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The Fall of the Stars: Capítulo 2 - Golpe de Amor Máximo!

  • Foto do escritor: AngelDark
    AngelDark
  • 14 de jul.
  • 41 min de leitura

Volume 4 : Fragmentado


Parte 1 

A garota de saia continuava a saltitar sorrindo, como se estivesse em um parque de diversões. Em nenhum momento ela imaginava, até então, que se divertiria tanto em uma aula. Ela pôde brincar com seu irmão, pôde ver seus amados colegas de turma se esforçarem para vencer desafios complicados, reencontrou uma garota que a irritava e, por fim, pôde assistir a um massacre escolar ao vivo. Foi simplesmente um verdadeiro show, mas o show já havia passado da hora de acabar. Ela não sabia o que poderia acontecer se a brincadeira continuasse assim. Antes que mais alguns de seus "brinquedos" fossem mortos, ela precisava se livrar da criatura que estava os quebrando.

— Você já a encontrou? — Vivian perguntava enquanto dançava sob a luz da lua e das estrelas.

— Não, eu consigo sentir a presença dos dois, mas ainda não achei o paradeiro exato — Mirai comentava.

As duas acabaram juntas após a separação do labirinto. Agora agiam em dupla naquele cenário caótico e reconfigurado: árvores imensas irrompiam por entre paredes de pedra quebradas, vestígios de uma masmorra destruída sob a luz filtrada da lua. Mas enquanto Mirai fazia o trabalho de encontrar Dante ou a misteriosa mulher, concentrada no chão de escombros, Vivian dançava sobre um dos largos galhos acima, relembrando o quanto havia se divertido nesse primeiro dia de aula.

— Afinal, há quanto tempo você sabia sobre nós? — Mirai questionava

— Hum, essa pergunta é séria? O maninho pode não ter percebido porque o trono de deus não estava tão à mostra 20 anos atrás, mas não resta dúvidas de que vocês fediam a membros e, principalmente, cheiravam a crianças do jardim. 

— Eu irei encontrá-los, mas... 

— Eu já sei, não precisa ficar falando. Não tenho interesse em contar a verdade sobre vocês para ninguém, de qualquer forma. Não ganharia nada com isso. Ao invés de perder tempo com isso, me diga: Foi difícil? 

— O quê? —

— Você sabe… matar os seus amigos… 

Ao escutar aquilo, Mirai apenas ficava cabisbaixa e continuava procurando.

— Bom, se não quer dizer, tudo bem. De certa forma, isso também é uma resposta. 

“Eu analisei bem o seu comportamento. Estou perto de descobrir quem você realmente é, então pare de se esconder e vamos brincar” — Vivian pensava enquanto observava o luar surgindo no horizonte e estica sua mão em direção a ele.

— Eu encontrei um deles, o'que vai fazer ?

— Não é óbvio, vamos logo, eu já estou cansada de esperar. 

Parte 2

— Você tá brincando que tudo isso aconteceu enquanto eu não tava? — Luck perguntava.

— E isso porque eu não sou a melhor para te explicar tudo o que estava acontecendo — Mio respondia.

— Ei, Miguel, não dá pra nos teleportar como antes até eles? — Luck se virava em direção à garota.

— Não, esse labirinto é diferente… —

— Entendi... Que droga! Isso não vale, Dante! Só você ficando com a diversão? —

Os quatro avançavam por uma paisagem que desafiava a lógica. O som ensurdecedor de água em queda os guiou até uma vasta clareira cavernosa, onde imensas cachoeiras desabavam de aberturas irregulares no teto distante, perdendo-se em lagos turbulentos abaixo. A névoa fria e úmida pairava no ar, grudando na pele. Mas o elemento mais bizarro eram os destroços urbanos incrustados na cena: diretamente sob o véu trovejante de uma das maiores cachoeiras, como se desafiassem a gravidade e o bom senso, erguiam-se fragmentos colossais de prédios antigos. Não estavam simplesmente caídos; pareciam ter sido violentamente arrancados de suas fundações em algum outro lugar e fincados ali, na vertical, na rocha molhada. 

