The Fall of the Stars: Capítulo 3 - Velvet
- AngelDark

- 14 de jul.
- 49 min de leitura
Volume 3 : Sentido da Vida
Parte 1
No reino de Alexandria, os vampiros eram uma praga que assolava a humanidade, transformando-se em uma ameaça constante, semeando terror e destruição por onde passavam.
A cidade de Luvania, um local sombrio envolto por densas florestas e névoa persistente, onde os raios solares raramente penetravam, era um campo de batalha constante entre humanos e vampiros. As ruas, outrora vibrantes, agora jaziam cobertas pelos corpos de vítimas inocentes, e o medo pairava no ar como uma névoa densa e sufocante. Os vampiros, por sua vez, atormentados pela agonia da fome e sede insaciável, entregavam-se à euforia de beber sangue humano e saciar sua sede de morte. Cada gota de sangue era um deleite sádico, um mergulho na loucura que os consumia.
Carmilla, uma vampira de coração nobre, observava a cena com tristeza e compaixão. Ela não era como os outros de sua espécie, que se entregavam à violência desenfreada. Tendo vivido por eras, Carmilla aprendera a suportar a dor da fome, saciando-se apenas quando à beira de ressecar, exercendo um controle quase sobre-humano.
Carmilla já foi uma das vampiras que se entregaram ao prazer momentâneo, causando inúmeras mortes e até mesmo sendo conhecida como uma vampira lendária que venceu incontáveis guerras, tanto contra outros vampiros quanto contra humanos. No entanto, um dia, ela abandonou essa vida e se tornou alguém pacífica ao reencontrar um antigo amigo, ou, para ser exato, um descendente de seu antigo amigo. Esse homem, por quem Carmilla foi apaixonada, representou a figura mais importante de sua vida e a quem ela perdeu no momento em que se transformou em vampira. Sentindo-se responsável pelos filhos de seu amor, Carmilla decidiu dedicar sua imortalidade a proteger os descendentes de seu antigo amado. Lucius Vrykolaka, um desses descendentes, era um humano que não temia os vampiros e até mesmo convivia e servia como médico deles. Sempre triste por sua situação, ele só não era atacado pelos vampiros que atendia por ser considerado propriedade de Carmilla, e todos temiam imaginar o que aconteceria caso lhe fizessem algum mal. Certo dia, Lucius se apaixonou por Kamui, uma vampira gentil e compassiva que se recusava a matar humanos, querendo provar que havia uma forma de conviver com eles, embora para isso ela tivesse que suportar uma dor dilacerante. A fome para um vampiro verdadeiro é agonizante, o pior tipo de inferno; eles sofrem, sentem dor por todo o corpo, o corpo resseca, os músculos doem e as veias latejam, o que os leva ao vício total.
Por terem visões semelhantes, logo se uniram. No entanto, mesmo com a permissão de Lucius, Kamui evitava ao máximo beber seu sangue, sempre se sentindo mal quando o fazia e chorando à noite com auto-repúdio, sentindo-se um monstro. Vendo a situação da mulher que amava, Lucius decidiu que encontraria uma forma de salvá-la, junto com todos os vampiros, criando um sangue que eles pudessem beber. Acontece que os vampiros precisam beber sangue de seres vivos; se consumirem algo como sangue artificial, seus organismos rejeitam, o que sempre tornou a tarefa de criar um substituto algo impossível. Mas Lucius confiava que quebraria a barreira do impossível e salvaria a mulher que amava. Assim, pediu ajuda a Carmilla, sabendo do grande poder, status e riqueza que ela possuía e sabendo o quanto ela era apegada a ele. Ela o ajudou a estabelecer um laboratório secreto, onde Lucius e seu amigo de infância e colega cientista, Rover, trabalharam juntos para encontrar uma cura para a sede insaciável dos vampiros.
Mesmo após anos de pesquisa, o futuro almejado parecia cada vez mais distante. Virar noites em claro tornou-se uma rotina, uma tentativa de alcançar um feito divino. Lucius, consumido pela frustração, perdia cada vez mais a perspectiva de vida. A situação atingiu um ponto crítico quando, em uma noite fatídica, Kamui, privada de alimento por quatro dias, sucumbiu ao desejo e atacou uma mulher que passava por sua casa. Embora não a tenha matado, o mero ato de ceder à tentação serviu como um gatilho, fazendo Kamui confrontar a natureza monstruosa que a afligia e a impossibilidade de sua redenção. Naquela mesma noite, ao retornar para casa, Lucius encontrou Kamui em uma tentativa desesperada de suicídio. Incapaz de suportar a realidade de sua existência como um monstro, ela havia se exposto à luz do sol da madrugada, sem o anel que a protegia. Lucius a salvou a tempo, mas Kamui ficou com queimaduras graves e implorava pela morte. Aquele momento foi o estopim para Lucius, que finalmente compreendeu o que precisava fazer. Ele se entregou de corpo e alma à sua pesquisa, determinado a transcender o impossível, mesmo que para isso se tornasse um deus. Rover, observando a deterioração de seu amigo, tentava em vão alertá-lo. Lucius mal se alimentava, evitava a luz do sol e mantinha-se acordado com remédios e comprimidos. Após incontáveis batalhas e tentativas, a dupla finalmente vislumbrou uma solução: a própria natureza vampírica. Eles iniciaram pesquisas sobre a geração de vida e a criação de vida artificial. Após inúmeras tentativas, avançaram significativamente. O laboratório, outrora um santuário de esperança, transformou-se em um local sombrio, repleto de tubos, cápsulas de vida, embriões, líquidos de cores diversas e papéis espalhados – um local onde experimentos proibidos em qualquer outro reino eram realizados. Eles buscaram desenvolver vida usando o DNA de diversas espécies, na esperança de encontrar a combinação perfeita. Clones humanos falharam, pois seu éter nutritivo produzia um sangue incapaz de saciar a sede vampírica. Outras espécies pareciam protegidas por uma força divina; seus clones morriam, como se um elo vital na cadeia genética estivesse faltando. O laboratório, antes apenas manchado de sangue em seu exterior, tornou-se um local de atrocidades. O sonho e a ambição de Lucius o levaram à loucura, impelindo-o a cometer atos abomináveis e heréticos. Ninguém poderia compreendê-lo, exceto Rover.
Depois de procurar e investigar ao ler o bestiário do mundo, Lucius percebeu o que faltava: o código genético dos Scarlune. Dirigiu-se à Mansão Winchester, lar dos terríveis e desumanos Scarlune, e expôs seus planos e objetivos sem omitir nenhum detalhe de seus experimentos cruéis. Os Scarlune responderam com aprovação e curiosidade, ansiosos para ver onde a ambição de Lucius o levaria. Os monstros Scarlune, feitos de retalhos, eram as maiores afrontas à vida e ao divino, mas persistem em existir, e Lucius acreditava que seu segredo residia em seu DNA. Sem hesitação, os Scarlune presentes doaram seus códigos genéticos, sangue e o que mais Lucius precisasse. Muitos deles, versados em genética, se juntaram à sua causa, ajudando-o a profanar ainda mais o mundo, adentrando o território divino e brincando de criar vida. Rover tentou inúmeras vezes resgatar seu amigo da espiral de loucura em que havia caído, mas Lucius estava perdido demais para ouvir. A pesquisa, outrora uma busca por felicidade, agora semeava a morte. Eles continuaram, em uma incessante busca por tentativa e erro, brincando com a vida. Rover, embora repugnava o que faziam, permaneceu ao lado do amigo, recusando-se a abandoná-lo, mesmo quando os olhos de Lucius se distanciavam cada vez mais dos seus. Finalmente, após incontáveis tentativas, a pesquisa de Lucius produziu o resultado desejado: Velvet Dolly, o primeiro ser artificial, criado a partir do DNA dos Scarlune, mas algo inteiramente novo.
Ao concluir sua criação, Lucius verteu lágrimas de emoção, abraçando a garota que havia concebido, enquanto os cientistas que o auxiliaram o aplaudiam. Rover, por sua vez, vislumbrou em Velvet Dolly a esperança não apenas para os vampiros, mas também para seu amigo. Enquanto analisavam meticulosamente os resultados da pesquisa antes de prosseguir, passaram a observar e acompanhar o crescimento de Velvet. Secretamente, Rover coletava amostras do sangue da garota e as fornecia à esposa de Lucius, assegurando-lhe que se tratava do sangue artificial definitivo que haviam desenvolvido, ocultando a verdade sombria por trás do líquido. Rover aproveitou o tempo que Velvet proporcionou para incentivar Lucius a cuidar da garota, sob o pretexto de analisar seu desenvolvimento. Na realidade, seu objetivo era despertar em Lucius a consciência de que havia se tornado pai, que havia dado vida a um ser real, para que ele percebesse a crueldade do que pretendia fazer em seguida.
Juntos, Lucius e Rover dedicaram-se aos cuidados de Velvet no laboratório, vivenciando dias de alegria que jamais haviam experimentado. A garota, exuberante e afetuosa, divertia-se pregando peças em ambos e escondendo-se pelos recantos do laboratório, embora tivesse o hábito peculiar de assobiar ao ouvir seus "pais" se aproximarem de seu esconderijo, chamando por seu nome. Os Scarlune, de forma bizarra, mantiveram-se à margem, encontrando interesse na situação à sua maneira. Mesmo que Lucius desistisse de seu objetivo, isso apenas demonstraria que sua ambição não era tão grandiosa quanto eles haviam imaginado. Carmilla compartilhou do mesmo sentimento, passando a cuidar de Velvet como uma neta. Aos poucos, eles se afastaram de seus antigos hábitos. Com o tempo, a nova família se tornou tão feliz que Lucius e Rover decidiram apresentar o mundo a Velvet, emocionando-se com sua reação. A garota, maravilhada com as cores, a chuva, as folhas e o ar, chorou diante da beleza que a cercava, sem compreender o motivo. À medida que o tempo avançava, as pesquisas de Lucius foram sendo gradualmente abandonadas.
