The Fall of the Stars: Capítulo 4 - Invasão
- AngelDark

 - há 6 dias
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Volume 8: Desafio das Coroas
Parte 1
12 de Setembro - Cidade Geonova (Elysium)
A brisa noturna de Geonova carregava o aroma salgado do mar distante, misturando-se ao cheiro reconfortante de grãos torrados e doces frescos que pairava no ar da cafeteria. As luzes suaves do estabelecimento iluminavam as mesas de madeira polida, onde clientes dispersos conversavam em tons baixos, criando uma atmosfera de tranquilidade que contrastava com o burburinho da cidade lá fora. Chuya, recostado em sua cadeira com uma postura relaxada que denunciava sua natureza despreocupada, tomava seu café tranquilamente, após ter concluído uma missão. O líquido quente descia por sua garganta, aquecendo-o por dentro enquanto ele saboreava o amargor equilibrado, um raro momento de paz em sua vida agitada. Ao terminar a bebida, ele calmamente pegou um cigarro do bolso, seus dedos ágeis deslizaram o maço com familiaridade, pronto para acendê-lo com um isqueiro.
Mas este foi rapidamente arremessado para longe por Miguel. Com precisão absurda, ela havia disparado uma tampa de garrafa de refrigerante usando um elástico que trazia no pulso. O movimento foi fluido e instantâneo: ela esticou o elástico entre o polegar e o indicador, mirou com olhos frios e calculadores, e soltou, fazendo a tampa voar como uma bala improvisada, acertando o cigarro bem no centro e enviando-o girando pelo ar até cair no chão a metros de distância.
— Mas que ideia é essa? — Chuya a encarou do outro lado da mesa, inclinando ligeiramente a cabeça.
A garota, mantendo a mesma feição impassível de sempre, simplesmente apontou para uma placa no fundo do estabelecimento, onde se lia claramente: "PROIBIDO FUMAR". Miguel, com seus cabelos longos e dourados caindo em mechas retas sobre a testa, parecia uma boneca viva, sua expressão neutra revelando pouco sobre o que se passava em sua mente.
— Droga, eu não tinha visto. — Ele desviou o olhar para o céu, observando as estrelas que pareciam mergulhar no mar distante, pensando que seria bom adiar o retorno a Babylon para amanhã e passar o resto do dia aproveitando a calmaria da cidade. As constelações piscavam como joias em um véu negro, e o som distante das ondas quebrando na costa ecoava em sua mente, evocando uma nostalgia por dias mais simples. — De qualquer forma...
Ele suspirou, recostando-se na cadeira, o encosto rangendo levemente sob seu peso enquanto ele esticava as pernas por baixo da mesa, sentindo o cansaço dos músculos após a missão recente. Muita coisa havia mudado desde o incidente do Titanic. A calmaria que ele tanto buscava parecia cada vez mais distante, como um horizonte que se afastava a cada passo que dava.
Ele se tornou um Caçador, conseguiu uma boa grana e uma vida relativamente sossegada, exatamente como queria. Antes havia evitado Babylon, principalmente por causa das taxas de matrícula absurdas. Mas então, Aleister, aquele excêntrico incurável, ficou curioso sobre o incidente e convidou todos os envolvidos para se matricularem... de graça. Parecia um bom negócio na época, e Chuya se lembrava vividamente do sorriso enigmático de Aleister ao estender o convite, como se soubesse de segredos que ninguém mais compreendia.
Agora, porém, desde que a tal "Expedição para o Void" foi declarada, a tranquilidade estava ruindo. A academia estava cheia de brigas e desafios. Sempre aparecia alguém querendo desafiá-lo para um "Jogo das Coroas", e aquilo era um inferno. Além disso, a obrigação de participar das aulas estava começando a irritá-lo profundamente, com professores tagarelando sobre teorias que ele considerava irrelevantes, enquanto ele preferiria estar em baixo de uma árvore apenas vendo as nuvens.
Ele se perguntava se realmente valia a pena continuar, mas, por outro lado, não conseguia pensar em nenhuma forma mais confortável de passar o tempo que não envolvesse arriscar o pescoço por alguns trocados. Seus pensamentos vagavam por uma época que tudo se resumia a dinheiro, drogas, pólvora e fumaça, contrastando com a serenidade atual.
Ele se virou para Miguel, inclinando o corpo ligeiramente para frente, como se para captar qualquer nuance em sua expressão impassível. — O que você acha?
A garota apenas deu outra mordida em um pastel que havia pedido, ignorando-o completamente. Seus dentes afundaram na massa crocante com um som sutil de estalo, e ela mastigou devagar, metodicamente, sem erguer os olhos do prato. – era como tentar conversar com uma sombra que ocasionalmente piscava.
— É... — Chuya bufou, um meio sorriso irônico surgindo em seus lábios enquanto ele balançava a cabeça, divertindo-se com a previsibilidade dela. — Não sei por que perguntei. Não esperava uma resposta mesmo.
Ele voltou a olhar para as estrelas, mas um pensamento que o incomodava há algum tempo veio à tona, como uma coceira persistente na mente. Sem olhá-la diretamente, ele perguntou, sua voz baixando um tom:
— Ei. Por que você, a Mirai e a Yuki têm o mesmo sobrenome? T. Bianchi. Eu entendo elas duas, são irmãs. Mas você? Não faz sentido.
Houve um silêncio, denso e carregado, o ar entre eles parecendo se espessar enquanto Chuya tamborilava os dedos na mesa, aguardando a costumeira falta de reação. Em vez disso, a voz de Miguel soou, clara e baixa, fazendo-o pular na cadeira.
— Não é um sobrenome de família. É um modelo de série.
Chuya se desequilibrou e caiu da cadeira com um baque surdo, suas mãos se debatendo no ar em uma tentativa cômica de se equilibrar, enquanto a cadeira tombou para trás com um estrondo que ecoou pela cafeteria. O susto foi duplo: primeiro, pela resposta em si; segundo, e muito mais impactante, porque ela havia falado. A garota que só se comunicava por gestos de cabeça tinha acabado de formar uma frase completa, ele quase tinha esquecido o som de sua voz suave.
Ele se levantou rapidamente, limpando a poeira da roupa com palmadas apressadas. Seu rosto corou levemente de constrangimento, mas a excitação pela raridade do momento brilhava em seus olhos.
— O-o quê? Modelo de série? O que diabos isso quer dizer? Você é uma robô ou algo assim? — Ele se inclinou sobre a mesa, aproximando o rosto do dela, procurando qualquer rachadura em sua fachada impassível, seu tom misturando incredulidade e empolgação.
Miguel terminou o pastel e limpou os dedos os levando calmamente ate a boca. Se a revelação a afetava, ela não demonstrou, seus movimentos calmos e ritmados contrastando com a agitação de Chuya.
— É como os cientistas de Gaia chamavam as crianças da série T.
A resposta era ainda mais estranha e abstrata. "Crianças da série T..." Chuya ia pressioná-la, abrindo a boca para soltar uma torrente de perguntas, seus olhos faiscando com curiosidade voraz, mas, de repente, as luzes da cafeteria piscaram e se apagaram, um zumbido elétrico morrendo no ar enquanto sombras se estendiam como dedos gélidos. A energia da rua inteira morreu, mergulhando o quarteirão em uma escuridão parcial, iluminada apenas pelas luzes de emergência distantes e pelo brilho do céu, que agora parecia mais ameaçador do que poético.
Quase imediatamente, guardas da segurança de Geonova apareceram, suas vozes firmes ecoando na noite, cortando o silêncio como lâminas afiadas, enquanto lanternas dançavam em suas mãos, iluminando rostos tensos e uniformes impecáveis.
— Evacuação! Por favor, todos os civis, afastem-se desta área! Rápido!
Funcionários e outros clientes começaram a se levantar, confusos e assustados, cadeiras arrastando no chão com ruídos estridentes, murmúrios de pânico se espalhando como ondas. Chuya franziu o cenho, a curiosidade sobre Miguel dando lugar a uma vigilância instintiva. Decidindo que interrogava Miguel depois, ele se aproximou de um dos guardas, seus passos firmes e deliberados, ignorando o caos ao redor.
— O que está acontecendo? — perguntou, sua voz baixa mas autoritária.
A guarda, uma mulher de uniforme azul, mal olhou para ele inicialmente, seu foco no controle da multidão. — Informação sigilosa, senhor. Os Civis devem sair da área demarcada até segunda ordem.
Chuya suspirou, enfiando a mão no bolso e puxando sua licença de Caçador. — Não sou só um Civil.
A guarda parou, seu olhar focando na identificação de Babylon, e ele notou o leve tensionar de seus ombros antes que ela relaxasse um pouco. Sua postura mudou, tornando-se ligeiramente mais respeitosa, embora ainda tensa, como se estivesse avaliando se ele era aliado ou complicação.
— Entendido, Caçador Chuya. Caçadores de Babylon fizeram esse pedido. Aparentemente, algo vai acontecer na parte interditada. É tudo o que sei. O resto é sigiloso, ordens diretas.
Chuya acenou, guardando a licença com um movimento casual, mas sua mente já girava com possibilidades, uma faísca de intriga acendendo em seu peito. Ele voltou para a mesa onde Miguel já estava de pé, pronta, sua silhueta esguia destacando-se na penumbra, os olhos alertas observando tudo com aquela calma inabalável.
— Caçadores de Babylon. Estão interditando a área para alguma operação secreta. — Ele deu uma risadinha seca, balançando a cabeça enquanto se aproximava dela, notando como ela inclinava ligeiramente o corpo para ouvi-lo melhor. — Se o objetivo era ficar em segredo, a missão já fracassou no primeiro passo. Interditar uma área pública assim só atrai atenção.
Ele coçou a nuca e puxou outro cigarro do maço, desta vez mais atento, acendendo-o com um clique rápido do isqueiro. Conseguiu acendê-lo e dar uma tragada profunda antes que Miguel pudesse agir, o fumo quente preenchendo seus pulmões enquanto ele exalava devagar, sentindo a tensão se dissipar um pouco. Ela o encarou e começou a saltar, tentando pegar o cigarro na mão do garoto, mas ele apenas ergueu o braço de forma que ela não pudesse alcançar.
— Relaxa. A cafeteria já está fechada de qualquer forma. Não importa mais.
Ele se levantou, jogando algumas notas na mesa para pagar a conta, o papel farfalhando contra a madeira enquanto ele se endireitava, estalando o pescoço para aliviar a rigidez. — Vamos.
Miguel inclinou a cabeça, um gesto claro de "Para onde?", seus olhos se estreitando ligeiramente em uma rara demonstração de curiosidade.
Chuya deu um sorriso cansado e apontou com o queixo na direção da área evacuada. — Para o centro dessa confusão… eu odeio fazer hora extra — explicou ele, como se para si mesmo, mas olhando de esguelha para ela, notando como seus passos se sincronizavam com os dele. — E detesto me envolver em problemas alheios. Mas acontece que eu adoro esse restaurante. É o único lugar em Geonova que serve um café decente. É melhor garantir que essa confusão não chegue até aqui... mesmo sabendo que vai ser um saco.
Pela segunda vez naquela noite, Miguel o surpreendeu. Um sorriso quase imperceptível.
Ambos começaram a caminhar, não para longe da evacuação, mas diretamente em direção ao seu epicentro, seus passos ecoando na rua escura, o ar carregado de tensão e mistério, enquanto a noite de Geonova se desenrolava em um novo capítulo imprevisível.
Parte 2
No distrito industrial, afastado do restaurante e cheio de depósitos e fábricas silenciosas, o ar estava carregado com o cheiro metálico de máquinas enferrujadas e o eco distante de guindastes parados sob o céu noturno. Lá ficava o alvo da operação: uma dessas fábricas. Era uma fachada para a base da Verbrechen der Evolution (que havia sido desmascarada graças às investigações dos juízes), cujas paredes de concreto rachado e janelas embaçadas escondiam segredos por trás de uma aparência abandonada.
Do lado de fora, em frente à entrada, um grupo enorme de membros do Comitê de Disciplina, liderados por Luka, visivelmente sonolento, terminava de fechar o perímetro. Eles armavam barreiras — cordas esticadas entre postes improvisados — e evacuavam os últimos curiosos, com movimentos coordenados e eficientes. Luka bocejava abertamente, esfregando os olhos com o dorso da mão, sua postura relaxada contrastando com a tensão dos subordinados.
Perto dali, Charlotte, Luck, Ludimilla e Beatrice conversavam, tensos, agrupados em um círculo improvisado sob a luz fraca de um poste de rua.
— E aí, quanto mais tempo vai levar até tudo ser feito? Com certeza o inimigo já deve saber da nossa presença agora que desligamos a energia. E se eles fizerem a Sophi de refém? Ou pior… — Ludmilla estava abalada, contendo-se muito para não entrar; seus punhos cerrados tremiam ligeiramente.
— Calma. Eu sei como vocês estão se sentindo, mas temos que ter calma agora, acima de tudo. Eles podem até saber que têm inimigos, mas não podem pressupor que somos nós, e não outros inimigos. Seria arriscado demais, por isso eles não farão nada com Sophi até conseguirem confirmar visualmente quem é o inimigo. — Charlotte se esforçava para manter todos calmos, e sua voz suave, mas firme, ecoava como um farol de razão.
— Dito isso, eu não sei quanto mais vou conseguir impedir que eles saiam por conta própria. — Beatrice, que também estava tensa, observava o restante do grupo pelo canto do olho, garantindo que ninguém queimasse a largada, embora já estivesse fazendo muita força para não fazer o mesmo.
— “Verbrechen der Evolution… Se não me engano, Algoz era desse grupo… Será que eles também sabem de algo sobre a Horizon?” — Luck pensava em silêncio, com o olhar sério direcionado à porta da base.
Do outro lado, os Juízes, liderados por Emillia, observavam os Corvos — posicionados em uma formação tática mais organizada — achando graça do esforço óbvio que o grupo fazia para se conter e não invadir prematuramente. Um leve sorriso sarcástico dançava nos lábios de alguns.
— Que coisa... Aquele grupo é mais problemático do que eu achava. Não conseguem nem esconder a clara intenção assassina. — Elias, o Juiz com brincos em forma de lua e sol, falava para Nastácia, inclinando-se ligeiramente para ela com um tom descontraído.
— Elias, atenção. Ignore as crianças do outro lado e só se importe consigo. Se acabar cometendo algum erro, vai morrer. — Nastácia falava com autoridade, mesmo possuindo metade da altura de Elias e estando carregando um grande urso de pelúcia como se fosse uma criança, apertando o brinquedo contra o peito com uma mão enquanto apontava o dedo livre para ele.
No entanto, Emillia, diferente dos demais, não estava prestando atenção nos Corvos, embora seus olhos estivessem indo para a mesma direção. Ao contrário dos outros, ela estava totalmente concentrada em Dante, que estava próximo, coberto de bandagens e visivelmente ferido.
“O que poderia ter acontecido para deixá-lo naquele estado…?” — Ela sentia que algo nele estava diferente. Sua mão coçava sobre o cabo de sua lâmina, os dedos se contraindo involuntariamente, enquanto ela estreitava os olhos. — “Dependendo de como essa mudança se demonstrar hoje, talvez seja melhor eliminá-lo.”
De repente, com um rangido metálico ensurdecedor, os portões principais da fábrica se abriram. Sem mais nem menos. O som ecoou como um grito mecânico na noite silenciosa, fazendo poeira cair das bordas enferrujadas enquanto as portas se escancaravam lentamente.
Luka, piscando os olhos sonolentos, perguntou: — Quem fez isso? — Ele bocejou novamente e coçou a cabeça, com preguiça.
Um dos membros do Comitê verificou seu terminal, pálido. Seus dedos tremiam sobre a tela iluminada enquanto suor escorria por sua testa. — Algo está errado, senhor. Nós cortamos a energia do local. Eles não deveriam ser capazes de abrir por dentro!
Antes que qualquer outra ordem pudesse ser dita, os mais apressados dos Corvos — como já era esperado — pularam a cerca improvisada e começaram a invasão; o som de seus pés batia no metal enquanto eles se lançavam para a frente, às cegas.
— Idiotas... — Charlotte colocou a mão no rosto, sem conseguir acreditar neles, balançando a cabeça em frustração.
A visão focou em Kai, que estava na frente de todos, correndo o mais rápido que podia para dentro da base escura, seus músculos tensionados impulsionando-o adiante, o ar frio cortando seu rosto enquanto ele devorava o chão com passadas longas.
Vivian, correndo em alta velocidade, emparelhou ao lado dele, seus cabelos esvoaçando ao vento enquanto ela ajustava o ritmo para ficar ombro a ombro.
