... haviam desaparecido. Completamente incinerados, deixando apenas cinzas flutuando. E ela morreu sem entender, os olhos vidrados em descrença.

Ludmilla, que teve que usar toda sua força apenas para rolar para o lado em um movimento desesperado, sentiu o calor do golpe passar a centímetros dela, queimando sua pele superficialmente. Sua vida quase desapareceu em um piscar de olhos, o coração martelando enquanto ofegava no chão.

A garota caminhou até a poça de sangue e cinzas que restou de Elizabeth, os passos leves e curiosos. Ela se ajoelhou e cutucou os restos com o dedo, inclinando a cabeça em confusão. — Ué... não vai brincar mais?

— O que... diabos... você está fazendo aqui... Kirino? — Ludmilla ofegou, erguendo o olhar devagar enquanto pressionava a ferida, o rosto contorcido em dor.

No instante em que ouviu seu nome, Kirino se virou com um giro animado e correu até Ludmilla, abraçando-a com força, ignorando o ferimento horrível como se fosse um reencontro casual. — Ludi! Eu vim atrás da Anna! Senti o cheiro dela por aqui e quis vir brincar!

cof.

Uma tosse seca soou da entrada, ecoando levemente. Um velho usando óculos laranja estava parado ali, cruzando os braços com uma expressão cansada enquanto observava a cena.

Kirino congelou no abraço. — Droga! O Fujimoto já me achou! — Ela se escondeu atrás de Ludmilla, usando-a como escudo, e deu língua para ele, esticando a língua com um som zombeteiro.

O velho suspirou profundamente, massageando a ponte do nariz sob os óculos. — Então foi por isso que você se afastou?

Ele começou a arrastá-la para o centro da sala, segurando-a pela gola com uma mão firme, mas parou e se virou para Ludmilla e os outros caídos, inclinando a cabeça ligeiramente. Ele se curvou levemente em uma reverência formal. — Ah, me desculpem. Minha companheira acabou roubando a presa de vocês. Eu realmente sinto muito, acabei distraído com aquele Éter de antes e a perdi de vista. Realmente, a idade não está ajudando... acho que vou ter que me livrar dela.

Os Corvos feridos ficaram confusos, trocando olhares incertos entre si. “Se livrar... da idade?”

— Adeus. — Ele se despediu com um aceno casual. De repente, o chão sob seus pés se partiu, como se cortado por uma espada invisível, abrindo um caminho para baixo. No entanto, ninguém viu o velho sequer tocar em sua katana, o corte preciso e silencioso.

No corredor, Cat finalmente soltou Anna, relaxando o aperto no braço dela, e deslizou pela parede, respirando pesado, o peito subindo e descendo em arfadas enquanto limpava o suor da testa.

— Foi por... muito pouco...

Anna estava pálida, os olhos ainda fixos na porta, processando a cena. — Aquilo foi... brutal. Mas ela só derrotou um inimigo. Não precisa ficar agindo como se ela fosse um monstro.

Cat olhou para Anna com os olhos arregalados, incrédula, inclinando-se para frente. — Você está cega?! Você não entendeu o que acabou de acontecer?! — Cat apontou para o corpo de Elizabeth no chão. — A habilidade de Elizabeth! A Contra-Intenção! Ela devolve qualquer ataque feito com intenção maliciosa!

— E daí? — Anna perguntou, cruzando os braços em confusão.

— E daí que Kirino a atacou! — Cat gritou, histérica, a voz ecoando pelo corredor vazio. — E ela não recebeu o golpe de volta! Isso significa que ela não tinha nenhuma intenção de matar! Nenhuma intenção de ferir! Aquela... coisa... realmente devia estar imaginando que estava apenas brincando!

Anna ficou confusa, tentando processar a lógica terrível daquilo, mordendo o lábio enquanto olhava para o chão.

— Para aquela coisa, — Cat continuou, tremendo visivelmente — coisas como bom senso não funcionam. Ela vive em um ritmo totalmente diferente. Ela não é algo que você deva tratar como se fosse humana.

— Você está exagerando... — Anna tentou, assustada, estendendo a mão para tocar o ombro de Cat. — Não é pra tanto...

— Exagerando?! — Cat riu, um som seco e nervoso que ecoou irregularmente. — Desde que a vi em Babylon, fiquei curiosa e passei muito do meu tempo investigando. O que eu descobri me fez querer fingir que nunca me envolvi com ela. Aquela coisa não é humana. Não é um vampiro, um Demônio, um deus, um majin ou um monstro.

Cat olhou para Anna, seu rosto uma máscara de pavor puro, inclinando-se mais perto como se para sussurrar um segredo sombrio. — Aleister a descobriu congelada nas terras glaciais de Umbra. Ela é a Criança Impossível. A cria do teórico Astreus da Possibilidade... e da Besta do Apocalipse, Typhon.

Anna travou, o ar saindo de seus pulmões em um suspiro chocado, os olhos se arregalando enquanto processava.

— O Dragão que trará o fim do mundo. Vesperion.

Parte 4

A cena mergulhou no andar subterrâneo que Dante havia criado com seu último ataque. Estava completamente destruído e incendiado. O ar fedia a ozônio e metal queimado.

Em meio aos escombros, Dante se levantou. Ele não se levantou como um homem, mas se desenrolou como uma fera, seu corpo se reerguendo com uma fluidez perturbadora. Seu braço direito ainda era uma massa de escuridão retorcida, vibrando com poder contido, e seus olhos, dois orbes vermelhos sem pupila, buscavam algo em meio à destruição, ignorando o fogo que lambia suas roupas.

De repente, as chamas que lambiam os destroços começaram a se curvar, parando no ar antes de se afastarem. Elas abriram caminho como se obedecessem a um mestre, partindo-se como uma cortina vermelha.

— Parece que alguém está bem animadinho... — uma voz feminina e cansada soou, cortando o rugido do fogo. — Posso saber por que toda essa energia?

Uma garota de cabelos vermelhos, Nenê, caminhava em meio ao fogo, as chamas se afastando de seus pés a cada passo. Ela encarou a figura bestial de Dante, sua expressão entediada. — Ah, você é aquele dos Corvos. O tal do...

Ela não conseguiu terminar.

O ar explodiu. Em um piscar de olhos, Dante estava na frente dela. O movimento não foi uma corrida; foi um preenchimento instantâneo do vácuo entre eles. Seu soco com o braço esquerdo a atingiu na cara com a força de um aríete. O impacto sônico estalou pelo ar, e o rosto de Nenê se deformou visivelmente antes que a força a arrancasse do chão, jogando-a contra a parede de metal do outro lado da sala. Ela voou, tossindo sangue, e deslizou pela parede de metal, deixando um rastro vermelho.

Dante a ignorou, como se fosse um obstáculo, nem mesmo olhando para onde ela caiu. Ele voltou a olhar em volta, a cabeça se inclinando de forma não humana, como se estivesse procurando algo. Ele saltou sobre uma viga em chamas. Do outro lado da sala, Nenê ergueu a mão. Uma onda de fogo e calor, concentrada e furiosa, o atingiu no ar, jogando-o contra outra parede com um estrondo de metal retorcido.

Nenê se levantou, o metal atrás dela amassado pelo impacto de seu corpo. Ela limpou o sangue do nariz e da boca com as costas da mão. Sua expressão calma havia desaparecido, substituída por uma fúria absoluta. — Tá bom, seu cretino! — ela gritou, e as chamas ao seu redor explodiram em altura e intensidade, rugindo em resposta à sua raiva. — Não quer conversar, né? Saiba que eu também odeio perder tempo! Então vamos logo para a parte que interessa!

Ela começou a emanar um calor sufocante, o ar ao seu redor tremeluzindo violentamente. — Mas caso queira saber o nome da pessoa que te mandará para o inferno, saiba que é Nenê!

