The Fall of the Stars: Capítulo 3 - Pós Aula
- AngelDark

- 14 de jul.
- 43 min de leitura
Volume 4 : Fragmentado
Parte 1
Alguns minutos antes do disparo, Dante, Anna e Daiki conversavam. Anna havia reiterado o fato de que era impossível para as garotas vencerem.
— É por isso que eu tenho que estar lá, se lutarmos juntos agora! — disse Dante.
— Ainda não vai ser o suficiente — retrucou Anna.
— Mas é isso ou desistir, né, Anna?
Nesse momento, Daiki, observando a discussão, interveio:
— Então, acho que tenho uma informação que pode ser útil.
Os dois o encararam.
— O professor Ryunosuke disse que já tinha um plano para vencer o inimigo, mas precisava de tempo. Por isso, ele mudou todos nós de posição.
Anna e Dante ficaram se encarando. Mesmo sem dizer nada, Daiki percebeu que parecia que eles estavam conversando: à medida que Dante abria um sorriso, Anna parecia responder com uma expressão que misturava raiva e aceitação.
— Então faremos assim — decidiu Dante. — Vamos lá lutar e mantê-la ocupada pelo tempo que ele precisa. Assim que não aguentarmos mais, pediremos socorro.
— Seu idiota! Que plano idiota! — exclamou Anna. — Se ele não vier, ou se não tiver dado tempo, a gente morre!
— Melhor do que ficarmos parados e todo mundo morrer de todo jeito — respondeu Dante.
Assim, os dois decidiram ir para o campo de batalha, enquanto pediam para Daiki procurar o professor e contar-lhe o plano deles, caso conseguisse achá-lo.
Parte 2
Após o disparo do golpe, todos, incluindo Ryunosuke, caíram nos fundos do colégio, no ginásio de onde tinham saído. Estavam completamente esgotados e debilitados; seus corpos mal conseguiam se mover. Ryunosuke queria muito ajudar a todos, mas ele próprio mal conseguia respirar, e ainda estava com o braço destruído.
Dante, tonto, começou a se levantar, desesperado à procura de alguém da academia para pedir ajuda e resgatar seus colegas, sem saber quem ainda estava vivo ou quantos haviam morrido. Mas, ao se levantar e olhar em volta, uma expressão de puro medo o dominou: mesmo sem a parte superior do corpo, a mulher ainda emanava seu éter¹.
— Só pode ser brincadeira…
O éter queimava e, das chamas acima do torso, ela começava a se regenerar. Dante caiu de joelhos, não por estar afetado pela habilidade dela, mas pelo completo desespero que sentiu.
— Da... Da... Dante…
A mulher falava devagar. Foi então que Dante percebeu: a fusão havia sido interrompida. Mesmo que a mulher ainda estivesse viva, o Astreus havia perdido o controle sobre o corpo dela. Ela parecia confusa.
— Ahhhhh!
A mulher gritava. Seu éter a queimava à medida que a curava, pois aquele éter dourado era domínio do seu outro eu. Ainda assim, ela tentou usá-lo, fazendo com que outro galho da árvore corresse na direção de Dante, mas Ryunosuke jogou-se na frente, parando o golpe.
Dante enfureceu-se ao rever a cena de Nero e correu na direção dela, que se contorcia como se seu corpo estivesse em uma luta interna para decidir quem assumiria o controle.
Percebendo aquilo, Dante tentou atacar, mas, de repente, uma águia saiu da sombra da mulher. Era mais uma de suas criaturas, porém³, ao invés⁴ de atacar Dante, ela agarrou o corpo da mulher e levantou voo, levando-a consigo. Dante tentou fazer algo, mas finalmente caiu, inconsciente⁵. Enquanto isso, a águia levava a mulher embora, deixando-a solta pelo mundo.
E assim, finalmente, a batalha da Classe-13⁶ contra o Astreus da Vida se encerrou.
Parte 3
Alguns dias depois.
Após o incidente, todos os alunos e Ryunosuke foram levados com urgência até o Hospital Especial de Babylon, onde foram tratados imediatamente. As tecnologias avançadas de Babylon, junto com os vários médicos Shapers, fizeram com que a cidade ficasse em terceiro lugar no ranking mundial de locais onde a morte é quase inexistente – ou, ao menos, era o que se dizia. Com tantas técnicas médicas, dificilmente uma pessoa precisaria se preocupar com feridas ou doenças; para a maioria dos problemas existentes, eles conseguiam encontrar uma solução. Assim, mesmo com alguns alunos à beira da morte, a equipe conseguiu salvá-los. No entanto, nem mesmo eles tinham a capacidade de trazer os mortos de volta. O resultado final foi:
Ryunosuke Azazel
Nosso professor acabou com feridas graves e alguns órgãos internos lesionados, mas sobreviveu. No entanto, por conta de todo o éter perdido e da gravidade de seus ferimentos internos, as aulas da turma foram adiadas.
Abel Kyuubei
Morreu durante o incidente.
Anna Lighthart
Sofreu feridas graves, mas sem risco de vida. Teve alta após alguns dias.
Shimura Tendo
Não se envolveu diretamente no incidente. Parecia frustrado por não ter conseguido ajudar.
Mio Mortifer
Continua internada. Seu corpo foi ao limite físico e ela também estava em estado grave. Contudo, não foram as feridas externas que causaram mais problemas, e sim as internas, provocadas pela exposição à técnica da mulher misteriosa.
Yuki T. Bianchi
De acordo com os relatos, deveria estar em estado crítico, mas quando a encontraram, estava sendo carregada pela irmã e a maioria de suas feridas parecia curada.
Kintoki Sakata e Kai Scarlune
Ambos estavam em estado crítico, mas tiveram alta no mesmo dia em que recuperaram a consciência. Pelo que foi dito, estavam furiosos tanto pela derrota quanto por não terem participado da batalha final e visto o inimigo usar todo o seu poder.
Beatrice Dragonroad
Um caso semelhante foi o de Bea. Aparentemente, ela também não se envolveu diretamente na batalha e ficou muito incomodada com isso, furiosa por não ter lutado. Passou os dias seguintes treinando incansavelmente nos fundos do colégio.
Layla Azael
Foi vista no dia em que os outros tiveram alta, mas após insistir que estava bem e que precisava visitar parentes, desapareceu sem dar notícias. Ninguém do colégio quis impedi-la ou procurá-la, cientes de que ela poderia estar traumatizada, já que este era o segundo incidente presenciado por ela que custou a vida de companheiros.
Kagura Yumaemon
Morreu durante o incidente.
Mirai T. Bianchi
Ninguém soube dizer se Mirai realmente se envolveu diretamente no incidente ou não, mas ela parecia completamente bem.
Morgan Abrel
Ficou junto de Beatrice durante todo o incidente, portanto, não participou da luta. Sentindo que não aguentaria mais uma vida como aquela, desistiu oficialmente de frequentar Babylon, entregando sua carta de abandono ao colégio.
Miguel T. Witchcraft
Foi outro caso estranho. De acordo com os relatos, ele estava envolvido diretamente nos eventos e não era capaz de utilizar seu poder de teleporte. Ainda assim, saiu sem nenhum arranhão ou demonstração de ter sido afetado. Toda essa história dele me parece estranha…
Luck Kennedy
Estava em estado crítico, mesmo tendo se envolvido pouco. Acabou no alvo da habilidade da mulher e foi atingido pelo disparo lançado contra Kaiser. Quando finalmente recuperou a consciência, parecia realmente irritado e incomodado.
Chuya Lindell
Estava relativamente bem; seu pé havia sido perfurado, mas conseguiram tratá-lo. O grande problema foi o éter em seu corpo: por vários dias, ele não conseguia sentir ou usar nada, como se tivesse sido completamente apagado. Depois disso, porém, ele foi recuperando-o aos poucos. Os médicos disseram que todo o éter gerado por suas alterações anteriores foi devorado. Por sorte, ele era um ***Gifted***³, o que fez com que sua habilidade continuasse gravada em seu “Destino”.
Megumi Azazel
Também estava relativamente bem. Na verdade, estava irritada por não ter conseguido ser mais útil.
Sophi Pencilgon
Também não se envolveu diretamente na confusão.
Daemon Hakurei
De acordo com os relatos, chegou a lutar na linha de frente contra a mulher, mas, diferente dos demais, saiu apenas com ferimentos superficiais.
Dante Scarlune
Foi outro que estava em estado crítico, mas saiu do hospital no mesmo dia em que teve alta e ficou treinando como pôde. De acordo com algumas pessoas que me visitaram, chegaram a ver Dante junto de Beatrice nos fundos do colégio treinando, embora tenham relatado que mais parecia ela tentando matá-lo de verdade.
Ludmilla Farnese
Também estava em estado crítico, sendo uma das poucas nesse estado que, após acordar, não decidiu fugir do hospital.
Daiki Shimura
Foi o caso mais incrível e surpreendente de todos. Mesmo estando na linha de frente durante o combate final, saiu apenas com um único arranhão no rosto. Todos fizeram fila para entrevistá-lo, e ele saiu nos jornais com o título de “Last One” – acho que era uma referência a ele ser o último a ficar de pé.