— Espere, idiota! Eu também vou! — ela gritou, tentando acompanhar o ritmo frenético dele. — Você cuida da idiota que fez aquilo com você, e eu salvo a Sophi!
Kai não respondeu nada. Seus olhos estavam fixos à frente, o rosto uma máscara de fúria contida.
— Por que você foi ver o Hakurei? — Vivian, preocupada com o silêncio incomum de Kai, acabou deixando suas preocupações saírem sem perceber enquanto o acompanhava. — Quando acordou no hospital... eu saí para buscar algumas roupas para você, e a enfermeira disse que você tinha saído por conta própria. Achei que você viria direto para cá, atacar sozinho. Mas, em vez disso, você foi ao dormitório dele. Tinha algum motivo?
No entanto, ele não deu nenhuma resposta, apenas aumentou o ritmo.
Logo atrás, no grupo de Dante, Anna e Yuki o acompanhavam, embora ele mal conseguisse correr, mancando ligeiramente a cada passo, o suor escorrendo pelas bandagens que envolviam seu corpo.
— Ei, maldito, você está bem mesmo? — perguntou Yuki, correndo ao lado dele, estendendo a mão para apoiá-lo no ombro. — Talvez fosse melhor você ficar com a equipe reserva se recuperando e vir apenas quando necessário…
— Não, pode relaxar, eu estou bem… E quem chama alguém todo machucado de maldito? Está preocupada ou só querendo me insultar? Decida-se... Ai! — Dante rangeu os dentes, a dor evidente em seu rosto, contraindo-se ligeiramente, mas forçando um sorriso torto para Yuki. — Além do mais, é culpa minha também. Eu não estava lá para ajudar. Por isso, eu quero dar o máximo que posso. Sem mais desculpas ou atrasos.
Anna, correndo ao lado dele, falou, sua voz tensa, ajustando o passo para ficar próxima: — Ainda estou recebendo as novas memórias dele... Não consegui ver com detalhes a partir do momento que você chegou, Yuki, então digam. Você... conseguiu dominar a nova técnica que estava treinando?
Dante mordeu o lábio e começou a suar frio, enquanto ele evitava o olhar dela.
Anna se virou para Yuki: — Pelo que entendi, ele consegue dar três disparos antes de esgotar todo o seu Ether. O problema é que ele só teve tempo de fazer uma tentativa, dar os três disparos, e o resto do tempo ficou se recuperando. Ou seja, ele também não tem total garantia de que conseguiria repetir isso, e nem sabe o quão fortes esses disparos realmente serão.
Anna voltou seu olhar para frente. — “E no estado atual dele, lutar como sempre está fora de questão… Espero que a aposta na nova técnica não tenha acabado com as chances dele.” — Ela corria ainda mais rápido com uma expressão preocupada, acelerando o passo involuntariamente, o vento agitando seus cabelos enquanto pensamentos turbulentos a impulsionavam. — “Também não descobri nada sobre os sonhos de Dante, e ainda tem aquela... outra personalidade que me preocupa.” — Ela virou de relance para observar o olho vermelho de Dante e seu braço enfaixado. — “Durante a investigação na biblioteca, acabei achando os registros de uns livros sobre 'pesadelos vívidos de caçadores', mas o livro principal foi retirado por um dos membros da Verbrechen. Esta era a chance perfeita de procurar.” — Ela mordia o lábio e olhava com uma expressão triste.
Enquanto isso, no grupo de Ludimilla, estavam ela, Leona, Luck e, surpreendentemente, dois Juízes: Riana e Kol, correndo em formação solta, com Ludimilla na frente, seus passos pesados ecoando determinação, enquanto os outros se ajustavam ao ritmo dela.
— Está tudo bem mesmo vir com a gente? — Ludmilla perguntou, olhando desconfiada para Riana, virando a cabeça ligeiramente sem diminuir a velocidade.
— A senhorita Emillia mandou eu ficar de olho nos Corvos. Apenas isso — respondeu Riana, dando de ombros com um sorriso casual. Kol, o outro Juiz, permanecia em silêncio absoluto, mas mantinha o ritmo deles sem esforço.
Ludimilla então encarou Luck. — E vocês dois? Estão mesmo bem a ponto de virem junto do primeiro grupo de ataque?
— Estou bem o suficiente — respondeu Luck, com um tom meio amargo, desviando o olhar para frente enquanto acelerava.
O primeiro grupo, liderado por Kai e Vivian, adentrou uma área cavernosa, uma enorme junção subterrânea onde o ar úmido e metálico pesava sobre eles, cheia de buracos irregulares e canos imensos que ecoavam com gotejamentos distantes, parecendo descer ainda mais fundo nas entranhas da terra. Várias passagens se abriam como veias escuras, sem qualquer sinal ou mapa que indicasse o destino de cada uma.
De repente, muito acima deles, no teto escuro e irregular, uma chama azul irrompeu como um farol sobrenatural, iluminando as sombras com um brilho etéreo.
Dela, revelaram-se nove caudas flamejantes que dançavam como serpentes vivas. Parada em uma viga enferrujada, olhando-os de cima com olhos maliciosos, estava Naroke Lambel, a Kitsune, sua silhueta graciosa contrastando com o ambiente industrial decadente.
— Ara ara… Vejo que os primeiros garotinhos acabaram de chegar — disse ela, com uma voz suave e provocante.
— Não atrapalhe — Kai rosnou, seus olhos se estreitando em fúria concentrada. Antes que ela pudesse reagir, ele se teleportou para frente dela em um piscar de olhos, desferindo um chute imbuído em ether com toda a força, o ar ao redor distorcendo como uma onda de choque, rachando o teto e fazendo poeira cair.
— Você acertou? — Vivian perguntou, correndo os olhos pela cena enquanto Kai aterrissava de volta no chão com um baque firme.
— Não, ela desapareceu no momento em que eu iria acertar — Kai respondeu, girando o corpo devagar, varrendo o ambiente com o olhar afiado, à espera de um contra-ataque.
De repente, Naroke usou suas chamas para criar ilusões momentâneas de si mesma pela sala, cópias etéreas que piscavam e dançavam entre as sombras, sua voz ecoando com diversão de todos os cantos, como se o próprio ar risse com ela. — Ora, ora! Não seja tão apressado, garoto. Eu vim apenas para dar boas-vindas! Meu grupo aguardava ansiosamente a chegada dos famosos Corvos. De braços abertos, é claro!
Com uma risadinha provocante que ecoou como sinos distantes, ela saltou graciosamente por um dos buracos no chão, girando no ar como uma folha ao vento antes de desaparecer na escuridão abaixo, deixando um rastro de chamas azuis que se dissipavam lentamente.
— Aquela deve ser a entrada — Kai murmurou, sem hesitar um único segundo, saltando pela passagem com um impulso.
Assim, os outros grupos, vendo-se na encruzilhada, começaram a saltar um após o outro, escolhendo caminhos diferentes.
O grupo de Dante, no entanto, parou abruptamente, formando um círculo instintivo enquanto avaliavam o ambiente.
— O que foi? Não vamos saltar também? — Yuki perguntou, virando-se para Dante com as sobrancelhas franzidas.
— Ele parece estar procurando alguma coisa — Anna respondeu quase como se pudesse ler a mente do garoto.
Nesse momento, os líderes e representantes das facções finalmente entraram: Beatrice pelos Corvos, com sua presença imponente; Emilia pelos Juízes, com um ar de superioridade; e Luka pelo Comitê, bocejando casualmente. Eles viram o grupo de Dante parado e se aproximaram, trocando olhares curiosos.
— O que houve? — perguntou Luka, coçando a nuca com desinteresse.
— Apenas estou tendo um pressentimento estranho — disse Dante, sem parar de procurar algo na sala, seus olhos dançando de canto em canto, as mãos cerradas ao lado do corpo.
Luka bocejou novamente, esticando os braços preguiçosamente. — Não vale a pena ficar escolhendo. — E simplesmente pulou no buraco mais próximo.
Beatrice olhou para Dante, assentindo levemente. — Eu confio na sua intuição, mas vou na frente mesmo assim. Kurokawa, Charlotte, Asuna e Mirai ficaram lá fora como o grupo reserva. — Depois de explicar, ela também saltou, seu movimento fluido e confiante.
Emília foi a última. Ela ainda observava as feridas de Dante com desprezo, cruzando os braços e erguendo uma sobrancelha. — E o que você acha que pode fazer nesse estado? Até uma brisa conseguiria te derrubar.
— Preocupada comigo, brisinha? Eu vim fazer o máximo que podia, só isso — respondeu Dante, com seu sarcasmo afiado, dando um sorriso torto enquanto continuava procurando algo.
Emília deu um sorriso de canto de boca, quase divertido. — Espero que esse "máximo" não signifique nada. — E desapareceu também, saltando com elegância.
Sozinhos na sala, Yuki se aproximou de Dante. — O que você está pensando, Dante?
Ele continuou olhando em volta, analisando cada detalhe com os olhos semicerrados, o suor perlando na testa. — Algo está estranho. Por que o inimigo decidiu aparecer? Ela não precisava sair se sabia que estávamos indo atrás deles. E se ela veio lutar, por que recuou?
— Talvez quisesse confirmar quem eram os inimigos, não? — Anna sugeriu, inclinando-se para frente.
— Poderia facilmente ser isso, mas pela forma como ela falou, parecia que ela já tinha plena certeza de que seríamos nós, os Corvos, então não pode ser somente isso — Dante observava com mais atenção ainda os mínimos detalhes da sala, agachando-se para examinar o chão.
— Então o que você acha que ela queria? — Yuki perguntava, tentando acompanhar o raciocínio dele, inclinando a cabeça para o lado.
— É como se ela estivesse nos guiando para essas passagens. Quase como se quisesse nos fazer acreditar que eram as únicas passagens, ela veio buscando ser uma isca — Os olhos de Dante começavam a se arregalar enquanto ele notava algo: uma única pegada, quase apagada, que parecia ir... para uma parede sólida.
Ele correu na direção da parede e, ignorando a dor que queimava em suas feridas, chutou-a com toda a força, o impacto reverberando como um trovão abafado.
A parede estremeceu e se dissolveu em um piscar de ilusões flamejantes. A ilusão de Naroke, que ainda cobria a estrutura, desapareceu como fumaça. Atrás dela, uma porta de metal estreita revelava uma escadaria de serviço que descia em espiral, e sem hesitar Dante começou a descê-la, seus passos ecoando nas paredes úmidas.
— Nada mal — Yuki falou, seguindo-o de perto, ajustando o ritmo para não tropeçar nos degraus irregulares.
Anna também começava a ir na direção da porta quando de repente escutou algo — um som sutil, como um estalar de língua.
— Tsk...
Ela então se virou, tentando ver o que poderia ter feito aquele barulho, varrendo o ambiente com os olhos alerta, mas mesmo procurando não encontrou nada. Assim, ouvindo os passos de Dante e Yuki se afastando, deu as costas para a sala e começou a correr atrás deles.
Parte 3
O som dos passos de Anna se perdeu na descida da escadaria. A vasta câmara cavernosa mergulhou novamente em um silêncio úmido, quebrado apenas pelo gotejar distante da água e pelo zumbido fraco das luzes de emergência. O "Tsk" que ela ouvira não foi sua imaginação.
O ar, onde momentos antes havia apenas uma parede sólida, tremulou. A ilusão residual das chamas azuis de Naroke se dissipou, como fumaça ao vento, e da própria sombra projetada pelos canos enferrujados no teto, duas figuras emergiram.
— Tsk... Aquele desgraçado.
A voz era calma, quase entediada, mas carregada de uma irritação fria. Akira Prism ajeitou os óculos,seu rosto introspectivo contraído. — Ele descobriu a passagem de serviço. Naroke falhou em ser uma distração completa.
Ao seu lado, uma garota idêntica a ele em traços, mas oposta em energia, soltou uma risadinha aguda. Maria Prism pulava de um pé para o outro, vibrando como uma corda de violino esticada. — Ah, qual é, Akira! Eram só três ratinhos, de qualquer forma. O que eles podem fazer?
Akira respirou fundo, o epítome da calma forçada. — Três ratos podem roer a fiação principal se não forem contidos. — Ele se virou, não para a escada secreta, mas para a entrada principal. — Agora, vamos colocar o resto do plano em ação. Precisamos acabar com o grupo de suporte que ficou para trás. Seria muito irritante lidar com eles depois que terminarmos a faxina aqui dentro.
Ele deu um passo, mas parou instantaneamente. Com um reflexo absurdo, ergueu a mão.
Uma pedra, vinda da escuridão da entrada, voou em sua direção em alta velocidade. Antes que pudesse atingi-lo, a pedra simplesmente... deixou de existir. Ela se desintegrou em nada, aniquilada ao encontrar a barreira invisível de antimatéria que Akira projetou.
Os olhos de Akira se estreitaram, sérios e irritados, fixando-se na silhueta que agora bloqueava a passagem.
Parado ali, banhado pela luz fraca que entrava da fábrica, estava um homem de cabelos brancos, óculos escuros apesar da noite, e uma jaqueta preta estilosa, completamente aberta, revelando um peitoral e abdômen absurdamente definidos. Ele estava em uma pose dramática, quase teatral, com um braço dobrado na cintura e o outro apontando para o céu.
— Quem diabos... — começou Akira. — Você não é um dos Corvos? Por que não foi correndo atrás dos outros como um cachorro obediente?
O homem, Kintoki, baixou o braço lentamente e apontou o indicador para Akira.
— Idiota! — Sua voz era alta e retumbante. — Você não sabe algo tão óbvio? A verdadeira estrela sempre espera o clímax! Porque é muito mais legal chegar por último.
Um silêncio incrédulo pairou no ar. Akira apenas o encarou.
— ...Isso não faz o menor sentido.
Em um instante, Akira avançou. Ele não correu; seu corpo desapareceu e reapareceu na frente de Kintoki, o punho direito brilhando com a energia escura da aniquilação. Mas Kintoki, apesar de sua pose ridícula, foi mais rápido.
Ele desviou do ataque com uma fluidez impressionante, o punho de Akira passando a centímetros de seu rosto. Antes que o gêmeo pudesse recalcular ou usar sua habilidade, Kintoki girou e desferiu um chute poderoso. O pé atingiu o peito de Akira com a força de um trem de carga.
BOOM!
O som do impacto ecoou como uma explosão, e Akira foi lançado para trás como uma bala. Ele voou pelo ar, colidindo com a parede oposta da caverna e abrindo um buraco considerável na estrutura de concreto e metal.
Maria, que até então observava, arregalou os olhos. Mas não de preocupação. Um rubor tomou conta de seu rosto, e seus olhos brilhavam intensamente enquanto ela analisava Kintoki, focando descaradamente nos músculos expostos pela jaqueta aberta.
— Uau... — ela murmurou, quase babando. — Akira... Akira! Deixa ele pra mim! Eu quero brincar com esse! Ele é tão... grande!
Escombros caíram quando Akira se levantou lentamente do buraco que criou, limpando a poeira de sua roupa enquanto um filete de sangue escorria do canto de sua boca.
— Maria, preste atenção! — ele rosnou, a calma finalmente se quebrando. — Esse cara... ele não é brincadeira.
Kintoki estufou o peito, inflando o ego visivelmente, e fez outra pose teatral, desta vez flexionando os bíceps como um fisiculturista. Um sorriso largo e marcante surgiu em seu rosto.
— Ah, é? Então por que não vêm os dois juntos?
A arrogância foi a gota d'água. A irritação de Akira e a excitação de Maria transbordaram. Quase em uníssono, os gêmeos liberaram suas auras.
A caverna inteira tremeu. O Ether explodiu deles em ondas visíveis; a energia calma e desintegradora de Akira, negra como o vácuo, e a energia caótica e vibrante de Maria, distorcendo o próprio ar ao seu redor. A pressão era tão intensa que pedras e detritos começaram a levitar, sendo empurrados para longe pela força pura de suas presenças. Eram, sem dúvida, dois monstros.
Diante daquela demonstração esmagadora de poder, Kintoki permaneceu imóvel. Ele apenas levou a mão aos óculos escuros, ajeitando-os lentamente no nariz, o sorriso arrogante ainda intacto.
— Vai demorar até a batalha lá embaixo chegar nos finalmente e eles precisarem da minha ajuda — disse ele, sua voz tranquila sobrepondo-se ao rugido das auras. — Então, façam um favor para mim... sejam um bom aquecimento. Ok?