A batalha foi brutal e visceral. Nenê disparou jatos de plasma superaquecido e colunas de fogo que irrompiam do chão. Mas Dante não estava se comportando como um humano. Ele se movia de forma estranha, quase em quatro apoios, como uma fera, usando seu braço sombrio como um terceiro membro, um pivô para ricochetear nos escombros e mudar de direção em ângulos impossíveis. Sua velocidade alucinante permitia que ele corresse pelas paredes e desviasse dos jatos no último segundo, o fogo chamuscando suas costas enquanto ele já estava em outro lugar.

Nenê notou isso. O principal problema era que ele era muito rápido. Ela teve que usar sua habilidade de forma inteligente. Ela parou de atirar e bateu as palmas das mãos no chão de metal. Ela aumentou os graus de suas chamas, e o metal da sala inteira começou a derreter como cera. Vigas de aço gotejavam, e o chão se tornou um pântano brilhante de escória laranja. Até para ela estava difícil de respirar, já que o oxigênio estava evaporando rapidamente. Mas, furiosa, ela focou em um único objetivo: matar Dante.

Dante não estava usando nenhuma habilidade, apenas uma velocidade irracional e ataques físicos extremamente poderosos. Cada soco que errava Nenê e atingia uma parede deixava uma cratera no metal derretido.

Nenê, vendo que estava lidando com um animal, usou uma tática de trapaça. Ela ergueu as mãos, e paredes de fogo sólido irromperam do chão líquido, criando um labirinto instantâneo. Ela criou paredes de fogo para guiá-lo, forçando-o a seguir um caminho específico. Dante, em seu estado feral, sem raciocínio tático, caiu na armadilha, seguindo o único caminho aberto, acabando preso em um local para onde não tinha para onde fugir, cercado por muros de plasma.

— QUEIME ATÉ A MORTE!

Ela concentrou todo o calor da sala em um único ponto acima dela. Ela criou uma esfera de fogo gigantesca, um sol em miniatura, que pulsava com uma luz branca e cegante, e a jogou na direção de Dante.

Assim que o ataque chegou perto do garoto, ele levantou o braço direito.

A escuridão em seu braço começou a vibrar. Os tentáculos de sombra que o compunham se abriram como uma flor carnívora, revelando um vácuo em sua palma. O "sol" de Nenê não explodiu. Ele foi sugado. A energia massiva foi drenada, colapsando em um único ponto na palma escura de Dante. A escuridão devorou as chamas, o próprio Éter da habilidade de Nenê, até que o ataque desapareceu por completo, deixando apenas um silêncio repentino.

Nenê ficou sem acreditar, seu queixo caindo. — Impossível! Um ser vivo não pode absorver o Éter de outro! Apenas os Seraphins conseguiriam fazer algo assim!

Dante se impulsionou. Seu corpo se agachou por um microssegundo e depois explodiu para a frente como uma bala, atravessando a parede de fogo agora enfraquecida, em linha reta, indo com toda velocidade para cima dela, pronto para finalizar.

De repente, um borrão branco e vermelho passou correndo para dentro da sala, tão rápido que o ar sibilou com seu deslocamento. A figura saltou sobre os destroços incandescentes e, em um giro acrobático no ar, desferiu uma bicuda poderosa no queixo de Dante, jogando-o para cima como um boneco de pano. Antes que ele pudesse cair, a figura, mostrando uma agilidade sobre-humana, emendou com outro chute giratório no ar, acertando-o novamente e lançando-o contra a parede, onde ele bateu com força, amassando o metal.

Nenê, atordoada pela visão da nova chegada, olhou para a mulher que pousava com graça felina. Era uma mulher de cabelos brancos curtos com mechas vermelhas que pareciam chamas, olhos amarelos brilhantes e um par de chifres vermelhos. — Quem... quem é você? — Nenê ofegou, a voz rouca pela fumaça e pelo susto.

A mulher olhou para ela. Apenas um olhar. A intenção assassina que emanava dela era tão pura e sufocante, tão absoluta e fria, que Nenê calou a boca instantaneamente, o terror substituindo a raiva em seus olhos.

Dante saiu dos destroços, o metal retorcido e fumegante se curvando em seu caminho. Seus olhos vermelhos fixos na mulher, rosnando como um animal enjaulado, ignorando os ferimentos.

A garota levou a mão à boca, como se estivesse rindo timidamente, com um toque de malícia em seu sorriso. — Calma lá, Dante... Para onde você está olhando com esses olhares penetrantes? Se ficar me olhando assim... eu vou ficar com vergonha.

Dante explodiu em velocidade, seu corpo se tornando um borrão vermelho e negro, indo com tudo na direção dela, um trem desgovernado de fúria e poder. Ela sorriu, os olhos amarelos brilhando com antecipação, e foi também, sua velocidade rivalizando com a dele.

Quando ambos estavam prestes a colidir em um choque brutal, ela bateu o pé no chão. Com um estrondo abafado, uma estaca de metal pontiaguda e afiada brotou do piso derretido, bem no caminho de Dante. Dante, incapaz de parar seu ímpeto ou desviar em seu estado feral, trombou com ela de cara. A mulher, Velvet, usou a estaca como rampa para saltar por cima dele em um arco gracioso. No ar, ela sacou duas pistolas gêmeas, adornadas com detalhes em ouro e prata, e o encheu de tiros com balas encharcadas de Éter, que brilhavam com um fulgor rosa e negro.

Dante usou o braço direito sombrio em um arco horizontal, girando no chão. A escuridão pulsante em seu braço removeu o Éter das balas. Elas, despojadas de seu poder, caíram no chão, inofensivas. Ele se virou, já se impulsionando com seu braço sombrio, e foi para cima dela novamente, em alta velocidade, como um predador implacável.

— Sim! É isso! Tem que ser assim! — ela ria, uma alegria maníaca em sua voz, desviando de seus ataques com uma agilidade absurda, movendo-se como se estivesse em um balé mortal. — Sabe quanto eu fiquei esperando, Dante? Você tem que olhar pra mim! Só pra mim!

Ela falou aquilo e tapou a boca com as mãos, como se tivesse deixado escapar um segredo ultrajante, as bochechas coradas. Dante, furioso, foi para cima dela de novo, um soco bestial mirando sua cabeça. Com um sorriso e as bochechas ficando rosadas, ela novamente esquivou, seu corpo se flexionando para trás em um arco impossível, o punho dele passando a milímetros de seu rosto.

Nenê, caída no canto, ferida e empalidecida, não acreditava. Aquela mulher estava conseguindo acompanhar aquela velocidade monstruosa de Dante sem sequer transpirar.

— É verdade... — Velvet falou, um novo brilho surgindo em seus olhos.— Você não consegue me ouvir nesse estado, não é? Você não vai lembrar de nada que eu disser...

Ela voltou a sorrir, os olhos brilhando. Ela saltou para cima em um rodopio, disparando várias balas. Elas ricocheteiam na parede, no teto, e entre si, traçando ângulos impossíveis, acertando Dante em pontos que ele não conseguia prever para poder retirar o Éter. 

— Sabe como dói? — ela disse, com uma voz envergonhada, um beicinho fofo, enquanto desviava de mais um ataque bruto de Dante. — Ficar vendo você com tantas garotas? Quanto eu tenho que me aguentar para não quebrar os pescoços delas e pegar você só pra mim?

Dante voltou com tudo, um rugido de fúria. Das costas de Velvet, tentáculos feitos de sangue negro brotaram com um splat úmido, fincando-se no chão e impulsionando-a, saltando por cima dele em um arco elegante. No ar, ela concentrou seu Éter — que queimava em chamas negras e rosadas, vibrando com uma energia doentia — em uma única bala. Ela disparou nas costas dele, jogando-o contra a parede e abrindo uma nova cratera no metal.

— Mas eu entendo que você está todo nervoso... — ela disse, pousando graciosamente, suas pistolas fumegando. — Eu sei que não foi legal te deixar, que eu te magoei... Mas seria tão difícil ser gentil de vez em quando? Você só me ignora e vai atrás de outra garota!

Ela falou isso enquanto se abaixava, um movimento fluido que a livrou do corte que Dante fez ao correr até ela e tentar usar suas garras. Ela chutou o abdômen dele por baixo, um golpe ascendente que o retirou do chão, e o encheu de tiros novamente, as balas rosadas perfurando seu corpo.