Kaiser Ragna
Infelizmente, um dos maiores aliados durante todo o incidente e o herói que permitiu que todos nós escapassemos com vida, Kaiser Ragna, faleceu.
Já eu, Kurokawa, acabei ficando internada por um bom tempo. Parece que apresentei vários sintomas de abstinência; aparentemente, ser afetada pelo poder da mulher por muito tempo fazia com que começássemos a sentir esses sintomas quando separados dela. Digo 'aparentemente' pois não me lembro de nada após ter subido a montanha com Kagura. A maioria das informações vim a descobrir com Dante, que me fazia visitas e trazia maçãs.
Este incidente, com certeza, não será algo que a nossa sala e o colégio esquecerão, principalmente porque nosso inimigo ainda está por aí, vagando em algum lugar. A última notícia que tivemos dele é que, após ter sido declarado um monstro perigoso pelos Caçadores⁴, tentaram chegar à dungeon real de onde Ryunosuke havia retirado sua versão black box, mas a dungeon estava destruída, e a mulher, aparentemente, havia devorado a árvore que lhe concederá vida. Também foi visto com ela um novo dragão, ainda mais gigantesco e perturbador.
— Será que tudo bem eu escrever assim? Não é como se eu tivesse visto o verdadeiro lá dentro para comparar… — Kurokawa murmurou, olhando para seu diário.
— Bom, eu vi, mas também não saberia dizer se ele era maior — disse Dante, entrando pela janela.
— Dante! É você? Por que fica entrando pela janela?
— Sempre que eu entro pela porta, tentam me manter preso aqui.
Após dizer isso, ele saiu correndo, provavelmente indo visitar Anna ou Ludmilla.
Kurokawa ficou vermelha, imaginando alguma coisa, e fechou seu diário.
— É melhor eu ir dormir.
Parte 4
Mais algumas semanas se passaram quando, de repente, algumas figuras bem diferentes começaram a aparecer por todo o colégio. Eram pessoas com aparências variadas; algumas eram humanoides, mas outras possuíam asas meio serafim, meio anjo; outras, chifres de demônio e escamas de dragão; outras ainda parecem elfos, mas com alturas enormes quase como a de gigantes. Mesmo em Babylon, onde era comum ver uma enorme quantidade de seres de diferentes raças, aquilo era incomum, não só por serem diferentes, mas por parecerem uma grande mistura de tudo e possuírem éter de poder sem igual.
— O que será que está acontecendo? — Kurokawa se perguntava, caminhando pelos corredores.
Já na sala de Aleister, um grupo havia sido formado a pedido dele próprio: Dante, Kintoki, Ludmilla, Kai, Beatrice e Yuki foram chamados.
— Como sabem, desde o incidente na black box, temos procurado desesperadamente o paradeiro da mulher misteriosa — Aleister dizia, enquanto parecia tentar esticar o pé por debaixo da mesa do diretor para posicionar seu sapato com um espelho na ponta, sob a saia de Ludmilla, mas, no exato momento, Vlad o golpeia na cabeça e continua o que ele estava dizendo:
— Em resumo, conseguimos encontrar a tal mulher e pensamos em enviar uma equipe especial de Caçadores para eliminá-la ou capturá-la. Como vocês foram os mais afetados, mas também os que mais têm conhecimento sobre o estilo de luta dela, gostaríamos de saber se vocês gostariam de entrar nesse grupo que será enviado.
Aquilo acendeu uma chama no coração do grupo, que pareceu ansioso pela ideia, agora que haviam treinado durante esses últimos dias.
— Sim! — todos responderam de imediato. Mas é quando alguém invade a sala do diretor, pegando Kai e Dante pelo colarinho e começando a puxar os dois.
— Espera, o que está rolando?!
— Merda, o que você quer comigo?!
Aquela que havia feito isso era Levy.
— Vamos, temos que ir agora! Já vieram nos buscar.
— Espera, Levy! Quando você diz 'vieram'... — Dante começou a dizer, mas foi interrompido.
Nesse momento, do outro lado da porta, um homem alto, carismático e de cabelos brancos falou:
— Opa, Aleister! Vim buscar os seus pirralhos. A reunião da família já está para começar.
— Ah, fazer o quê... Vou tirar os dois da lista — Aleister resmungou.
— O QUÊ?! — os dois gritaram com a resposta de Aleister, sendo puxados por Levy.
— Relaxa, já mandei buscarem seus amigos — disse Levy.
— A quem você se refere quando diz 'amigos', maldita?! — Kai perguntou, enquanto Dante ria ao escutar aquilo.
— E você está rindo de quê, merda?! — Kai retrucou para Dante.
Já dentro da sala de Aleister, o homem de cabelos brancos encarava os outros garotos uma última vez.
— Há algo que ainda gostaria de relatar, Love Scarlune? — perguntou Aleister.
— Não. Apenas uma curiosidade: por que este lugar é chamado de colégio? Afinal, ele funciona mais como uma faculdade e não tem restrição de idade — quis saber Love.
— Não sabe de algo tão simples? Óbvio que foi para eu poder dizer que vivo cercado por colegiais! — respondeu Aleister, animado.
Vlad novamente o golpeou na cabeça.
— E acho que já devia imaginar... De qualquer forma, desculpe o inconveniente — disse Love, suspirando.
Assim, os Scarlune de todo o colégio começaram a ser levados, pois a reunião da família finalmente estava para acontecer. E, para isso, todos foram em direção aos confins do reino de Alexandria, nas terras escondidas dentro da misteriosa Floresta Negra, localizada na divisa da Pré-Germânia e da Britânia.
E assim, um novo arco estava para começar.
Parte 5
Enquanto isso, na longínqua cidade de Perses, lar do povo Achemênita, um estranho incidente ocorreu. Durante uma reunião com uma tribo de gigantes, uma figura aproximou-se dos domínios da cidade: era uma garota misteriosa, de cabelos negros, olhos vermelhos e com um lenço nos cabelos. Vista ao longe pelos vigias, inicialmente parece um lobo desgarrado de seu bando, viajando só. Ao se aproximarem, porém, notaram ser apenas uma garota.
Contudo, o mago do rei alertou a todos: não deveriam permitir que a garota adentrasse o reino, ou uma calamidade sem igual ocorreria. Havia hesitação – seria correto tratar com tanto desprezo alguém desconhecido, a ponto de proibir sua entrada? Mas o mago era um ancião respeitado; já previra enchentes e outras calamidades, sendo um dos poucos humanos capazes de vislumbrar o futuro. Por isso, acataram seu aviso e fecharam os portões.
Ainda assim, a precaução pareceu completamente inútil. Com um simples menear de sua espada, ainda embainhada, os portões e muros do reino se estilhaçaram como se fossem feitos de vidro. Os gigantes, na intenção de ajudar os humanos, tentaram intimidar a garota desconhecida. Contudo, ao meramente se aproximarem, morriam rapidamente, sugados pela quietude fria que emanava dela. Não apenas os gigantes, mas todos os seres vivos ao redor sucumbiram.
Ao adentrar o reino, a profecia do mago cumpriu-se: uma calamidade varreu o local. Todos à volta da garota morriam lentamente enquanto ela caminhava, com seus passos lentos e silenciosos, até que ninguém mais restasse.
O último a morrer foi o velho mago, que de alguma forma resistira à morte imediata. Sobreviveu apenas o suficiente para perguntar, a voz preenchida de medo, horror e incompreensão:
“Por que fazer algo assim? Por que todos tiveram que morrer?”
A resposta que ouviu foi apenas:
“O que mais eu podia fazer?”
Uma resposta sem sentido aparente. Mortes em vão. Para aquela garota de olhar triste e solitário, causar a morte dos que cruzavam seu caminho era tão inevitável quanto para um humano pisar em formigas sem notar.
Ao escutar a resposta, o pobre mago enlouqueceu e morreu.
E, novamente, a garota ficou só. Permaneceu imersa no silêncio que tanto detestava, esperando no castelo devastado por dias. Não se movia, comia ou bebia; apenas existia, com um semblante triste e vazio vendo o cenário à sua volta.
Assim ela continuava a Esperar pelo alvo de sua longa jornada: a máquina em movimento contínuo. Não havia quem, no planeta, não tivesse ouvido falar dela, sussurrada em lendas e profecias. Era a máquina colossal em forma de aranha, movendo-se sem parar sobre o mundo, atravessando continentes como um pesadelo mecânico: a prisão viva e impenetrável chamada Destroyer. Dentro dela, selado há milênios incontáveis em escuridão perpétua, jazia o antigo Lorde Demônio Amaimon, uma das bestas do fim. Sua solidão eterna, a garota sentia, espelhava a sua própria.
Então, a garota se moveu. Era uma figura minúscula diante do titã mecânico. Ignorou as defesas formidáveis da fortaleza: barreiras de energia estilhaçaram-se ao seu toque como teias de aranha; canhões ancestrais emudeceram antes mesmo de disparar. Ela avançou em direção ao construto.
Finalmente, desembainhou sua espada, a lâmina brilhando com uma luz fria e faminta. Com um único golpe que pareceu rasgar a própria realidade, a fortaleza-prisão e o antigo Lorde Demônio Amaimon em seu interior foram silenciados para sempre, libertos de sua existência interminável.