Parte 4
O grupo de Ludmilla, seguindo por um dos túneis escuros, sentiu o ar mudar. A umidade da caverna deu lugar a uma secura estranha, e um cheiro adocicado e metálico, como perfume barato misturado com sangue velho, invadiu seus narizes. O corredor terminou abruptamente, abrindo-se para um cômodo que não pertencia àquele lugar.
Era um quarto. As paredes eram pintadas de um rosa-choque descascado, e o chão estava coberto por um tapete felpudo manchado. Dezenas de bonecas de porcelana e bichos de pelúcia mofados estavam sentados em prateleiras, seus olhos de vidro parecendo observar o grupo. No centro, em uma pequena mesa de chá vitoriana, estava uma garota, que mais parecia uma das várias bonecas do cômodo.
Ela vestia um vestido elegante e infantil, cheio de babados, e bebericava uma xícara de chá com o dedo mínimo levantado. Era Elizabeth. Embora seu rosto parecesse delicado, seus olhos, de um vermelho-pálido, emanava uma clara e predatória ameaça.
— Por que tem uma criança aqui? — Riana começou a andar para frente, curiosa, mas foi interrompida instantaneamente.
— Pare. — A voz de Ludmilla foi baixa e dura. Ela estendeu o braço, barrando a passagem da Juíza. Seus instintos gritavam. Aquela garota na frente deles não era uma criança; era uma predadora perigosa.
Elizabeth colocou a xícara de chá no pires com um clique suave.
— Que rude interromper a hora do chá sem se anunciar. — Ela sorriu, um gesto gentil que não alcançava seus olhos mortos. — Mas está tudo bem. Eu gosto de conversar e saber mais sobre minha comida antes de comer. — Ela inclinou a cabeça, o sorriso se alargando. — Dito isso, eu também acho o gosto do medo bem saboroso. Então-
Naquele instante, Luck explodiu voando em sua direção a interrompendo.
Usando suas chamas azuis como propulsores nos pés, ele disparou pelo chão, aparecendo na frente de Elizabeth em uma fração de segundo. Ele ergueu a perna para um chute devastador, seu calcanhar envolto em fogo, mirando o rosto dela.
Mas o golpe nunca acertou.
Quando seu pé estava a centímetros do rosto impassível de Elizabeth, ele parou no ar. A garota nem se moveu. De repente, uma explosão idêntica, as mesmas chamas azuis de Luck, irrompeu do ponto de impacto, engolindo o rosto dele.
Com um grito de dor e surpresa, Luck foi lançado com força total contra a parede oposta, colidindo com um baque surdo que fez as bonecas nas prateleiras tremerem.
Todos ficaram confusos, olhando de Luck, caído e queimando, para a garota, que permanecia intocada.
Enquanto Luck se recuperava, o ar ao lado de Elizabeth vibrou. Ludmilla já estava lá. Ela não havia atacado, apenas se movido, sua velocidade pura ultrapassando a percepção de todos, exceto da Dampira. Ela parou a um metro de distância, sua espada larga ainda baixa, testando o perímetro da habilidade inimiga. Elizabeth nem piscou, seu sorriso se alargou. — Quando foi que você chegou ?
— Ela... refletiu meu ataque... — Luck rosnou, apagando as chamas do rosto, suas feridas anteriores latejando.
Leona foi a próxima. Sem emitir som, ela sacou duas machetes de suas costas e avançou com velocidade e força sobre-humanas, cortando baixo, visando as pernas. Quase simultaneamente, Ludmilla avançou junto, sua espada larga já em mãos, cortando alto em um arco brutal para a cabeça. Era um ataque pinça, alto e baixo, força bruta e metalurgia. Uma tática de flanqueamento perfeita.
— Oh, que maravilha! — Elizabeth riu, seus olhos brilhando. Ela não recuou. Ela girou sobre o calcanhar, uma pirueta impossivelmente graciosa. A espada de Ludmilla passou milímetros acima de sua cabeça, e ela usou o impulso do giro para se abaixar sob o corte de Leona, tudo em um único movimento fluido. No exato momento em que ela se abaixou, ela saltou sobre uma corrente de ferro que Ludmilla, antecipando o movimento, já havia disparado do chão para prendê-la. — Força pura e maestria em metal. Que ingredientes originais!
Elizabeth parecia dançar entre os ataques. Leona, frustrada, atacou com toda a sua força, sua intenção clara: cortar a cabeça da dampira. Mas, assim como aconteceu com Luck, a habilidade de Elizabeth ativou. Uma onda de choque psíquica atingiu Leona, que foi jogada para trás como se tivesse sido atingida por sua própria força, seu pescoço começando a derramar sangue.
Elizabeth estava se divertindo, tratando aquilo como um jogo. — Quase no ponto.
Luck, tenso por causa de suas feridas, hesitava. Sua habilidade "Jackpot" exigia três acertos críticos, mas como ele poderia acertar se ela refletia todo ataque que ele lançava? Leona, ofegante, levantava-se com dificuldade.
“Eles ainda estão se recuperando da batalha anterior, mas se minha previsão estiver certa o único motivo para Leona ainda ter sua cabeça é porque ela está enfraquecida.” — Testa di cazzo... — Ludmilla rosnou, avançando.
Ela se tornou um borrão de aço e fúria calculada. Ela não atacava apenas com a espada; ela usava o chão, as paredes e o teto. Impulsionando-se com placas de metal que criava sob seus pés, ela saltava pela sala em ângulos impossíveis, sua agilidade física ofuscando completamente a força de Leona. Era uma sinfonia de destruição. Sua espada larga se movia como uma extensão de seu corpo, rápida como um florete, enquanto correntes de ferro disparavam do chão, não apenas para prender, mas como chicotes, tentando desviar a atenção de Elizabeth. Lâminas de Areia de Ferro se formavam no ar, atacando por trás, pelos flancos, por cima. Era um ataque em 360 graus, uma chuva de aço impossível de ser defendida por meios normais.
Mas Elizabeth estava em vantagem, rindo no centro do furacão. Cada vez que a intenção de Ludmilla se focava—"cortar", "perfurar"—a "Contra-Intenção" a atingia em cheio. Uma lança de areia que ela disparou contra o peito de Elizabeth foi refletida como uma bala psíquica. Ludmilla teve que torcer o corpo no ar, em um movimento acrobático que quebraria as costas de uma pessoa normal, para desviar. O reflexo de seu próprio corte de espada a forçou a usar a lâmina larga como escudo, o impacto ressoando em seus braços. Ela foi forçada a usar suas próprias correntes de ferro não como armas, mas como escudos improvisados, erguendo-as do chão como paredes para bloquear os reflexos de seus próprios golpes. Ela estava, efetivamente, lutando contra si mesma.
"Ela não reflete o ataque" — pensou Ludmilla, o suor escorrendo por sua testa enquanto ela desviava de uma onda de energia psíquica. — "Ela reflete a intenção. Luck foi atingido antes de acertar. A habilidade dela é psíquica, ela lê a vontade de ferir!"
Com um corte sangrento na bochecha, Ludmilla abriu um sorriso tão aterrorizante que fez a Dampira egocêntrica parar de sorrir e suar frio, percebendo que aquela "coisa" à sua frente não era apenas uma presa.
"Essa é a fraqueza!", Ludmilla percebeu. "Ela só pode refletir aquilo que ela entende como um ataque direto. A intenção precisa ser focada nela."
Uma intuição monstruosa, forjada em centenas de batalhas sanguinárias onde a própria vida estava em jogo, despertava em Ludmilla. A adrenalina e o instinto da caçada, que haviam adormecido desde seu retorno da batalha contra o Astreus da Morte, ressurgiam. Sem saber, Elizabeth estava acordando um monstro que começava a hibernar.
Usando sua habilidade de forma inteligente, Ludmilla mudou de tática. Ela parou de atacar Elizabeth e usou sua Areia de Ferro para criar dezenas de estacas afiadas que dispararam... contra as paredes ao redor de Elizabeth.
A dampira riu. — Que desperdício de energia. Tentando me intimidar?
— No. (Não.) — Ludmilla sorriu. — Sto solo preparando la tavola. (Só estou arrumando a mesa.)
De repente, o chão sob a dampira cedeu, assim como o teto e as paredes. A garota, pega de surpresa, reagiu tarde demais e se viu em uma situação crítica. Graças à sua capacidade absoluta, que lhe permitia vencer batalhas sem se mover, ela nunca sentiu a necessidade de treinar seu corpo físico ou de "manchar" sua delicada aparência de boneca com músculos. Por conta disso, ela perdeu toda a capacidade de se esquivar da queda de destroços enormes e paredes pontudas com estacas de ferro. Uma verdadeira "Iron Maiden" se formou ao seu redor sem que ela pudesse perceber. .
BOOOM!
— Ahhhh!!!
Um enorme estrondo foi ouvido juntamente com um grito de dor e desespero.
Ludmilla caminhou calmamente até a abertura no chão, observando de cima. Abaixo, em meio aos destroços, Elizabeth se erguia, com o vestido rasgado e manchado de sangue. Ela olhava, incrédula, para os próprios ferimentos. O sorriso gentil desapareceu completamente, substituído por uma expressão de fúria distorcida.
— ...Você... — ela sibilou. — Você me fez sangrar….. VOCÊ NÃO VAI SER PERDOADA!
Uma aura monstruosa e fria explodiu de Elizabeth, fazendo o quarto inteiro gelar. A pressão era tão intensa que as bonecas nas prateleiras começaram a rachar.
Vendo a abertura, os Juízes finalmente agiram.
— Agora! Contenham-na! — Riana gritou, lançando suas Correntes da Ordem.
Kol bateu o pé no chão, ativando seu Decreto Gravitacional, tentando esmagar Elizabeth contra o solo.
— Espera! Não ataquem ela! — Ludmilla tentou avisar, mas era tarde demais.
Elizabeth, aproveitando-se de sua leveza, saltou e usou a corrente de Riana como ponte para voltar rapidamente para o andar de cima. Ludmilla, esperando um contra-ataque, se afastou, mas, ao invés de ir na direção dela, a mesma correu para o outro lado.
A intenção de Riana (prender) foi refletida instantaneamente. As correntes etéreas se viraram no ar e se enrolaram na própria Riana, apertando-a. A intenção de Kol (esmagar) foi devolvida. Uma onda de gravidade dez vezes mais forte o atingiu, forçando-o a cair de joelhos.
Enquanto os Juízes lutavam contra seus próprios poderes, Elizabeth aproveitou e cruzou a sala, indo em direção a Kol, que lutava para se levantar contra a gravidade residual.
Ludmilla, assim que aterrissou de seu salto para trás, em um movimento rápido, explodiu, tentando ir até Elizabeth. No entanto, já era tarde demais.
Abrindo a boca e revelando suas presas, Elizabeth agarrou a cabeça do Juiz e enterrou suas presas no pescoço dele. O som de carne rasgando ecoou pelo quarto. O sangue jorrou, e os olhos de Elizabeth brilharam com um vermelho vibrante e extasiado.
As feridas em seu corpo começaram a se fechar.
Ela soltou Kol, que caiu no chão pesado sem uma gota de sangue no corpo. Elizabeth limpou o sangue que escorria por seu queixo com o polegar.
— Ah... — ela suspirou, um prazer sádico em sua voz.
Ludmilla cerrou os punhos, seu Éter começando a ferver. Seus olhos vermelhos começaram a escurecer, as pupilas brilhando.
— Merda. Agora a situação ficou muito mais problemática.
Parte 5
O túnel que Naroke havia escolhido era úmido e mergulhava ainda mais nas entranhas da fábrica, o ar carregado de um cheiro mofado que grudava na pele como uma névoa fria. Kai e Vivian corriam em seu encalço, seus passos ecoando contra as paredes escorregadias, mas a raposa de fogo havia desaparecido no meio da escuridão, como se nunca tivesse estado ali.
— Tsk. — Kai estalou a língua, irritado. — Desde o início... poderia ter sido apenas uma ilusão.
O corredor se abriu em uma sala ampla e fria, visivelmente um laboratório, onde o ar estagnado carregava um odor metálico de ferrugem e produtos químicos antigos. Tanques de vidro quebrados vazavam um líquido âmbar que gotejava ritmicamente no chão, formando poças pegajosas, e mesas de metal estavam cobertas de equipamentos cirúrgicos. Kai ignorou tudo, sua paciência esgotada.
— Ei, espera um pouco! — Vivian parou abruptamente, atraída por um mural coberto de documentos amarelados e rasgados, seus olhos se estreitando enquanto ela se aproximava, estendendo a mão para folhear os papéis.
Eram relatórios e diagramas biológicos, com anotações. Dando uma lida rápida, ela franziu o cenho, mordendo o lábio inferior ao absorver as informações. A Verbrechen parecia estar estudando a biologia de espécies raras e a evolução delas ao longo do tempo.
— "Irônico, considerando o nome do grupo..." — ela pensou, balançando a cabeça levemente. Vendo que Kai já estava saindo da sala, ela apressou o passo para segui-lo, tropeçando ligeiramente em um cabo solto no chão.
Eles chegaram a uma espécie de arena subterrânea, o espaço vasto ecoando com o gotejar distante de água, e o cheiro de sangue e ozônio era pesado, invadindo as narinas como uma presença opressiva. Enormes gaiolas de aço reforçado alinhavam-se nas paredes, muitas delas amassadas de dentro para fora, com barras dobradas como se algo furioso tivesse tentado escapar. O chão de concreto estava manchado de sangue seco e fresco, formando padrões irregulares que grudavam nas solas dos sapatos.
Kai parou abruptamente, seu corpo se tensionando como uma corda esticada. Ele farejou o ar, inclinando a cabeça ligeiramente. — Uma batalha aconteceu aqui.
— Até que você tem um pouco de inteligência, meu brinquedinho tolo.
A voz era sedosa, mas fria e cruel, cortando o silêncio como uma lâmina afiada.
Saindo de trás de uma das gaiolas gigantes, uma figura emergiu devagar, seus passos leves e calculados ecoando no concreto. Ela usava um jaleco branco de cientista sobre roupas casuais e tinha longos cabelos pretos que ondulavam suavemente com o movimento.
Vivian congelou, o pânico subindo por sua garganta, seus olhos se arregalando enquanto ela dava um passo involuntário para trás. — Rani...?
A mulher parada à sua frente era a imagem cuspida de Rani Scarlune, parada com uma postura elegante, as mãos cruzadas à frente.
— O que... o que você está fazendo aqui?
A figura sorriu, um sorriso gentil que não combinava com a frieza em seus olhos, inclinando a cabeça ligeiramente como se estivesse avaliando a reação de Vivian. — Eu já pedi para você me chamar de "Mamãe", querida.
Vivian ficou ainda mais confusa, piscando rapidamente enquanto tentava processar, mas Kai colocou um braço na frente dela, barrando sua passagem. Seus olhos estavam fixos na mulher, queimando com um ódio que Vivian nunca tinha visto.
— Não é ela. — Kai rosnou, sua voz grave ecoando na arena. — Essa é o membro da Verbrechen que me derrotou.
"Rani" riu, uma risada melodiosa que reverberou pelas paredes, jogando a cabeça para trás dramaticamente. — Ora, ora. O clone idiota acertou de novo.
Como se para confirmar suas palavras, duas enormes asas negras, feitas de puro Éter corrupto, irromperam das costas de Lidyan com um estalo sombrio, lançando sombras dançantes pela arena que se contorciam como entidades vivas.
— Você! — Vivian gritou, a confusão se transformando em fúria, seu rosto se contorcendo em raiva enquanto ela avançava, sua enorme tesoura se dividindo em duas lâminas.
— A quem você está tentando enganar? — Lidyan riu na cara dela, sem se mover, apenas erguendo uma sobrancelha em desafio. — Está fingindo estar irritada por ele? Fingindo que se importa? Você, assim como eu, também o tratava como nada. Não venha bancar a moralista agora e fingir que se importa!
Aquelas palavras atingiram Vivian como um soco, fazendo-a hesitar por um instante, seus olhos piscando com uma ponta de dúvida e desespero que percorreu seu peito, congelando seus movimentos. Sua hesitação foi fatal. Lidyan moveu-se como um raio, girando o corpo com graça letal e acertando Vivian com as costas da mão em um tapa preciso, enviando-a voando contra a parede da arena com um impacto que ecoou.
Vivian caiu com um baque, tossindo enquanto se apoiava nos cotovelos, o ar escapando de seus pulmões em golfadas dolorosas.
— Você não se cansa dessas táticas idiotas e patéticas? — Kai perguntou, sua voz baixa e perigosa, dando um passo à frente com os punhos cerrados, seus olhos travados nos de Lidyan.