— Da última vez, você até me pediu ajuda! Eu achei que finalmente tinha me perdoado! — ela reclamou, o tom de voz como o de uma amante traída. — Mas depois daquilo, de novo, ficou me ignorando! E até agora, para essa invasão, nem foi pedir minha ajuda! Sabe quão magoada eu fiquei?

Ela o deixou descer, apenas para chutar o corpo dele com força contra o chão, fazendo-o ricochetear. Nenê, empalidecida, assistia a tudo, rastejando para trás, apavorada. — “Que coisa era aquela?” — Aquilo não era uma batalha; parecia uma discussão de relacionamento de dois monstros.

Dante novamente se levantou, cambaleante, e continuou uma chuva de ataques cegos. Velvet deslizava e dançava em volta dele, desviando com leveza, às vezes de costas, com os olhos fechados, acompanhando seu ritmo frenético. — E mesmo assim... — ela disse, sua voz suave e quase doce, seus olhos amarelados cheios de uma devoção perigosa. — Mesmo com você me tratando desse jeito... Mesmo me traindo com essas garotas... ainda assim, eu não consigo te odiar. Porque eu te amo tanto!

Ela falou isso se jogando em um abraço em volta dele, as mãos em seu pescoço. Quando Dante tentou se soltar e chutá-la, ela saltou para trás, rindo. — Ops!

Ela mostrou que havia deixado duas granadas presas nas costas dele. Elas explodiram, envolvendo Dante em fogo e fumaça.

— Acho que é isso que chamam de mulher que não abandona cafajestes. — Velvet suspirou, as bochechas coradas, mordendo o dedo em um gesto infantil, mas seus olhos brilhavam com uma possessividade perturbadora. 

Nenê, vendo aquela cena, sentiu um arrepio gélido que não tinha nada a ver com o fogo. — Amor...? Isso aí não passa de doença... — ela murmurou, tentando se levantar e fugir rastejando, seus olhos fixos na saída.

ZING.

Uma bala passou raspando em sua bochecha, deixando um corte superficial, mas doloroso. Ela parou, congelada no lugar. Velvet estava com uma cara de ódio puro, uma aura vermelha e negra saindo dela como chamas escuras. — Se você julgar o meu amor por ele de novo, vadia... eu juro que te mato.

Nenê ficou com tanto medo que não conseguiu mover um único músculo, seu corpo tremendo incontrolavelmente.

Dante saiu correndo da fumaça, rosnando, os olhos vermelhos fixos em Velvet, direto para ela. A expressão de Velvet mudou rapidamente de ódio para um sorriso extasiado. Ela inclinou-se para trás, de braços abertos, como se estivesse aceitando um abraço de um amante há muito esperado. — Aí, Dante! Eu não aguento mais esperar!

Quando ele parecia que ia cair por cima dela, seus lábios se tocaram em um sussurro quase inaudível: — Rafflesia. Segundo Estágio: Flor de Sangue.

De repente, todas as feridas no corpo de Dante — os cortes das penas de Lidyan, os buracos de bala de Velvet, os machucados do treino, até mesmo as escoriações menores que ele havia adquirido na luta — se abriram de uma vez só, com um som úmido. O sangue jorrou como fontes escarlates de cada ferimento. Ele parou, seus olhos vermelhos vacilaram, e ele caiu nos braços dela, inconsciente. O braço sombrio se desfez em fumaça.

Ela o segurou, seu sorriso agora suave e carinhoso, acariciando seu rosto ensanguentado com uma delicadeza mórbida. — Shhh... agora vai ficar tudo bem.

Nenê, vendo sua chance, se levantou devagar, tentando fazer o mínimo de barulho possível, os olhos fixos na saída. — Vocês monstros... fiquem no amorzinho de vocês... Eu não quero mais saber de nada disso...

No minuto em que ela se apoiou no joelho para correr...

BANG.

Uma bala atravessou sua testa. Ela caiu morta no chão, em uma poça do próprio sangue. Velvet, ainda embalando Dante, soprou a fumaça de sua pistola, um sorriso pequeno e satisfeito em seus lábios. — Eu avisei.

Parte 5

A cena retornava à sala do trono, agora um inferno. O chão estava coberto de crateras e o ar pesado com fumaça. Beatrice, Emillia e Luka continuavam sua chuva de ataques em Noitora, que, embora se regenerando rapidamente, estava sendo pressionado, sua forma de lobisomem ofegando e seus movimentos tornando-se mais desesperados.

— Agora! — gritou Emillia, vendo a fera recuar um passo após um golpe de Beatrice.

Luka, com um bocejo que escondia sua concentração máxima, expandiu sua Zona de Inércia. A onda invisível cobriu o campo de batalha. Noitora, no meio de um avanço para revidar contra Beatrice, sentiu o ar pesar como melaço. Seus músculos tremeram com o esforço de se mover, cada fibra gritando contra a resistência sobrenatural.

— BEATRICE!

Ela usou a abertura. Canalizando seu ether ao máximo, suas pernas vibraram com poder contido. Ela explodiu do chão, não apenas saltando, mas se lançando como um torpedo.

— Perfure os Céus: Furadeira das Estrelas!

Seu punho, envolto em espirais de energia cinética pura que distorciam o ar ao seu redor, avançou. Noitora, preso na habilidade de Luka e vendo o ataque inevitável, foi forçado a defender. Ele não podia desviar. Ele cruzou os braços, um brilho azulado envolvendo seu corpo enquanto acelerava o tempo em si mesmo apenas para conseguir suportar o impacto que se aproximava.

O golpe o atingiu. A força foi colossal. Um boom sônico ensurdecedor ecoou quando as duas forças colidiram. A energia cinética de Beatrice quebrou seus braços regenerados instantaneamente e o jogou para trás como uma bala de canhão. Mas ele aguentou, seus pés cravando sulcos no mármore antes de parar.

Contudo, foi a chance perfeita.

Emillia, usando seu Voo Zéfiro, já estava acima dele, tendo usado a distração de Beatrice para se posicionar. Ela desceu como um falcão. Sua Rapiera brilhava com um Éter verde cortante, a ponta focada em um único ponto de aniquilação. A estocada, de cima para baixo, atingiu o peito da fera no exato momento em que ele se recuperava do soco.

O chão não aguentou. O impacto combinado da estocada de Emillia e da defesa desesperada de Noitora fez o piso de mármore se estilhaçar. O andar inteiro desabou.

Eles caíram em meio a uma nuvem de poeira e concreto, uma avalanche de pedra e metal, aterrissando vários metros abaixo, em outro nível da base. Quando as luzes de emergência vermelhas piscaram, ligando em meio à escuridão e à poeira, revelaram um novo cenário.

Eles estavam em outro laboratório, mas este era diferente. Era um zoológico profano. Tanques gigantes, do chão ao teto, alinhavam as paredes, contendo criaturas pré-históricas, bestas mitológicas e experimentos fracassados, todos flutuando em um líquido verde e luminescente que fornecia a única luz constante.

— O que... é tudo isso? — Beatrice ofegou.

Emillia, já de pé, leve como sempre, limpou a poeira de seu uniforme. — Essas criaturas... não são deste tempo.

Do outro lado da sala, Noitora se levantou dos destroços. Mas algo estava diferente. O silêncio. A luta havia parado.

Ele estendeu seus sentidos, sua cabeça se erguendo. A aura de Elizabeth... desapareceu. O de Lidyan... extinto. William... Nenê... Naroke… Maria e Akira.

Ele se lembrou de Algoz.

Todos. Todos eles haviam perdido.

Ele cambaleou, não pela queda, mas pelo peso da derrota. Seu corpo enorme tremeu. Ele olhou para os tanques, para as criaturas do passado que ele tanto reverenciava. Ele cambaleou até uma máquina central, um dispositivo complexo cheio de tubos e mostradores, pulsando com o mesmo líquido verde dos tanques.

Lembranças inundaram sua mente. A promessa dividida com seus companheiros.