Meses depois, Lucius levou Velvet, Rover e Carmilla para viverem com Kamui, omitindo a verdade sobre a origem do sangue que ela consumia. Ele a apresentou como uma garota que Carmilla havia resgatado e que agora cuidavam juntos, pois ela poderia ser a chave para suas pesquisas e para a salvação dos vampiros, construindo assim a relação que Kamui tanto almejava. Embora baseada em uma mentira, essa nova realidade proporcionou a todos uma vida sem igual. Kamui não mais acordava em prantos, e Velvet experimentava a alegria de ter pais e uma avó. Rover, por sua vez, sentia-se grato por ter seus apelos atendidos. O tempo transcorreu, e a cada dia se revelava uma nova aventura. A família se reunia em brincadeiras, apresentando o mundo a Velvet e desvendando os segredos da felicidade. Essa vida pacífica perdurou por alguns anos, até que Rover foi tragicamente pego em meio a um confronto entre vampiros famintos. A morte de Rover, um acidente aleatório do destino, alterou drasticamente o rumo da vida de todos. Lucius, atormentado pela culpa por não ter salvado seu amigo, culpava-se por sua negligência. Sua ambição, antes tão próxima, parecia inalcançável. Ele poderia ter evitado a tragédia, saciando a fome dos vampiros, mas sua cegueira o impediu. Lucius se isolou no laboratório, levando consigo Velvet, a garota de sete anos que havia conhecido o mundo e agora era forçada a abandoná-lo. Novamente, ele a aprisionou no laboratório subterrâneo, longe de tudo o que ela admirava, submetendo-a a exaustivos testes e experimentos diários. O que antes era rotina agora se tornará insuportável; a luz do mundo havia sido apresentada a ela apenas para ser brutalmente arrancada de suas mãos. Restava-lhe apenas aceitar o inevitável. Lucius, mais uma vez recorrendo aos Scarlune, deu início a uma nova fase da pesquisa. Eles clonaram Velvet em doze réplicas idênticas, todas com as mesmas propriedades e capacidade de desenvolvimento, destinadas a servir como alimento para os vampiros. A impossibilidade de simplesmente entregar as garotas, devido à ilegalidade de suas ações, exigiu a criação de uma narrativa falsa: Lucius havia desenvolvido o sangue artificial definitivo. Apesar da resistência de alguns vampiros, principalmente os que detinham o poder, Carmilla, agora ascendida a Rainha Demônio, impôs um tratado de paz, obrigando-os a aceitar o novo sangue. Sob a fachada de uma negociação diplomática, Carmilla, com sua autoridade, forçou a aceitação do B2, movida pelo desejo de salvar seu filho Lucius, que, após a perda de Rover, afundava em um abismo de solidão. O tratado foi selado, o B2 foi apresentado ao mundo como substituto do sangue, pondo fim à guerra entre vampiros e à era de sangue. Lucius, ao constatar o impacto de suas ações, vislumbrou um futuro promissor. Com sua tecnologia e pesquisas, ele poderia salvar incontáveis vidas e transformar o mundo para sempre. Movido por essa ambição, ele retomou suas pesquisas, gerando mais clones, visando suprir a demanda por órgãos, encontrar a cura para doenças e criar um mundo perfeito. A busca por esse objetivo o consumiu, mergulhando-o em uma espiral de loucura. Kamui, observando a deterioração de Lucius, não pôde mais se manter inerte. Em uma noite, ela adentrou o laboratório para desvendar o mistério do desaparecimento de Velvet. A realidade a atingiu como um golpe devastador ao se deparar com a série Velvet, crianças aprisionadas em tubos, tendo seu sangue drenado e transformado em alimento para vampiros. Ao ver Kamui, Velvet Dolly, em um apelo desesperado, implorou por ajuda, suplicando para ser libertada, prometendo bom comportamento. Os pesquisadores, indiferentes à sua natureza infantil, responderam com violência, tratando-a como mero objeto de pesquisa. Kamui, horrorizada com a cena, fugiu do laboratório. Lucius, imerso em suas pesquisas, ignorou o alerta dos cientistas, buscando Kamui apenas ao final do dia. Ao encontrá-la, deparou-se com o corpo sem vida de sua amada, que havia tirado a própria vida
1 Ano depois, a pesquisa continuava, mas agora com um objetivo distinto. A maioria das Velvets da primeira geração tornaram-se obsoletas. A consciência, que antes parecia uma vantagem, transformou-se em um entrave, dificultando o manejo das cobaias. Os novos projetos, destituídos de consciência, permitiam uma praticidade antes inimaginável: alimentados por tubos e mantidos em incubadoras, não exigiam interação humana. Apenas uma Velvet seria preservada para futuras pesquisas, onde buscavam desvendar suas peculiaridades em relação aos Scarlune. O objetivo era responder a perguntas cruciais: ela herdara a ambição dos Scarlune? O código genético de outras espécies se manteria estável em sua descendência? Seria ela capaz de gerar prole com outras espécies? Para responder a essas perguntas, a recriação de Velvet, desde a concepção, era imperativa. A Velvet com menor vivência seria selecionada, enquanto as demais, de Dolly a Onze, seriam descartadas.
Parte 2
Durante o período em que Velvet foi forçada a retornar ao laboratório, ela mergulhou em um abismo de solidão. Todos os dias, seu corpo era perfurado por agulhas, e sua alimentação se resumia a uma pasta cinzenta e insípida. Os únicos contatos que tinha eram com os cientistas, figuras sombrias que usavam máscaras e luvas frias, impessoais. A alegria e a esperança de Velvet se dissiparam no instante em que Lucius lhe revelou que suas palavras haviam impulsionado Kamui ao suicídio. O abismo entre os dois se aprofundou, e Velvet se viu perdida, sem rumo.
No entanto, suas irmãs se tornaram salvação. As Velvets, de Um a Doze, movidas pela curiosidade e pelo desejo de compreender o tratamento diferenciado dado a Dolly, passaram a se encontrar secretamente com ela durante o horário de almoço. Inicialmente, os cientistas tentaram impedir os encontros, mas a intervenção dos Scarlune, intrigados com o resultado daquela interação, permitiu que a série completa se reunisse.
Como previsto, um laço fraternal se formou, com as Velvets vendo Dolly como uma figura materna, embora ela as visse apenas como irmãs. O tempo transcorreu, e a alegria vibrante de Dolly se esvaiu, substituída por uma melancolia permanente. Incapaz de sorrir, ela encontrava consolo nas risadas e na felicidade de suas irmãs. Dolly compartilhou suas memórias do mundo exterior, despertando nelas o sonho de um dia vivenciá-lo, para mostrar que todas eram iguais dolly até deu nomes diferentes para cada uma das irmãs que decidiram usar velvet como seu sobrenomes e assim nasceram Susan, Karen, laura, luana, kamelya, bianca, e todas as outras irmãs que prometeram um dia irem juntas até o lado de fora daquele laboratório branco.
Contudo, os dias se transformaram em um ciclo de tortura mental, testando os limites da resistência das Velvets. Seus corpos foram profanados, órgãos removidos, e seus restos mortais levados em macas, sem qualquer sinal de respeito, revelando a crueldade da realidade: elas eram meros objetos descartáveis.
Apesar da dor e das perdas, Dolly se manteve forte, protegendo suas irmãs do sofrimento que a consumia. Em sua mente, um plano de fuga se cristaliza, não para sua própria salvação, mas para libertar suas irmãs daquele inferno. Suportando a dor e a perda sem derramar uma lágrima, Dolly se tornou um pilar de força.
Um dia, Velvet Doze revelou a verdade: os cientistas pretendiam descartá-las, tornando-as obsoletas. A hora da fuga havia chegado. Naquela noite, antes do descarte, Dolly colocou seu plano em ação. As Velvets libertaram as criaturas criadas pelos cientistas, semeando o caos em múltiplos andares. Na confusão, elas tentavam escapar.
Dolly havia mapeado meticulosamente uma rota de fuga. No entanto, para os cientistas, a fuga das Velvets representava um perigo maior do que a própria morte delas. A revelação do segredo do B2 era inaceitável. Sem hesitar, eles abriram fogo, ceifando a vida das crianças que ousaram buscar a liberdade.
Uma a uma, as Velvets tombaram, enquanto as sobreviventes, com lágrimas nos olhos, se arrastavam pelos cadáveres das irmãs, impulsionadas pela esperança de escapar. No auge do caos, o novo chefe do laboratório, em um gesto de desespero, dirigiu-se às cobaias pela primeira vez
— É uma pena, eu realmente desejava um fim mais honroso para minhas irmãs.
O novo chefe do laboratório era Kamuz Vrykolaka. Após a morte de sua mulher, Lucius afundou-se em depressão e desespero, perdido e sem rumo. Insatisfeita com esse desfecho, Scarlune Zoe decidiu trazê-lo de volta à vida. Ela o seduziu, despertando o amor através do apego carnal, e lhe ofereceu uma nova família. Com a ajuda das pesquisas de Lucius, gerou um filho que carregava traços de Rover, desenvolvendo-o artificialmente.
A sanidade de Lucius havia se quebrado, o mundo perdia o sentido, confundindo amor, morte e vida. Em agonia, ele se entregou à sedução dos Scarlune, embriagando-se ainda mais com a ambição, construindo novos laboratórios, realizando experimentos proibidos e mergulhado na loucura. Seu filho, Kamuz, assumiu a gerência do laboratório onde tudo começou, mantendo o projeto Velvet por pura piedade.
A caçada persistia, e ao alcançarem a saída, restavam apenas três Velvets: Susan, Dolly e Karen. Cobertas de feridas e sangue, com cabelos emaranhados, era impossível distingui-las. Finalmente, a liberdade e a salvação pareciam ao alcance, mas foram novamente negadas. A passagem utilizava uma ponte levadiça, erguida por Kamuz, encurralando-as. Kamuz as confrontou, eliminando uma delas.
— O primeiro e último jogo dos irmãos acabou, maninha. Agora, faça-me um favor: venha com a outra e aceite a morte indolor que lhe ofereço.
As duas irmãs se encararam, uma tremendo de medo, a outra com lágrimas nos olhos, mas com um sorriso acolhedor.
— Irmãozinho, mesmo com suas promessas, não sou mais um pássaro engaiolado. E nunca mais serei. Não posso escolher como viver, mas decidirei como morrer. Velvet Doze, viva por todas nós!
Após proferir essas palavras, ela empurrou a irmã para dentro do laboratório e saltou para trás. Kamuz e o outro, em desespero, correram para ver o que aconteceu, encontrando o corpo ensanguentado de Velvet no fundo do fosso. Enfurecido, Kamuz arrastou a sobrevivente pelos cabelos até sua sala, atacando quem cruzasse seu caminho.
— Maldita! Jamais a perdoarei, nem você! Eu planejava deixá-la com os Scarlune, mas agora, para frustrar a ambição daquela idiota, a manterei neste inferno até definhar.