Lidyan se virou para ele devagar, deliciando-se com a raiva dele, um sorriso curvando seus lábios enquanto ela cruzava os braços. — Se minhas táticas são patéticas, o que isso faz de você? O clone imperfeito que perdeu para elas?
Kai fechou o punho com força, os nós dos dedos branqueando, e sua aura começou a vazar, distorcendo o ar ao seu redor como ondas de calor. Lidyan sorriu mais amplo, inclinando-se ligeiramente para frente, pronta para acabar com ele. O ar ficou tão denso com a intenção assassina que poderia ser cortado com uma faca, fazendo Vivian sentir um calafrio na espinha mesmo do chão.
CRASH!
O som ensurdecedor de vidro se quebrando ecoou pela arena, fragmentos caindo como chuva.
Vindo de uma parede de observação de vidro elevada, que dava para as escadarias de serviço, uma figura saltou com agilidade, girando no ar antes de aterrissar. Dante aterrissou no meio da arena com um joelho dobrado para absorver o impacto, seus olhos analisando a cena rapidamente, varrendo de Vivian para Kai e Lidyan.
— "Mais aliados chegaram?" — Lidyan pensou, levemente irritada, franzindo o cenho enquanto endireitou a postura.
Assim que seus pés tocaram o chão, Dante ativou sua transformação, estendendo os braços enquanto eletricidade vermelha crepitava ao seu redor como faíscas vivas. — Liberar arquivo. Segundo Modo: Deus da Velocidade!
Eletricidade vermelha crepitou ao seu redor, dançando sobre sua pele. Em uma velocidade imensa, Dante disparou, seu corpo borrando no ar.
Mas não na direção de Lidyan.
Ele correu na direção de Kai, saltou com precisão e o acertou com um chute devastador em pleno rosto, o impacto ressoando como um trovão, lançando-o contra a parede com ainda mais força do que Lidyan havia feito com Vivian, rachando o concreto ao redor.
Houve um silêncio atordoado. Vivian, ainda no chão, ergueu a cabeça devagar com olhos arregalados; Yuki (que observava do buraco na parede, espiando cautelosamente) piscou em confusão; e a própria Lidyan ficou completamente confusa, sua expressão mudando de diversão para surpresa genuína.
(Alguns minutos antes)
Dante, Yuki e Anna desciam a escadaria de serviço em alta velocidade, os degraus metálicos ecoando sob seus pés apressados. As paredes eram feitas de vidro reforçado, ligeiramente embaçadas pela condensação, permitindo que eles vissem o interior de vários andares enquanto desciam, seus olhares varrendo ansiosamente cada nível em busca de Sophi, as luzes fluorescentes piscando intermitentemente acima deles.
Foi quando viram a arena abaixo, uma vasta câmara iluminada por holofotes frios, onde figuras se moviam.
— É o Kai! — Yuki apontou, parando por um instante e inclinando-se contra o corrimão para observar melhor.
— Você tem razão… Aquela na frente dele… é uma Scarlune? — Dante questionou, reconhecendo a figura da mulher da época em que esteve em Threshold.
— Impossível! — exclamou Anna, correndo ao lado de Dante. — O que uma Scarlune faria num lugar desses? Ainda mais a nova líder da família. Deve ser uma ilusão do inimigo.
— Com o teleporte, Kai deve sair facilmente daí — Dante murmurou, ainda correndo, seus olhos fixos na cena através do vidro.
Yuki semicerra os olhos. — Eles estão se encarando há algum tempo... Será que ela é a inimiga que derrotou Kai?
Naquele momento, eles viram Vivian atacar com um movimento fluido, lançando-se para frente, apenas para ser jogada longe por Lidyan em um giro defensivo rápido, o impacto ecoando como um trovão abafado através do vidro.
— Não há dúvidas, é ela! — Yuki confirmou. — Vivian só atacaria de forma tão direta se estivesse cega de raiva, e pelo estado em que Kai chegou à base. Ele deve ter vindo aqui em busca de vingança.
Antes que ela pudesse terminar a frase, Dante, com os olhos enfurecidos, estourou a parede de vidro com um chute poderoso, estilhaços voando como chuva brilhante ao seu redor, e saltou para a arena abaixo, o vento assobiando em seus ouvidos enquanto caía.
(Tempo presente)
Kai se levantou dos escombros da parede, limpando o sangue do lábio com as costas da mão, o gosto metálico se espalhando em sua boca enquanto poeira fina pairava no ar ao seu redor. — Seu merda... O que diabos você está fazendo?!
Dante se virou para ele, e Kai notou, surpreso, que nunca tinha visto Dante tão irritado, os olhos do garoto flamejando com uma intensidade que fazia o ar entre eles parecer carregado.
— Merda é você! — Dante gritou de volta, avançando um passo com os punhos cerrados. — O que você acha que está fazendo?! Perdendo tempo com uma idiotice dessas!
— O quê?!
— Essa bobagem de vingança! — Dante rosnou, aproximando-se de Kai até que seus rostos estivessem a centímetros de distância, o calor de sua respiração misturando-se ao ar úmido da arena. — Isso serve apenas para os idiotas malditos que foram fracos demais para proteger quem era importante! — Dante emanava uma aura de pura fúria enquanto falava aquilo. —Mas diferente deles, você ainda pode fazer diferente! Você ainda pode salvar a Sophi! Então pare de bancar o idiota e vá logo salvar ela!
As palavras atingiram Kai como um soco no estômago. Ele estalou a língua, a raiva em seus olhos sendo substituída por um foco renovado, endireitando os ombros enquanto processava o impacto. — Não preciso que você me lembre disso.
Kai se impulsionou com um salto poderoso, os músculos tensionados, e correu em direção à única outra porta de saída da arena, o som de seus passos ecoando no chão rachado.
— Acha que vai a algum lugar? — Lidyan tentou interceptá-lo, suas asas negras se abrindo dramaticamente, disparando penas afiadas que cortavam o ar como lâminas sibilantes.
No mesmo segundo, Dante apareceu na frente dela em um borrão de movimento, acertando-a com um chute giratório na cara, o pé conectando com um estalo audível. O impacto foi tão forte que a lançou contra a parede de metal, amassando-a com um rangido estridente, faíscas voando do atrito.
— Não precisa se preocupar — Dante disse, sem olhar para trás, apontando o polegar para si mesmo. — De você, quem vai cuidar sou eu.
Ele se virou para Vivian, que se levantava atordoada, apoiando-se em uma mão trêmula enquanto sacudia a cabeça para clarear a visão. — Ei. Use o buraco de onde eu saí. Continue descendo atrás de Sophi. Kai já deve ter recobrado a razão agora.
Vivian sentiu um sentimento estranho vendo Dante em pé na sua frente, sua jaqueta esvoaçando com a aura que emanava dele, uma presença sólida e protetora que a fez hesitar por um instante. Ele parecia... confiável. — "É esse o sentimento de ter um irmão mais velho?" — ela pensou, corando imediatamente, sentindo o calor subir às bochechas. — Não me diga o que fazer! — Ela gritou enquanto corria na direção da passagem, lançando um olhar rápido por cima do ombro.
De dentro do buraco na parede de vidro, Yuki saltou, aterrissando ao lado de Dante com uma aterrissagem graciosa. — Eu fico. Afinal, alguém precisa arrastar o seu corpo quando você finalmente desabar por conta desses machucados.
— Anna! — Dante gritou para cima, erguendo o olhar para a escadaria escura.
— Entendido! — A voz de Anna soou da escadaria. — Vou continuar a investigação atrás da Sophi! Boa sorte para vocês!
Dante respondeu com um "joinha" por cima do ombro, o gesto casual contrastando com a tensão no ar. Ele então se virou para os destroços onde Lidyan havia caído, seu sorriso habitual sumindo, substituído por uma expressão focada.
— Então? Quando você vai sair daí?
Lidyan emergiu da fumaça e dos destroços, ilesa, limpando a poeira do jaleco com movimentos deliberados, seus olhos fixos em Dante enquanto se recompunha. Ela sabia que "Rani Scarlune" também era a mãe de Dante. Mas o jeito que ele a chutou... — "Ele realmente não faz ideia" — ela pensou, franzindo ligeiramente a testa, — "ou ele simplesmente não se importa."
Ela precisava de uma nova abordagem. — "Minha habilidade tem um requisito. Para me transformar no trauma de alguém, preciso olhar essa pessoa nos olhos. Isso me dá fragmentos de suas memórias ligadas a esse trauma."
Lidyan saiu da fumaça, seus olhos azuis encontrando os vermelhos e azuis de Dante em um olhar penetrante, sondando profundamente.
E o que ela viu a fez parar. Sua calma sádica vacilou, os lábios se entreabrindo em choque genuíno.
— Que... que tipo de aberração é você? — ela sussurrou, genuinamente perturbada, recuando um passo involuntário. — Por que... Por que quando eu olho nos seus olhos... parece que eu estou olhando nos olhos de duas pessoas diferentes?!
Dante deu aquele sorriso demoníaco, inclinando a cabeça ligeiramente enquanto seus olhos brilhavam com malícia.
— Vai saber.
Ele ativou sua velocidade novamente, desaparecendo em um piscar e reaparecendo na frente dela como uma sombra materializada.
— Mas se fosse resumir a nossa situação atual...
Ele a chutou de novo, com toda a força, afundando-a ainda mais na parede de metal com um estrondo que fez o chão tremer, o metal gemendo em protesto.
— Eu sou o cara que veio chutar a sua bunda.
Parte 6
A sala do trono, o coração da base da Verbrechen, era um santuário de poder e arrogância, com o ar pesado carregado pelo cheiro metálico de sangue e ecoando com o gotejar distante de umidade. Um longo tapete vermelho-sangue, agora salpicado de manchas escuras, levava a um trono elevado de pedra escura, entalhado com símbolos ancestrais que pareciam pulsar sob a luz fraca de tochas flamejantes. Caminhando lentamente em direção a ele, estava um homem-fera, sua figura alta e musculosa emanando uma calma letal, os músculos ondulando sob a pele como cordas tensas. Era Noitora.
Seu punho estava manchado de sangue fresco, assim como suas roupas escuras, que grudavam ligeiramente em sua pele suada. Ele se movia com a elegância de um predador, ajeitando o colarinho da camisa com um gesto casual enquanto subia os degraus, cada passo deliberado ecoando como um tambor surdo na vastidão da sala.
— Realmente... terei que fazer esse tal "Moriarty", e seja lá quem mais armou todo esse circo, pagar caro — sua voz era um rosnado baixo e controlado, vibrando no ar como um trovão distante. — Olha a audácia deles. Fizeram com que minha moradia se sujasse com sangue de lixo.
Ele parou, olhando para a bagunça no chão, inclinando ligeiramente a cabeça enquanto seus narizes dilatavam, captando o fedor acre do sangue derramado.
— Me digam... — continuou ele, para ninguém em especial, gesticulando vagamente com a mão ensanguentada. — Com tantos vermes andando por aí, de quem vocês acham que será a responsabilidade de limpar a bagunça?
Ele se sentou calmamente no trono, dobrando uma perna sobre a outra com um movimento fluido, apoiando o braço no descanso e o queixo sobre o punho ensanguentado, o sangue escorrendo devagar pelos dedos. Sua postura exalava tédio e fúria contidos na mesma medida, os olhos semicerrados como os de um lobo à espreita.
Seus olhos dourados observaram o sangue no chão, brilhando com um brilho feral, e então se moveram para os responsáveis por derramá-lo, varrendo-os com desprezo.
Caídos no chão, em poças do próprio sangue que se espalhavam como tinta derramada, estavam os três líderes da invasão: Beatrice, Emillia e Luka, feridos e completamente ensanguentados, suas respirações irregulares enchendo o silêncio.
Com um gemido de dor que ecoou pelas paredes, Emillia se apoiou em sua rapiera, forçando-se a ficar de pé, os dedos tremendo ao apertar o punho da arma. O sangue escorria de sua testa, pingando em seu olho e fazendo-a piscar para clarear a visão.
— Sorte... ou uma brincadeira cruel do destino? — ela ofegou, limpando o sangue do queixo com as costas da mão, deixando uma mancha vermelha na pele. — Quem poderia imaginar que os líderes aliados dariam de cara, logo de primeira... com Noitora. O líder da Verbrechen der Evolution.
Ela conseguiu se levantar, seu corpo tremendo de esforço, endireitando a postura. — É raro ver um Demi-Humano tão... animalesco.
A mudança foi instantânea.
O tédio de Noitora evaporou, substituído por uma fúria gélida que fez seus músculos se contraírem visivelmente. Em um piscar de olhos — rápido demais para ser visto, rápido demais para ser natural — ele não estava mais no trono. Ele estava na frente de Emillia, o ar deslocado por seu movimento criando uma rajada que agitou os cabelos dela.
Seu chute a atingiu em cheio no peito, o pé conectando com um impacto surdo. O som de costelas quebrando ecoou pela sala como galhos se partindo, e Emillia foi lançada como uma bala, colidindo com a parede do fundo com tanta força que abriu uma cratera na pedra, poeira e fragmentos caindo ao seu redor.
Noitora permaneceu onde estava, o pé ainda erguido do chute, baixando-o devagar enquanto observava a cena com os olhos estreitados.
— É muita arrogância de vocês, malditos humanos — ele rosnou, sua voz ecoando com veneno, inclinando a cabeça para o lado como se a estivesse avaliando. — Simplesmente classificaram todos os homens-fera como "demi-humanos", sem se dar o trabalho de perguntar o que eles achavam ou como se viam.
Ele baixou o pé lentamente, o chão rangendo sob o peso. — Pessoas como eu são chamadas de Jujin. Me chame dessa forma de novo, e eu te mando para o inferno da forma mais dolorosa possível, maldita humana.
Escombros caíram quando Emillia se levantou da cratera, tossindo poeira enquanto seu corpo agora envolto em uma aura verde-pálida pulsava com energia, o vento girando ao seu redor como um vórtice sutil, agitando os papéis soltos na sala. Ela ria, uma risada seca e dolorosa que ecoava irregularmente, limpando mais sangue da boca.
— Eu peço desculpas por esse erro. Realmente, parece ser uma falta de estudo de minha parte — ela disse, sua voz tensa, inclinando a cabeça em uma reverência sarcástica enquanto seus olhos encontravam os dele com desafio. — No entanto, devo dizer que, para alguém que liga tanto para isso, você também não deveria sair chutando a raça das pessoas assim.
Noitora parou, congelando no lugar. Ele inspirou profundamente pelo nariz, as narinas se dilatando ao captar um novo cheiro sutil, como folhas frescas misturadas ao sangue. Ele prestou atenção, e então notou, inclinando-se ligeiramente para frente: escondidas sob o cabelo dourado, as orelhas de Emillia eram pontudas.
— Meio-elfa...
No mesmo segundo, ela atacou, os olhos flamejando com determinação.
Com sua rapiera embuída no Éter verde e um ciclone de vento, que faiscava como raios em miniatura, Emillia avançou. Não foi uma corrida, foi uma explosão de movimento, impulsionada pelo vento que a lançava para frente como uma flecha. Uma estocada violenta que cortou o próprio ar, deixando um rastro de vácuo que dividiu o tapete e o chão de pedra ao meio com um estalo ensurdecedor.
Noitora, reagindo por puro instinto, embuiu seu punho em Éter roxo pulsante e socou, não para bloquear a ponta, mas para quebrar a lâmina, os músculos do braço inchando com o esforço.
Ele calculou mal.
A rapiera de Emillia, afiada pelo vento que a envolvia como uma lâmina viva, não quebrou. Ela atravessou, a ponta perfurando o punho de Noitora com um som úmido, rasgando carne e ossos, e continuou subindo, rasgando seu antebraço em uma linha irregular de sangue jorrando.
Vendo aquilo Noitora grunhiu de dor e surpresa, os dentes cerrados em uma careta feroz. Vendo que não podia parar a lâmina, ele girou o corpo com agilidade felina, chutando a lateral da rapiera para redirecionar o ataque fatal para longe de seu peito, o impacto fazendo a arma vibrar. Ao mesmo tempo, ele ativou sua habilidade, os olhos brilhando intensamente.
O tempo desacelerou para Emillia, o ar ao redor dela parecendo espesso e lento.
Ele aproveitou a brecha e a socou com o braço bom, um golpe devastador no estômago que a fez perder o ar com um gemido sufocado, e a jogou contra a parede de uma sala adjacente, o impacto ecoando como um terremoto abafado.