"Criaremos um mundo só dos fortes."

"Levaremos as espécies de volta ao seu auge."

"Onde a vida era matar ou morrer ” 

“Onde todos serão livres para serem como quiserem."

— Não... — ele rosnou, sua voz embargada de fúria e dor, um som gutural que ecoou pela sala de vidro.

Ele agarrou vários canos grossos conectados à máquina. Com um rugido de pura agonia e raiva, ele os arrancou da parede, o líquido verde jorrando. De forma forçada, ele os enfiou em seu próprio peito e ombros, as pontas de metal rasgando sua pele e músculos.

O líquido verde estranho dos tanques, uma sopa genética concentrada, invadiu seu corpo.

— Parem ele! — Beatrice gritou, avançando, mas ela parou imediatamente.

Eles pararam, sentindo o Éter de Noitora explodir, não mais como uma aura, mas como uma tempestade descontrolada.

— EU NÃO VOU... TER MEUS SONHOS... DESTRUÍDOS... POR UM BANDO DE CORVOS!

Seu corpo começou a se transformar. Seus pelos ficaram completamente negros, seus músculos incharam a proporções grotescas, rasgando o que restava de suas roupas. Ele se tornou um lobisomem gigante, com mais de três metros de altura, seu corpo agora uma silhueta monstruosa contra a luz verde dos tanques. Garras verdes, crepitando com eletricidade e energia bruta, brotaram de seus dedos, e seus olhos agora eram duas esmeraldas brilhantes e sem alma.

Ele avançou.

Não era mais um lutador; era um desastre natural. O primeiro soco atingiu Beatrice em cheio antes que ela pudesse erguer a guarda. A força foi tão absurda que ela voou através de três paredes de laboratório, desaparecendo em uma nuvem de escombros e vidro quebrado.

— Você já latiu demais! — Emillia disparou sua estocada no meio do peito dele. A lâmina de vento o perfurou, abrindo um buraco... que se regenerou no mesmo instante, a carne verde e pulsante fechando-se ao redor da rapiera com um som de sucção.

Noitora rugiu. Ele a golpeou com as garras. Não foi um golpe físico; foi um corte de puro Éter verde que rasgou o ar. Emillia foi lançada para longe, colidindo com um dos tanques gigantes, que se estilhaçou, derramando seu conteúdo profano e uma criatura morta no chão.

Sua mente estava perdida na raiva. Seu raciocínio sumindo.

“Algoz... Elizabeth... William…” — ele falava os nomes, sua voz um rosnado bestial, cada nome um voto de vingança. — “Seus sonhos... não acabarão assim!” — EU ENTERRAREI TODOS VOCÊS E LEVAREI SEUS SONHOS COMIGO!

Ele rugiu.

Luka, vendo a fera irracional, saltou na direção dele de cima de um escombro.

"Ele perdeu o raciocínio!" — Luka pensou. — "Não conseguirá mais usar seu Éter de forma complexa! Ele é só força bruta agora!"

Foi seu último erro.

O tempo em torno de Luka desacelerou. Noitora, agindo por puro instinto de predador, nem olhou para ele. Ele saltou de parede em parede, ricocheteando como uma bala descontrolada, deixando rastros de garras no metal, e acertou um chute em pleno ar em Luka, tão forte que o lançou de volta para o andar de cima, através do buraco no teto.

Uma máquina de matar perfeita. Infelizmente, Noitora perdeu sua consciência, mas em troca dela, ele se tornou uma criatura com um único objetivo: matar tudo que visse. E para isso, seu instinto de predador agora comandava suas habilidades, capaz de formar planos complexos de caça.

Ele se virou, farejando o ar, suas garras verdes gotejando energia, pronto para encontrar Beatrice e terminar o serviço.

Naquele momento, um borrão de partículas pretas se formou.

Kai apareceu em um teleporte, bem na frente dele, sua katana negra já em mãos, o frio de sua aura de gelo encontrando o calor verde da fúria da fera.

Parte 6

Kai encarava a criatura bestial. O ar no laboratório destruído estava pesado com o cheiro de ozônio, água do mar e sangue de monstros antigos. Um segundo depois, um vulto desceu do buraco no teto, aterrissando com um baque surdo que fez o chão tremer. Kintoki. Ele havia descido vários andares na esteira da destruição, seguindo a luta.

Os dois se encararam por alguns segundos, Kai à esquerda, Kintoki à direita, formando uma pinça contra o monstro encharcado. Kintoki ajeitou seus óculos escuros, impassível com um gesto arrogante.

— Parece que o Dante se atrasou.

Kai colocou a katana sobre os ombros, seu olhar frio fixo no monstro.

— Ele logo aparece.

Noitora, agora um lobisomem gigante com garras verdes elétricas, rugiu, o som ecoando pelo vasto andar inundado. Ele avançou contra eles. No mesmo instante, Kai jogou suas lâminas restantes, espalhando-as por todo o laboratório. Elas se cravaram em tanques quebrados, vigas de metal e paredes distantes.

Kintoki, como a vanguarda, correu, seu Éter explodindo sob seus pés para impulsioná-lo. Ele apareceu diante do lobo, saltando em um arco poderoso e desferindo um chute devastador que afundou a cabeça da criatura com um som úmido e repugnante de ossos quebrando.

Noitora deslizou para trás, mas o dano já se regenerava, a carne verde pulsando. Enfurecido, o lobo levantou o rosto, e avançou, suas presas abertas, pronto para morder Kintoki.

No instante em que as mandíbulas iam se fechar, Kai ativou sua habilidade. Trocar.

Kintoki desapareceu em um flash prateado, trocado por Kai, que por sua vez desapareceu, trocando de lugar com uma kunai cravada no flanco do lobo. 

Kai atacou o flanco do lobo com uma série de cortes rápidos. Em vez de permitir que a regeneração do lobo o curasse, Kai enfiou sua katana, despejando sua aura no corpo da criatura e causando ferimentos internos. Ele então trocou de lugar com uma lâmina distante, reaparecendo com o sangue do monstro pingando dele.

O lobo uivou de dor, um som agudo e terrível. Ele parou, vomitando um rio de sangue negro.

— Calma lobinho que ainda não acabou! — Kintoki gritou, seu punho agora brilhando com o Éter roxo-escuro copiado de Akira. 

Kintoki avançou enquanto Kai tentava flanquear. Kintoki desferiu um "Soco de Antimatéria" nas costas do lobo ferido, aniquilando uma parte inteira de suas costas e deixando um buraco que revelava o outro lado.

Mas a carne borbulhou, o líquido verde pulsou, e o buraco se fechou em segundos.

O lobo se virou, suas garras verdes crepitando com energia, desferindo um corte de Éter que rasgou o ar em um arco horizontal. Kintoki, pego de surpresa pela velocidade da regeneração e do contra-ataque, não conseguiria desviar a tempo.

Trocar.

Kai, já prevendo o movimento, trocou Kintoki de lugar com uma lâmina no teto. As garras de Éter passaram pelo lugar onde ele estava, destruindo o chão e lançando uma cortina de água e vapor para o ar.

O lobo se virou, irritado, seus olhos esmeralda brilhando na escuridão, olhando para Kai e Kintoki, que agora estavam separados. Ele rosnou, e o mundo mudou. Ele ativou seu Domínio Cronocinético. O tempo ao redor dos dois desacelerou, o ar ficando denso. Eles estavam lentos. O lobo avançou, suas garras prontas para o abate, saboreando o momento.

Quando de cima, caindo pelo buraco no teto, Yuki apareceu, seu corpo envolto em eletricidade. Ela viu a cena, a lança em sua mão crepitando com poder.

— LANÇA RELÂMPAGO!

Ela arremessou sua arma. A lança, carregada de eletricidade, desceu como um raio, perfurando o ombro de Noitora. O choque elétrico e a dor fizeram o lobo perder a concentração. A aura temporal vacilou, e o tempo lento em volta de Kai e Kintoki se desfez com um estalo.