“Deve ter sido triste...” – ela sussurrou para o vazio – “...viver tão solitário nessa prisão por tanto tempo.”
Foram palavras que ecoaram no vento. Em seguida, a garota virou-se e voltou a caminhar sozinha, rumo a outro lugar qualquer, carregando o fardo de seu destino e da solidão – sua única e constante companhia.
Alguns dias se passaram, e as sombras da notícia se espalharam pelos quatro grandes reinos: sobre a cidade que desapareceu em silêncio. E, como lenda do rei demônio, que se acreditava eterno, desvaneceu-se, deixando apenas a melancolia de um poder perdido e a fragilidade da própria imortalidade.
O Lobo Solitário que vaga eternamente.
Parte 6
Em um canto remoto de Alexandria, existe uma terra misteriosa, oculta à vista de todos. Abandonada por seus residentes, essa terra acumulou inúmeros segredos e perigos, guardados por florestas densas e gigantescas que cercam o continente. Essas matas são tão impenetráveis que nem mesmo a tecnologia de Elysium foi capaz de iluminá-las, mantendo assim seus mistérios na escuridão.
No entanto, houve uma família que teve a coragem de adentrar a misteriosa floresta buscando a fonte de seus mistérios, enfrentando monstros e demônios que nem a própria natureza podia conter ou impedir: os Scarlune. Invadindo a terra abandonada, eles transformaram o centro da misteriosa floresta em seu domínio, controlando o continente e construindo, em algum lugar de suas terras, a poderosa Mansão Winchester, local onde o líder e rei dos Scarlune residia.
Duas vezes por ano, acontecem certas reuniões em suas terras, às quais todos os membros da família eram obrigados a comparecer. Estas eram: a reunião anual, que sempre ocorria; e, caso o último líder tivesse morrido, uma eleição para decidir quem seria o sucessor.
Atualmente, todos os membros da família Scarlune foram convocados e se dirigiam para Threshold, a única cidade de pé no continente amaldiçoado de Nocturia. Envolta por uma floresta sombria e gigantesca onde o dia mal penetrava, Nocturia era uma terra abandonada, marcada pela cicatriz colossal conhecida como 'Gates of Hell' – um abismo de origem e profundidade desconhecidas, cujo terror monstruoso havia esvaziado a região eras atrás. Threshold desafiava essa desolação. Construída audaciosamente na própria borda do abismo, em torno da mansão Winchester da família Scarlune — que ousara se estabelecer nas terras amaldiçoadas —, a cidade era um aglomerado de almas dispostas a viver sob a sombra do perigo constante. Era um lugar de contrastes: a última centelha de civilização contra o vazio absoluto, um porto seguro na boca do inferno e, segundo sussurros antigos e a presença abundante de fadas nas proximidades, talvez a mais improvável das portas para a lendária Avalon. Era para este limiar, entre a esperança e o horror, que eles agora se dirigiam.
Para chegar à cidade de Threshold, não existia nenhum meio rápido. Era impossível se teleportar para as terras misteriosas do continente, e todas as pedras de teleporte colocadas lá perdiam seu poder. Além disso, dirigíveis e aviões que passavam por perto caíam misteriosamente dentro do abismo, atraídos por uma força magnética misteriosa vinda de lá.
Sendo assim, para chegar até lá, as únicas formas eram através de viagens de navio ou a bordo do trem marinho, que havia sido construído conectando Nocturia aos outros continentes de Alexandria.
Atualmente, em um desses trens, o grupo dos Scarlune, que havia deixado Babylon, se encaminhou para Threshold.
Parte 7
Enquanto o trem vagava, várias de suas cabines eram mostradas, preenchidas por pessoas de diversas aparências diferentes, mas que pareciam carregar o mesmo olhar. Em uma dessas cabines havia um restaurante onde Dante, Kai, Levy e Love estavam sentados.
— Pelo visto conseguiram reunir todo mundo dessa vez…
Kai falava, observando os dois sentados nas cadeiras da frente.
— A maioria ainda estava na mansão desde a última reunião, só tivemos que reunir aqueles engraçadinhos que tinham saído e sabíamos que dificultariam para voltar.
Love respondia com um sorriso carismático.
— E quem foi o mais difícil dessa vez?
Dante, ao lado, dizia.
— Abel havia ido até o Void, então acho que foi ele quem acabou sendo o mais problemático.
Levy respondia.
— Espera, que merda é essa de Void?
Kai questionava.
— Espera, você realmente não sabe o que é o Void? O que é isso? Não ensinam o básico para as crianças vinte anos depois que eu saí?
— Calado, seu merda! E por que está agindo como se fosse mais velho que eu?!
— Talvez porque eu seja?
— Só nasceu primeiro, idiota!
Enquanto Kai e Dante discutiam, Levy levantava a mão um pouco.
— Na verdade, eu também não sei muito sobre.
— Tá brincando? Love, explica isso agora…
Dante, com uma cara decepcionada, falava.
— Bom, sendo assim, ajudarei os três. Primeiro, como vocês sabem, existe muito do mundo atual que não conhecemos, tanto por seus perigos quanto por seu tamanho. Atualmente, o mapa-múndi serve bem mais para nos mostrar a parte do mundo que conhecemos do que para nos localizarmos, uma vez que sempre há Alaya brincando com a geografia do planeta.
— Isso até eu sei, anda logo e vai para a parte importante!
Kai tentava apressá-lo, mas Love colocava o dedo na frente da boca como se pedisse silêncio. Mas, com seu sorriso gentil, lembrava um professor do jardim de infância, o que irritava mais Kai do que se ele pedisse para ele calar a boca abertamente.
— Mas, como vocês sabem, o mapa só possui dentro de si apenas a parte conhecida do mundo, e nada mais. Essa grande parte vazia do nosso mundo, cujas informações são escassas, é o que chamamos de Vazio ou Void, um território ainda a ser descoberto e de onde muitos dos grandes problemas do planeta se originaram.
— Espera, se é só essa merda, por que você está agindo assim?
Kai perguntava, olhando para Dante.
— Você não pode estar falando sério? Está dizendo que isso não chama sua atenção? Lá é onde tudo que ainda não foi descoberto ou encontrado existe! Imagina como seria legal se aventurar por lá!
Dante respondia animado.
— Entendi… então a ambição do Dante era…
Levy murmurava.
— É verdade, Dante, você tinha ido para Babylon para treinar e conseguir ir até o Void, não era? Bom, pelo menos essa era a teoria que todos tínhamos.
Love dizia.
— Eu planejava mesmo ir lá…
Assim, um homem se aproximava da mesa onde os quatro estavam. Usando casaco e uma máscara de boca preta, um homem começou a falar:
— Nunca vou entender essa vontade que algumas pessoas têm em ir até aquela área desolada… não há nada que valha a pena todo o perigo por lá.
— Bom, isso é algo que nunca saberemos até ir, né?
Dante respondia imediatamente.
— Akira! Então você se reuniu mais cedo dessa vez? Normalmente você é o último a chegar.
O homem de aparência meio jovem, na casa dos 22 a 29 anos, carregava um ar frio e pesado a sua volta. Com a boca escondida, seus olhos cinzentos³ se destacavam. Ele parecia encarar diretamente Dante sem mudar seu campo de vista, mesmo quando Love começou a falar com ele.
— Bom, dessa vez vocês deram sorte ou eu dei azar. Não tive nenhum compromisso para hoje, já que o Festival do Dragão foi adiado.
Todos, ouvindo aquilo, reagiram com surpresa.
— Como assim foi adiado?
Love perguntava.
— Não está sabendo? Várias coisas aconteceram na última semana que simplesmente obrigaram o adiamento do festival, que já estava com todos os preparativos feitos. Behemoth, que havia misteriosamente desaparecido de Umbra, apareceu vagando e destruindo algumas cidades de Alexandria. Além disso, houve uma bagunça sem precedentes no Terminal Cinza, que foi transformado em literalmente cinzas. E para complicar ainda mais, houve aquele genocídio dos Achemênita, forçando o festival a ser adiado.
Kai, Levy e Dante, que estavam alheios àquilo tudo, não conseguiram esconder o choque.
— O lado bom é que vai dar para fazer essa reunião estúpida e voltar para o festival sem causar problema nos meus negócios.
— E que tipo de negócio você gerencia, seu arrogante de merda?!
Kai falava, aumentando sua aura em resposta ao fato de estar sendo ignorado enquanto Akira apenas focava em Dante.
— Ah, é verdade, vocês não conhecem ele, né? Então, o Akira… o Akira é…
— Eu sou o cabeça da Yakuza do submundo de Elysium.
Naquele momento, Kai caiu na gargalhada, enquanto Levy parecia meio confusa. Love parecia tentar fazer Kai parar de rir, enquanto Akira e Dante continuavam se encarando.
— Você não vai rir?
— E por que eu deveria?
— Sempre que eu falo isso para um Scarlune, sei que posso esperar duas reações possíveis: uma é cair na gargalhada, como seu clone branquelo ali fez; a outra é a confusão de Levy.
— O que você quer dizer com clone branquelo?!