Assim que ela desapareceu de vista, rolando para longe em uma nuvem de poeira, o tempo voltou ao normal. O braço ferido de Noitora começou a vaporizar com um chiado, o sangue parou de jorrar e músculos e pele começaram a se regenerar em alta velocidade, fios de tecido se entrelaçando visivelmente.
Ele começou a caminhar na direção de Emillia, os passos pesados e deliberados, mas parou abruptamente, os ouvidos se contraindo ao captar ruídos atrás.
Atrás dele, houve movimento sutil.
Luka bocejava ruidosamente enquanto se levantava, esticando os braços preguiçosamente como se acordasse de uma soneca, trocando um olhar casual com Beatrice ao seu lado. Beatrice limpava a poeira de sua roupa com tapas calmos, ajeitando o uniforme rasgado com movimentos precisos, endireitando o colarinho enquanto se punha de pé.
Noitora não se virou imediatamente, mas uma veia inchou em sua testa, latejando de irritação, os punhos se cerrando ao lado do corpo.
— Agora vejo... — ele sibilou, seus ombros tensos como molas prestes a disparar. — Não foi somente uma invasão de insetos que aconteceu em minha casa.
Ele se virou lentamente, seus olhos dourados brilhando com ódio puro, fixando-se neles como presas encurraladas.
— Foi uma invasão de baratas.
Parte 7
A visão voltava para Anna e Vivian, que desciam cautelosamente a escadaria de serviço, os degraus metálicos rangendo sob seus passos. De repente, um tremor estranho, profundo e abafado, subiu do solo, fazendo a estrutura de metal vibrar sob seus pés como um rugido distante.
— Isso... — Anna parou, colocando a mão na parede para se equilibrar. — Parece que está acontecendo uma batalha ainda mais intensa lá embaixo.
Vivian, no entanto, mal registrou o tremor, continuando a descer com passos mecânicos, seus olhos fixos no degrau à frente, mas sua mente estava longe, revivendo as palavras de Lidyan em loops incessantes. "Você... também o tratava como nada." Ela piscava devagar, o rosto pálido sob a luz fraca.
Anna percebeu o silêncio e o estado perdido da garota, virando ligeiramente o corpo para observá-la de soslaio. Ela abriu a boca, mas hesitou, mordendo o lábio inferior enquanto ponderava. Que tipo de pessoa Vivian gostaria de conversar agora? Alguém gentil? Alguém dura? Ela percebeu que estava fazendo de novo — mentalmente folheando seu catálogo de máscaras para lidar com a situação, os ombros caindo ligeiramente. Anna suspirou, frustrada consigo mesma, e decidiu ficar em silêncio.
Foi então que ela viu uma porta de metal, levemente entreaberta.
— Ei, olhe.
Anna parou tão abruptamente que Vivian, ainda presa em seus pensamentos, acabou batendo com o rosto nas costas dela, o impacto fazendo-a tropeçar levemente.
— Ai! O que foi? — Vivian falava enquanto acariciava o nariz, franzindo a testa e piscando para conter as lágrimas involuntárias, virando-se para Anna com uma expressão irritada.
— Aquilo. — Anna apontou, estendendo o braço devagar, seus olhos se estreitando com curiosidade.
Vivian olhou para a porta, inclinando a cabeça ligeiramente, curiosa, o interesse momentâneo puxando-a de volta ao presente. A sala além estava escura, mas parecia diferente dos corredores industriais, com silhuetas de estantes e tubos brilhando fracamente.
— É melhor continuarmos descendo — disse Vivian, sem emoção, cruzando os braços e desviando o olhar para o chão. — Sophi não deve estar aí.
— Não temos porque ter pressa — rebateu Anna, empurrando a porta, o metal rangendo ao se abrir mais. — Talvez aqui tenha um mapa da base. Ou talvez a própria Sophi esteja escondida. Precisamos confirmar.
Vivian parecia não acreditar muito, franzindo os lábios em dúvida, mas, ainda se sentindo meio pra baixo e sem rumo, decidiu entrar e começar a procurar também, seguindo Anna de perto com passos hesitantes.
O local era uma mistura de biblioteca e laboratório genético, o ar preenchido pelo cheiro de papel velho e produtos químicos acre. Vários papéis espalhados pelas mesas detalhavam pesquisas sobre como alterar o código genético de seres vivos usando Éter, embora o propósito final não estivesse claro, folhas farfalhando sob seus toques. Dentro de vários tubos, flutuando em um líquido preservativo que borbulhava suavemente, estavam estranhas lagartas escuras.
Anna se aproximou de um terminal e leu a descrição, inclinando-se para frente com os olhos semicerrados. — "Salamandra Obscura"...
As notas diziam que era uma raça próxima aos dragões, mas que não desenvolveu ego ou senciência. Em vez disso, passou por uma evolução adaptativa radical. Antigamente, essas salamandras possuíam chamas normais e viviam perto de um vulcão na divisa entre Gaia e Alexandria. Após perderem seu habitat, elas fugiram para Umbra. No entanto, por ser sempre noite em Umbra, suas chamas chamavam muita atenção, e a espécie foi caçada quase à extinção. Após gerações, as lagartas evoluíram: começaram a emitir chamas púrpuras e sombrias, difíceis de ver na escuridão, e suas escamas e pele ficaram muito mais escuras e resistentes.
De repente, olhando os tubos, Anna se surpreendeu, piscando rapidamente ao notar algo fora do padrão. Em um deles, no canto da sala, estava uma salamandra com chamas normais, laranjas e brilhantes, embora todos os registros dissessem que essa variação havia desaparecido.
Vivian, olhando aquilo e relembrando as anotações que tinha lido na sala anterior, murmurou: — Eles não estão estudando a evolução... talvez seja o caminho inverso.
A teoria parecia fazer sentido, mas ela a manteve para si, mordendo o lábio. — Anna, precisamos mesmo ir. Não tem nada de útil aqui.
— Por que você está tão agitada? — Anna perguntou, virando-se para ela com uma sobrancelha erguida, enquanto observava o rosto de Vivian. — Você parece inquieta faz um tempo.
Vivian parou, seu olhar caindo para o chão, a expressão confusa, os dedos entrelaçando nervosamente à frente do corpo.
Anna deu de ombros e voltou-se para as estantes, puxando um livro grosso e empoeirado com um puxão firme, uma nuvem de poeira subindo ao ar. Vivian observou-a folhear as páginas rapidamente, inclinando a cabeça para o lado com curiosidade relutante. — Por que você está tão interessada nesses livros?
Anna fechou o volume e pegou outro, os olhos dançando pelas linhas. — Na verdade, estou procurando um livro específico que a Verbrechen conseguiu. É sobre Caçadores e manifestações de Éther nos sonhos. É... a chave para ajudar o Dante com aqueles pesadelos que ele está tendo.
Vivian murmurou: — Ajudar... o meu irmão...
Ela se aproximou da estante e, mecanicamente, pegou um livro também, começando a ler, as páginas virando devagar sob seus dedos. No entanto, parou de novo e olhou para Anna, erguendo o olhar devagar. — Você quer ajudar o meu irmão... em relação a esses pesadelos?
— Sim — respondeu Anna, sem tirar os olhos da página, mas virando ligeiramente o corpo.
— Mas o Dante não parece ligar para isso — insistiu Vivian.
— Ainda assim, eu estou preocupada — Anna rebateu, fechando o livro com um estalo e encontrando o olhar dela diretamente.
— E você acha que é certo se intrometer? Ajudar ele mesmo que ele não queira ser ajudado?
A pergunta fez Anna parar, congelando no lugar com o livro ainda na mão, pensando por um momento, os olhos se perdendo no vazio.
— E que direito você acha que tem para isso? — Vivian completou, gesticulando com a mão.
Anna fechou o livro devagar. — Nenhum. — Ela olhou diretamente para Vivian, endireitando a postura. — Mas ele me ajudou quando eu precisei, sem eu pedir a ajuda dele. Então, ele vai ter que aceitar que eu faça o mesmo.
Naquele momento, a imagem de Kai se colocando na frente dela, protegendo-a de Lidyan e avisando que aquela não era Rani, surgiu na mente de Vivian, fazendo-a piscar devagar enquanto a processava.
Ela murmurou as palavras de Anna para si mesma: — "...ele me ajudou quando eu precisei... então ele vai ter que aceitar que eu faça o mesmo."
Um pequeno sorriso, o primeiro sorriso sincero daquela noite, surgiu no rosto de Vivian, iluminando seus olhos ligeiramente. — Obrigada, Anna.
Sem explicar mais nada, ela se virou e saiu correndo do laboratório, descendo as escadas em disparada, os passos ecoando cada vez mais distantes, deixando Anna sozinha e completamente confusa.
— O... quê? — Anna balançou a cabeça, sem entender nada do que tinha acabado de acontecer, franzindo a testa enquanto olhava para a porta vazia. — Bom... pelo menos a cara dela se animou mais.
Ela voltou a procurar nos livros, o silêncio da sala agora preenchido apenas pelo farfalhar das páginas virando sob seus dedos ágeis.
A-tchim!
Anna congelou, os ombros tensos. — Isso foi… Um espirro?
Ela olhou em volta, girando devagar no lugar com os olhos varrendo as sombras. Ninguém. Mas, dessa vez, ela não estava com pressa. Ela decidiu procurar com mais atenção, inclinando-se para frente. O espirro parecia ter sido causado pela poeira que ela levantou ao mexer nos livros empoeirados.
Ela foi até uma estante alta e a sacudiu com força, as mãos apertando as prateleiras enquanto uma nuvem de poeira subia, fazendo-a cobrir o nariz com o braço.
A-tchim! A-tchim!
Definitivamente. E agora ela tinha a direção, os olhos se estreitando. Anna usou sua habilidade, gerando uma espada de Éther em sua mão com um brilho sutil, a lâmina zumbindo levemente no ar.
Ela caminhou até a parede de onde o som veio e, sem hesitar, cortou com um golpe preciso.
A parede estremeceu e se dissolveu em faíscas ilusórias, revelando não ser uma parede, mas outra complexa ilusão de Naroke, as chamas residuais piscando antes de sumir. Atrás dela, havia uma pequena sala escondida, e dentro dela, uma caixa de contenção de vidro reforçado, o vidro ligeiramente embaçado.
Dentro da caixa, sentada de pernas cruzadas, estava uma garota de cabelos longos e loiros, com uma cauda de gato preto saindo de trás, e uma roupa felina com orelhas de gato sobre um capuz. Ela encarava Anna com um sorriso meio estranho e divertido, inclinando a cabeça como um felino curioso.
Anna a observou com atenção, semicerrando os olhos enquanto avaliava, então se virou e começou a sair, os passos firmes.
— Ei! Ei, espere! — a garota gritou, batendo no vidro com as palmas das mãos, o som ecoando abafado. — É muito rude se virar e deixar alguém numa situação assim!
— Pode até ser — disse Anna, parando na porta com um suspiro, virando ligeiramente o corpo. — Mas só de olhar, consigo ver que você, com certeza, cheira a problema.
— O que você quer dizer com isso?!
— Quem é você? — perguntou Anna, ainda em dúvida, cruzando os braços e inclinando a cabeça.
A garota forçou uma expressão de pobre coitada, os olhos se arregalando dramaticamente. — Eu sou só uma pobre gatinha presa dentro de uma caixa, obviamente!
— Certo. Se é assim, eu já estou indo embora.
— Não, volte! Volte aqui! — a garota gritou, desesperada, inclinando-se para frente e pressionando o rosto contra o vidro.
Anna se virou devagar, erguendo uma sobrancelha.
— Você está gostando de me ver desesperada assim?
— Na verdade, não — respondeu Anna, monótona, dando de ombros.
A garota suspirou e ajeitou a postura, endireitando as costas dentro do espaço confinado. — Ok, ok. Vamos nos apresentar. Meu nome é Cat. Cat Schrodinger. Uma pobre cientista presa e forçada a trabalhar para a Verbrechen.
— Entendo.
— Eu escutei a conversa de vocês duas! — Cat disse rapidamente, vendo que Anna poderia sair. — Já sei que são inimigas da Verbrechen, por isso podemos nos ajudar!
— Não, obrigada. — Anna começou a sair de novo, virando as costas.
— Espere! Por que todo esse medo?
— Porque você é, obviamente, uma cilada — disse Anna, parando mais uma vez, olhando por cima do ombro. — Você não foi só presa. Colocaram uma ilusão sobre você para que ninguém a encontrasse. Pelo estado dessa sala, faz tempo que ninguém vem aqui. E ainda assim, você espera que eu confie em você?
Cat deu um sorrisinho culpado, coçando a nuca através do vidro. Anna colocou a mão no rosto, já prevendo a dor de cabeça, massageando a testa.
— Se você me ajudar, eu também te ajudo — disse Cat, inclinando-se para frente com os olhos brilhando.
— O que você quer dizer?
— Como eu disse, escutei a conversa. Eu sei exatamente onde está o livro que você estava procurando. Está no meu antigo laboratório. Se você me ajudar a chegar lá, eu te dou o livro... e ainda te ajudo com o problema do seu amigo.
Anna ficou em silêncio, pensando, mordendo o lábio enquanto pesava as opções. Era uma armadilha. Quase certamente era. Mas a chance de ajudar Dante... Ela trocava o peso de um pé para o outro.
Ela respirou fundo. — Certo. Vou confiar. Desta vez.
Anna se aproximou da caixa e começou a analisar o mecanismo de trava, os dedos traçando as bordas com cuidado. — Que tipo de cientista você era?
— Essa é uma pergunta interessante! — disse Cat, animada, batendo palmas levemente. — A resposta é um pouco complicada, mas, para facilitar, digamos que atualmente eu estava investigando as Borboletas do Caos.
Anna finalmente conseguiu abrir a trava com um clique satisfatório, e a porta de vidro se abriu com um silvo hidráulico. Cat saiu, espreguiçando-se como um gato, estendendo os braços acima da cabeça e arqueando as costas com um ronronar baixo.
— Enfim, livre! — ela sorriu, piscando para Anna com malícia.
Com sua nova, e altamente suspeita, parceira, Anna partiu em uma nova jornada pela base inimiga.
Parte 8
A visão voltava para a entrada cavernosa da fábrica. A batalha entre Kintoki e os gêmeos Prism era frenética, um vendaval de poder bruto e manipulação sutil. O ar estalava com energia invisível e a promessa de destruição.
Maria, com seu Ether roxo vibrando como um campo de força pulsante, flutuava acima da confusão. Ela não se movia em grandes arcos, mas com micro-ajustes vetoriais que a mantinham perfeitamente equilibrada e letal. Seus dedos se moviam como de um maestro invisível, manipulando os vetores de tudo ao seu redor. Detritos do teto, pedaços de concreto e vergalhões retorcidos eram arrancados do concreto e disparados como mísseis hipersônicos, apenas para parar abruptamente no ar, girar em ângulos impossíveis e mudar de direção em um piscar de olhos, criando uma zona da morte impossível de prever. Abaixo, Akira ia para cima com uma ferocidade contida, seu Ether roxo-escuro se manifestando não como energia bruta, mas como lanças de pura antimatéria, tão densas que distorciam a luz. Cada lança era um vetor de aniquilação que desintegrava tudo o que tocava com um silvo seco e um flash roxo. Com poderes tão absolutos, tão finalizadores, eles poderiam vencer a maioria dos inimigos sem dar um único passo.
Mas Kintoki não era "a maioria".
Seu Ether vermelho queimava intensamente ao seu redor, não apenas como uma aura, mas como propulsores invisíveis que o impulsionava com velocidade e imprevisibilidade. Ele não estava apenas desviando; ele estava dançando em meio ao caos. Ele usava a própria parede como plataforma de lançamento, saltando e girando no ar com uma agilidade que desmentia sua massa muscular. Seus músculos impulsionaram-no com força explosiva, seus reflexos parecendo prever os ataques vetoriais de Maria antes mesmo que ela os comandasse. Ele se inclinava, rolava e se torcia, com um sorriso desafiador, como se estivesse zombando da precisão letal dos gêmeos.
Akira estava ficando assustado.
— "Como é possível que essa montanha de músculo faça isso?" ele pensou, enquanto disparava três lanças de antimatéria em uma formação triangular perfeita, buscando flanquear Kintoki.
O lutador, em uma acrobacia impensável, inclinou o corpo para trás enquanto corria pela parede, deixando as duas lanças superiores passarem por baixo de seus braços e a inferior passar entre suas pernas, tudo sem quebrar o ritmo.