— GRRAAAH! — O lobo ignorou os dois no chão e olhou para Yuki, que continuava a cair. Ele saltou na direção dela.

— Onde você pensa que vai, vira-lata? — Kintoki saltou, agarrou a cauda do lobisomem no ar, girou seu corpo com uma força absurda, usando o impulso do monstro contra ele mesmo, e o jogou para baixo.

CRASH!

Eles quebraram outro piso, ou o que restava dele, caindo em uma área aberta e enorme: o andar mais baixo de todos. E estava completamente inundado. A água do mar, que entrou pelo buraco gigantesco causado pelo ataque de Kirino, batia na altura dos joelhos e continuava a aumentar.

Yuki, olhando do andar de cima, viu sua lança ainda presa no corpo molhado do lobo, que se debatia na água. Um condutor perfeito.

Ela ergueu a mão, seus olhos brilhando com poder elétrico. Uma gigantesca quantidade de eletricidade fluiu de seu corpo, descendo pela lança como um para-raios invertido. A água ao redor de Noitora explodiu em vapor e faíscas.

O lobo convulsionou, rugindo de dor enquanto era eletrocutado, seu corpo gigante se debatendo e criando um maremoto no andar inundado.

Os três saltaram para o andar de baixo, aterrissando na água com splashes pesados.

Kintoki riu, confiante, fazendo uma pose enquanto ajeitava os óculos, a água batendo em seus joelhos.

Yuki pousou com calma, controlada, sem nem suar, a eletricidade ainda percorrendo seu corpo.

Kai aterrissou por último, segurando seu braço esquerdo com força. A marca de Hakurei queimava sob sua pele, visível mesmo através da manga.

O lobo, mesmo depois de tudo aquilo, começou a se levantar da água. O vapor saía de seu corpo encharcado e queimado. A regeneração, embora mais lenta, ainda estava ativa, a carne verde borbulhando.

— Agora... — Kai rosnou, o ar frio e negro começando a emanar de seu braço, a água ao seu redor começando a formar cristais de gelo.

Ele olhou para a lança de Yuki, ainda presa nas costas do lobo. Ele trocou de lugar com ela.

Ele apareceu diretamente sobre a besta, em suas costas, sua mão esquerda brilhando com o gelo negro, tocando a pele molhada do monstro.

— CAIXÃO DE GELO!

A queima-roupa.

O gelo explodiu. A água, o ar, o andar inteiro congelou em um instante. O vapor da eletrocussão se transformou em neve negra. Um silêncio ensurdecedor tomou conta do local.

Os três ficaram de frente para o enorme lobo, agora preso, congelado com uma expressão de raiva, dentro de um bloco de gelo negro e sólido que se erguia da água como um monumento profano.

O bloco de gelo negro começou a rachar por dentro. O som foi primeiro baixo, como o de uma árvore antiga se partindo, antes de se intensificar. Com um rugido gutural que misturava éter e fúria, Noitora explodiu a prisão, enviando estilhaços de gelo sombrio para todos os lados como granadas. Ele estava de pé, ofegante, o corpo gigante coberto de vapor, o calor de sua raiva derretendo instantaneamente o gelo que ainda grudava em seu pelo.

Mas algo estava errado. Os cortes profundos feitos por Kai e o buraco da lança de Yuki não estavam fechando. A carne verde pulsava fracamente, mas não se unia.

Yuki, atenta, seus olhos elétricos analisando o fluxo de éter do inimigo, foi a primeira a notar.

— Sua regeneração... está lenta! Quase parou! — ela gritou, sua voz ecoando no andar destruído. — Essa forma deve gastar uma quantidade absurda de éter! 

Foi a única deixa que precisavam. O ar mudou. Todos se moveram como um só, Kintoki e Kai se separando para flanquear. Noitora tentou avançar, mas seus pés ainda estavam presos no gelo grosso que cobria o chão, um resquício do Caixão de Gelo.

— Meu aquecimento finalmente acabou! — Kintoki gritou, batendo os punhos. Usando o Controle Vetorial copiado de Maria, ele manipulou o ar ao seu redor, criando asas de tornado visíveis em suas costas que sopravam a água e o vapor para longe dele. Ele disparou em alta velocidade, deslizando sobre a superfície congelada como um patinador de foguete, cruzando o andar inundado em um instante, e acertou um soco poderoso no peito de Noitora.

O impacto soou como um canhão. O impacto o lançou para trás. O lobo deslizou pelo gelo, mas usou suas garras elétricas para desacelerar, cravando-as no chão e criando sulcos fumegantes. Ele avançou contra Kintoki, pronto para rasgá-lo.

Trocar.

No instante em que as garras de Noitora cortaram o ar, Kintoki desapareceu, trocado por Kai, que já estava em movimento, usando o impulso da troca. Ele, por sua vez, usou sua katana para cortar o chão de gelo, não apenas levantando um bloco, mas usando sua habilidade para arrancar uma placa inteira de gelo e água e a jogando na direção do lobo como um escudo.

Noitora, em pura fúria, esmagou o bloco com suas garras, fragmentando-o em milhares de pedaços menores que pairaram no ar por um momento.

Um erro.

Kai trocou de lugar com um desses pedaços de gelo, aparecendo no ar, bem ao lado da cabeça de Noitora, dentro da nuvem de estilhaços. Ele espetou sua katana no pescoço do lobo, um golpe sujo e preciso, despejando seu éter do Caos por dentro para causar ainda mais danos internos, congelando e quebrando a carne por dentro.

Enfurecido, o lobo o golpeou com as costas da mão, um tapa bestial que lançou Kai para trás como uma bola de canhão. Antes que ele pudesse se recuperar, Noitora, em um movimento tático brilhante, arrastou suas garras elétricas pelo chão de gelo. A fricção e o éter elétrico criaram uma explosão instantânea de vapor superaquecido. A água congelada ferveu, cobrindo tudo e impedindo que eles pudessem ver direito.

A sala ficou branca. Silêncio. Apenas o som de goteiras e o chiado do vapor. Sabendo da maior ameaça, os instintos de Noitora assumiram. Seu olfato o guiou através da névoa, seus movimentos agora mortalmente silenciosos.

Kai, cego, aterrissou na água rasa, rolando, tentando localizar o inimigo, sua katana pronta. Tarde demais.

Noitora apareceu de repente, suas garras verdes irrompendo da névoa, pegando-o de surpresa. Suas garras perfuraram o abdômen de Kai, levantando-o do chão. Imediatamente, ele descarregou seu éter elétrico, dando a Kai uma poderosa descarga interna que fez seus músculos convulsionarem.

— Jovem! — Kintoki tentou ir até ele, mas o lobo arrancou Kai de suas garras como se fosse lixo e o jogou contra Kintoki. Kintoki teve que parar sua investida para segurar o corpo ferido de Kai, o impacto quase derrubando os dois. Noitora aproveitou a abertura e lançou outro corte de éter, atingindo os dois e jogando-os contra a parede distante, onde caíram em um monte de escombros.

O lobo se virou, farejando o ar, procurando por Yuki.

Mas, saltando do céu e parando na frente dele, bloqueando seu caminho, estava Emillia.

O lobo não conseguia acreditar. De novo. E de novo. Ela se levantava.

Desta vez, ela não deu chance. Ela se tornou um borrão verde-prata. Ela desferiu uma chuva de estocadas com sua Rapiera da Tempestade. Os cortes, rápidos demais para serem vistos, mutilaram o corpo do lobo, visando tendões, articulações e os músculos restantes, arrancando pedaços de carne que não se regeneravam. Ela finalizou com uma estocada com força total, que fez outro buraco em seu abdômen.

Ele foi lançado para trás, mas prendeu as garras no gelo para impedir de ir mais longe. Ele tentou se levantar, seu corpo agora uma massa trêmula de feridas abertas...

— EU TAMBÉM TÔ AQUI, DESGRAÇADO!

Do céu, Beatrice desceu como um meteoro, envolta em uma aura vermelha de energia cinética. O golpe o atingiu, e desta vez o lobo não resistiu. O gelo sob seus pés se estilhaçou. Ele foi jogado com toda a força para o outro extremo da sala inundada, criando uma onda de impacto.