Kai tentava comprar briga, mas Love, descendo para debaixo da mesa, o segurava.
— Me larga, Love! Eu preciso mostrar uma coisa para esse idiota!
Mas, alheio àquilo, Dante e Akira continuavam se encarando.
— Já imaginava. Era comum reagirem assim sempre que eu falava sobre meu plano de treinar para explorar o Void.
— Hum… Se prepara, né… talvez você não seja só mais um idiota.
Assim, Akira se afastava, caminhando devagar, e jogava um cartão para Dante.
— Se esse dia chegar e você decidir ir mesmo, me procure. Com certeza você vai precisar de itens que não se conseguem em um mercadinho de estrada, mas eu posso conseguir para você.
Assim, ele continuava caminhando até se afastar totalmente.
— Quem aquele idiota acha que é?!
Kai falava, finalmente sendo solto por Love.
— Eu sei que você pode não entender ele, Kai, mas precisa ter mais calma. Ele só é meio difícil de lidar e cabeça dura. Desde que ele começou com essa ideia de reinar o submundo, ele acabou se tornando essa pessoa difícil de lidar.
— Ele? Não, para mim ele parece um bom arquétipo de Scarlune e é bem mais fácil de lidar com ele do que você, Love. — Dante comenta
Assim, o trem continuava.
Na parte da frente do trem, Akira caminhava até outra das mesas, sentando-se ao lado de um homem alto, de cabelo estiloso e com uma cicatriz no rosto, e de uma empregada de cabelos pretos e orelhas longas.
— Você deu seu cartão para aquele garoto? Por quê?
— Você ainda precisa aprender mais, Daigo. Um lobo não dura muito tempo vagando sozinho. Existe um limite até onde dá para chegar.
— Tá, mas não tem outros mais qualificados?
— Se o seu requisito de qualificação for a pura força, é bem provável. Mas existe um empecilho nisso: um lobo não pode fazer uma alcateia junto com vários cães raivosos. Ele precisa de outros lobos para isso.
— Tá, mas você deu um cartão porque quer ajudar ele, né? Precisa mesmo de um caminho tão indireto?
— Apenas escolhi o caminho de ser amado ao invés de temido, visando o longo prazo. Mas isso não é algo com que você precise se preocupar. Apenas fique calado. Temos trabalho a cumprir na minha casa. E aproveite para mandar mensagem para o Lalibel: diga a ele que deve comprar a maior bizarrice vinda do Void que aparecer no leilão. Acho que é educado presentear um novo amigo.
Assim, o campo de visão mudava para os quatro, que caminhavam indo para os vagões pessoais, uma vez que o destino já estava se aproximando e era hora de ajeitar as malas antes de descer. Cada um ia se dirigindo para seu devido quarto quando Dante colocou a mão em sua maçaneta, mas, conforme abria a porta, começou a escutar um barulho vindo de dentro. Assim, ele abriu a porta e passou alguns minutos processando até entender a visão à sua frente: a garota de um corpo extremamente belo, nua em seu quarto, agachada, colocando ou retirando sua calcinha. De repente, Dante fechou a porta imediatamente, forçando a maçaneta para não ser aberta e gritando:
— Pervertida! SOCORRO! TEM UMA PERVERTIDA NO MEU QUARTO!!!!
Kai, Love e Levy saíam de seus quartos, com a cara confusa, observando-o sem falar nada.
— Droga! Não me ouviram? Socorro! Chamem logo o maquinista ou alguém! Tem uma pervertida no meu quarto!
— Deixa de alucinar bobagem, seu merda!
— Droga, eu estou falando sério!
— Se é assim, por que você não está comemorando?
Love respondia, encarando-o.
— Até você vai brincar comigo agora, droga?
Enquanto a confusão aumentava do lado de fora, a garota do lado de dentro, que havia terminado de colocar sua calcinha, com os cabelos molhados, usava o braço para tapar a frente dos seios e parecia tentar soltar um pequeno grito:
– Gyaa…
Ela falava tão baixo que parecia estar sussurrando, e parecia não estar com vergonha de verdade, e sim tentando se comportar como achava que uma garota deveria reagir em tal situação. Assim, a confusão continuou, até que Love identificou¹ quem deveria ser e acalmar as coisas, levando-os para dentro do quarto de Dante.
– Bom, como eu estava dizendo, essa é a Hiyori. Também é uma Scarlune. Agora que todos os maus-entendidos foram resolvidos, podemos prosseguir.
Love explicava, tentando mudar de assunto.
– Explicados uma pinóia! Ei, Love, o que ela estava fazendo no meu quarto?
– Haha, você percebeu… Bom, então, como eu posso explicar… é aquilo, sabe…
– Fala logo, Love! Para de ficar mudando de assunto!
– Acontece que nesses últimos vinte anos que você esteve fora, a Terceira Casa Scarlune acabou sem um líder real, porque Leyla acabou entrando no Abismo, decidida a chegar até o fundo do Abismo.
– Espera, essa história até eu sei… mas ela foi há cerca de 20 anos atrás!
– Pois é, Dante, e até hoje ela ainda não voltou… E, oficialmente, o testamento/guia do que fazer caso ela não voltasse indicava você como novo líder da Terceira Casa. Mas aí você morreu no mesmo ano, e a casa ficou sem líder.
– Espera, e por que não colocaram outra pessoa?
– A gente até pensou… O líder iria decidir quem colocar, mas acabou morrendo antes disso…
– Tá, mas aí, em alguma reunião, os outros líderes deveriam ter o poder de votar e indicar alguém, não?
– Sim, isso normalmente teria acontecido. Mas aí rolou a Noite da Lua Vermelha, o que só não deixou com que isso acontecesse, já que alguns líderes de algumas casas morreram. E aí, para decidir os postos, precisávamos de um líder novo. Uma complicação surgiu atrás da outra, já que, para decidir o novo líder, além de uma eleição total, precisávamos de votos de confiança de cada um dos líderes de cada casa.
– Que bela confusão…
Dante falava, sem esconder, enquanto ouvia o relato de Love.
– Pois é. E adivinha quem foi escolhido para gerenciar toda essa bagunça?
Love falava enquanto respirava profundamente, e Dante se acalmava, escutando-o.
– Eu tive que relocar várias pessoas para assumirem o papel de líder interino de cada casa, o que já foi difícil, mas consegui. E na Terceira Casa, com todo esse problema, foi mais difícil ainda, mas, depois de muito trabalho, coloquei a Hiyori, a única que parecia atender a todos. Mas foi quando você voltou, e as coisas voltaram a ficar complicadas. Afinal, com a sua volta, meio que a liderança volta a recair sobre você.
– Tá, mas, quer saber? Eu não quero! Aproveita e oficializa ela logo!
– Sabe que não é fácil assim. Você até pode passar esse posto para outra pessoa, mas só depois de 1 ano carregando o posto. E pior ainda seria fazer isso durante a votação de líder. Assim, eu decidi unir vocês dois para trabalharem juntos e serem os líderes duplos temporários.
– Que merda, Love! Eu não queria ser líder para começar, e agora nem terei todo o poder que a coroa traz para poder fazer zona, já que vou ter que dividir meu poder com outra pessoa? Qual o benefício disso?
– Obviamente, o benefício é retirar um grande peso das minhas costas.
– Ah, maldito!
– Não precisa se preocupar. Soube sobre você com os Scarlune mais velhos e farei o máximo para conseguir ajudar na sua liderança sem te atrapalhar. Pode pensar em mim como sua secretária, se preferir.
A garota falava de forma calma e diligente, sem demonstrar nervosismo.
– Love, que tipo de mentiras você contou para ela?
– E por que você acha que fui eu?
De repente, a garota encarava ele, e Dante ficava sem reação quando a porta se abria.
– Então é aqui que você está, capitã?!
Yuri, Mio e Beatrice encaravam a sala do lado de fora da porta.
– Mio? Bea?
Dante ficou confuso, observando-as.
– Peraí! O que vocês estão fazendo aqui?
– Como assim?
Levy respondia à pergunta de Dante com outra pergunta quando, de repente, Mio correu até Dante e começou a aplicar um mata-leão, calando-o.
– Ah, capitã, é que ele está confuso e emocionado em nos ver tão cedo! Haha.
Mio falava de uma forma muito mais educada e fina, até respeitosa, na frente de Levy.
– A verdade é que eu não contei que vocês tinham ficado no quarto ao lado. Então, reiterando e completando, como eu disse, eu trouxe os amigos de vocês e deixei no quarto ao lado.
– Espera… espera, quando você disse amigos, estava falando delas?
– Claro! E quem mais poderia ser?
– Como assim, quem mais? Cadê o Lu-
De repente, enquanto Dante terminava sua frase, Mio aumentou a força e sussurrou no ouvido dele:
– Escuta aqui, Dan-chan. A Levy tem um certo problema de memória seletiva, onde ela só memoriza as coisas que acha importante, o que muitas vezes a faz esquecer até mesmo de pessoas com quem ela passou horas conversando. Ela lembrou que você tinha amigos que estavam na sua sala, mas esqueceu totalmente que deveria ser a Kuro-cha e o Lu-chan. Assim, ela pediu para a assistente dela nos perguntar e, caso fôssemos nós, prometeu um pagamento muito bom, se é que você me entende. E acontece que eu gastei tudo que ganhei no Titanic comprando comida e roupas, já que as minhas ficaram um farrapo na missão do labirinto, e eu precisava me recuperar também. Sendo assim, voltamos para o vermelho. Então, seja bonzinho e colabora!