— "Ele golpeia como um gorila desgovernado, mas as acrobacias, as previsões, o jeito que ele usa o cenário a seu favor... é como um gênio.” — Akira rugiu de raiva vendo Kintoki deslizar sobre seu ataque. — "É como se eu estivesse enfrentando o gorila mais inteligente do mundo em uma luta de boxe!"
Akira rosnou, o sangue fervendo. Ele decidiu acabar com aquilo de uma vez. Ele avançou, abandonando as lanças de antimatéria. Seu punho direito, envolto em um brilho púrpura intenso, era a pura energia da aniquilação concentrada. Kintoki, vendo o ataque frontal, soltou um risinho de escárnio, balançou a cabeça como um bad boy entediado e avançou também, seu punho envolto em seu próprio Ether vermelho rubro, um contraste violento com o roxo de Akira.
Os dois trocaram socos, uma barragem de golpes tão rápidos que eram apenas borrões.
— Seu idiota, não importa quanto Éter você tenha, assim que tocar na antimatéria, você morre! — Akira disse com um sorriso largo nos olhos.
A pressão de seus ataques criava ondas de choque que faziam o chão de concreto da fábrica tremer e rachar. Akira, vendo uma abertura forçada na guarda de Kintoki, concentrou todo o seu poder em seu soco.
No último segundo, Kintoki fez o impossível. Em vez de bloquear o soco inimigo usando o seu, ele fez um movimento quase ilusório. Ele virou sua coluna ainda mais para trás, curvando-se em um ângulo desumano, se esquivando para o lado como se fosse feita de borracha. O soco de antimatéria, carregado com a força de um furacão, passou a centímetros de seu nariz, o ar sibilando ao se desfazer em partículas, quase desintegrando a ponta do nariz de Kintoki.
Os olhos de Akira se arregalaram. Ele havia se comprometido demais, seu peso e poder avançando para onde Kintoki não estava mais.
Antes que ele pudesse recuar ou se recuperar, o punho de Kintoki subiu, não em um arco amplo, mas em um golpe cirúrgico e direto. Deslizando com precisão mortal por baixo do braço estendido de Akira, o punho vermelho acertou seu rosto com força total.
CRACK!
O som do impacto foi como um estalo de raio. O soco jogou Akira contra a parede dos fundos com uma brutalidade esmagadora, quebrando seus óculos escuros em múltiplos fragmentos e o fazendo deslizar até o chão, inconsciente por um breve momento.
— AKIRA! — Pela primeira vez, a voz de Maria estava cheia de preocupação genuína, perdendo sua compostura gélida. Ela gritou o nome do irmão, seu poder vetorial falhando por um segundo em sua distração.
Quando ela olhou para Kintoki de novo, ele havia aterrissado levemente, dando saltinhos como um lutador de kick-box, seus punhos socando o ar em um aquecimento exagerado.
— E muito bem! — ele exclamou, com um sorriso largo e um ar de arrogância, ajustando uma mecha de cabelo com a mão livre. — Graças a vocês, finalmente estou perto de acabar meu aquecimento!
A fúria tomou conta de Maria. Seu corpo tremia de indignação. — Quer saber? Não quero mais você como meu brinquedo! Não importa quão musculoso você seja, você já esgotou toda a minha paciência!
Seu Ether roxo explodiu ao seu redor, distorcendo o ar. Ela usou seu poder vetorial para fazer as moléculas de ar ao seu redor vibrarem em velocidade alucinante, tecendo-as em um turbilhão denso que se manifestou como asas de ciclone em suas costas, mantendo-a suspensa. Ela ergueu a mão, os músculos do braço tensos. No centro de sua palma, o plasma começou a se formar, sugando violentamente a energia restante da fiação exposta e dos canos quebrados da fábrica, crescendo em uma enorme esfera elétrica que crepitava com um poder destrutivo e incontrolável.
Kintoki parou de pular. Ele ajeitou os óculos escuros no rosto com um dedo, com a calma de quem vai enfrentar uma briga de rua, e riu.
— O que foi, gracinha? O gosto do grande Kin estava picante demais para você aguentar?
Maria gritou, o som ecoando pela fábrica, e disparou a esfera de plasma. Mas Kintoki ergueu sua própria mão. Para a surpresa e horror total de Maria, o punho dele não estava vermelho. Estava brilhando com o mesmo Ether roxo-escuro e ameaçador de seu irmão.
Kintoki disparou um raio de antimatéria, denso e pulsante.
Os dois ataques se encontraram no meio da sala e se aniquilaram em um flash de luz púrpura. A explosão resultante foi sugada para dentro de si mesma, desaparecendo em um vácuo silencioso que deixou um cheiro de ozônio e nada mais. Maria ficou paralisada de choque, seus olhos arregalados, a compreensão lenta e dolorosa rastejando por sua mente. Ele... ele tinha copiado a habilidade de Akira.
Naquela fração de segundo de paralisia de Maria, Kintoki agiu. Ele não correu ou socou. Ele chutou uma pequena pedra que havia caído do teto quebrado pelo chute anterior de Kai. Seu pé brilhou, não com seu vermelho original, nem com o roxo de Akira, mas com o mesmo Ether roxo vibrante de Maria. Ele havia copiado o Controle Vetorial.
A pedra, em vez de voar em linha reta, disparou em um ângulo bizarro e ricocheteou nas paredes, no chão e nos canos de metal enferrujados em uma trajetória calculada e impossível, acelerando a cada impacto. Ela se movia como uma bala teleguiada, traçando uma rota sinuosa diretamente para o ponto cego de Maria.
Ela entrou em pânico, seus olhos tentando seguir a pedra, mas a perdeu de vista no último ricochete contra um pilar.
— "Está tudo bem! Eu tenho um escudo vetorial de reversão automática. Qualquer ataque será repelido!"
Ela olhou para Kintoki, com seu sorriso, seus óculos brilhando com o reflexo da luz da lua que vazava pelas janelas quebradas da fábrica. Ela percebeu. Ele tinha armado algo. Aquele sorriso era o de um predador.
.No entanto, quando essa percepção surgiu, já era tarde demais.
A pedra entrou em sua aura, a centímetros de sua nuca. A função "reverter automaticamente" ativou com um zumbido sutil. Mas o golpe de Kintoki estava friamente calculado. O vetor da pedra, após o último ricochete na parede deveria ir na direção dela, mas assim que entrasse na zona de sua aura, deveria se afastar.O escudo de Maria, ao "reverter" essa ação, reverteu a reversão e, em vez de repelir a pedra, puxou-a para si com força total, como um ímã irresistível.
THWACK!
A pedra atingiu a nuca de Maria com tanta força que seus olhos reviraram em sua órbita. O corpo da garota flutuante caiu inerte e inconsciente no chão, o som de seus "ciclones" morrendo.
Kintoki limpava a poeira de sua roupa com um ar de desinteresse exagerado quando Akira, ainda cambaleante, se levantou, limpando o sangue da boca com as costas da mão.
— Tenho que dizer... — Akira ofegou, o queixo trincado. — Não achava que os Corvos fossem tão fortes. Foi um erro de cálculo nosso. Eu achava que todos vocês estavam tentando entrar na lista dos 10 melhores, mas como não entraram, achei que eram fracos. Mas agora eu entendo. Vocês também estavam escondendo suas habilidades.
Kintoki riu alto, um som de escárnio. Ele apontou para si mesmo com o polegar, com orgulho exagerado. — Acha que alguém tão grandioso quanto EU esconderia meus poderes?
Akira o encarou, confuso, a dor e a raiva se misturando. — Então por que... por que vocês não entraram para o rank dos melhores?
Kintoki, com o rosto ainda orgulhoso, abaixou a mão. — Na realidade, o motivo para nenhum de nós ter conseguido ir para a lista dos 10 melhores é que, diferente do Dante — que, por já estar lá, vive recebendo desafios para Jogos —, nós não temos tempo para procurar inimigos.
— Tempo? — Akira perguntou, desconfiado.
— Exato! — Kintoki ajeitou os óculos, como se estivesse prestes a iniciar um flashback.
(flashback)
A sala de aula improvisada no dormitório era um espaço apertado, com o cheiro de madeira velha e giz pairando no ar, mesas arrumadas em fileiras desordenadas e uma lousa improvisada pregada na parede, ainda marcada por rabiscos anteriores. Kurokawa, usando roupa de professora — uma blusa formal e saia plissada que a faziam parecer mais autoritária —, posicionava-se à frente, batendo o giz na lousa para chamar atenção enquanto olhava fixamente para Dante, Kintoki e Kai, sentados em suas carteiras.
— Escutem bem! Agora somos obrigados a ir para as aulas! — ela declarava, gesticulando com as mãos. — E, dependendo das nossas notas, o professor Vlad pode nos dar mais trabalho extra e impedir que consigamos fazer missões e conseguir mais dinheiro… — Ela fazia uma breve pausa, ciente da difícil situação financeira em que se encontravam. — E como estamos no vermelho, não quero ver ninguém de moleza!
Do fundo da sala, Mio inclinava-se para trás em sua cadeira, os pés apoiados na mesa à frente, rindo alto com as mãos cruzadas atrás da cabeça.
— Isso, tornem-se mais inteligentes, trio de idiotas hahaha!. — Mio ria alto de sua cadeira nos fundos.
Dante, recostado casualmente em sua carteira com os braços cruzados, virava a cabeça para trás e respondia erguendo uma sobrancelha. — Isso é para você também, sabia?
Kai, curvado sobre sua folha de exercícios, rabiscava furiosamente com a caneta, os ombros tensos de frustração enquanto murmurava para si mesmo. — Droga, merda... Desse jeito, como eu vou superar esse maldito se não consigo nem chamar alguém para um duelo! — Kai falava enquanto respondia às perguntas da atividade.
Dante inclinava-se ligeiramente para o lado, estendendo o braço para mostrar a folha em sua mão, balançando-a devagar na frente de Kai com um sorriso provocante.
— Melhore, Kai. Melhore. — Dante falava, sorrindo, enquanto mostrava uma folha com a lista dos 10 melhores escrita nela.
Kintoki, sentado entre eles, explodia em uma gargalhada estrondosa, batendo com o punho na mesa e inclinando a cabeça para trás.
— Hahaha! Para alguém grandioso como eu, conseguir aprender e superar essa lista não será problema!
Kurokawa, com os olhos flamejando de irritação, quebrava a caneta na lousa com um estalo audível, os fragmentos caindo no chão enquanto ela batia o pé e apontava para o grupo. — parem de conversar e se concentrem na tarefa!
(Presente)
— Está dizendo que por vocês serem tão burros e não prestarem atenção nas aulas, a maior parte do tempo livre que tiveram foi gasta estudando?
— Exato! — Kintoki falava enquanto fazia outra pose cheia de confiança.
Um silêncio incrédulo tomou conta de Akira. A fúria em seu peito se transformou em algo ainda mais intenso. Ele ficou furioso. — Quer que eu acredite… em um... um.. um motivo... TÃO IDIOTA?! — Sua aura roxa explodiu, liberando uma onda de energia que fez o chão rachar ainda mais. — NÃO ZOMBE DE MIM!
— Acha que eu faria algo tão ridículo como mentir? — Kintoki gritou de volta, sua própria aura vermelha explodindo para encontrá-lo, elevando a temperatura da sala. — Alguém legal como eu nunca faria isso!
Os dois avançaram, suas auras colidindo em um choque ensurdecedor. Akira tentava socá-lo com golpes furiosos, mas Kintoki desviava com a graça de um boxeador, a coluna curvada, os punhos vermelhos disparando de volta com a precisão de um atirador. Em meio à troca de golpes brutal, Akira sorriu, sangue voando de seus lábios, um sorriso de derrota e determinação.
"Provavelmente eu também vou cair, assim como minha irmã" — ele pensou, a consciência vacilando. — "Mas está tudo bem." — Ele dava uma risada enquanto o soco de Kintoki vinha em sua direção. — "Mesmo que o Plano B tenha falhado... ainda podemos contar com o Plano C, não é... Naroke?"
A visão cortou para a entrada principal da fábrica, onde a equipe reserva dos Corvos, incluindo Charlotte e Kurokawa, mantinha a vigília. Das sombras mais profundas do portão destruído, chamas azuis etéreas começaram a dançar, e nove caudas flamejantes se revelaram no escuro, acompanhadas por um som de passos pesados se aproximando.
Parte 9
Enquanto Akira e Kintoki trocavam golpes devastadores dentro da fábrica, na entrada principal, onde a equipe reserva mantinha o perímetro, a verdadeira Naroke Lambel sorria das sombras.
— Ara ara... Os gêmeos estão demorando mais do que o esperado. Acho que vou ter que limpar os reforços eu mesma.
Naroke emergiu, seus nove rabos de fogo azul ondulando preguiçosamente. Ela ergueu as mãos, formando o símbolo de uma raposa. — Vamos ver como lidam com isso.
Uma massa de Éter azul explodiu à sua frente, tomando a forma de uma colossal raposa de fogo. Com um rugido que soou como vidro quebrando, a fera avançou, não contra os Corvos, mas contra a linha de defesa do Comitê de Disciplina, queimando instantaneamente as faixas e cordas que interditavam a área.
— Mas o quê?! — Charlotte gritou. — O que ela está fazendo aqui?
Os membros do Comitê entraram em pânico, mas antes que a raposa pudesse causar um massacre, uma voz fria e autoritária cortou o caos.
— Que criatura vulgar. — Nastácia, a Juíza, deu um passo à frente. Ela ergueu o grande urso de pelúcia que carregava. — Barnaby. Hora de brincar.
O urso inanimado em seus braços se contorceu. Seu corpo de pelúcia começou a inchar, rasgando as costuras, crescendo cinco, dez metros de altura, até se tornar um golem monstruoso de retalhos e algodão, com olhos de botão brilhando com um Éter frio. A raposa de fogo azul e o urso gigante colidiram.
A batalha das duas feras de Éter fez o chão tremer. Barnaby usava sua força bruta e seu corpo denso para absorver os ataques de fogo, enquanto a raposa usava sua agilidade para rasgá-lo com garras flamejantes.
A batalha estava em seu auge. Mas Naroke, com seu intelecto de supercomputador, antecipava cada ação do golem, e por isso sabia como iria acabar. Ela lançou uma bola de fogo azulada, do tamanho de uma bola de beisebol, não diretamente no urso, mas sim em destroços, como prédios caídos e postes de luz. Os ataques ricochetearam em ângulos imprevisíveis, atingindo Nastácia, que permanecia oculta, observando o combate.
A Juíza foi forçada a usar Barnaby para bloquear os ataques ricocheteados, expondo seu urso à raposa, que o incendiou. Naroke viu sua abertura. A raposa se dissolveu e se reformou em dezenas de pequenas chamas azuis que cercaram Nastácia instantaneamente. A Juíza, agora sem seu protetor, ergueu uma barreira de Éter, mas as chamas não a tocaram. Elas apenas queimaram.
— Péssima ideia, jovenzinha. — Naroke sorriu.
Nastácia arregalou os olhos, sua mão indo para a garganta. O ar. As chamas estavam consumindo todo o oxigênio em uma bolha ao seu redor. Seus pulmões queimaram por falta de ar e, em segundos, ela perdeu a consciência, caindo no chão. O gigante Barnaby murchou, voltando a ser apenas um urso de pelúcia chamuscado.
— Nastácia-sama! — gritou um dos membros do Comitê de Disciplina.
Kurokawa, Charlotte, Asuna e Mirai se prepararam para avançar. — Não podemos deixá-la...
— ISSO NÃO SERÁ NECESSÁRIO! — A voz veio do alto, preguiçosa e arrogante. — O time reserva deve permanecer descansando até que seja hora de entrar, afinal! — A voz continuou, cheia de si. — É para resolver os problemas que o time A foi feito!
Todos olharam para cima. Agachada no telhado da fábrica, sua silhueta recortada contra a lua, estava Mio.
— Mio! — Charlotte exclamou. — O que diabos você estava fazendo aí esse tempo todo?
Mio se levantou. — Ué. Esperando o momento certo para entrar... para roubar todo o dinheiro deles quando terminassem.
Um silêncio constrangedor tomou conta do grupo.
Mio percebeu o que disse. — ...Quer dizer! Esperando por um momento assim, para salvar o dia! É isso!
— Você já tinha dito a verdade... — murmurou Asuna.
— Tsk! — Mio estalou a língua e saltou do telhado, um cometa humano caindo diretamente sobre Naroke, mirando um chute.
A batalha recomeçou, mas desta vez, o oponente era diferente. O cérebro de Naroke calculou a trajetória de Mio instantaneamente. A Kitsune deslizou para o lado no último nanossegundo, o chute de Mio quebrando o concreto onde ela estava.