Na verdade, Kamuz, sem saber qual irmã capturar, temia a rejeição dos Scarlune, que queriam Doze. Ele a jogou na sala, prometendo que nunca mais veria a luz do dia, e saiu rindo.
— Este é o fim das irmãs Velvet e de Dolly!
Embora ele não pudesse ouvir, do fundo da sala onde a garota, agora ferida e em prantos, jazia, um leve assobio ecoou.
O tempo transcorria, e a dor e o desespero apenas se intensificavam a cada dia. A Velvet sobrevivente definhava progressivamente, perdida e sem encontrar sentido na existência. A depressão e a loucura, exacerbadas pelo isolamento, por vezes a impeliam ao suicídio, mas a necessidade de honrar a vida que sua irmã salvara a mantinha em pé.
No entanto, o fardo de ser a única portadora da verdade sobre os eventos da ponte se tornava cada vez mais insuportável. Não foi Dolly quem se sacrificou, protegendo sua irmã, mas sim Susan, Velvet Doze, que escolheu morrer para salvar sua "mãe". Agora, Dolly se via desorientada, sem saber como prosseguir. O desejo de abandonar tudo a assombrava, mas a consciência da vida que sua irmã lhe havia confiado a impedia.
Mesmo assim, o tempo a consumia. A falta de apetite a definhar, a tristeza a consumia em lágrimas, e seu corpo se tornava um reflexo de sua alma: sujo, degradado. Kamuz, percebendo que ela poderia tentar escapar daquele tormento de forma semelhante à de Dolly, coagiu os cientistas a alimentá-la à força, contrariando sua vontade, forçando Dolly a sobreviver. A garota, apática, subsistir até o dia de um grande incidente.
Em uma tentativa de gerar um híbrido de vampiro e lobisomem, os cientistas criaram uma criatura desalmada, que massacrou impiedosamente todos em seu caminho. Velvet havia descoberto há tempos como abrir sua jaula, mas, vazia e sem rumo, evitava fazê-lo. Presa à própria loucura, ela fugiu, não para escapar, mas para se deixar ser morta pela criatura, pondo fim ao seu sofrimento.
Ela se lançou em sua direção, mas, diante da pilha de corpos dos cientistas e do olhar da criatura, mesmo anelando a morte, a garota correu. Buscou refúgio no canto mais escuro e remoto do laboratório, onde se encolheu, em prantos, percebendo que, no fundo, ainda temia a morte.
A garota permaneceu encolhida por horas, aguardando o momento em que o monstro a encontraria e a mataria. O alarme do laboratório ecoava incessantemente, como um lamento metálico.
"Atenção! Isto é uma situação de emergência. Perdemos o controle da sala de controle e, logo, não teremos mais como lidar com a situação. Tendo em vista isso, repetimos o alerta para que todos os cientistas do prédio se movam temporariamente para o parque de recreio aos fundos, enquanto os especialistas chamados lidam com a situação."
O alarme repetia a mensagem, enquanto a pequena garota, encolhida no canto escuro, tremia de frio e terror. Lágrimas geladas deslizavam por seu rosto, enquanto ela, em um esforço desesperado, tentava abafar os soluços.
— Eu... eu estou com medo...
A voz frágil da garota ecoou no silêncio. Ela sabia que suas palavras eram vãs, um apelo solitário no vazio. Ninguém viria resgatá-la. No entanto, o medo era uma onda avassaladora, impossível de conter. Foi quando seus ouvidos captaram o som de passos, em um ritmo lento, que pouco a pouco se aproximavam.
— Eu estou com medo... Susan, Karen... por favor... socorro...
A porta rangeu, abrindo-se lentamente, como as mandíbulas de um monstro faminto. O terror a paralisou, o corpo da garota instintivamente se encolheu em um último esforço para desaparecer. Ali, na escuridão, seus sonhos se desvaneceram, consumidos pelo medo e pela solidão.
— Você está bem?
Parte 3
O grupo formado por Lin, Sanemi, Nero, Saito e Dante vagava pelo misterioso laboratório, percebendo os segredos que aquele local ocultava e a presença de outros seres. Assim, começaram a se preparar para um combate, enquanto continuavam a explorar o ambiente em busca de um local mais adequado para a batalha.
Andando pelos corredores, a sensação de estarem sendo vigiados só aumentava. Um frio subiu direto pelas costas, eles conseguiram sentir que alguém estava os seguindo já a algum tempo. À medida que entravam mais fundo naquele local e viram como ele estava cada vez mais destruído, mais dúvidas apareciam.
"No início do laboratório, eles podiam até estar pesquisando sobre clonagem, mas o que eles começaram a estudar a ponto de acharem que precisavam expandir ainda mais estas instalações?"
Como as pessoas que pesquisavam sobre alimentos para vampiros acabaram criando um híbrido? Por que, mesmo existindo tantos laboratórios da mesma empresa, apenas este era mantido em segredo? Havia tantas perguntas os incomodando que eles nem param para fazer a mais óbvia: se a criatura que os seguia agora era o híbrido que vieram caçar, ela deveria ser um monstro assassino superpoderoso, mas, acima de tudo, um ser de pura agonia e loucura. Sendo assim, como um monstro desses estava os espreitando nas sombras? Isso era, com certeza, uma ação planejada; um ser irracional não tomaria essa atitude. Em situações normais, eles nunca deixariam de perceber algo tão óbvio, mas, dessa vez, estavam falhando. O medo causado por aqueles corredores sinuosos, as perguntas em suas mentes, as dúvidas... tudo isso os estava fazendo demorar para raciocinar. Foi quando, de repente, Lin começou a encarar o lado, vendo algo no meio do escuro. Algo estava se mexendo.
De repente, saindo da escuridão, uma centopeia enorme começou a atacar. Todos saltaram, esquivando-se do ataque. Mas, quando a centopeia veio para a luz, eles notaram a bizarrice que era aquela figura: uma centopeia com braços e uma boca sobrenatural e deformada.
— Mas que merda está acontecendo aqui, afinal de contas?!
A centopeia ia para cima deles, deixando-os sem opção além de lutar. Nero começou a desembainhar sua katana, indo para cima da criatura, que se movia facilmente pelas paredes, teto e chão em alta velocidade. Os corredores de metal, cheios de buracos e fios desencapados soltando faíscas, dificultavam a movimentação deles e davam uma enorme vantagem à criatura. Nero tentou cortá-la, mas a pele dela era simplesmente resistente demais para a lâmina. Quando todos viram aquilo, ficaram sem acreditar.
"A Lâmina da Nero Não Cortou?"
O mesmo pensamento percorreu a mente de todos, junto com uma certeza: se ela não conseguiu nem arranhar o corpo da criatura, esta era resistente demais para eles ferirem. Assim, todos mudaram a estratégia novamente: Dante saltou na direção de Nero para tirá-la de perto da centopeia, enquanto Sanemi, entendendo que perfurar era inútil, arrancou um feixe de cabos soltos que pendia da parede e o chicoteou na direção da cabeça monstruosa. As faíscas que saltam quando os fios rasparam na carapaça e o movimento súbito atraíram o foco principal da centopeia para ele. Quase simultaneamente, Lin aproveitou um buraco no chão metálico para chutar uma placa solta para cima, atingindo a barriga da criatura que passava pelo teto naquele momento. O som metálico agudo e o impacto inesperado vindo de baixo fizeram a centopeia hesitar, suas múltiplas patas se agitando enquanto tentava localizar a segunda fonte de ataque, permitindo que Sanemi ganhasse distância.
— Mas o que está rolando aqui, Saito?! Aquilo não parece apenas um Yokai mulher-centopéia!! Sanemi gritava, correndo.
— O que você quer que eu diga?! Eu também não sei! Eu também nã-
Na frente do corredor, a criatura finalmente havia aparecido. Um lobo coberto por chamas roxas e sombrias, com olhos vermelhos e profundos, os encarava. Ele tinha mais de quatro metros de altura, suas presas e garras estavam cobertas por sangue, e só de encará-lo, uma sensação de morte pairava sobre todos. Mesmo querendo escapar da centopeia que os perseguia, apenas medo e agonia passavam por suas cabeças.
— Merda, merda, merda, merda!
— Não, não, não, não!
— O que eles queriam que a gente fizesse?! Isso não deve ser algo combatível! Isso não deve ser encarado! Isso vai nos matar!
Sanemi, Lin e Saito pensavam, enquanto Dante e Nero tremiam, encarando a criatura a ponto de parecer que poderiam parar de respirar a qualquer segundo.
Dante, usando toda sua força mental para manter a razão enquanto via a besta à sua frente encará-lo como se fosse uma presa fraca e inocente, só conseguiu abaixar os olhos em desespero. Mas aquela foi, sem dúvidas, a pior decisão que ele pôde tomar.
Embaixo da criatura, por todo o corredor à frente, uma pilha de corpos e um mar de sangue se estendia. Eram criaturas das quais ele jamais ouvira falar, com corpos bizarros que pareciam ter saído de um pesadelo: garras, esqueletos expostos, mandíbulas disformes... tudo naquelas criaturas parecia gritar "morte", como se fossem bestas saídas direto do inferno. Mas, ainda assim, aquele lobo estava lá, parado por cima delas, com a boca e as garras cheias de sangue. Se aquele era o inferno e aquelas criaturas eram seus demônios, o lobo era, sem dúvidas, o rei delas.
Naquele momento, a centopeia começou a se aproximar por trás; estava prestes a atacá-los. Eles sabiam que, se não se esquivarem, iriam morrer. O coração de todos acelerava, porque, mesmo sabendo disso, seus instintos não os deixavam se mover. Era como se algo gritasse dentro deles:
"Não vão! Não prossigam! Se vocês se moverem, ele irá matá-los sem qualquer misericórdia!"
Eles não conseguiam argumentar, discutir; o medo primitivo os mantinha imóveis. Era frustrante ao ponto de Nero, Dante e Sanemi morderem a própria língua com tanta força de raiva que começaram a sangrar. Mas aquela sensação de dor... aquele foi o gatilho exato de que precisavam para poder voltar a se mover.
Mesmo sem perceberem, de forma completamente inesperada, eles reagiram da melhor maneira para recuperar seus movimentos. Assim, Nero saltou, puxando Saito; Sanemi puxou Lin; e Dante começou a tentar usar sua habilidade para acelerar os movimentos dos dois.
"NÃO PARE! NÃO OLHE! ELE ESTÁ VINDO! ELE VAI NOS MATAR!"