– E por que eu deveria fazer isso?
Dante falava com um olhar ambicioso, como se fosse pedir algo para ela em troca.
– Ah, que espertinho! Que tal assim: você nos ajuda e eu não convenço a Levy e o Love que você quer ser o líder da sua família, e digo para o Kai que você odiaria isso acima de tudo.
Ao perceber que Mio estava inteirada no fato de como ninguém queria virar o líder e havia armado um ótimo plano para obrigá-lo a virar, ele percebeu que não tinha escolha.
– Foi bom fazer negócio com você, senhorita amiga.
– Que bom que você entendeu.
Assim, eles se levantam, e Dante abraça ela: "Nossa, obrigado, Levy! Não aguentaria fazer uma viagem sem as minhas amigas!".
– Não foi nada.
Levy respondia sinceramente.
– Espera, mas e a Anna? Eu senti ela no trem, então ela deve estar aqui em algum lugar, né?
E quando Anna aparece na porta do quarto, seguida por um homem alto de cabelo preto com um tapa-olho.
– Parece que a festa aqui já tinha começado, né?
Anna falava, vendo todos encarando-a, e começando a comer uma rosquinha.
– Onde você estava?
– No vagão restaurante comendo rosquinhas, quando encontrei com ele!
– No vagão restaurante? Mas… espera, esse rosto… Heisen?!
Dante se surpreendia, vendo a figura atrás de Anna.
– Há quanto tempo não nos víamos, Dante! Vocês também, Levy, Kai e Love.
Mio caminhava até a garota sentada, que não havia sido adicionada na conversa.
– Ei, quem é o do tapa-olho?
– Ele é o professor Heisen, um dos poucos Scarlune que se juntou aos Filósofos⁷. Até onde eu sei, ele ensinou vários Scarlune, como seu professor, mas eu não fui uma de suas alunas, como sou mais afastada do ramo da família deles. A verdade é que ele também é o irmão gêmeo de Love.
– Entendi.
“Ramo mais afastado… pensando bem, existem milhares de Scarlune. A árvore genealógica deles deve ser tão grande que alguns nem devem ter conexão direta, somente um ancestral em comum.”
Assim, quando parecia que eles iriam falar algo, o trem fazia som, sinalizando que finalmente estava chegando, sendo possível vislumbrar, assim, a cidade de Threshold pela janela.
Parte 8
Após finalmente chegarem e desembarcarem, do trem que começava a soltar fumaça, mio e Beatrice se preparavam para respirar uma fumaça suja e pesada mais foi quando perceberam que o ar que os saudou ao desembarcarem do Trem Marinho era diferente – carregado com um perfume doce e desconhecido, misturado ao ozônio sutil de energia crepitante. Diante deles, Threshold se desdobrava não como uma cidade, mas como um sonho febril tornado realidade. Seus olhos lutavam para processar a escala vertiginosa e a lógica alienígena do lugar. Ruas de pedra polida serpenteavam entre edifícios que desafiavam a gravidade e o bom senso, alguns de tamanho familiar, outros erguendo-se por quilômetros aparentes, fundindo-se com o céu nublado que pairava sobre Nocturia.
Onde deveriam existir pontes, largas avenidas fluíam sobre rios caudalosos, a água correndo sob plataformas transparentes. Colossais árvores, mais largas que qualquer fortaleza que conheciam, erguiam troncos imponentes, e em seus galhos maciços, casas e estruturas de vidro e cristal cintilavam como jóias. Gigantescas rodas d'água giravam lentamente nos rios, e cataventos de proporções épicas pontilham a paisagem urbana, suas pás movendo-se com uma graça silenciosa.
Mas era a vida que pulsava ali que roubava o fôlego. Um gigante passou a poucos metros, seus passos surpreendentemente silenciosos, os humanos próximos desviando-se minimamente, como se fosse a visão mais corriqueira do mundo. Uma carruagem do tamanho de um caminhão de carga moderno retumbou por uma via próxima, puxada não por bestas, mas por uma unica fada com a forma de um cavalo, porém várias vezes maior. Fadas, como as dos contos de fada luminosas e pequenas, ziguezagueavam pelo ar, algumas pousando nos ombros de transeuntes, enquanto bolhas de sabão flutuavam preguiçosamente por toda parte, sem fonte aparente.
Mesmo já devendo esperar, elas se chocavam com a pele pálida de meio-vampiros e as orelhas pontudas de elfas negras caminhando juntamente com demi-humanos e se misturando à multidão diversa.
E a tecnologia... ou seria magia? Robôs e construtos geométricos estranhos movidos a éter de fada são comuns, alguns coletando lixo, outros ajudando os cidadãos, e alguns até mesmo dançando sobre a água em um espetáculo deslumbrante. Plataformas voadoras e bicicletas movidas a éter também são muito utilizadas, adicionando dinamismo à vida diária de Threshold. Postes exibiam chamas verdes que ardiam intensamente sob a luz diurna filtrada, um brilho estranho que prometia uma iluminação ainda mais bizarra à noite. Tudo ali parecia operar sob regras próprias.
Então, seus olhares foram atraídos para o fundo da cidade. Dominando o horizonte, uma mansão de proporções titânicas se erguia, a Mansão Winchester, inconfundível em sua grandiosidade austera. E atrás dela... nada. Um vazio absoluto. O 'Gates of Hell', um abismo tão vasto e profundo que parecia engolir a própria luz e o som, uma ferida silenciosa no mundo contrastando brutalmente com a vibrante e impossível cidade construída à sua beira. Threshold. Estavam realmente ali, no limiar entre o fantástico e o desconhecido.
– Ei, Bea… você está vendo a mesma coisa que eu?
Mio perguntava, encarando tudo aquilo sem acreditar.
– Bom, eu posso estar vendo, mas não acho que possa confirmar que tudo isso é real.
E Beatrice respondia.
Assim, um brilho intenso surgia nos olhos delas, que corriam para observar os detalhes da cidade encantada e deslumbrante.
– Isso é sério? Eu achei que aqui seria um lugar parecido com Babylon, uma mistura de ciência e magia… e meio que é, mas passa uma sensação totalmente diferente.
Mio falava, observando tudo encantada.
– Você notou?
Love respondeu enquanto caminhava, e Levy puxava as duas para os seguirem até a mansão.
– Lá em Babylon, a ciência e a magia foram misturadas de forma forçada, o que cria aquele cenário bizarro onde as duas parecem competir. Mas aqui a gente vê de forma diferente, não diferenciamos uma da outra. Afinal, o que vocês chamam de magia é apenas uma ciência que ainda não entenderam.
Bea, ouvindo Love em silêncio, observava um vendedor de sorvete preparando o sorvete na hora com a ajuda de uma fada do vento (que descascava e cortava algumas frutas usando seu vento) e outra que congelava o suco¹ em forma de neve, transformando-o em um sorvete de casquinha imediato.
“A magia aqui é igual à ciência, né…”
Ela pensou, já indo comprar um sorvete juntamente de Dante e Kai.
– Ei, vocês três! Venham logo!
Love falava.
– Droga, eu também não gosto desse sabor.
Dante falava, comendo sorvete de morango.
– Afinal, qual será que virou a minha comida favorita agora?
– Relaxa, logo você descobre.
Dizia Anna, caminhando ao lado dele com quatro sorvetes diferentes.
– E, pelo visto, a sua comida favorita é qualquer coisa que você consiga comer, né?
De repente, os olhos de todos seguiram misteriosos insetos que voavam, mas carregando penugem de ovelhas. Embora o foco não tenha ficado muito tempo nos insetos, foi quando eles acabaram vendo os preparativos para uma corrida marinha acontecendo na margem de um dos rios (que serviam como estradas). Usando pranchas de surfe de Ether, de repente, Dante, Kai e Mio foram até lá, pedindo para participar.
– Mas o que vocês estão fazendo?! Não temos tempo para isso!
Love gritava, preocupado com a hora.
– Esqueça. Eles não vão parar agora que começaram. De qualquer forma, ainda haverá um tempo até os outros chegarem, e ainda mais alguns dias até a eleição realmente começar, então deixe eles se divertirem um pouco.
Heisen, que os esteve seguindo, falava.
Assim, todos entraram em suas marcas. Beatrice prestava atenção em Mio quando, de repente, alguns outros participantes da corrida saíam da água, junto da ninfa⁵ que daria a partida, surpreendendo-as ainda mais: sereias, ninfas-d'água, tritões e outros tipos de seres aquáticos encantadores.
– Espera, achei que sereias não gos…
De repente, a ninfa deu início à largada, e todos começaram a deslizar sobre a água, assim como alguns nadavam em alta velocidade. Alguns anões criaram navios pequenos e velozes, enquanto algumas elfas negras usavam magia de água para criar ondas que levavam suas pranchas mais à frente. Atrás, estava Mio, ainda parada na linha de saída por conta do choque que teve com a visão antes do início da corrida. Assim, percebendo como estava atrasada, colocou seu Ether na prancha e os seguia.