— Você é rápida — disse Mio, recuperando o equilíbrio.
— E você é óbvia — rebateu Naroke, sacando duas pistolas de Éter customizadas. — Velocidade bruta é inútil contra processamento superior.
Mio avançou, seu punho endurecendo como rocha. Naroke não mirou nela. Ela disparou três tiros em rápida sucessão. O primeiro atingiu a lateral de um contêiner de metal à esquerda de Mio. O segundo atingiu um poste de luz caído no chão, metros à frente. O terceiro atingiu o parapeito de concreto do segundo andar da fábrica, acima de Mio.
Em um piscar de olhos, os três projéteis ricochetearam, convergindo de três ângulos diferentes — esquerda, frente-baixo e cima — todos mirando o ponto cego nas costas de Mio.
— Inútil! — Mio gritou. Ela não tentou bloquear. Em vez de disso, usou sua habilidade Not Equal, fundindo-se instantaneamente com o chão de concreto, desaparecendo da vista. Os três projéteis atingiram o local onde ela estava, explodindo inofensivamente.
— Ara... — Naroke murmurou. Uma fração de segundo depois, o chão atrás de Naroke explodiu quando Mio emergiu, mirando um uppercut surpresa.
Mas o cérebro de Naroke já havia calculado as zonas prováveis de reemergência com base na trajetória de fusão de Mio. A Kitsune girou nos calcanhares, suas nove caudas chicoteando como um escudo de fogo azul, forçando Mio a recuar do uppercut para não ser incinerada.
— Sua habilidade... Permite que você mimetize e se funda com materiais inorgânicos. Interessante. Mas é um truque previsível — disse Naroke, embora seu sorriso estivesse um pouco mais tenso.
— Tsk! Para de falar e luta! — Mio bateu os pés no chão.
Desta vez, Mio não avançou. Ela usou Not Equal para mimetizar a dureza do aço de um vergalhão exposto e o fundiu com o concreto do chão, criando uma lança de concreto e aço que disparou do chão em direção a Naroke.
Naroke teve que pular para trás, enquanto mais lanças emergiam. Ela estava sendo pressionada. A imprevisibilidade da aplicação da habilidade de Mio era difícil de calcular.
— Você é forte. — Naroke tentou sua provocação, sedutora. — Gosto de garotas fortes. Que tal se juntar a mim?
Mio nem se abalou. Ela emergiu do chão a dez metros de distância, sua pele agora com a textura de rocha isolante. — Cale a boca. — Ela a chutou no estômago, seu pé momentaneamente tão duro quanto o aço.
O golpe pegou Naroke de surpresa, quebrando seu fluxo de cálculos. Naroke foi jogada para trás, o ar saindo de seus pulmões. Ela sentiu a pressão. Ela estava sendo encurralada. A combinação de poder bruto e uma habilidade que quebrava as regras da física normal estava sobrecarregando suas previsões.
Ela percebeu que não venceria aquela luta. Ela precisava de uma distração. Com um salto para trás, ela correu, não para longe de Mio, mas em direção ao grupo de Charlotte e aos membros feridos do Comitê.
— Não fuja! — Mio gritou, correndo atrás dela.
— Tem certeza? — Naroke riu por cima do ombro.
No ar, ela invocou novamente a Raposa de Fogo Gigante, que materializou-se em pleno ar e avançou contra os aliados vulneráveis. Mio parou de correr. Sua cabeça tentava achar uma solução. Ela estava presa. Se continuasse atrás de Naroke, o Comitê e seus amigos seriam incinerados. Se ela fosse salvar o Comitê, Naroke escaparia ou a atacaria pelas costas.
Naroke riu, sentindo-se vitoriosa com o dilema. De repente,
FWOOSH.
Uma cortina de fumaça espessa e escura explodiu do nada, bem entre a raposa e o grupo reserva. Do meio da fumaça, uma voz preguiçosa ecoou: — Você pode parar com as risadinhas? Eu odeio saber que estão se divertindo enquanto eu estou fazendo hora extra.
Uma silhueta atravessou η fumaça e, com um movimento rápido e brutal, cortou a cabeça da raposa de fogo ao meio. A construção de Éter se dissipou no ar. Chuya estava parado ali, as mãos nos bolsos e um cigarro novo pendurado no canto da boca.
Mio reconheceu a voz. A ameaça havia sumido. Naroke, chocada com a interrupção, virou-se para o recém-chegado. Foi o último erro dela. Mio, não mais dividida, usou sua habilidade. Ela deslizou sobre a terra, mimetizando-a, e apareceu instantaneamente na frente de Naroke. Seu punho direito se transformou em aço sólido e brilhante.
Com um rugido, Mio encheu a cara da Kitsune com um soco de direita com força total, mandando-a voando contra a parede da fábrica. Mio estalou o punho de aço, o metal rangendo. — Valeu, Chuya.
Parte 10
A cena voltava para a arena subterrânea, onde o ar carregado de poeira e eletricidade estalava. A batalha entre Dante e Lidyan atingia seu clímax, com ecos de impactos reverberando pelas paredes irregulares.
A eletricidade vermelha que envolvia o corpo de Dante, o "Deus da Velocidade", começava a piscar erraticamente, diminuindo como uma chama prestes a se apagar. Ele dava pequenos saltos, os pés mal tocando o chão rachado, tentando manter o ritmo frenético, mas sua aura tremulava, visivelmente enfraquecida, deixando traços de faíscas que se dissipavam no ar.
Lidyan, por outro lado, erguia-se devagar dos destroços do último chute. Seus olhos, frios e analíticos, fixavam-se em Dante.
Observando da borda do buraco na parede, Yuki agarrou sua lança com mais força, os dedos apertando o cabo frio enquanto avaliava a cena. A situação era complicada. Embora fosse impressionante que Dante, naquele estado exausto, fosse o único conseguindo lutar, Lidyan parecia ter uma resistência elevada, quase sobrenatural. O corpo de Dante, no entanto, já estava no limite, ainda quebrado pela quantidade absurda de dano que sofreu durante o treino.
"Se isso acabar virando uma luta de resistência..." — Yuki pensou, retirando a lança das costas — "...ele vai perder."
(Ao mesmo tempo, no Antigo Prédio de Culinária do Colégio Babylon)
Inori observava Kouka e Leticia, que estavam jogadas no chão. Ambas estavam exaustas, cobertas de hematomas e respirando com dificuldade, o peito subindo e descendo em ritmos irregulares.
— A gente não deveria ter ido também? — Inori perguntou, preocupada, inclinando-se ligeiramente para frente. — Afinal, estávamos tentando fazer o Dante se juntar à Criminal Moon.
— Eu também estava pensando nisso... — Kouka gemeu, tentando se sentar devagar, apoiando-se nos cotovelos trêmulos enquanto fazia uma careta de dor. — Afinal, se ele morrer lá, teremos jogado todo esse tempo treinando ele no lixo. O problema... é que, diferente daquele monstro esquisito, a gente está completamente exausta.
Ela olhou para suas próprias mãos trêmulas, estendendo os dedos devagar como se testasse os limites de sua fadiga. — Como é possível que ele tenha ido? Mesmo naquele estado?
Inori olhou para o chão, lembrando dos últimos momentos do treino.
Leticia, com os olhos fechados, falou, sua voz rouca ecoando no espaço vazio: — Ele aprendeu o máximo que o tempo permitia.
(Flashback do Treino)
Dante estava de joelhos, ofegante, o suor pingando do queixo enquanto tentava se recompor. Ele estava com uma dificuldade imensa em projetar e manter o arco de Ether antes mesmo de disparar, a construção de energia se desmanchava em suas mãos.
— Merda! — ele exclamou, batendo o punho no chão com frustração.
— Normalmente — disse Leticia, aproximando-se dele com passos calmos — para resolver isso, você precisaria memorizar um arco. Teria que andar por aí sempre carregando ele, dormir com ele, limpá-lo, até que tivesse familiaridade total com a arma. Com sua habilidade de aprendizado, demoraria só uns dois ou três dias.
— Eu não tenho dois dias — Dante ofegou.
— Eu sei. Por isso... teremos que fazer uma gambiarra… — Leticia respondeu meio hesitante.
(Fim do Flashback)
— Essa "gambiarra" vai mesmo funcionar? — perguntou Inori, erguendo o olhar para Kouka com uma expressão de dúvida.
Kouka, lembrando de quando Dante a atacou com aquilo durante o sparring, estremeceu visivelmente. — Eu só espero que ele não mate ninguém sem querer.
(Retorno à Luta)
Dante respirou fundo, o ar úmido e carregado de poeira da arena enchendo seus pulmões doloridos, enquanto ele se forçava a ignorar as pontadas agudas em seu corpo ferido. Ele precisava acabar com aquilo. Ele se distanciou de Lidyan com passos deliberados e vacilantes, recuando alguns metros enquanto ela o observava, confusa com o recuo repentino.
"Já que eu não vou conseguir ser de grande ajuda por muito tempo" — ele pensou, cerrando os dentes — "ao menos vou tratar de derrubar um dos oficiais antes de cair."
Ele começou a levantar a mão direita devagar, os dedos indicador e polegar estendidos na forma de uma arma improvisada, o braço tremendo levemente com o esforço. Ele reuniu seu Éter e sua aura na ponta do indicador, o ar ao redor dele crepitando com energia vermelha e negra que fazia o chão vibrar sutilmente.
Lidyan, sendo uma especialista em fundamentos do Éter, percebeu imediatamente, seus olhos se arregalando por uma fração de segundo enquanto analisava o fluxo de energia. — "Emissão e Manipulação." — Ela viu a gigantesca quantidade de Éter que Dante estava comprimindo em uma esfera minúscula, vermelha e negra, na frente de seu dedo, a esfera pulsando como um coração instável. — “Também tem um pouco de Reforço.” — Ela abriu suas asas negras com um estalo audível, as penas se espalhando como um leque sombrio, pronta para o impacto. — “Bloquear ou desviar?”— Seu coração acelerou enquanto pesava as opções, os músculos tensos.
— Queime, Estrela Rubra: Tenka!
Dante disparou, o dedo recuando ligeiramente com o coice da energia liberada.
A pequena esfera de Éter explodiu para frente com um estrondo ensurdecedor. Ela não era só rápida; ela acelerava, deixando um rastro de calor escaldante que derretia o ar ao seu redor. O tiro rasgou o chão da arena em uma linha irregular de sulcos fumegantes e fez o teto tremer, poeira caindo como chuva fina. Lidyan se encheu de medo, o suor perlando em sua testa, e se moveu instintivamente, cruzando suas asas na frente do corpo como um escudo vivo, usando todo o seu Éter para criar uma barreira de dezenas de penas negras e corruptas que se entrelaçavam em camadas densas, brilhando com uma aura defensiva.
O tiro voou, desgovernado, em direção a ela... e desapareceu.
Simplesmente sumiu no ar, a um metro do rosto dela, o ar onde ele estava agora vazio e silencioso, como se nunca tivesse existido.
Lidyan demorou para reagir, piscando devagar enquanto processava o vazio. Ela lentamente abaixou suas asas, as penas, sem entender o que tinha acontecido, olhando ao redor como se esperasse uma armadilha.
Ela olhou para Dante, virando o corpo ligeiramente para encará-lo diretamente.
Ele estava caído de joelhos no chão, fraco, ofegante, o peito subindo e descendo em respirações irregulares, e uma golfada de sangue espirrou de sua boca, tingindo o chão à sua frente de vermelho escuro enquanto ele tossia, apoiando as mãos no solo rachado.
Ao ver aquilo, o medo de Lidyan se dissipou, substituído por desprezo que curvou seus lábios em um sorriso frio. Ela estava sendo idiota. Estava assustada com Dante desde que percebeu que sua habilidade de metamorfose não funcionava nele. Mas isso não importava. Olhando com atenção, ela notou que ele já estava praticamente com o pé na cova, as feridas abertas latejando visivelmente. Só com suas habilidades de Éter, ela já podia facilmente acabar com ele.
Ela se levantou devagar, esticando os membros como se acordasse de um sonho ruim. Suas asas se desfizeram em uma tempestade de penas afiadas que rodopiavam ao seu redor antes de se dissiparem no ar.
— Acabou o truque?
Ela disparou as penas. Centenas de lâminas negras e afiadas choveram sobre ele como uma tempestade de aço.
Dante tentou desviar, mas seu "Deus da Velocidade" havia se desfeito. A aura carmesim que o envolvia piscou erraticamente e morreu. No exato momento em que ele flexionou os joelhos para dar o impulso lateral, seus músculos não responderam à sua vontade. Enquanto ele tentava correr usando apenas suas forças, sentiu um estalo agudo dentro do peito, como se um tendão sobrecarregado tivesse se rompido. Ele foi lento demais.
Os golpes de Lidyan o atingiram em cheio. As penas rasgaram sua jaqueta e cravaram em seus ombros e pernas, lançando-o com a força de uma explosão contra a parede de metal da arena. O impacto amassou a estrutura e abriu vários cortes profundos em seu corpo. As bandagens que o cobriam ficaram instantaneamente vermelhas, e algumas se rasgaram, revelando a carne viva por baixo.
A batalha virou. Agora era Lidyan quem tomava a vantagem. Ela não lhe dava um segundo para respirar, avançando pelo ar como um falcão, suas asas batendo com força e lançando rajadas de vento e mais penas. Dante, agora reduzido a uma velocidade dolorosamente humana, mal conseguia rolar para o lado, sentindo o ar deslocado pelas lâminas que passavam raspando por seu rosto e se cravavam no chão onde ele estava segundos antes. Ele estava sendo pressionado, tendo que desviar ou aguentar os golpes como podia, usando os braços como escudos improvisados e recebendo cortes superficiais a cada movimento defensivo.
— Como você está patético! — ela ria, pairando acima dele, suas asas batendo lentamente, saboreando a perseguição. Ela tentava achar algum ponto em seu psicológico para destruir. — Até o Kai poderia te encher de surra agora!
Mas Dante, todo ferido, fincou a mão no chão de aço, os dedos se apertando contra o metal, e se forçou a ficar de pé. Seu corpo tremia visivelmente de dor e exaustão, mas ele continuava se levantando.
— Já chega! — Yuki gritou, sua voz ecoando pela arena. Ela saltou, seu movimento uma explosão de energia, e apareceu no ar atrás de Lidyan. O ímpeto de seu salto girou sua lança em um arco mortal, a ponta brilhando, pronta para acertá-la com sua lança.
— NÃO INTERFIRA! — Dante gritou, um rugido que saiu com sangue e esforço.
Yuki parou o golpe no ar, a ponta da lança a meros centímetros das costas de Lidyan. A onda de choque de sua parada abrupta fez o ar estalar. Ela estava chocada. — O quê?! Por quê?!
Dante ofegava, com dificuldade para falar, cada palavra um esforço que fazia seus ferimentos doerem. — Eu... eu treinei até esse ponto... para ficar mais forte.
Ele se apoiou nos joelhos, o sangue pingando de seu queixo no chão metálico, quase caindo. — Por isso... eu não posso receber ajuda. Não agora. Ou então... tudo que eu fiz até esse momento... foi um completo desperdício.
— Você está sendo egoísta! — Yuki gritou, incrédula com sua teimosia.
Dante riu, uma tosse seca e áspera que expeliu mais sangue. — É óbvio. Afinal... eu sou um Rei Demônio.
Ele sorriu, um gesto que parecia doloroso e desafiador, mesmo completamente ferido. Lidyan não entendeu o que ele queria dizer, mas a arrogância naquele rosto ensanguentado a enfureceu. Ela aproveitou a chance, interpretando sua conversa como fraqueza, e mergulhou para o ataque final.
Dante conseguiu reativar o "Deus da Velocidade" por um breve momento. A aura carmesim explodiu ao seu redor, fraca, mas o suficiente para superar a velocidade do mergulho dela. Mas Yuki podia ver; ele estava muito mais lento agora. A luz de seu poder estava instável, falhando. Devia ter usado quase todo o seu poder no disparo anterior.
Dante usou essa última centelha de velocidade e inteligência tática para sair do campo de vista de Lidyan, desaparecendo em um borrão vermelho que deslizou pelo chão, levantando poeira. Ele se escondeu atrás de uma das jaulas gigantescas que pontilhavam a arena. Ele tentou dar a volta nela, planejando um flanco desesperado enquanto seu poder ainda durava. Mas ela não deixou.
Com um grito de frustração, Lidyan bateu as asas, subindo alto para ter uma visão completa do campo. Ela viu o borrão de Dante se movendo entre as sombras das jaulas, uma presa ferida tentando fugir.