Isso era tudo que o grupo conseguia pensar naquela situação desesperadora. A agonia era tanta, o desespero os consumia de tal forma, que os pobres jovens até mesmo esqueceram completamente da centopeia que os alcançava. Seus pensamentos, assim que recuperaram o movimento, eram apenas de fugir o mais rápido possível daquele lobo; por isso, qualquer preocupação menor deixou sua linha de raciocínio.
Assim, só viram quando era tarde demais: chegaram bem na cara da centopeia ao tentar fugir do lobo. Agora não dava para escapar. Não havia saída pelos lados daquele corredor, apenas a passagem à frente e atrás. Mas, enquanto à frente havia aquela centopeia monstruosa, atrás aquele lobo infernal os aguardava.
"Devemos voltar? Devemos lutar?"
O grupo não conseguia chegar a uma resposta, consumido pelo terror, e só continuava correndo com feições de puro desespero.
Não parem! Continuem! — Dante gritava, sem parar de correr.
Eles não sabiam se aquela havia sido a melhor das ideias, nem se "continuar" significava seguir correndo ou tentar lutar com a centopeia. Mas, ainda assim, a simples diretriz pareceu aliviar o fardo de ter que decidir o que fazer, iluminando suas mentes o suficiente para perceberem que, de qualquer forma, não havia outra alternativa, outra rota. Seja para lutar ou tentar atravessar, aquela centopeia era a única chance que tinham.
Assim, todos apertaram os dentes, prontos para aceitar seu destino, seja lá qual fosse, contra aquela centopeia. Foi quando, de repente, saltando entre eles, o lobo gigante mordeu a centopeia e começou a rasgá-la com suas garras. Os dois monstros começaram a lutar, e o lobo negro brutalizava a criatura à sua frente como se não fosse nada. Não restava dúvida: aquele lobo era o rei dos monstros.
Por conta do movimento das duas feras gigantes lutando, o chão começou a ranger, assim, o corredor quebrou por baixo, jogando-os em outro local junto com as criaturas. A fumaça se espalhou, dificultando a visão de todos.
A poeira e a fumaça da queda começaram a baixar lentamente, revelando o novo e aterrador ambiente. O impacto não foi contra metal sólido ou concreto, mas sobre uma superfície que rangeu e estalou sob o peso deles: vidro. Espesso, talvez reforçado, mas ainda assim perturbadoramente transparente. Sob seus pés, um abismo se abria, um vão de dezenas de metros que mergulhava em mais níveis daquele complexo infernal.
Olhar para baixo era como espiar através de uma janela para o próprio caos. Podiam ver, em uma perspectiva aérea e distorcida pelo vidro e pela iluminação de emergência falha, os contornos de outros laboratórios. Corredores se cruzavam em ângulos estranhos, salas de contenção estavam estilhaçadas, equipamentos científicos jaziam derrubados e revirados. Manchas escuras e extensas cobriam pisos e paredes lá embaixo, testemunhas silenciosas da carnificina que ocorrera. O cheiro de ozônio queimado e algo mais pesado, metálico e podre, subia do fosso.
Erguendo-se do nível inferior, atravessando o piso de vidro onde estavam e continuando para cima até se perderem na escuridão de onde caíram, havia grossas pilastras de metal escurecido. Eram estruturas massivas, algumas retorcidas ou amassadas pelo confronto recente ou por desastres anteriores, mas claramente projetadas para sustentar múltiplos níveis. Perceberam então a arquitetura vertiginosa do lugar: o que era o teto para os laboratórios visíveis abaixo, tornara-se o chão traiçoeiro onde agora pisavam. E acima deles, os restos retorcidos do corredor metálico de onde despencaram pendiam como dentes quebrados, confirmando a estrutura multi-camadas da instalação.
Aquele lugar não era apenas um laboratório secreto; era uma colmeia subterrânea, um reino vertical construído em segredo e agora transformado em tumba. A visão ampliava a sensação de estarem presos, não apenas encurralados entre monstros, mas perdidos em um pesadelo arquitetônico projetado para conter horrores – horrores que agora estavam soltos.
Aquele local deveria estar prendendo-os, estudando-os... talvez eles mesmos os tivessem criado.
O acidente que ocorreu ali, com certeza, devia ter sido causado por eles.
Dante tentava juntar mais peças sobre o que estava acontecendo, mas o lobo feroz que matara a centopeia interrompeu seus pensamentos. A besta estava agora comendo as tripas e entranhas da bizarra e repugnante criatura e, com sangue e vísceras ainda na boca, encarava o grupo mais uma vez.
Agora, ele avançava na direção deles. Lin e Saito ainda não se moviam, paralisados, o que deixava a responsabilidade de ajudá-los a esquivar para Nero e Sanemi, mesmo que por dentro eles estivessem desesperados tentando se esforçar ao máximo para conseguir recuperar seus movimentos.
Foi então que Dante correu na direção da criatura, sem hesitar.
Sanemi e Nero se impressionaram, sem acreditar no que ele estava fazendo, e sem saber que o mesmo valia para Dante, que apenas pensava:
"Não pare de se mover! Não desista! Se você parar, ele vai te matar!"
A ação de Dante, vista de fora, poderia parecer heroica, corajosa. Mas aquilo não passava de puro instinto de sobrevivência levado ao extremo. Naquele momento, Dante já não estava mais pensando em ninguém; não lembrava mais de ninguém. Provavelmente havia se esquecido de onde estava ou de quem era. Nem ele mesmo saberia dizer o que estava fazendo ou qual seu objetivo. Seu corpo era movido apenas pelos próprios instintos que desejavam viver. Por isso, essa era a ação mais louca e menos heróica que poderia existir.
“Se eu ficar parado ele vai me devorar.”
“Se eu não pensar ele vai me matar.”
“Se eu não matar ele, ele vai me matar.”
“Eu tenho que me mover.”
“Eu tenho que pensar.”
“EU TENHO QUE MATAR!”
Os instintos de Dante gritavam o que ele devia fazer a seguir. Seu olho se iluminava em vermelho e ele tinha flashes do que iria acontecer: via seu corpo sendo rasgado, sentia seu braço sendo devorado, de novo e de novo. Cada passo era uma morte diferente. Seu corpo então se movia, esquivando de cada golpe, mas sua mente sentia a dor; seu corpo, após sentir aquelas mortes, já começava a doer mesmo sem ter sido atingido fisicamente. Rolando, saltando, esquivando de cada golpe, pois até mesmo passar perto das garras já o cortava, tocar em sua pele já o queimava, e se ele fosse atingido uma única vez, ele morreria.
“NÃO PARE! PENSE! MATE!”
Tudo que Dante fazia era baseado em seu desejo de sobreviver. A adrenalina percorria todo seu corpo, liberando o potencial máximo de seus músculos. A criatura estava com azar: a mesma gaiola que impedia o grupo de fugir agora também só o atrapalhava. Se ele pisasse com muita força, o chão quebrava e a criatura se desequilibrava. O lobo, irracional e louco, não sabia disso; não entendia que naquele lugar era necessário pisar mais leve. Uma criatura que nasceu usando sempre 100% de força não podia, do nada, passar a se ferir. Era graças a essas aberturas, graças a essas afundadas que a criatura dava de vez em quando, que Dante conseguia evitar qualquer ataque. Mas até Dante sabia que essa vantagem era temporária. Ele estava correndo contra o relógio: logo todo aquele local seria quebrado e eles cairiam sobre o laboratório subterrâneo. Quando isso acontecesse, sua vantagem desapareceria e ele voltaria para o reino onde apenas aquela lei infernal reinava.
“EU PRECISO MATAR AGORA!”
O corpo de Dante corria na direção da criatura. Um círculo mágico aparecia no braço de Dante; sua habilidade estava ativada. Ele rodava, se jogava na criatura. Ela afundava, perdia o equilíbrio, dando a abertura perfeita. Dante chegava, mas ele era morto após a criatura morder seu braço e ombro direito, impedindo seu movimento, sendo jogado para cima e devorado.
Dante envia todas aquelas memórias para seu eu do passado, mostrando qual era sua habilidade.
MENSAGEM DO FUTURO: DEAD END
A Arts de Dante era capaz de cobrir o garoto de Éter e assim medir sua linha do tempo, vendo a qual futuro ele estava se encaminhando, mandando todas as suas memórias para trás. Dante era capaz de uma visão do futuro ainda mais completa.
Ainda assim, mesmo sendo mais completa, não passava de 3 minutos no futuro. Ele tinha no máximo 3 minutos, e se dentro desses 3 minutos ele morresse, essas memórias de morte seriam enviadas para o passado como uma mensagem, informando o "eu" do passado sobre sua morte. No entanto, mudar o futuro em menos de 5 minutos não era algo simples, e Dante não podia usar essa Arts repetidamente, com um tempo de recarga interno de 5 minutos.
Além disso, como uma restrição autoimposta, Dante fez com que ele tivesse um limite onde só podia usar essa habilidade 3 vezes a cada três dias, recebendo em troca a capacidade de a habilidade se ativar sozinha com sua morte.
Dante só podia usar essa técnica uma vez. Ele tinha que lembrar exatamente de tudo, analisar cada informação para fazer exatamente o que era necessário para mudar esse final. Contudo, um campo de batalha não era um local tranquilo ao ponto de ele poder calmamente só relaxar e pensar. Enquanto pensava, ele ainda tinha que agir, ainda tinha que lutar. Assim, Dante se joga na criatura no mesmo momento...
...no mesmo momento de antes, como se fosse repetir exatamente a mesma coisa, só que dessa vez ele grita para Nero jogar sua katana. O lobo morde o braço e o ombro de Dante, mas dessa vez, Dante, usando a katana de Nero, perfura o olho do lobo, enfiando a lâmina o mais profundo que podia. Seu corpo queimava com o toque nas chamas do lobo, seu braço sentia uma dor brutal e dilacerante, mas por já ter experienciado aquilo, ele estava preparado. Enquanto o lobo assustado abre sua boca por instinto...
— AHHHHHH!!!!
Dante continua enfiando seu braço mais profundamente na criatura, tira para fora um pouco e lança de volta, acelerando. A lâmina atravessa a cabeça do lobo, que cai, quebrando o chão de vidro. Sanemi e Nero começam a se segurar, mantendo a força para não cair, enquanto Dante ia caindo junto do lobo no andar subterrâneo. Ele tentava curar o braço, mas percebia a impossibilidade.
— ... o veneno de híbridos impede a regeneração.