– Eh, acho que ela não teve sorte.
Love falava, encarando-a.
Já na frente estavam quatro pessoas, e entre elas estavam Kai e Dante.
– Dessa vez você já era, seu merda! Não vou ser idiota de ficar perdendo tempo com você e perder a corrida!
– Que bom saber disso. Assim não tem como eu perder.
– O que você quis dizer com isso?
A corrida continuava. Eles se moviam pelos rios que cruzavam a cidade; alguns subiam e desciam. Os caminhos se embaralham como labirintos marinhos. Alguns que subiam em forma de espirais pelas enormes árvores eram armadilhas para atrasá-los, assim como vários caminhos falsos os levando para longe do objetivo. Assim, eles precisavam correr, mas também prestar atenção.
De repente, uma garota que estava atrás atravessou os dois, movendo-se em alta velocidade. Sua prancha, movida por uma corrente de ar forte, conseguia dar enormes saltos no ar como se voasse, realizando manobras radicais com facilidade. Assim, Dante ia prestando atenção, até que finalmente a reconheceu.
– Aquela… é ela! EI, DIANE!!!
Assim, a garota olhou para trás, surpresa, voltando até onde o grito havia vindo:
– DANTE!!!!!
Os dois se encararam sorrindo e sabiam exatamente o que fazer: ficaram juntos esperando todos passarem, pois eles se colocaram em marcas e começaram a competir entre si. Dante deixou seu Ether elétrico sair, usando eletromagnetismo nas casas para se puxar para frente, enquanto Diane se impulsionava com ar. Os dois voltaram a passar os competidores, mas pareciam nem ligar mais, como se tivessem começado uma outra corrida, muito mais importante, entre eles. De repente, Diane liberou mais de seu Ether, que começou a rodar em sua perna como um redemoinho, e assim que sua prancha tocou na água, uma corrente de ar cíclica, como um tornado turbinado, apareceu atrás da prancha, fazendo-a disparar para frente. Dante percebeu a desvantagem em que havia ficado e que iria perder. Assim, ele começou a olhar ao redor, quando percebeu algumas Aeriel passando:
– Ei! Vamos fazer um contrato! Me ajudem a terminar essa corrida e eu pago com meu Ether e sangue!
As Aeriel, com os olhos vermelhos, se reuniram à sua volta, seu Ether começou a ser consumido, e assim elas criaram um tornado de ar que o impulsionava também.
– Mas o que é aquilo?
Beatrice, assistindo tudo enquanto corria junto de Love, Anna e Levy, perguntava.
– Aquilo foi um contrato temporário. É possível fazer contrato com fadas se você realizar uma troca, claro. Nem todos são capazes de fazer esses contratos, e também depende muito se a fada vai querer ou não aceitar, mas, se fizer, você normalmente vira a bateria⁸ da fada, que usa seus feitiços a seu benefício usando seu Ether.
Levy explicava.
– Maldito! Vai mesmo me ignorar?! Ahhhh!!!
Kai, irritado, pensava em se teleportar, mas se irritava sabendo que seria trapaça.
Assim, a corrida continuava enquanto eles continuavam a atravessar o labirinto, aproximando-se da linha de chegada.
– Foi mal, Dante, mas essa vai ser minha!
– Vai sonhando!
Os dois continuavam sorrindo mesmo se provocando, como se quisessem zombar ainda mais. Mesmo com ele colado, Diane não parava de fazer acrobacias difíceis enquanto competia, sabendo que um deslize poderia significar a derrota.
E assim faltavam poucos metros. Todos começaram a gritar, prontos para ver quem seria o ganhador. Eles se encaravam uma última vez antes de focar tudo em ir mais rápido, quando, de repente, uma foca atravessou os dois e conseguiu a vitória antes deles.
– Só pode ser brincadeira!
– Hahahaha!
Dante ficava sem acreditar, enquanto Diane ria, escorregando de sua prancha e caindo na água.
Kai, que chegava depois, zombava de Dante, que havia só sentado em sua prancha, sem acreditar. Quando, de repente, por baixo de sua prancha, Diane o derrubou na água.
– Hahahaha!
Dante, se levantando com a cara séria, encarava-a, até que começou a rir também.
Ao chegarem na linha de chegada, Love, Bea, Anna e Levy percebem logo de cara o resultado. Bea continuava encarando a foca.
“Então ela também conta como competidora?”
Quando, de repente, a foca sai da água e se transforma em uma mulher carregando uma pele de foca.
– O quê?
– Ah, aquilo é uma selkie.
Explicou Love.
– Então aquilo também é uma fada…
Enquanto isso, Anna observava Dante e Diane se divertindo na água.
– Quem é aquela?
– Aquela? É a Diane. Era a melhor amiga do Dante. Eles se conheceram durante o tempo em que ele viveu em Elysium, se não me engano, e sempre ficavam arranjando confusão durante as reuniões de família.
– Então ela também é uma Scarlune…
Anna murmurava, mastigando outra rosquinha.
– Espera! Sinto que a gente esqueceu de alguma coisa!
Anna falava com uma cara assustada.
– O quê?
E todos respondiam meio surpresos.
– Não consigo lembrar.
– Se não lembra, não deve ser tão importante.
Levy respondia.
– Acho que tem razão.
Enquanto isso, em algum lugar afastado da cidade, em um dos córregos, completamente perdida e sozinha, Mio boiava em sua prancha.
– Será que eles se perderam?
Parte 9
Algumas horas se passam e, finalmente, eles chegam à mansão Winchester, onde passam a noite. As horas passam, e o grupo se divide. A eleição dos Scarlune funciona de uma forma complexa, o que faz com que dure alguns dias, forçando os líderes de cada casa a ficarem presos na mansão até que as eleições acabem.
Sistema de Eleição de Liderança Familiar Scarlune
Fase 1: Período de Votação Aberta (Duração: 5 dias)
Elegibilidade para Votar: Todos os membros da família (mais de 1200) têm direito a um voto.
Elegibilidade para Ser Votado: Qualquer membro da família pode receber votos. Não há necessidade de candidatura formal, refletindo a falta de desejo geral pela posição. No entanto, a elegibilidade final para assumir o cargo dependerá da regra genética.
Processo de Votação:
A votação ocorrerá ao longo de 5 dias para garantir que todos os membros tenham tempo hábil para participar.
O método de votação é simples e seguro: os líderes de cada casa realizam um contrato com Clíodhna, a Rainha das Fadas de Munster¹, que usa suas servas, dividindo-as e enviando-as para cada membro da família. Elas são capazes de detectar mentiras ou se sua vontade está sendo influenciada por algo externo, impedindo qualquer fraude.
Cada membro vota em um único membro da família que acredita ser o mais apto (ou menos inapto, dada a relutância geral) para a liderança.
Fase 2: Contagem dos Votos e Identificação do Mais Votado
Apuração: Ao final dos 5 dias, os votos são contados por um comitê neutro, composto por alguns moradores da cidade de confiança sem relação com a família, ainda sob contrato com a Clíodhna para impedir manipulações nos votos.
Resultado Preliminar: Os membros da família que receberem o maior número de votos são identificados como os "Candidatos-Chave"².
Fase 3: Verificação da Elegibilidade Genética
Regra Fundamental: Os candidatos-Chave devem passar por uma verificação para confirmar se possuem o mínimo de 3 "genes diferentes", conforme a regra do primeiro líder.
Processo de Verificação: Usando uma enorme máquina criada pela família, os Candidatos-Chave terão uma parte de seus ossos perfurada para que uma amostra da medula óssea seja retirada para análise, confirmando todo o padrão genético Scarlune. Este é o único teste com taxa de 80% de exatidão.
Resultado da Verificação:
Aprovado: Se o Candidato-Chave cumpre o requisito dos 3 genes, ele avança para a Fase 4.
Reprovado: Agora, se algum deles não cumpre o requisito, ele será desclassificado da corrida pela liderança. O processo então retorna à Fase 1. Este ciclo continua até que pelo menos 5 membros da família (com 3+ genes) sejam identificados.
Fase 4: Voto de Confiança dos Líderes de Casa
O Colegiado: Os 11 líderes das casas formam um conselho para aprovar e escolher um dos candidatos-Chave.
O Voto: Os 11 líderes de casa realizam uma votação formal para dar (ou negar) seu voto de confiança.
Quórum de Aprovação: O candidato precisa receber um mínimo de 6 votos de confiança ("Sim" / "Aprovo") dos 11 líderes de casa para ser confirmado como o novo Líder Principal da Família.
Resultado do Voto de Confiança:
Aprovado (6+ votos): O candidato é oficialmente declarado o novo Líder Principal da Família. Sua liderança começa imediatamente (ou em data definida).
Reprovado (5 ou menos votos): O candidato não recebe a confiança necessária e não se torna o Líder Principal.
Fase 5: Contingências e Cenários Especiais
Candidato Reprovado no Voto de Confiança: Caso todos os candidatos que chegarem a essa fase reprovem, todo o ciclo irá recomeçar em uma nova reunião familiar, escolhida em uma próxima data.