Ele se levantava mais uma vez, mas sua regeneração estava quase nula. Ele era uma massa de carne exposta e pelos queimados, mal conseguindo se manter sobre os quatro membros.

Dos fundos, Yuki, que ficou todo esse tempo concentrando, ergueu sua lança. O ar ao seu redor estalava. Toda a eletricidade de seu corpo foi focada na ponta, que brilhava com a intensidade.

— ACABOU!

Ela desferiu a Lança Relâmpago final. O ataque foi tão poderoso que derreteu e vaporizou o chão de gelo em seu caminho, criando um canal de pura energia.

Os instintos do lobo gritaram. Ele não conseguiria suportar mais um ataque. Ele saltou, usando toda a força restante, seus músculos rasgando, tentando desesperadamente sair da trajetória da lança.

Mas correndo em direção à lança, estava Beatrice.

Ela interceptou a arma no meio do caminho com um clang metálico. Prendeu as pernas no gelo para se firmar, seus músculos vibrando. Ela girou, lutando contra o impulso do trovão, mudando a direção da lança. A eletricidade de Yuki percorreu seu corpo, fazendo-a gritar, mas ela aguentou, e adicionou seu próprio poder.

— AAAAAAAAH!

Ela colocou seu éter e sua energia cinética no ataque. Seu corpo não suportou a sobrecarga. Sangue começou a escorrer de seus olhos, nariz e ouvidos.

A Lança Relâmpago, agora combinada com o Motor C, dobrou de tamanho e poder, a eletricidade azul agora envolta em uma espiral vermelha destrutiva.

Beatrice redirecionou o ataque, mirando o lobo que estava no ar, silhuetado contra o buraco no teto, sem ter para onde fugir.

O golpe o perfurou no meio do peito.

Yuki, observando de longe, olhou para a ponta da lança, agora coberta de sangue. Não era só o sangue do lobo. Era o sangue que ela mesmo havia derramado.

Naquele momento, a lança brilhou em um dourado ofuscante, a energia combinada atingindo massa crítica. Como um foguete, ela disparou para cima, carregando o corpo de Noitora. Subiu, atravessando os andares destruídos, perfurando o teto da sala do trono, e continuando, rasgando o céu noturno de Geonova como uma estrela cadente invertida.

Enquanto subia, o corpo gigantesco do lobisomem ia encolhendo, a energia verde se dissipando, perdendo sua transformação.

Parte 7

A cena mudava para um andar um pouco acima de onde a batalha final contra Noitora aconteceu, o ar ainda carregado de poeira. O local estava igualmente destruído, com detritos espalhados como cicatrizes de uma luta feroz. Kirino foi lançada com toda a força contra uma parede, quebrando-a em uma explosão de fragmentos que choveram ao seu redor, o impacto ecoando como um trovão abafado.

Do outro lado da fumaça que se dissipava lentamente, um jovem que aparentava ter 16 anos, usando óculos laranjas agora rachados, estava apoiado em sua katana, completamente ofegante, o peito subindo e descendo em respirações irregulares enquanto limpava o suor da testa com as costas da mão. Era Fujimoto, visivelmente rejuvenescido e ferido, uma linha de sangue escorrendo do canto da boca.

Caminhando lentamente em meio aos destroços, com as mãos nos bolsos e uma postura relaxada que contrastava com o caos, estava Misaki Albran. Ela olhou para os dois com um sorriso animado, inclinando ligeiramente a cabeça enquanto avaliava a cena.

— O que é isso, vocês dois? Eu sei que ainda conseguem ir bem mais além! Vamos lá, vamos deixar a juventude explodir! — ela falava, retirando a mão nos bolsos e batendo os punhos um no outro com um estalo entusiástico.

Fujimoto começou a cuspir sangue, inclinando-se para frente com uma careta de dor enquanto pressionava o braço contra o abdômen. — Seu monstro maldito... Por que apareceu na nossa frente?

Enquanto falava, ele pensava, desesperado. “A situação não é nada boa. Acabei sacrificando mais anos do que esperava para lutar com ela. Se isso continuar, não vai acabar nada bem para mim.”

— Era óbvio! — Misaki falou, como se fosse a coisa mais simples do mundo, gesticulando com uma mão aberta. — Vocês vieram a pedido de Oshino para eliminar Noitora.

— O que você tem com isso? — rosnou Fujimoto, endireitando a postura com esforço e apertando o punho da katana.

— Nada de mais. Eu também estava pensando em fazer o mesmo. — Ela deu de ombros casualmente, virando o corpo ligeiramente para o lado. — Mas ao ver os jovens tão entusiasmados nessa aventura de caça a Verbrechen, pensei em deixar para eles essa caçada. Por isso, vim impedir que vocês roubassem a presa deles.

No exato momento em que ela terminou de falar, um som agudo de algo rasgando o ar ecoou, cortando o silêncio tenso.

 FWOOOOSH! 

O corpo de Noitora, empalado na lança dourada e brilhante que faiscava com resquícios de Éter, passou subindo em alta velocidade pelo buraco no chão, direto para os céus, desaparecendo de vista em um borrão ascendente.

Misaki piscou, olhando para o buraco com as sobrancelhas franzidas, inclinando-se para frente para espiar o vazio abaixo. 

— Ah... já acabou? Que droga. — Ela estalou o dedo, genuinamente desapontada. — Calculei mal. Achei que tinha tempo para brincar com vocês e assistir a batalha final. Mas que droga, em.

Ela se virou para os dois invasores, que a encaravam com cautela, os corpos tensos. — O que me dizem, vocês dois? Ainda querem continuar? Parece que consegui um tempo extra.

O agora adolescente Fujimoto se levantou com dificuldade, gemendo baixinho enquanto embainhou sua katana com um clique metálico. — Não. Se eu pudesse escolher, preferiria evitar monstros como você.

Misaki então olhou para Kirino, que se levantava da parede, limpando a poeira do vestido com tapas rápidos nas saias, franzindo o nariz em irritação. — E você? Quer brincar comigo?

Kirino deu a língua para ela, esticando-a com um som zombeteiro enquanto cruzava os braços. — Claro que não! Eu te odeio, sua velha!

Kirino correu até Fujimoto, ajudando-o a se apoiar nela ao passar o braço dele sobre seus ombros, ajustando o peso com cuidado enquanto o guiava para longe. Os dois começaram a sair da sala.

Misaki acabou sozinha, o silêncio caindo ao seu redor. Ela caminhou até a borda do enorme buraco no chão, olhando para o andar inundado e congelado lá embaixo, o vapor ainda subindo das superfícies geladas. — E pelo visto... não vou conseguir informações sobre a "Alvorada" por aqui. Que pena.

Ela sorriu, lembrando-se da explosão de Éter sombrio de antes, os olhos brilhando com interesse genuíno. — Ainda assim, foi interessante. Aquela energia... o pessoal lá de cima disse que era de Dante, não é? — Ela colocou o dedo no queixo, pensativa, inclinando a cabeça para o lado. — Eu tenho certeza que senti uma Borboleta do Caos naquele Éter. Quem diria... a nova geração está vindo com tudo.

Ela se espreguiçou, estendendo os braços acima da cabeça com um suspiro satisfeito, e começou a sair, escalando casualmente o buraco criado por Noitora, os dedos encontrando apoios nas bordas irregulares com facilidade.

Enquanto a visão subia com Misaki, ela parou e reverteu, descendo suavemente como uma câmera flutuante. Desceu pelo buraco, indo para o poço de destruição que o "Dante" havia criado ao arrastar Lidyan, as paredes marcadas por sulcos fumegantes e escombros espalhados.

Lá embaixo, na escuridão e no silêncio opressivo, Velvet estava sentada nos escombros, segurando o corpo inconsciente de Dante em seus braços, embalando-o gentilmente como uma mãe acalmando uma criança, os dedos traçando linhas suaves em seu cabelo desgrenhado. Ela observava seu rosto com atenção, seus olhos amarelos brilhando com uma mistura de preocupação e expectativa.