Dante sabia disso, ele sabia exatamente disso, mas seu cérebro simplesmente esqueceu. Sua vontade de matar, movida pelo seu instinto de sobrevivência, moveu seu corpo. Logo, toda sua razão, sua lógica, foram suprimidas para evitar a hesitação que pudesse levar à morte. Mas foi essa tentativa de fugir da morte que o colocou nessa armadilha. Assim, Dante caía, junto do lobo, para os andares subterrâneos. Olhando para cima, ele via Nero e Sanemi o encarando enquanto se forçava para se segurar.
— Sou eu..., o Scarlune que vai morrer dessa vez... sou eu.
Dante só pensava nisso.
“Por quê?”, “Por quê?”, “Eu não tentei ajudá-los!”, “Eu não ajudei aquela garota!”, “Mas só por isso eu tenho que morrer?!”, “DROGA! DROGA!”, “Eu não quero morrer! Eu não quero morrer!”
Várias coisas passavam na cabeça de Dante: ele se culpava, ele se frustrava, pensava no que poderia ter feito diferente. Enquanto caía, ele recordava do que havia dito para a garota quando ela o questionou sobre se ele tinha medo de morrer.
“Talvez eu tenha, mas se eu parar por causa do medo, aí sim eu vou morrer.”
— Eu fui tão idiota, eu fui tão imaturo! Eu respondi aquilo, mas nunca havia sentido de verdade o medo da morte.
“Droga, eu não quero morrer! Não antes de viver de verdade, escolher como vou viver, escolher o que eu quero ou não fazer! Eu não quero ser só mais um fantoche dos Scarlune! Eu quero ser eu de verdade!”
Enquanto Dante pensava nisso, ele via algo: alguém saltando de cima do buraco no teto, atravessando o chão de vidro e indo em sua direção, abraçando-o enquanto tremia de medo.
“NÃO... eu não vou ficar parada! Não vou mais deixar alguém importante para mim morrer sem conseguir fazer nada!”
Velvet que saltou em sua direção, o abraçava forte enquanto olhava para o corpo do lobo caindo na frente deles.
— O quê? O que você está fazendo...?
Dante falava.
É quando Dante relembra: a presença os seguindo, os observando... não podia ter sido o lobo! Então, todo aquele tempo, a garota esteve os acompanhando em segredo, observando-os.
— Mas por quê? Eu disse que era perigoso!
Dante continuava tentando conseguir uma resposta da garota.
Mas antes da garota ter a chance de responder, o chão os alcançou, e assim uma explosão enorme aconteceu, criando uma fumaça densa que se espalhou por todos os lados.
Presos nos estilhaços de vidro no alto, Nero e Sanemi recuperaram as forças e lutavam para alcançar a saída, carregando Lin e Saito. Demorou aproximadamente 10 minutos para Saito se recobrar e conseguir se mover novamente. Lin, contudo, continuava paralisada pelo medo e desespero, mesmo depois da queda do lobo. Finalmente, com a ajuda de Saito, após quase 40 minutos de esforço, conseguiram escapar do buraco e retornar ao corredor. Agora, precisavam decidir qual seria o próximo passo.
— Vamos! Acho que vi um elevador naqueles espelhos, acho que sei como podemos ir para lá.
Sanemi falava, deixando todos confusos.
— Então você também acha que devemos ir?
Saito respondia.
— Aquele desgraçado me salvou. Não vou conseguir me sentir bem se ele realmente tiver morrido assim e eu não o compensar. Além do mais, eu duvido que ele tenha morrido: vaso ruim não quebra fácil.
Sanemi respondia, aliviando um pouco o clima, mas todos ainda sentiam tensão, sabendo o que os aguardava descendo lá embaixo.
— Vamos.
Mas com Nero falando e começando a caminhar, eles perderam as hesitações e a seguiram.
Parte 4
Por vezes, sombras e vislumbres enganosos conspiram para nos mostrar não a crua realidade, mas o reflexo distorcido de nossos próprios desejos e medos. É tolice, portanto, confiar cegamente em meras impressões, ou definir a verdade a partir de um relance fugaz no escuro. Uma mesma imagem, banhada em luz ou afogada em trevas, pode conter múltiplos e contraditórios significados – um conceito simples, sim, mas que se torna um gracejo cruel nas mãos da escuridão.
Por isso, naquela hora, não me permiti o espanto absoluto. Meus olhos estavam sujos de sangue, minha cabeça doía e estava confusa por causa da queda. Além disso, as sombras daquele lugar podiam muito bem criar visões de coisas que minha mente assustada queria ou esperava encontrar ali. Por isso, não vou dizer: "Com certeza eu vi e ouvi aquilo". Mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim não me deixa fingir que nada aconteceu. Então, vou apenas contar o que pareceu ser.
Naquele momento, perdido nas profundezas subterrâneas, com a mente fraturada e a visão tingida de carmesim, houve um instante rápido em que a luz branca de um painel aceso refletiu na minha direção, mas foi interceptada. Algo se interpôs entre mim e o foco luminoso, banhado subitamente em seu clarão, como um ator solitário em um palco escuro, sob o olhar implacável de um refletor. Era ela, sem sombra de dúvidas, Velvet, a garota que eu tinha ajudado e a mesma que me arrancou das garras da morte.
No entanto, ao contemplá-la ali, pouco antes de desmaiar de novo, tudo que eu conseguia fazer era tremer. Um medo enorme passou por todo o meu corpo. Um frio estranho subiu pela minha perna até meu pescoço. Aquela aparição estilhaçou a imagem que eu guardava: a da menina pequena e frágil, de pele alva, quase translúcida, que parecia capturar e refletir a luz da lua mesmo naquele lugar escuro. Agora, aqueles mesmos aspectos que eu considerei frágeis me assustavam, como a visão do fantasma de uma donzela; seus olhos eram vermelhos como rubis, vívidos como sangue; sua pele refletia a luz direcionada a ela, emanando um branco espectral; seus cabelos negros contrastavam com o branco de seu corpo, e o frio da sala reforçava o terror que aquela visão causava.
Ela mastigava. Roía algo com uma delicadeza macabra, enquanto o sangue – um sangue escuro e espesso – escorria por seus lábios e queixo, manchando a palidez de seu corpo esguio. Não era o seu sangue, percebi com um calafrio nauseante. Pertencia à besta monstruosa e aterrorizante que me caçou como sua presa. Meus olhos recusaram-se a processar a cena: a donzela etérea que eu julgara ter protegido estava ali, banqueteando-se com os restos do demônio infernal que me perseguiu e encheu de terror.
A visão era grotesca, perturbadora, hedionda. Minha razão vacilava, ameaçando ruir. Não, aquilo não podia ser real. Tinha que ser um delírio, uma ilusão tecida pelo medo, pela dor e pela onipresente escuridão. Minha mente, à beira do colapso, vacilava. Meus olhos se fechavam, sentindo as pálpebras pesadas como chumbo, enquanto o véu da inconsciência descia.
Mas, no instante final, enquanto o mundo era consumido em breu, uma voz ecoou, límpida e gélida em meio ao caos:
— "Eu te peguei… agora você é meu."
Meu cérebro esgotado tentou decifrar as palavras que havia escutado, mas outra coisa roubava sua atenção moribunda: o som. O som obsceno de carne sendo rasgada, de ossos estalando sob a pressão de dentes. Uma sinfonia grotesca que me fez suplicar pelo silêncio, pela surdez, pois até minha audição poderia ser apenas mais uma peça naquela ilusão infernal orquestrada pelas trevas. E então, nada mais se ouviu e tudo se aquietou.
Parte 5
Enquanto abria meus olhos, sem saber quanto tempo havia se passado, eu observava ao meu redor, notando o local estranho onde eu estava: uma ala de um laboratório. Ele mostrava sinais claros de que alguma espécie de incêndio havia acontecido, como partes queimadas nas paredes e no teto. No entanto, o chão estava encharcado de água, provavelmente por conta de sprinklers que haviam por todo o teto. Assim, notei que meu braço, que eu achava que havia perdido, funcionava normalmente, e a maioria dos meus machucados havia desaparecido. Foi quando, por fim, notei a garota deitada próxima a mim. Inicialmente, isso acalmou meu coração, até rever uma imagem perturbadora e distorcida e, assim, no susto, me jogar para o lado, me afastando da garota.
A garota se levantava calmamente enquanto mexia nos olhos como alguém que despertava de um sono profundo. Assim, ela me encarava com espanto, notando meu afastamento e minha cara assustada.
— Você tá bem?
Velvet perguntava, me encarando com uma feição preocupada.
— Eu…
Eu não sabia como deveria responder. Nem eu tinha certeza do por que estava tão assustado, apenas sabia que algo parecia me alertar.
— Acho que fiquei assustado por conta da queda. Você está bem? — eu perguntei para Velvet, olhando ao redor e notando a presença do corpo do lobo monstruoso que havia caído junto conosco.
— Eu… tô bem
Velvet respondeu, mas meio hesitante.
Dante e Velvet pareciam ter certos problemas para conversar. Ainda assim, Dante ignorou tudo que o deixou desconfortável, pois havia decidido dentro de si que sobreviveria. Ele não sabia como, mas tinha certeza que conseguiria. Depois de ter passado tão perto da morte, Dante percebeu como tinha arrependimentos e coisas que gostaria de fazer antes de morrer, logo, não seria um medo bobo que o pararia. Além disso, aquela garota, de alguma forma, foi ela quem o salvou. Dante tinha certeza. Enquanto ia na direção dela, a apoiando para se levantar, ele confirmava isso. Aquele local de onde eles caíram era ridiculamente alto e, além disso, Dante estava esgotado e impossibilitado de se regenerar. Logo, uma queda tão alta era obviamente mais do que o suficiente para destruir sua cabeça e o matar, mas, de alguma forma, isso não aconteceu. Dante estava ali, em pé, vivo e caminhando, assim como a garota que o salvou.
Ele tinha plena confiança de que não foi ele quem os salvou, sendo assim, só sobrava uma resposta. Dante não era um gênio; sua inteligência era bem normal comparada à de outros Scarlune em sua idade, mas ele sempre foi um pouco melhor que os outros em resolver mistérios, não por sua inteligência, mas sim pela capacidade de prestar atenção aos detalhes. Talvez fosse por isso que, mesmo que ele não quisesse enxergar, ele notou que o corpo do lobo estava inchado, como se a pele tivesse sido preenchida com algo diferente de seus órgãos, e que, mesmo esfregando, não era fácil se livrar de manchas de sangue pelo corpo e da boca.