Baixa Motivação: O sistema acomoda a baixa motivação, pois ninguém precisa se candidatar ativamente. A responsabilidade recai sobre a família para votar e sobre os líderes de casa para confirmar, mesmo que o eleito não deseje o cargo. As restrições (não poder sair da cidade/mansão) são um fardo conhecido do cargo.
Durante as eleições desta geração, vários problemas aconteceram, o que fez com que todo o processo atrasasse. A morte do último líder veio em um momento extremamente inoportuno, antes que o novo líder da Terceira Casa fosse escolhido. E, ainda por cima, junto com o líder principal, vários líderes de casa também morreram em um evento separado.
Isso fez com que, antes que as eleições pudessem acontecer, novos líderes para cada casa precisassem ser escolhidos – algo que normalmente era decidido pelo líder principal. Vendo todos esses empecilhos, Love acabou ficando com a responsabilidade de gerenciar a família e decidir como deveriam proceder até a escolha de um líder. O que atrasou as eleições até que os novos líderes de cada casa fossem escolhidos.
E, para complicar ainda mais, assim que finalmente tudo estava pronto, houve diversas discussões entre os líderes das famílias, que simplesmente não conseguiam entrar em um consenso geral para decidir quem deveria ser o novo líder. Por conta disso, as eleições foram refeitas várias vezes, até chegar à atual.
Parte 10
Ao acordar, Dante se viu naquele antigo quarto da mansão, o mesmo quarto em que vivia quando criança. Memórias boas e ruins vinham à sua cabeça, mas não o incomodavam, fazendo-o pensar que essa fragmentação de sua mente também tinha seus benefícios. Assim, ele se levantou e, quando olhou para frente, ficou confuso com a visão à sua frente: estavam duas mulheres. Uma era mais nova e parecia ter a sua idade; a outra, apesar de parecer jovem, exalava um ar maduro, provavelmente na casa dos 30 anos.
Dante começou a encarar em volta, pensando se elas estavam ali para buscar alguma coisa. Mas, vendo que elas não paravam de encará-lo, percebeu que era algo com ele. Assim, analisou sua situação, encarou-as e, vendo as roupas de empregada, entendeu que elas estavam ali para arrumar o quarto, provavelmente.
– Ah, tá tudo bem, eu já, já vou sair do quarto assim que me trocar.
Dante falava, tentando fazê-las sair para poder se trocar.
– Entendo. Como o senhor achar melhor.
A empregada de cabelos brancos, roupa de empregada inglesa, falava, enquanto a garota ao seu lado, usando uma roupa de empregada francesa, balançava sua cabeça como se concordasse.
Dante continuava encarando-as, esperando que saíssem, mas notava que elas não davam um passo sequer.
– Então… eu não quero incomodar nem nada, eu me troco depressa, então…
– O- o… o senhor não é nenhum incômodo. Pode demorar o tempo que achar melhor.
A garota mais jovem, de maria-chiquinha, falou meio envergonhada.
“Tá, acho que não estamos em sintonia.”
Dante pensava, analisando sua situação.
– Só para confirmar, vocês são…?
– Ah, onde estão meus modos! Meu nome é Belltrylis, mas pode só me chamar de Bel. E essa é minha colega, Alana. A partir de hoje começaremos nossos trabalhos como suas empregadas.
Belltrylis, a mais velha, falava calmamente, curvando-se um pouco, levantando a saia de forma cortês. Alana, percebendo que estava atrasada, tentava copiá-la, mas levantava a saia um pouco demais, mostrando o que não devia e abaixando-a às pressas, envergonhada. Mas Dante nem havia percebido, pois, ao escutar o que Bel havia falado, sua cabeça acabou viajando para tão longe que desligou por completo seus sentidos.
– Calma, calma, calma! Mas que papo é esse?!
– Como eu havia dito, a partir de hoje…
– Eu escutei, é que… Ah, droga! Com certeza o Love está envolvido nisso!
Dante começou a se esticar, saindo da cama e caindo, lembrando que estava nu. Ele se cobriu rapidamente com os lençóis, também envergonhado, olhando para as duas, confirmando se elas haviam visto algo. Ao encará-las, enquanto Bel mantinha sua postura madura e calma, anotando algo em um bloco de notas em suas mãos, Alana, ao lado dela, virava o rosto completamente vermelho, envergonhada, parecendo ter visto algo.
– Ah… então eu…
Dante tentava falar algo, mas a vergonha não o deixava.
– Não precisa se preocupar com a nossa presença. Pode continuar.
Bel falava, agindo normalmente.
– Não é que eu estou sem roupa porque…
– Não precisa explicar também. Na realidade, eu entendo perfeitamente. Na realidade, eu mesma tinha feito algumas pesquisas e descobri que dormir sem roupas traz bastantes benefícios.
Alana, ao lado, parecendo interessada na conversa, olhou para ela.
– Isso é verdade?
– Sim, eu pesquisei bastante e descobri que dormir sem roupa melhora a qualidade do sono, beneficia a saúde da pele, ajuda na regulação do metabolismo e melhora a autoestima e o conforto com o corpo.
– Oh, dessa eu não sabia… pode até mesmo ajudar na autoestima…
Alana murmurava para si mesma.
– Por isso eu até te recomendo começar a fazer isso, Alana. Eu mesma costumo dormir completamente nua hoje em dia.
Dante, que observava e escutava tudo completamente envergonhado, se perguntava como a situação havia chegado naquele ponto, mas após escutar a última parte, encarou rapidamente Bel e começou a imaginar como deveria ser, encarando diretamente os seios enormes de Bel. Ficou ainda mais vermelho e bateu sua cabeça na pilastra da cama.
– Por favor, será que poderiam sair para eu me trocar por um momento?
Dante falava com uma lágrima saindo do olho e a testa vermelha do golpe.
– Poderíamos, mas acho isso pouco produtivo. Estamos aqui para observar como o senhor gosta de se trocar, aprender seus padrões para poder trocá-lo durante as próximas manhãs e assim agilizar seu dia.
– Para fazer o quê?! Observar o quê?!
– Não precisa se preocupar com os detalhes, por favor, prossiga.
Dante ficava ainda mais vermelho, vendo que elas realmente não tinham pretensão de sair, e sua cabeça começava a girar, percebendo o quão focada Bel estava enquanto o encarava segurando um bloco de notas. E mesmo Alana, que estava com vergonha e vermelha, também observava tudo pelo canto do olho, provando que também não iria sair dali. Dante teve que pensar bastante, decidindo internamente o que deveria fazer, sabendo que essa situação não se resolveria até ele sair da cama. Assim, respirando profundamente, ele tomou coragem e se levantou, indo em direção ao armário. Seu rosto estava tão vermelho e sua cabeça tão tonta que ele se impressionava de não desmaiar a cada passo. E quando ele começou a procurar suas roupas no armário, acabou escutando:
– Entendo… Então o Mestre Dante deve estar naquela idade. Realmente, ser observado nu por duas jovens damas ou me imaginar sem roupa deve ter sido muito estimulante para ele.
Bel murmurava enquanto escrevia em seu bloco de notas.
Dante começou a se perguntar por que ela dizia isso, quando percebeu Alana tão envergonhada que parecia que iria desmaiar também. E quando ele começou a olhar para si mesmo, percebendo finalmente que não havia sido somente ele quem havia resolvido levantar.
– LOVE, SEU MALDITO! EU NÃO POSSO MAIS ME CASAR!!!
Parte 11
Descendo as escadas, Dante acaba se encontrando com um rosto conhecido enquanto procurava por Love.
– Espera, como? Vivian?! Você não tinha morrido?
Dante falava, encarando Vivian, que caminhava saindo da cozinha.
– Sério isso, maninho? Será que não pode colocar um pouco mais de preocupação na voz, pelo menos?
– Pensando bem, você parece um pouco diferente também.
Dante observava, percebendo as mudanças em Vivian; a mesma parecia maior e um pouco mais velha, seus cabelos agora estavam brancos também.
– Eu acabei exagerando naquela luta e usei poder demais, também. Quase morri, como você mesmo disse.
– E aí acabou desse jeito… Ah, entendi! Jogaram você na fonte.
– Pois é. Só descobri quando recobrei a consciência. Parece que foi o maninho Blade que me trouxe.
– E por isso que as informações sobre você só não existiam por lugar nenhum! Ocultaram tudo para não explicarem que você foi trazida para cá para um tratamento ainda melhor que o do próprio colégio, já que poderia parecer favoritismo.
– Uhum, nem é algo que nós conseguimos usar quando queremos. Aquelas fadas só deixaram que eu usasse aquilo para poder participar da eleição.
– Mas eu duvido que você sobreviveria de outra forma.
– Mas também tem suas consequências, como pode ver. Eu gostava da minha aparência mais jovem! Eu era bem mais fofa…
– Não tem o que fazer. A Fonte das Fadas recupera o corpo em troca de anos de vida, deixando a pessoa mais velha e comendo parte da sua expectativa de vida.
– Aquela maldita! Assim que eu encontrar com ela de novo, vou garantir matá-la.