Lidyan criou uma espada longa e negra com suas penas solidificadas e voou na direção dele em um mergulho supersônico. Ela perfurou o metal da jaula como se fosse papelão, e o som agudo de metal rasgando foi seguido pelo som abafado de carne sendo atravessada. A espada perfurou seu abdômen.
Ela riu, uma risada baixa e vitoriosa, pousando levemente enquanto mantinha a espada cravada. Ela olhou-o nos olhos, esperando ver o desespero, o choque, a luz da vida se apagando.
Mas, quando ele olhou para ela, ele estava sorrindo.
Lidyan percebeu que algo estava errado. Imediatamente. O "Dante" que ela estava apunhalando cintilou, as cores se distorcendo como uma interferência de TV, e desapareceu como um fantasma. Era um Lapso Temporal. Um clone retirado de um segundo atrás no tempo, que ele deixou correndo para atraí-la.
O verdadeiro Dante, que nunca havia saído de trás da jaula, apareceu atrás dela. Ele usou o som ensurdecedor da espada perfurando o metal para mascarar seus próprios movimentos. Ele estava muito mais perto, quase tocando suas costas. Ele já estava com a mão levantada, a palma brilhando com uma intensidade rubra ofuscante, o segundo disparo pronto.
— Queime, Estrela Rubra: Tenka!
À queima-roupa, ela não teve chance. Ela mal teve tempo de virar a cabeça, seus olhos se arregalando de horror. O tiro a atingiu em cheio, e a explosão de Éter comprimido a arrastou, uma coluna de energia vermelha que a desintegrou e continuou seu caminho, destruindo a parede da arena por completo.
Dante caiu no chão, a aura carmesim se apagando de vez. Ele pousou de joelhos, antes de tombar para o lado, o corpo batendo contra o aço, completamente exausto. A fumaça subia da enorme abertura na parede, revelando o céu lá fora.
Yuki repassou tudo em sua mente.
“Ele percebeu que, para atingi-la, precisava estar perto. Ele a fez ver que, enquanto ele estivesse correndo, ela não conseguiria acertá-lo com as penas a longa distância. Então, trocou com o clone, escondeu-se, e quando ela baixou a guarda para apunhalar o clone, ele aproveitou para acertar seu tiro à queima-roupa.”
Yuki ficou tão impressionada que não conseguia esconder. Seus olhos brilhavam, maravilhada com o que acabou de ver. Ela correu até ele para ajudá-lo.
Mas, de repente, em meio aos destroços, houve movimento sutil, o rangido de metal torto e o farfalhar de poeira se assentando revelando uma figura emergente.
Lidyan começou a sair, arrastando-se devagar dos escombros, toda ferida, uma de suas asas negras estava quebrada e pendurada como um membro inerte, balançando frouxamente a cada movimento; ela sangrava pela cabeça, o sangue escorrendo em riachos vermelhos pelo rosto, e seu corpo estava coberto de hematomas roxos que pulsavam com dor visível... mas ainda estava viva, endireitando a postura com um grunhido abafado.
— Não... pode ser... — Dante murmurou, sem acreditar na resistência dela, piscando devagar enquanto se apoiava em um joelho.
Yuki se afastou um passo instintivo, lembrando que Dante não queria interferência, cruzando os braços sobre o peito como se para se proteger; ambos, Dante e Lidyan, estavam no limite, suas respirações irregulares enchendo o ar tenso. Uma brisa poderia derrubar qualquer um dos dois, o suor perlando em suas testas misturando-se à poeira.
Mas Lidyan se recusava a cair, cambaleando para frente com determinação feroz. Não antes de ver, pelo menos uma vez, a cara de desespero de Dante. Ela olhou para ele, caído e exausto, e notou algo, semicerrando os olhos com malícia renovada. Ambos os olhos dele estavam azuis, provavelmente pela exaustão.
Ela sorriu, os lábios se curvando em um arco cruel apesar da dor.
— Por quê...? — ela começou a dizer, sua voz mudando, tornando-se mais jovem, mais desesperada, ecoando com um tremor que fez Yuki virar a cabeça bruscamente.
Ela começou a se transformar, o corpo contorcendo-se com um brilho etéreo, as feições se suavizando e remodelando diante deles.
— Por que você não me salvou, Dante?
Na frente dele e de Yuki, a figura de Lidyan Malva desapareceu em um piscar de ilusões dissipadas, substituída pela de Nero — a prima de Dante, que havia morrido em seus braços, com os mesmos cabelos pretos manchados de sangue e olhos brilhantes que ele lembrava.
Yuki, sem saber quem era, olhou para Dante, imaginando que era só mais uma tática do inimigo, para perturbar ele. Mas o que ela viu a fez parar, congelando no lugar com as mãos tremendo. Sua mente travou, e ela sentiu tanto medo que parou de respirar, o peito apertado enquanto recuava um passo involuntário.
Até Lidyan, na forma de Nero, parou de rir, o sorriso falso vacilando em seu rosto transformado. Ela também começou a se encher de desespero, os olhos se arregalando ao captar a mudança nele, recuando instintivamente.
Na frente dela, Dante não estava abalado. Ele estava diferente, endireitando o corpo devagar com uma respiração pesada, os músculos tensionados como cordas prestes a romper.
Ambos os seus olhos agora eram de um vermelho-sangue sólido, sem pupilas, brilhando com uma intensidade feral que iluminava as sombras ao redor. Seu braço direito estava coberto por uma matéria negra e horripilante que vazava entre as bandagens, com garras crescendo na ponta dos dedos, curvando-se como lâminas.
Um som úmido de algo rasgando ecoou. As bandagens em seu braço direito estouraram, incapazes de conter a mutação por baixo. Onde havia pele humana, agora irrompiam placas carmesim e irregulares. Seus dedos se alongaram com estalos doentios, transformando-se em um enorme braço negro e vermelho com garras afiadas.
Em um único segundo, ele estava na frente dela, movendo-se em um borrão sobrenatural que deslocava o ar com um sibilo.
Ele agarrou o rosto de "Nero" com a mão negra, os dedos se cravando com força implacável, e afundou-a com tanta força no chão que eles atravessaram o piso da arena com um estrondo ensurdecedor, estilhaços voando ao redor. E ele não parou, continuando acelerando a própria queda, arrastando o corpo de Lidyan com um rosnado gutural, indo andar por andar para baixo, o impacto ecoando como trovões sucessivos enquanto perfuravam camadas de metal e concreto.
Após atravessar três andares, ele a lançou com toda força para o fundo do poço que havia criado, o corpo dela girando no ar antes de colidir com o chão abaixo em uma nuvem de poeira.
Ele apontou o braço direito negro para ela, o dedo em forma de arma, o ar ao redor crepitando com energia opressora.
— Queime, Estrela Rubra: Tenka.
A voz que falou o nome do ataque era pesada, sombria, reverberando como um eco de abismo, e o Éter reunido na ponta de seu dedo era negro como piche, com raios vermelhos crepitando em conflito, pulsando como veias vivas.
A destruição foi absoluta, uma explosão de energia sombria que iluminou o poço com flashes cegantes, o calor escaldante derretendo as bordas do buraco.
Do lado de fora, na entrada da fábrica, e nos outros andares onde as outras batalhas ocorriam, todos pararam abruptamente, congelando em meio a golpes e movimentos. Um abalo gigantesco de puro Éter, sombrio e opressor, sacudiu a base inteira, fazendo as paredes rangerem e o chão trepidar como um terremoto, poeira caindo dos tetos enquanto olhares se voltavam para a origem invisível.
Parte 11
De volta à sala do trono, a batalha dos líderes havia se transformado em um furacão de caos. Beatrice, Emillia e Luka atacavam Noitora em uma saraivada coordenada, transformando o salão real em uma zona de guerra. O mármore polido estava rachado e coberto de poeira, tapeçarias reais rasgadas e o ar pesado com o cheiro de ozônio e pedra pulverizada.
— Exploda e Perfure Espiral do Dragão!
Beatrice, a vanguarda, avançou primeiro. Ela não correu, ela explodiu do chão, o Motor C vibrando em suas solas e transformando-a num projétil humano. Ela disparou duas ondas de choque espirais de suas mãos, que rasgaram o ar com um som de broca agudo.
Noitora, com sua velocidade sobrenatural, moveu-se como um fantasma, seu corpo se inclinando para trás em um ângulo impossível para desviar da primeira onda, que continuou e pulverizou um pilar de pedra. Ele foi forçado a bloquear a segunda com o antebraço. O impacto cinético foi tão brutal que o som de ossos se partindo ecoou pela sala. A força da espiral quebrou seus ossos e o jogou violentamente contra a parede, mas antes que ele sequer batesse, Beatrice já estava lá, tendo usado o recuo de seu próprio ataque para se lançar pelo ar.
Ela o interceptou no ar com um soco imbuído de Motor C. A força foi tão extrema que, por um instante, todo som foi sugado antes que a parede atrás de Noitora explodisse para fora, lançando uma nuvem de detritos para a noite lá fora. Beatrice era fisicamente a mais forte e resistente; seus golpes eram os únicos que Noitora não podia simplesmente ignorar.
Mas, enquanto a poeira baixava, o som nauseante de ossos se realinhando, estalando de volta no lugar, e carne se regenerando com um chiado úmido ecoou. O braço quebrado de Noitora já estava curado, pendendo ao seu lado como se nada tivesse acontecido.
— Ataque interessante.
— Tsk. — Emillia avançou, seu movimento contrastando com o de Beatrice. Ela deslizava, leve como uma pluma, seus pés mal tocando o chão destruído. Ela ativou sua Rapiera da Tempestade. A lâmina fina brilhou com um Éter verde, o ar ao seu redor começando a vibrar e a se tornar uma broca invisível e letal.
Noitora sentiu o perigo e avançou para interceptá-la antes que ela pudesse usar a técnica. Ele precisava fechar a distância. Mas, no momento em que ele entrou no alcance médio, o ar ao seu redor ficou pesado, denso, como se a própria realidade tivesse ganhado peso. Os sons da batalha ficaram abafados.
— Ah... que sono...
Luka bocejou, parado a uma distância segura, com os olhos semicerrados. Ele havia ativado sua Zona de Inércia.
Para Noitora, foi como tentar correr dentro de concreto líquido. Seus músculos, movendo-se em velocidades sobre-humanas, urravam em protesto, cada passo exigindo um esforço titânico. Emillia, no entanto, moveu-se livremente, seu poder a isentando do efeito.
— Agora! — ela gritou.
Com Noitora preso pela habilidade de Luka, Emillia disparou sua estocada conceitual. Ela não se moveu; apenas a lâmina de vento rasgou o espaço com um silvo agudo, mirando o coração do líder da Verbrechen.
Noitora rosnou. Seus olhos brilharam com uma luz azulada e fria. Se ele não podia se mover no espaço, ele se moveria no tempo.
Ele ativou seu Domínio Cronocinético.
Para os três líderes, o mundo congelou por uma fração de segundo. A poeira parou de cair. Emillia ficou suspensa no ar. Para Noitora, o tempo se arrastou. A estocada de Emillia se aproximava dele como um projétil em câmera lenta. Com um esforço visível, lutando contra a inércia de Luka e a distorção do tempo, ele moveu seu torso lentamente, centímetro por centímetro. O suficiente para que a Rapiera da Tempestade de Emillia passasse raspando por seu peito, arrancando um pedaço de sua carne e continuando, cortando o trono de pedra ao meio atrás dele.
O tempo voltou ao normal com um estalo sônico.
Em um piscar de olhos, Noitora contra-atacou, capitalizando o segundo de confusão de seus oponentes. Antes que Emillia pudesse sequer registrar que havia errado, ele socou-a no estômago, um golpe curto e vicioso que a fez expelir o ar e a lançou como uma bala de canhão contra uma janela. Sem pausa, ele girou, seus movimentos agora livres, e desferiu um chute lateral devastador em Luka, quebrando a Zona de Inércia e arremessando o estrategista contra os escombros do pilar. Antes de Luka aterrissar, Noitora já havia se virado para a ameaça final. Ele agarrou Beatrice, que tentava um novo ataque, pelo rosto, e a bateu contra o chão com força suficiente para rachar o mármore em um padrão de teia de aranha.
A batalha era brutal e visceral. Eles o atingiam, mas ele se regenerava. Ele os atingia, e eles sentiam.
— Ele está... ficando mais rápido — ofegou Beatrice, levantando-se. O mármore rachado estava grudado em seu sangue, mas seu Motor C já vibrava, absorvendo o impacto e forçando suas células a se curarem.
Noitora estava mudando. Seu corpo estava ficando maior, estalando e se contorcendo. Pelos negros e grossos brotavam em seus braços, rasgando as mangas de seu terno. Suas unhas se alongavam, tornando-se garras afiadas que cravavam no chão, e seus dentes se transformavam em presas. Ele estava apanhando, mas cada golpe parecia apenas atiçar mais sua fúria e acelerar sua transformação.
Emillia, patinando no ar com seu Voo Zéfiro, desviou de um pilar inteiro que ele arrancou do chão e jogou como se fosse um dardo. — Ele não é apenas um Jujin... essa regeneração, essa selvageria... ele também é um Lobisomem! Um híbrido! Isso será problemático.
O motivo pelo qual eles não venciam era claro: era uma batalha de atrito que eles não podiam ganhar. A habilidade de Noitora de desacelerar seus ataques e acelerar a si mesmo tornava-o um alvo quase impossível, e qualquer dano que eles conseguiam infligir era curado em segundos. Enquanto eles três estavam ficando visivelmente cansados, o suor brilhando em suas testas, gastando Éter a cada segundo, Noitora continuava igual, e às vezes, parecia ficar ainda mais forte.
A batalha continuou incessante, um impasse violento. Beatrice atacava com força total, Emillia buscava aberturas com sua velocidade e Luka tentava aplicar sua inércia, mas Noitora, agora um meio-homem, meio-besta, simplesmente se regenerava de cada corte e esmagava cada defesa.
Então, de repente, o mundo tremeu.
BOOOOOOM!
Um abalo gigantesco, vindo de muitos andares abaixo, sacudiu a base inteira. Não foi um tremor comum; foi uma explosão de poder puro, uma detonação de energia espiritual. Imediatamente depois, uma onda de Éter opressor, sombrio, furioso e aterrorizante, varreu a sala, fazendo até mesmo Noitora parar no meio de um golpe.
Os três líderes pararam, ofegantes.
— O que... o que foi isso? — Luka murmurou, pela primeira vez parecendo alerta, seus olhos sonolentos agora bem abertos.
— Essa aura... — Beatrice ofegou, seus olhos se arregalando de preocupação. — É o Dante!
Emillia franziu o cenho, limpando o sangue do lábio.
A onda de Éter sombrio desapareceu tão rápido quanto veio. Mas Noitora, que também havia parado, cheirou o ar, suas narinas bestiais se dilatando.
A explosão havia mascarado outra coisa.
Ele podia sentir. Outras auras. Poderosas. Aproximando-se rapidamente da superfície.
O líder lobisomem ficou furioso. O suor escorria por seu rosto agora bestial. — Insetos... Todos vocês... — ele rosnou, sua voz um trovão gutural. — Agora... não temos escolha a não ser abandonar este esconderijo!
Ele rugiu, um som que era meio homem, meio lobo, e rasgou o que restava de sua camisa. Sua transformação estava quase completa, seus músculos inchados e contraídos, cobertos de pelo negro e espesso. — Mas já estava na hora de acabar com isso! VENHAM!
Ele se preparou para um ataque final, agachando-se como um predador, pronto para matar os três de uma vez.
Mas, de repente, ele parou. Sua cabeça se ergueu bruscamente. Beatrice, Emillia e Luka também congelaram, seus instintos gritando mais alto que a dor de seus ferimentos.
Todos eles, incluindo o monstruoso Noitora, olharam para cima, para o teto da sala do trono.
Uma nova pressão desceu sobre eles. Uma pressão tão gigantesca, tão calma, fria e absoluta, que fazia a aura de Dante parecer uma balão explodindo e a de Noitora, a raiva de um cachorro enjaulado.
Esta era diferente. Não era caótica. Era controlada. Eram múltiplas auras.
E uma delas...
Os olhos de Emillia se arregalaram, não em análise, mas em choque genuíno, puro. Ela reconheceu aquela assinatura de Éter. Era impossível, mas estava ali. — Não pode ser... — ela sussurrou, seu corpo tremendo involuntariamente. — Essa presença...
— Misaki Albran.



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