Ainda assim, Dante resolveu continuar a ignorar tudo aquilo, continuar a caminhar junto a ela e tirar os dois daquele lugar. Enquanto caminhavam pelo labirinto escuro e sinuoso daquele laboratório estranho:
— Esse local parece que foi feito posteriormente ao laboratório de cima
Dante falou enquanto andava.
— … Ele foi. Antigamente não existia esse lugar
Velvet respondeu, ainda caminhando hesitante.
— … Hum, eu vi as suas fotos lá em cima.
— ...
A garota permaneceu em silêncio.
“Acho que tem coisas que ela não quer falar.”
— É verdade, eu esqueci de agradecer. Você me salvou. Se não fosse por você, eu estaria morto.
— ….
— Imagina só se eu morresse agora... Nunca teria terminado de ver Tree Piece haha…
Dante falou, vermelho de vergonha.
A garota ficava confusa ouvindo aquilo, mas, vendo a cara vermelha e envergonhada de Dante, não resistia e soltava uma pequena, mas audível risada.
— Mas o quê? Haha!
Dante ainda sentia mais vergonha, quase ao ponto de não conseguir caminhar enquanto a garota ria dele. Ainda assim, ver ela rindo e falando o fazia pensar que havia conseguido completar seu objetivo. Assim, a garota dava pequenas risadas antes de parar e falar:
— Você tem uma boa família?
Ao ouvir a pergunta de Velvet, ele se viu preso em um dilema, sem saber se deveria responder como uma pessoa normal ou sendo honesto, já que ele achava que ela não iria gostar de receber a resposta para uma pergunta gentil assim de um Scarlune.
— Eu… não sei.
A garota caminhava olhando para ele e o seguindo.
— Acho que eu posso chamá-la de boa, mas acho que outras pessoas também podem chamá-la de ruim. Ainda assim, eu não saberia dizer qual de nós estaríamos certos. Ela é boa, afinal, eu não tive a experiência de outra família para comparar e dizer como era a minha família. A minha família é a minha, isso é tudo que eu posso dizer. Os lados bons e ruins são partes dela e pronto.
A garota relembrava sua família, percebendo que entendia o que ele queria dizer. Talvez aquilo que ela tivesse com seus pais fosse visto como algo ruim por outras pessoas, mas, para ela, mesmo que ela fosse um experimento, aquelas memórias eram apenas boas, talvez por ela não ter outra para comparar.
— A sua família... era os outros clones?
Dante perguntou.
— Elas também eram importantes para mim… Elas também eram parte da minha família.
Dante ouviu a resposta e refletiu sobre ela enquanto caminhava pelo labirinto escuro, pensando em tudo.
— Você é a Velvet original, não é?
— Como você…?
— Apenas um palpite. Você parece saber muito sobre esse laboratório. Além disso, parece que os outros clones conscientes foram eliminados do programa, pelos dados do andar de cima. Assim como tem o fato de você ter falado 'eles também eram', o que quer dizer que houve outros membros da sua família antes dos outros clones. Talvez pessoas que você conheceu antes de encontrar os clones, por isso, quando você pensou em família, pensou neles antes dos clones.
A garota continuava a caminhar.
— É verdade. Eu sou a original.
Enquanto Dante e Velvet caminhavam, ela contava um pouco de sua história, embora escondesse várias coisas propositalmente.
— A garota que nasceu para ser comida de vampiro, né…?
— ...
— Bom, acho que isso explica.
— O quê?
— Não, é que, sabe... você é tão bonitinha e fofinha que eu pensei 'ela deve ter um gosto muito bom'… Quer dizer…
Dante tentou fazer uma espécie de cantada para aliviar o clima, mas, no meio dela, percebendo o que estava falando, ficou com tanta vergonha de prosseguir que acabou perdendo o sentido e falando algo mais estranho ainda.
— Me desculpa… Por favor, esqueça o que eu disse.
Dante ficava vermelho com vontade de esconder o rosto, enquanto a garota ria mais um pouco, ainda que com uma risada baixa e controlada. Dante antes achava que a garota devia estar rindo baixo porque não queria fazer barulho e atrair alguma coisa, mas agora se perguntava se ela ainda tinha a capacidade de sorrir. Mesmo que Dante não a conhecesse tanto, aquilo ainda o incomodava. Era como se alguém estivesse acorrentado, impedindo-a de fazer o que ela queria e de sorrir. Mas não havia correntes de verdade aprendendo e tirando a sua liberdade. As correntes estavam em sua cabeça e seriam difíceis demais de tirar. Mas Dante queria, queria poder tirá-las dela, para que ela também pudesse — assim como ele, que ganhou uma nova chance de viver e fazer o que queria. Mas Dante não tinha ideia do que deveria fazer. Assim, Velvet se aproximava de Dante, perdido em pensamentos, e sussurrava em seu ouvido com o rosto vermelho:
— Então você quer me devorar...?
Dante ficou em um choque tão grande ouvindo aquilo que demorou para reagir, apenas ficando vermelho de vergonha sem saber como agir.
— Então, se eu deixar… se eu te entregar uma parte de mim… você me daria uma parte de você?
Dante perdeu um pouco da vermelhidão e olhou para ela, que se afastou dizendo que também estava brincando um pouco, com o rosto vermelho e escondendo seu rosto por baixo de sua franja, olhando para baixo. Assim, ela voltava a caminhar seguindo em frente, como se também pedisse para ele esquecer o que havia escutado. Ainda assim, Dante sussurrou bem baixo, de uma distância que ela pudesse ouvir, mas sem olhar em seu rosto:
— Acho que eu não teria problemas com isso…
A garota o encarou espantada, enquanto era Dante quem escondia o rosto envergonhado.
Alguns minutos se passaram enquanto eles caminhavam juntos no labirinto escuro. Dante contava a ela um pouco mais sobre si em retorno, também ocultando algumas partes, mas percebia que, se tirasse a parte dos Scarlune da história, não havia muito que ele pudesse falar sobre si, o que o deixava com uma expressão vazia.
— ... A... aquilo que você disse que lia...?
Velvet falou, envergonhada e hesitante.
— Os mangás...?
— Não foi a sua família quem pediu para você ler, não é?
— Claro que não. Eles são só um passatempo bobo.
— Mas foi um passatempo que você escolheu. Ninguém pediu pra você fazer. E, quando fala sobre eles, você parece se divertir muito, e seus olhos parecem brilhar. Eu gosto muito.
Ouvindo aquilo, Dante ficou envergonhado. Até então, para ele, ler mangás era algo bobo que ele fazia apenas para passar o tempo, mas o que ela estava falando também era verdade: aquilo foi algo que só ele decidiu que deveria fazer. Seu conhecimento era uma espécie de expressão em que ele era livre, mesmo que um pouco. Saber isso, de alguma forma, lhe dava uma sensação quente e confortável no peito.
— Obrigado. Acho que você tem razão.
Mais e mais eles iam andando pelos corredores. Cada sala era mais estranha e assustadora que a anterior. Lá dentro existiam diversos seres e experimentos. Parecia que aquele lugar estava tentando criar novas espécies de seres e evoluir os já existentes por meio de misturas e fusões genéticas. No entanto, a maioria dava errado, e o principal erro era a perda total de razão; as criaturas misturadas viravam seres enlouquecidos. Mesmo que mantivessem um pouco sua mente, eles só a usavam para criar jeitos mais elaborados de matar e devorar suas presas. Foi quando o laboratório principal achou uma maneira de resolver esse problema e o cientista líder foi enviado. Mas foi quando o incidente aconteceu: várias jaulas de criaturas se abriram e começaram todo o caos e morte. Sabendo que não podiam chamar nenhuma espécie de autoridade, um pedido de ajuda foi enviado aos Scarlune, que enviaram os garotos, enquanto os cientistas foram evacuados para o subterrâneo do jardim. Foi quando Velvet percebeu por que sua jaula também havia se aberto e ela conseguiu escapar.
— Quer dizer que se a gente tivesse esperado um pouco mais... aguentando um pouco mais... as outras...? — Velvet dizia chorando, apertando os braços.
Dante não sabia como normalmente deveria agir nessa situação, que palavras dizer para acalmá-la, e temia que poderia dizer a coisa errada e piorar a situação. Esse era seu destino por ter nascido Scarlune. Mas ainda assim, ele se recusava a apenas observar quieto a garota chorando à sua frente. Assim, ele reuniu coragem e a abraçou e, então, falou enquanto seu rosto ficava vermelho:
— Eu não sei sobre o que você está pensando, mas, seja lá sobre o que você esteja se culpando agora, esqueça e desista. O passado não pode ser mudado. Mesmo que tivesse o poder para tentar, ele apenas voltaria a se repetir. Mas você ainda está aqui, no agora. Se se arrepende do passado, conserte ele no futuro, ou, ao menos, aprenda tudo que pode com seu erro e prometa para si mesma que não irá voltar a errar assim de novo no futuro.
Dante falava as mesmas palavras que um dia ouviu e guardou no fundo do coração. Ele não sabia se aquilo iria ajudar. Às vezes, aquelas palavras poderiam ser vistas apenas como mais um corte frio e sem piedade, um pedido irracional e louco; sendo assim, ele poderia ter só colocando mais sal na ferida.
Todas essas dúvidas passaram em sua cabeça, mas, contra tudo isso, a garota o abraçou de volta e começou a chorar.
Um tempo se passou enquanto os dois continuavam a caminhar pelo escuro labirinto. Dante agora conseguia se aproximar bem mais de Velvet. Enquanto caminhavam, eles acabaram percebendo só rastros de outras criaturas, cadáveres e rastros de sangue, e parecia que eles seguiam pelo mesmo caminho que levava até a saída. Dante esperava e torcia para que fossem os rastros do lobo gigante que ele havia derrotado. Mas, quanto mais andava, mais Dante sentia um ether distorcido.
O garoto hesitava; agora que conheceu o medo da morte, uma parte de si não queria mais passar por algo como aquilo novamente. Mas, se ele não fosse, como poderia viver? Como poderia tirar Velvet dali e salvá-la?
Ele então caminhou, seguindo os rastros de sangue.