– Ou ela garante te matar de vez. Lembre-se que nem o poço pode…
– Eu já sei, não fica me enchendo com isso você também!
Assim, Vivian voltava a morder a maçã em sua mão, observando as garotas atrás de Dante.
– Ha, entendi! Então eles deixaram as suas empregadas começarem a trabalhar.
– Espera, o quê? Você sabe de alguma coisa?
– Vai perguntar para o Love. Eu tenho mais o que fazer. Aproveita que a cozinha passou a manhã toda vazia até agora e vai comer também, antes que os outros levantem e o lugar fique cheio.
Ela falava e saía pela porta da mansão. Dante tentou sair, mas, ao tocar na porta, uma runa apareceu na frente, bloqueando a saída.
– Droga!
– O senhor não pode sair até a reunião dos líderes acabar.
Alana falava atrás dele.
– É, tô sabendo.
Assim, Dante se virou, indo até a sala de reuniões, ainda procurando por Love. Enquanto caminhava, ele passava seus olhos pelas janelas, vendo do outro lado um garoto de cabelos branco e preto saindo de uma das salas às pressas.
– Quem é aquele?
– É o Asriel, um dos líderes de casa, assim como você.
Bel respondia e, logo depois, chegou no ouvido de Alana e murmurou algo.
Dante percebeu, mas deu pouca atenção. Assim, observava ainda pela janela o jardim externo, até ver Beatrice. Ele abriu a janela para perguntar a ela se havia visto Love quando, de repente, começou a escutar algo vindo de fora da janela:
– Os Scarlune deveriam aprender logo uma lição e não deixar os cachorros entrarem dentro de casa. Eles não sabem que esses bichos só sabem fazer bagunça.
Ele olhou à volta e percebeu um grupo de fadas que conversavam entre si, claramente observando Beatrice de longe. Logo ele percebeu o que estava acontecendo. Ele então se preparava para ir até lá, quando é parado por algo:
– Para piorar, tinha que logo ser a ancestral daquele rei maldito…
Dante, então, confuso, parou para escutar.
– Tsk, essas bestas ridículas acham mesmo que uma garota assim pode salvá-los do castigo que demos? Ridículo! Olha como ela é pequena e magrinha, nem parece ter chifres de dragão ou asas! É óbvio, um fracasso como dragão! Hahaha!
As fadas falavam entre si.
– Até quando vão ficar falando aí?
Beatrice respondia.
– O que você quer dizer com isso?
– Que é engraçado! Decidiram se aproximar só para me falar isso, mas têm tanto medo de falar na minha cara que nem se aproximam mais, e fingem estar sussurrando? Deve ser realmente complicado ser tão fracos. Mas o que esperar de uma raça que se origina de mosquitos?
– O que você disse?!
– O quê? Então eu estou errada? Vocês não vêm daquilo? Pequenos bichinhos alados que ficam voando em volta das pessoas e irritando nos contos de fada?
– Hora sua!
Assim, enquanto uma delas parecia se irritar, Beatrice virou-se para ela com a cara fechada e deu um passo para frente. Isso foi o suficiente para desequilibrá-las e fazê-las cair para trás.
– Se têm algo para falar, é melhor falar na minha cara, ou então mantenham a boca fechada, idiotas!
Assim, as fadas se irritaram e começaram a se afastar.
Dante continuava encarando, impressionado, notando que não era necessário intervir quando, de repente, viu algo, ou sentiu que tinha visto. Assim, usou seu Ether em seu olho, aumentando seu campo de visão para ver mais de longe, e assim percebeu que havia lágrimas saindo de Beatrice.
…
E então Love chegou até ele.
– Ei, vamos logo, não temos tempo!
Assim, ele começou a puxá-lo, levando-o até a sala de reunião.
– Peraí! Eu tenho algo para falar com você!
– Isso pode esperar, já estamos atrasados, e ainda tem outros líderes demorando.
Assim, ele levou Dante até uma sala com uma grande mesa retangular com catorze assentos: seis de cada lado e dois nas pontas. Atualmente, dez dos assentos estavam ocupados. Dante se aproximou, e Hiyori chamou sua atenção. Ele foi até ela e sentou ao seu lado.
– Já começamos?
Dante murmurava para ela.
– Ainda não, estamos esperando os outros chegarem.
De repente, um homem, encarando-o, apontou na direção de Dante e então falou:
– Aquele é o filho do Ryu, não é?
O homem alto, musculoso, de pele morena e usando roupas estilosas e ornamentadas, falava. Sua presença era marcante ao ponto de só o falar fazer com que o clima da sala mudasse.
– É verdade, aquele é o Dante.
Do outro lado da mesa, uma mulher de cabelos loiros e olhos azuis, usando uma farda militar, falava, quebrando o clima da sala e o mudando para si novamente. Os dois tinham uma presença esmagadora e gigantesca. Dante sussurrou para Hiyori ao seu lado, perguntando quem eram eles, e ela respondeu, também sussurrando:
– Aqueles são Ozymandias e Bishamon, os atuais líderes da Primeira e Segunda Casa, e os dois Scarlune mais fortes da atual geração.
Dante, escutando aquilo, começou a suar frio. O mesmo, na sua época, já havia ouvido falar sobre ambos os monstros conhecidos como arsenais vivos: a Deusa da Guerra e o Rei dos Reis, dois monstros imparáveis que alcançaram a fama de mais fortes.
– Decidi. Farei desse garoto o novo líder da família.
Ozymandias falava, ainda apontando para Dante.
– O quê?!
Dante se levantou sem entender, enquanto todos encaravam Ozymandias.
– Mas que ideia é essa?
Bishamon falava, observando.
– Qual foi, Bishamon! Achei que você seria a primeira a concordar. Consegue imaginar o quão divertido seria se o próximo rei fosse o filho do Ryu?
– …
A mulher parecia parar e refletir sobre algo, até encarar Dante e assim sorrir:
– Concordo. Acho que seria um futuro interessante.
– EI!
Mas é quando outra parte interrompeu os dois:
– Hum… é isso que só pensar em batalhas e treinos faz com o cérebro das pessoas. Por acaso ficaram idiotas? Vocês não podem decidir isso assim, só porque tiveram vontade!
Heisen falava, sentado de forma educada como sempre, mas revelando seu verdadeiro olhar frio e silencioso, como se chamasse todos os sentados de animais irracionais.
– Sempre direto, não é, Heisen? Hahahaha! Mas o que mais você queria? Você rejeitou a minha ideia de se tornar o líder também.
Ozymandias falava como se ignorasse o desdém no olhar de Heisen, até ficar quieto de repente, encarando-o com um olhar assassino e dizer:
– Mas acha que pode me deter caso eu decida isso?
– Hum, acha que eu teria dificuldades em parar o macaco violento?
Heisen respondia sem hesitar, ainda encarando-o com seu olhar frio e direto.
– Todos vocês, abaixem essa animosidade e calem a boca! É por conta dessas desavenças que a eleição atual está demorando tanto. Vamos logo agilizar isso! Diferente de vocês, eu não tenho tanto tempo assim a perder.
Akira falava, na terceira cadeira da esquerda.
– Eu até concordo com o que você disse, Akira. Eles deveriam mesmo só calar a boca e agilizarem isso. Mas, ainda assim, não me venha com essa de não poder perder tempo. Por acaso a brincadeira de controlar o submundo é tão complicada assim?
– Sim, é bem complicada demais até para você entender, Heitor. Se quiser, posso fazer um desenho explicando.
A animosidade só crescia entre cada um dos Scarlune sentados. Atrás de cada um, havia uma empregada diferente que parecia reagir a cada ação. Dante prestava atenção nisso para conseguir entender alguns comportamentos: pela reação da empregada de Heitor, parecia que essa não era a primeira vez que ele e Akira discutiam, enquanto as de Heisen e Ozymandias se encaravam, mostrando que, mesmo que eles não estivessem discutindo, a intriga entre eles não havia cessado.
– Vamos descomplicar isso e colocar logo o Ozymandias ou a Bishamon como líder. De qualquer jeito, parece que é o que a maioria quer.
Uma mulher morena, de cabelos brancos e orelhas de lobo, falava.
– Pode até ser o voto popular, mas nenhum dos dois nunca ganha mais do que 3 votos entre os líderes das casas, porque sabemos como é a personalidade dos dois.
Heitor respondia a ela.
– Então coloquem logo esse garoto chamado Blade que vocês tanto querem.
A garota continuava.
– Já dissemos, ele não tem o voto da maioria porque todos já sabem que ele não passará no exame de código genético.
Assim, de repente, Love correu de volta para dentro da sala:
– Temos um problema…
– De novo não! Mais alguma coisa para atrasar essa eleição?! O que foi? Alguém fugiu antes de votar?
– Estava procurando por Lorelei para que ela viesse para a reunião… e acabei encontrando o corpo dela morto em seu quarto, junto de sua empregada.
Todos começaram a encará-lo, sem entender direito a situação.
– Espera… Calma… o que você quer dizer com isso?
Heitor perguntava.
– Bom, é difícil de dizer, mas, pelo visto, dentro dessa mansão, uma das atuais 24 pessoas que estão aqui é um Assassino.



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