Voando lentamente em volta dele, quase invisível nas sombras dançantes, estava uma pequena borboleta vermelha, feita de puro Éter, as asas batendo em um ritmo hipnótico que iluminava fracamente o espaço ao redor.

Velvet sorriu, um sorriso suave que suavizava suas feições, inclinando a cabeça ligeiramente enquanto continuava a embalá-lo. — Só falta mais um pouco.

Parte 8

Enquanto a batalha final se encerrava nos andares inferiores, em um laboratório diferente, muito acima e coberto por uma espessa camada de poeira que amortecia os sons e deixava o ar seco, Cat cantarolava baixinho uma melodia animada. Ela mexia em vários cabos em um painel de parede enferrujado, religando a energia com dedos ágeis que dançavam entre os fios emaranhados, ocasionalmente parando para soprar a poeira acumulada. O ar-condicionado zuniu à vida com um sopro frio que agitou as partículas no ar, e computadores empoeirados começaram a ligar, telas piscando com linhas de código.

— Eles bem que poderiam ter cuidado melhor do meu laboratório, em... — ela resmungou.

Anna, que estava parada no meio da sala com os braços cruzados, parecia inquieta, trocando o peso de um pé para o outro enquanto varria o ambiente com os olhos semicerrados. De repente, ela parou, congelando no lugar como se escutasse algo distante.

Um segundo depois, um FWOOSH distante ecoou pela estrutura, como algo sendo disparado para o céu com um assobio agudo que reverberou pelas paredes metálicas. A aura opressora de Noitora havia desaparecido, deixando um vazio palpável no ar.

Cat, sentindo a mudança como um alívio súbito, deu um pulo animado e bateu palmas com entusiasmo, girando no lugar para olhar para Anna.

— Olha só! Parece que seus amigos conseguiram vencer! Yeba!

Anna soltou um suspiro de alívio, os ombros relaxando visivelmente enquanto inclinava a cabeça para trás por um instante, fechando os olhos.

— É claro que conseguiram... — ela murmurou, mas seu rosto permaneceu incomodado. Ela olhou para as próprias mãos, abrindo e fechando os dedos como se testasse algo invisível. — Mas aquilo... o Éter do Dante... saiu do controle de novo. Acho que não vai adiantar ficar adiando. É melhor começar o treino para ele controlar aquilo.

— Achei!

Anna se virou bruscamente, os olhos se fixando em Cat. Cat estava puxando um livro grosso de uma pilha de documentos em uma mesa bagunçada, erguendo-o triunfante com um sorriso largo.

— Você achou? O livro?

— Sim! — Cat o apresentou com orgulho, balançando-o levemente no ar como um troféu. A capa estava totalmente encoberta por poeira, obscurecendo as letras. — Ops, desculpa.

Ela assoprou com força, inclinando-se para frente. Uma nuvem gigante de poeira voou, cobrindo Anna, que começou a tossir e a abanar o ar com as mãos, piscando rapidamente para clarear a visão enquanto recuava um passo.

Na capa, agora limpa, estava escrito em letras douradas e gastas: Antologias do Circo Meia-Noite.

Anna franziu o cenho, inclinando a cabeça para ler melhor enquanto estendia a mão para tocar a capa. — Cat, esse não é o livro que eu estava procurando.

— Ah, mas na realidade, é exatamente esse livro! — Cat falou, balançando o dedo indicador no ar como uma professora explicando uma lição. Ela o abriu em uma página marcada com um marcador improvisado, virando-o para mostrar a Anna. — Se você ler esta parte, vai descobrir exatamente o que estava acontecendo com seu amigo. Sem sombras de dúvidas.

Anna parecia desconfiada, semicerrando os olhos enquanto pegava o livro devagar, mas a promessa de entender o problema de Dante era forte demais, fazendo-a hesitar apenas por um segundo antes de aceitar. Ela pegou o livro e começou a ler o conto indicado: O Conto da Princesa Branca, os olhos dançando pelas linhas com concentração crescente.

"Era uma vez, num canto escondido onde os olhos se fecham e a mente vagueia, o Reino de Morpheus, a terra dos Prims, onde sonhos dançam e pesadelos rastejam. Lá, entre brumas de luz e sombras, erguia-se um castelo feito de cristal e luar, tão brilhante que cegava os olhos, mas tão frio que gelava o coração."

Ao ler essa parte, a visão de Anna começou a ficar embaçada, as letras parecendo se contorcer na página como serpentes vivas. Ela sentiu uma tontura avassaladora e seu corpo pesou, os joelhos fraquejando enquanto piscava para clarear os olhos.

— O que... o que está acontecendo...?

Ela caiu de joelhos com um baque surdo, o livro escorregando de suas mãos para o chão empoeirado. Cat, com uma expressão culpada que franzia sua testa, correu até ela, inclinando-se para tocar seu ombro com hesitação.

— Desculpa! Desculpa! Eu não menti! De fato, esse livro conta exatamente o problema do seu amigo! — ela disse rapidamente. — Agora... o x da questão era que você não poderia usar o conhecimento do livro depois de ler!

— Você... — Anna tentou criar uma espada de Éter, se forçando a ficar de pé com os dentes cerrados, estendendo a mão trêmula. A lâmina cintilou por um segundo com um brilho fraco e se apagou como uma vela ao vento. Seus olhos reviraram e ela apagou, caindo para frente em um colapso mole.

Cat a segurou antes que batesse no chão, envolvendo os braços ao redor dela com um grunhido de esforço, e a arrastou para uma cadeira de escritório empoeirada próxima, ajustando-a com cuidado para que não escorregasse.

— Ei! Ei, você tá aí? — Cat cutucou sua bochecha com o dedo indicador, inclinando a cabeça para observar melhor. — Não me diga que a poeira do livro foi fatal.

Os olhos de Anna se abriram de repente, piscando uma vez com clareza sobrenatural. Mas não eram os olhos de Anna, brilhando com uma intensidade nova.

Eles eram de um vermelho-sangue brilhante, pulsando com uma luz interna.

Suas presas, antes normais, agora estavam visivelmente pontudas, destacando-se ligeiramente quando ela entreabriu os lábios. Suas orelhas também pareciam ligeiramente mais longas e afiadas, tremendo levemente com o movimento.

Ela abriu completamente os olhos e olhou para Cat, inclinando a cabeça devagar como se avaliando o ambiente pela primeira vez. Sua voz, quando falou, era mais profunda, melódica e carregada de uma arrogância arcaica, como se fosse uma figura da realeza.

— Acreditais mesmo que minha pessoa pereceria por tal razão?

Cat, vendo a mudança, abriu um sorriso de orelha a orelha, o pânico desaparecendo instantaneamente enquanto batia palmas com excitação, girando no lugar por um momento.

— Ainda bem! Você está aí! — ela exclamou, inclinando-se para frente com as mãos nos joelhos. — Tenho boas notícias! O portal finalmente está completo! Tudo que eu tenho que fazer é voltar para o meu laboratório em Babylon e poderemos ir para a terra onde as Borboletas do Caos nasceram!

A garota no corpo de Anna se levantou da cadeira com uma graça fluida, ajeitando as roupas com movimentos elegantes, alisando as dobras do tecido. Ela olhou para Cat com seus novos olhos vermelhos, inclinando ligeiramente a cabeça em aprovação.

— Certamente. Eu vos conduzirei até lá. Afinal, esse foi o pacto firmado entre nós.

Parte 9

Certo tempo havia se passado, o brilho da luz da lua se filtrava pelas cortinas finas do hospital, lançando padrões suaves de luz sobre o quarto escuro.

Dante estava em um quarto no hospital de Babylon, mas não descansava. Ele se remexia violentamente na cama, os lençóis torcidos em volta de seu corpo enfaixado como correntes úmidas, suor frio escorrendo por sua testa e empapando o travesseiro. Ele estava tendo pesadelos novamente, o peito subindo e descendo em respirações irregulares.