O corredor labiríntico desembocou em uma câmara subterrânea cavernosa, dominada pela estrutura colossal do que fora claramente um tanque de contenção ou observação biológica em larga escala, agora em ruínas e com a infeliz semelhança a uma piscina olímpica abandonada. Grossas janelas de observação de vidro reforçado, muitas agora estilhaçadas ou opacas pela sujeira e por alguma camada residual química, pontuaram as paredes superiores em passarelas metálicas enferrujadas – postos de onde cientistas teriam monitorado o que quer que vivesse ali. Tubulações industriais de grosso calibre, corroídas e ostentando manchas de vazamentos de fluidos indeterminados e tons não naturais, emergiram das paredes do tanque ou jaziam retorcidas no fundo seco, como artérias decepadas de um gigante tecnológico. Esqueletos metálicos que poderiam ter sido guindastes, sondas ou braços robóticos pendiam precariamente do teto arqueado e alto, entrelaçados com feixes de cabos de dados rompidos e dutos de ventilação danificados.
A iluminação era escassa e sinistra, fornecida por luzes de emergência que falharam intermitentemente, lançando sombras trêmulas que dançavam sobre as superfícies sujas e os restos de equipamentos. O ar era uma mistura sufocante de mofo, matéria orgânica em decomposição (talvez de experimentos falhos), ozônio de curtos-circuitos próximos e o odor acre e persistente de produtos químicos desconhecidos. No centro do fundo do tanque, uma brecha irregular e violenta rasgava o concreto reforçado – claramente um ponto de ruptura ou fuga, e a fonte do rastro nojento de gosma biológico e sangue que se espalhava pelo chão. Símbolos de risco biológico e advertências químicas, desbotados e quase ilegíveis pela sujeira e pelo tempo, ainda podiam ser discernidos em algumas placas de metal enferrujadas nas paredes circundantes. Próxima a uma das paredes menos danificadas, uma escadaria de serviço metálica, claramente parte da infraestrutura do laboratório, subia em espiral para a escuridão dos níveis superiores da instalação.
De repente, um calafrio percorreu a nuca de Dante, e ele saltou para trás, puxando Velvet, no momento em que algo que andava pelo teto caiu.
Era uma espécie bizarra e retorcida de aranha, com vários ossos pontudos como presas dando voltas por seu corpo. Mas, assim como um centauro, a parte da frente de seu corpo era de um humano esquelético, com as tripas saindo do estômago secas, com a cabeça careca, olhos completamente negros e vários ossos sujos por todo o corpo.
Enquanto se escondia atrás de uma parede, fechando a boca de Velvet e suando frio, Dante observava a criatura bizarra emanando ether distorcido.
— Mas que porcaria é essa que eu tô sentindo?! Droga, droga, droga!
O frio de Dante aumentava, seu suor corria quando, de repente, ele pensou:
“Vai atacar! Aquela coisa vai atacar!”
A criatura se movia em sua direção quando, de repente, saindo do buraco na piscina, dois tentáculos vermelhos saíram, pegando a criatura aracnídea e a levantando para o alto. Os tentáculos, feitos de algo como sangue escuro, a puxavam pelas pernas e cabeça, abrindo-a no meio, derramando suas tripas e sangue no chão. Dante continuava fechando a boca de Velvet, que observava tudo pelo canto do olho.
Assim, um garoto caminhava saindo de dentro do buraco. Seu cabelo todo desgrenhado, seu corpo branco como o de um cadáver, seus olhos pretos como a noite, mas com vários tentáculos saindo de suas costas. Ele ia na direção do cadáver da aranha e começou a comer a criatura. Conforme comia, mais forte o ether do garoto ficava.
Velvet se soltou e correu na direção da piscina, observando o garoto sem acreditar. Aquele monstro devorando o outro era ninguém menos que Kamuz, seu irmão.
— Mas o que está acontecendo...?
O garoto, com os lábios sujos de sangue escuro, observou Velvet no topo da piscina, que o encarava.
— Olha só! A cópia da irmãzinha também se soltou nessa confusão.
Kamuz falou enquanto comia.
— O que aconteceu com você...?
Velvet respondeu.
— Eu posso te contar, se é isso que você quer saber. Mas antes responda a uma dúvida que eu sempre tive... Você realmente é a cópia dela... hein, irmãzinha?
— ... Eu... eu sou Velvet Dolly.
— Hahahahaha! Como eu imaginava! Eu já sabia a resposta, mas sempre fingi que não, afinal, não podia ser verdade. Não tinha como! Imagina só! Que monstro terrível meu paizinho botou no mundo dos vivos! Me diga como é ser amaldiçoada, ser um monstro que só causa dor e morte a todos que ficam ao seu lado!
Velvet tampou os ouvidos, caindo de joelhos no chão.
— Vai fingir que não está ouvindo agora, irmãzinha? Admita! Você, melhor que ninguém, deve saber! Você é só um monstro repugnante que causa dor a todos que conhece! Seja Lucius, sua mãe, nosso pai, até suas irmãs! Todos que cruzaram seu caminho sofreram e, por fim, morreram! Um monstro como você... não precisa viver!
— Não! Não!!
Velvet gritou enquanto chorava, apertando ainda mais os ouvidos.
— Como assim 'não'?! Tem ideia de quão monstruosa você é, pirralha?! Você até roubou o nome e a vida da sua irmã mais nova só pra viver! Que ser egoísta e repugnante você é, hein...?
Enquanto isso, Kamuz começou a mover seus tentáculos e os lançou na direção de Velvet.
— Vai ser muito melhor pra você morrer aqui pra mim do que continuar a viver sozinha, maninha!
Mas, neste momento, Dante saltou na direção de Kamuz e o chutou no rosto, lançando-o contra o buraco de onde havia saído.
— Ela não vai estar sozinha enquanto tiver a mim! E eu não vou morrer até ver ela sorrindo!
Dante gritou com raiva enquanto observava Kamuz.
Velvet apenas o encarava, tremendo.
“Droga! Por que eu hesitei tanto? Eu prometi, não prometi?! Nós dois temos que sair daqui, ou então não faz sentido!”
Dante pensava enquanto Kamuz lentamente saía mais uma vez de dentro do buraco.
— Quem é esse, maninha? Seu próximo sacrifício? Mais um que vai morrer pra você se manter viva!
Escutar aquelas palavras doíam em Velvet, bem em seu coração.
Dante então correu na direção de Kamuz, mas dessa vez Kamuz também fazia com que os tentáculos fossem em sua direção.
“Droga! Se aquilo me pegar, vai ser o meu fim!”
Dante, sabendo disso, parou de seguir em frente, concentrando-se em se esquivar e desviar. Mas, além de forte, Kamuz também era ridiculamente rápido; alcançando as costas de Dante facilmente, ele o chutou, lançando-o contra a parede. Dante, se levantando rapidamente, cuspia sangue e sentia sua visão meio turva, percebendo o sangue derramar de sua cabeça. Mas em segundos, novamente os tentáculos iam em sua direção. Dante continuava a se esquivar, rolando, se abaixando e saltando freneticamente. Só que agora seus movimentos eram desajeitados e atrasados, pois, além de desviar e prestar atenção aos tentáculos, Dante também precisava focar sua visão no próprio Kamuz, uma vez que, se ele se movesse para suas costas, poderia efetuar outro ataque como o anterior.
“Se concentra!!!”
Dante pensava com força, mas antes que pudesse ver, novamente Kamuz estava em sua frente. Ele chutou a cara de Kamuz, mas este facilmente segurou sua perna com uma mão. Trazendo-o para perto, socou seu estômago, soltando-o e deixando-o de joelhos no chão. E quando Kamuz sorriu, chutando-o pro alto, pegando a perna de Dante com um tentáculo e arremessando-o contra o chão como um chicote. Ao atingir o chão, Dante acabou todo coberto de sangue, respirando mal e sem se mover. Kamuz então começou a trazê-lo para perto. Vendo que ele estava sem reação, riu quando, de repente, Dante cuspiu sangue no rosto de Kamuz. E Kamuz, irritado, o jogou contra a parede de novo.
— Hahahaha! Era só isso? Estava se achando demais para um fracote.
Ele começou a caminhar novamente em direção de Dante, apontando seus tentáculos na direção dele, como se fossem perfurá-lo como estacas. Mas antes de o atingir, um grito ressoava.
— Nããão!!!
Chorando, Velvet pediu para ele parar.
— Por favor, já chega... Eu não quero mais... Eu não quero mais ninguém morrendo por minha causa!
— Hahahah! Só agora veio dizer isso? Acho que é meio tarde, né?! OLHA QUANTA GENTE MORREU POR SUA CULPA!
Kamuz gritou, falando mais palavras dolorosas para Velvet, enquanto a garota chorava encarando Dante, largado e ensanguentado no chão.
— Mas eu vou pegar leve pro seu lado, maninha. Eu prometo que não irei matar esse idiota se você vier e me deixar te devorar... Você sabe que isso é o melhor para ele também. Você sabe que é a verdade.
Kamuz falou, estendendo a mão.
“Já chega... eu não quero mais... eu não quero mais ver pessoas morrendo por minha causa... Se tudo puder acabar com a minha morte... se isso acabar com tudo... eu...”
O tentáculo de Kamuz foi na direção de Velvet e a capturou, sem mostrar qualquer reação.
— Isso mesmo. Agora tudo vai acabar e você não vai ter mais que sofrer.
Kamuz abriu a boca, aproximando a cabeça de Velvet, que fechava os olhos, quando, de repente, uma pedra em alta velocidade atingiu a cabeça de Kamuz, explodindo-a, e fazendo com que ele soltasse Velvet no meio do ar. Enquanto Dante corria até ela e a segurou nos braços. Assim, todo ensanguentado, ele olhava para Velvet.
— Já esqueceu o que você disse?! Eu te dei uma parte de mim e você me deu uma sua! Então não aceite acordos idiotas assim! Não se esqueça que uma parte de você também é minha!
Dante gritou exaltado, respirando mal e sem conseguir ficar em pé.
Mas Velvet apenas o encarava, hesitante, pensando se podia confiar, se podia mesmo acreditar que ele não iria morrer.
Mas, então, a cabeça de Kamuz começou a se regenerar do sangue.
— Ele sobreviveu mesmo sem a cabeça?!...
Dante, em choque, pensava.
— Eu tentei ser o bonzinho, mas, se querem assim, morram os dois!
Dante voltou a correr, desviando dos golpes. Círculos mágicos aparecem em seu braço, rodando enquanto ele carregava Velvet. Mas o corpo de Kamuz se remexeu e alargou, logo seu peito abriu e suas espinhas ficaram maiores. O mesmo, pouco a pouco, deixava de parecer humano, parecendo mais um monstro, e seu ether horripilante aumentava.
De repente, um tentáculo, se movendo imensamente mais rápido, perfura o corpo de Dante, mas o tempo rebobinava e ele ficava estático.
“Droga! Droga! O que eu faço agora?! Eu sei de onde os ataques de tentáculos virão, mas não sei o que fazer! Mesmo que eu desvie de todos, ele só terá que recomeçar o ataque!”
É quando a chuva de tentáculos vem em sua direção.
“Esquece! Tentar desviar é insanidade! Eu preciso atacar!”
Dante corria todo o caminho, desviando dos ataques enquanto Kamuz novamente se transformava. Dessa vez, Dante não vacilava; seu coração acelerava, em sua volta tudo estava lento enquanto ele caminhava. Caso morresse agora, não teria dado o tempo de espera de sua habilidade. Ele realmente morreria.
— Velvet! Segura firme!
A garota o abraçava com força, como se dissesse que não soltaria, independente do que acontecesse.
“Naquele momento em que ele termina a transformação, seu peito se abre... É arriscado, mas, naquele momento, seus órgãos estão à mostra! Se eu acertar ali e destruir seus órgãos, eu posso, ao menos, nocauteá-lo momentaneamente, até ele se curar de todos eles!”
Pensando nisso, Dante corria, desviando de todos os ataques sem nem mesmo respirar, suando muito, apertando mais e mais Velvet.
“MAIS RÁPIDO! MAIS RÁPIDO! MAIS RÁPIDO! EU PRECISO IR AINDA MAIS RÁPIDO!!!”
Enquanto corria desesperado, tendo várias partes de seu corpo rasgadas e cortadas só de passar perto dos tentáculos enquanto desviava deles, aquela vontade ativou ainda mais intensamente sua habilidade. Assim, enquanto corria, Dante sentia a eletricidade de seu cérebro e toda trajetória que ela fazia, indo da cabeça até seus pés.
“MAIS RÁPIDO! MAIS RÁPIDO! MAIS RÁPIDO!”
De repente, essas mesmas descargas elétricas se moveram instantaneamente, indo direto da capacidade de prever os movimentos através dos olhos até os pés, como se tivesse agilizando todo o processo de pensamento para que ele se movesse e desviasse antes mesmo de pensar que deveria fazer isso. No futuro, isso seria o processo que desencadeou a criação de sua habilidade “Deus da Velocidade”. Assim, conseguindo acelerar ainda mais sua velocidade e desviar de todos os golpes, Dante cria anéis para frente, se lançando em alta velocidade com um chute bem no meio do peito de Kamuz, acertando seus pulmões e órgãos, esmagando-os e lançando-o para trás, o fazendo voar na direção da parede.
— MORRAAAA!!!
Kamuz era lançado contra a parede enquanto Dante rolava, protegendo a cabeça, o corpo de Velvet mantendo-o sobre ele.
Assim, Dante se levanta, já planejando seu próximo passo, mas todo seu ether se esgota e ele cai no chão.
— Não se esforce! Você já chegou no limite! — Velvet falou quando, de repente, Dante escutou um barulho saindo dos escombros.
— Droga!
Dante jogou Velvet para o lado para proteger, quando um tentáculo, se movendo em linha reta, o perfura como lança, no estômago, e o lançou contra a outra parede. De repente, uma pilha de sangue e órgãos esmagados saindo dos escombros, aparece um Kamuz com a mandíbula quebrada e expressão aterrorizante.
— Não… Não…
Velvet só conseguia falar não enquanto observava o corpo de Dante apunhalado.
Quando, de repente, Kamuz lançou mais uma chuva de ataques, mas agora tem sua cabeça cortada por uma espada longa. Logo após, tem vários membros cortados por uma faca longa, chamas negras o queimam e, por fim, vindo com um martelo gigante, Lin o esmaga. Todos se colocando em posição ao redor da cratera formada, se revelam como Sanemi, Lin, Saito e Nero.
— Mas que merda é essa que o Dante encontrou agora!?
Sanemi gritou.
— Eu sei lá! Mas não tirem os olhos dela! Eu não acho que essa coisa morreu!
Saito respondeu.
— Droga, Dante! Cadê a minha Katana?!
Nero perguntou.
Saindo do próprio sangue novamente, Kamuz se erguia, agora com o corpo todo quebrado, sem conseguir ficar de pé, mas usando os tentáculos como pernas de uma aranha enquanto seu corpo ia se remontando.
— Tá de sacanagem...?
Sanemi falou, encarando aquilo.
De repente, os quatro estavam desviando dos tentáculos. Enquanto corriam, passaram vários minutos apenas desviando, ficando cada vez mais cansados, sem conseguir se aproximar o suficiente para atacar.
“Droga! Não dá pra parar nem por um segundo! Se a Nero não tivesse contado sobre o truque de morder a língua, acho que todos nós estaríamos paralisados de novo e acabaríamos todos mortos!”
Saito pensou.
Mas, enquanto estava perdido em pensamentos, era pego pelos tentáculos que choveram sobre ele, lançando-o contra Lin, que também foi pega.
— Merda! Dante, o que adianta resolver a situação do lobo e achar algo pior?!
Queime nas chamas do purgatório: Labareda das Sombras!
De repente, Sanemi liberou uma bola de fogo negra que queimava o corpo e os tentáculos de Kamuz. Assim, Saito se soltou, cortou o tentáculo que o prendia, saltou na direção de Lin e a soltou também. Ao chegar no chão, perfurou o chão com a espada e gritou:
Queime e carbonize o inimigo: Tiamat!
De repente, do chão, sete caminhos de fogo carmesim se formaram e se levantaram, formando cabeças de dragão que vão na direção do corpo de Kamuz e o queimaram ao ponto de se desfazerem dos tentáculos. Mas agora, de volta à forma humanoide, ele pousa na terra e libera mais tentáculos de suas costas.
— Merda! Ele não para de se regenerar! Assim não vai dar!
Sanemi falou, olhando.
— Hahahahah! Isso é tudo que vocês têm?! Não podem vencer! Eu sou a forma final e definitiva de todos os seres vivos! A quimera perfeita!
Kamuz gritou, gargalhando.
Corte Tudo em Dois: Ruptura!
Ao falar isso, Nero cortou Kamuz pelas costas horizontalmente, lançando seu torso para a parede.
Só que, mais uma vez, ele se levantou e se regenerou.
— Impossível! Meu corte impede a regeneração por habilidades!
Nero falou.
— Agora é minha vez! — Kamuz falou.
Mude a estrutura da própria matéria: NeoBioformação!
Um raio roxo cobriu todo o lugar e, de repente, todos viraram monstros nojentos e repugnantes, criaturas horrendas, enquanto se contorcia em agonia. Kamuz gargalhava.
— EU SOU DEUS! APENAS EU!
Assim, todas as criaturas explodiram em sangue e o tempo voltou.
MENSAGEM DO FUTURO: DEAD END!
Então, se levantando do chão, correndo e atravessando os tentáculos, Dante soltou um disparo de ether acelerado da ponta do dedo em formato de pistola, à queima-roupa, que mais uma vez explodiu a cabeça de Kamuz.
— Não parem! Ele tem uma arte que afeta toda a área e, se nos atingir, vamos todos morrer!!!
É quando, mais uma vez, a cabeça se regenera antes de Dante atingir o chão.
— Merda! Não vai dar tempo!!!
Todos começaram a ir na direção da criatura, que se enfureceu, olhando Dante diretamente e, rugindo, junta todos seus tentáculos e os compacta em um único, que planejava usar para perfurar Dante.
— MALDITO! MORRA DE UMA VEZ!!!
Mas é quando, mais uma vez, saltando na direção dos dois, Dante nota Velvet, que vinha na direção deles.
“Eu já tinha decidido! Eu tinha dito pra mim mesma que não ficaria mais parada!”
Assim, ela abraça Kamuz pelas costas, que não a percebeu por conta de ter focado sua atenção em Dante. Assim, quando ele vira seu rosto para reclamar da garota…
— Maldita! Eu já disse pra não atrapalhar! Aceite sua morte! Lo-
Mas antes de ele completar, Velvet abriu a boca e devorou a nuca de Kamuz, fazendo-o perder o controle da parte de baixo da cabeça. Ambos começaram a cair e colidiram com o chão. A fumaça e a poeira cobriram todo o campo de batalha, dificultando a vista de todos.
Saito, Sanemi, Nero e Lin, que correram para tentar ajudar, e Dante mergulharam bem no meio da cortina de poeira. Quando começaram a escutar sons, barulhos de ossos e carnes sendo mastigadas, todos hesitaram em se mover, ficando apenas parados enquanto a poeira ia aos poucos diminuindo. Assim que baixou, Dante também observou e, no momento em que os cinco olharam para aquilo, recuaram.
Devorando o corpo monstruoso, com as mãos cobertas de sangue e com os olhos negros, estava Velvet, que comia e mastigava o corpo do garoto, enquanto chorava. Ela comia cada vez mais, e o som dos pulmões sendo esmagados, dos ossos sendo quebrados era horripilante e perturbador.
Dante tinha, assim, a confirmação de que o que havia visto antes não era uma ilusão pregada pelo escuro, não era uma ilusão criada pelos seus temores, pois ali, em sua frente, Velvet devorava seu irmão sem misericórdia. Depois disso, seus cabelos iam aos poucos ficando brancos e o ether da mesma começava a ficar de uma forma escura e distorcida.
Todos hesitavam, sem saber o que ela faria, se ela ainda mantinha a razão, mas o grupo de Sanemi e os outros rapidamente se armaram, prontos para lutar. Quando Dante se levantou:
— Espera! Não ataquem ela! Ela fez isso pra nos ajudar!
— Esqueça isso, Dante! Não diga bobagens! Você também está tendo que morder sua língua, não é?! Vai fingir que não está sentindo isso vindo dela?! Essa coisa não é humana!
Saito falou.
— Mesmo assim, eu...
De repente, tentáculos como os de Kamuz saíram das costas de Velvet, que capturaram Dante e o trouxeram para perto dela.
“Espera! Como ela...? Não me diga que a habilidade dela dá a ela as habilidades de tudo que consome?! Então foi por isso que Kamuz não regenerou?! O veneno anti-imortal das presas do Híbrido!”
— Calma, Velvet!
Dante gritou, mas, enquanto os outros tentavam se aproximar deles, ela saltou, indo na direção das escadas que levavam para os andares superiores.
— Droga! Atrás dela! Não podemos deixar esse monstro sair!
Sanemi gritou enquanto continuava a correr.



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