Vozes. Elas sussurravam em sua mente, urgentes e sobrepostas, ecoando como ecos distantes em uma caverna escura. ...Ela escapou... ...A prisioneira escapou... ...Precisamos encontrá-la no mundo acordado... antes que seja tarde... ...Rápido... ela deve ter utilizado uma casca humana...

Ele se debatia em confusão, rolando de um lado para o outro com gemidos abafados, os punhos cerrados apertando os lençóis. De repente, a porta do quarto se abriu com um clique suave. Yuki, que estava de guarda do lado de fora, correu até ele ao ouvir os ruídos. — Dante! Ei, acorde! É só um pesadelo! — ela o sacudiu pelos ombros, tentando trazê-lo de volta, inclinando-se sobre a cama para acalmá-lo com toques firmes mas gentis.

Ele abriu os olhos abruptamente, mas não a via, piscando devagar como se ainda estivesse imerso no sonho. Seu olhar estava vidrado, perdido em um vazio distante. — Precisamos... encontrá-la... — ele ofegou, a voz rouca e entrecortada. — Ela está aqui...

— Dante, pare! Você está seguro! — Yuki insistiu, apertando seus ombros com mais força, virando o rosto dele para encará-la diretamente.

Yuki então viu, erguendo o olhar por um instante. A sombra de Dante na parede, projetada pela luz fraca do corredor que vazava pela porta entreaberta. Estava crescendo, esticando-se de forma disforme, independente dos movimentos dele, contorcendo-se como tentáculos vivos. — Acorde! — ela gritou, seu tom agora carregado de urgência, o coração acelerando enquanto se inclinava para trás. 

Então tudo que se seguiu foi o completo silêncio.

Antes que alguém viesse, tudo parou abruptamente, o ar parecendo se acalmar. A sombra encolheu de volta ao normal. Dante parou de se debater, e caiu em um sono pesado e exausto, a respiração se estabilizando em um ritmo lento.

Assim, a noite continuou até a manhã seguinte, o silêncio do quarto apenas interrompido pelo tique-taque distante de um relógio no corredor.

O tempo passou. O dia chegou, o sol agora alto no céu. Babylon estava, atualmente, sobrevoando o oceano, o vasto azul se estendendo abaixo como um tapete infinito. O cheiro de água do mar entrou pela janela aberta do hospital, uma brisa alegre, salgada, mas reconfortante, agitando levemente as cortinas brancas.

Dante abriu os olhos devagar, piscando contra a luz que inundava o quarto, sua cabeça latejava com uma dor surda que pulsava nas têmporas. — Vá com calma.

Uma voz suave o ajudou a se apoiar nos travesseiros, uma mão gentil guiando suas costas com cuidado. Abrindo os olhos embaçados, Dante reparou na figura sentada ao lado de sua cama, inclinada para frente com um sorriso calmo. 

— Mirai... — ele resmungou, sua garganta seca como lixa, pigarreando levemente enquanto tentava se sentar mais reto.

Mirai deu uma risadinha baixa, cobrindo a boca com a mão enquanto inclinava a cabeça para o lado. — Dessa vez eu não fui para o seu quarto.

Dante piscou várias vezes, seus olhos finalmente focando, varrendo o ambiente ao redor. As paredes brancas imaculadas. O gotejamento ritmado do soro ao lado da cama. Ele estava em uma cama de hospital, o bipe suave de um monitor ecoando baixinho. — O que aconteceu?!

— Calma. — Mirai colocou a mão em seu ombro, um gesto que o ancorava de volta aos travesseiros. — Está tudo bem. Vocês venceram. E salvaram a Sophi. Ela atualmente está se recuperando em uma sala aqui ao lado. Assim que você se recuperar, pode ir vê-la também.

Dante relaxou um pouco, os ombros caindo enquanto assimilava as palavras, fechando os olhos por um momento de alívio. — E os demais?

— Apesar de alguns estarem bem machucados, ninguém morreu. Então, pode se acalmar. — Entendo... — ele relaxou contra os travesseiros, soltando um suspiro longo.

Mirai inclinou a cabeça ligeiramente, observando-o com curiosidade. — O que é a última coisa que você se lembra? Quando eles acharam você... você estava em um dos andares subterrâneos totalmente destruídos. Junto do corpo de duas membras da Verbrechen.

Até Dante se assustou com o número, piscando em choque enquanto processava. — Duas?

Ele colocou a mão na cabeça, tentando lembrar, massageando as têmporas com os dedos trêmulos. — Eu... eu lembro da batalha contra a Anjo-Caido. Lembro que tive muita dificuldade... e que acertei ela com a minha nova técnica... — Sua mente ficou embaçada, franzindo a testa em frustração. — Acho que ela tinha levantado... mas não lembro direito.

— Deveria ir com calma e não forçar — Mirai aconselhou, inclinando-se para frente com um tom maternal, ajustando o travesseiro atrás dele. — Fica complicado. Todo mundo está querendo saber sobre aquela onde de Éter gigantesca que você havia emitido.

— O quê? — Dante ficou sem acreditar, virando a cabeça bruscamente para encará-la. — O que você quer dizer com isso?

— Todos sentiram, mesmo do lado de fora da fábrica. Encontraram um buraco enorme feito por você também, atravessando vários andares.

Dante ficou em silêncio, tentando processar, mordendo o lábio inferior enquanto olhava para o teto. "Tão forte assim? Poderia ter sido a nova técnica?"

— Você pode ir se recuperando aos poucos, até lembrar — Mirai disse, pegando uma tigela ao lado da cama com movimentos suaves, erguendo-a para mostrar as fatias. — Eu vou ficar ao seu lado até isso acontecer. Afinal, eu sou sua vigia.

Dante se surpreendia com como ela conseguia falar aquilo de forma tão casual, erguendo uma sobrancelha enquanto a observava. Ele aceitou com um aceno relutante. Mirai começou a pegar maçãs cortadas em formato de coelho com os dedos delicados e levar até a boca dele, inclinando-se para frente com um sorriso encorajador. Ele agradeceu com um murmúrio e começou a olhar pela janela, observando o reflexo dançante do sol.

Foi então que ele percebeu seu reflexo no vidro, piscando devagar ao notar algo fora do lugar. Ele parou, inclinando a cabeça para analisar melhor. Ele se virou para Mirai, os olhos se arregalando ligeiramente. — Mirai... meus olhos.

— Ah, sim. — ela confirmou, assentindo calmamente enquanto colocava outra fatia na tigela. — É verdade.

Ele estava com os dois olhos azuis, brilhando uniformemente sob a luz da manhã.

Dante ficou ainda mais confuso, tocando o rosto instintivamente como se para confirmar. O que diabos tinha acontecido? — Espera... — ele disse, uma lembrança vindo à tona como um flash, endireitando a postura apesar da dor. — É verdade! A Yuki! A Yuki assistiu a luta toda! Ela deve saber o que aconteceu depois que eu apaguei!

Ele tentou se levantar, impulsionando os braços contra o colchão, mas uma dor aguda em seu abdômen o fez parar com um gemido sufocado, dobrando-se para frente. Mirai o colocou de volta na cama, com uma força gentil mas firme, pressionando seus ombros para baixo. — Ei. Eu posso chamar ela. Sem você precisar fazer nenhuma bobagem agora.

Ele soltou um gemido de dor e se acalmou, recostando-se com uma careta. — Certo. Estava tudo bem...

Mirai se sentou de volta na cadeira ao lado, dando mais uma maçã para ele, erguendo-a com um gesto casual. Ele foi com a boca aberta para pegar, mastigando devagar, quando Mirai perguntou, casualmente, inclinando a cabeça com curiosidade: — Mas, falando nisso... para eu poder chamar ela, primeiro você precisa me dizer: quem é essa tal "Yuki"? É uma membra dos Juízes ou do Comitê?

Dante travou, os olhos se arregalando em confusão enquanto a maçã em formato de coelho parada a centímetros de sua boca caia. Ele ficou com a cara em branco, sem entender, piscando repetidamente como se processasse a pergunta.

— Que ? 

Continua… 




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