— Ei, vocês três, não dá para ir mais devagar? — Kaiser, que ia mais lento, falava.

— É você quem tem que ir mais rápido, Kaiser. Se não formos logo, eu vou acabar perdendo a luta — Luck explicava.

— Você não escutou a história dela? Não tem como eles conseguirem vencer aquela mulher do nada quando os prováveis três mais fortes não deram nem chance! Na verdade, quatro, se incluirmos aquele cara lá, o Daemon — Kaiser retrucava. 

— Isso não vai acontecer. Deixa eu te dar um conselho desde já, Kaiser: independente do quanto a aposta seja arriscada, saiba que eu sempre estarei apostando minhas fichas no Dante — Luck afirmava com convicção.

Assim, o grupo continuava, observando o horizonte enquanto caminhavam.

— Eu também tô preocupado com o Kin-chan, a An-chan e o Fumacinha. Eles estavam em péssimas condições quando nos separamos — Mio murmurava.

“Essa An-chan é a Anna?” — Luck pensava.

— Principalmente o Fumacinha. Ele foi atingido em cheio pela coisa que saiu do braço do Dante, e a An-chan disse que aquilo devorava éter — Mio continuava.

— Essa parte aí realmente me chamou a atenção... O que será que ela quis dizer com isso? Eu nunca vi Dante usar esse poder antes — Luck falava.

E agora eu entendi... ela tá chamando o Chuya de Fumacinha.” — Luck revirou os olhos ao perceber.

"O pior é que estamos na black box do professor, então ninguém de fora fica sabendo de nada. Se ao menos Levy conseguisse invadir... seria tudo tão mais simples", Kaiser pensava consigo mesmo.

— Não acho que precise se preocupar tanto, Mio — Luck tentou tranquilizá-la. — O Kintoki e a Anna já demonstraram que são duros na queda. E quanto ao Chuya... bem, ele é do tipo que sempre tem algum truque na manga.

— "Truque na manga" não ajuda muito contra algo que "devora éter" — Kaiser murmurou para si. E a descrição da Mio sobre o poder do Dante... isso é preocupante. Preciso relatar isso para Levy.

— Seja como for, é melhor chegarmos até ele antes de nos preocuparmos. E ainda parece ter uma boa descida até lá embaixo — disse Luck, apontando para baixo, onde a cachoeira principal se dividia, revelando uma série de plataformas rochosas e destroços de metal retorcido que formavam uma espécie de escada improvisada e traiçoeira ao lado do fluxo de água.

— Espere aí, nós nem sabemos se esse é o caminho por onde eles foram! — Kaiser reclamou.

— Então vamos fazer disso uma aposta: aposto que, por aqui, vamos encontrar ao menos um deles.

Antes que Kaiser pudesse protestar sobre a imprudência, Luck já saltava para a primeira plataforma, deslizando levemente na superfície molhada, mas recuperando o equilíbrio com agilidade. Mio, sem hesitar, lançou-se em seguida, com um sorriso no rosto também. Miguel, silenciosa como sempre, seguiu logo atrás, seus movimentos surpreendentemente seguros e precisos sobre o terreno irregular.

— Por que parece que ao meu redor só tem maluco?! — Kaiser gritou, mas sua voz foi parcialmente abafada pelo barulho da queda d'água. Resignado e resmungando, ele começou a descida com mais cautela, testando cada apoio antes de colocar seu peso.

A descida era um desafio vertiginoso. A água pulverizada encharcava suas roupas e tornava cada superfície escorregadia. O barulho era tão intenso que a comunicação se tornou quase impossível, limitada a gestos e gritos curtos. Luck liderava o caminho, usando vigas de metal enferrujadas e blocos de concreto quebrados como degraus, por vezes tendo que saltar vãos consideráveis onde a "escada" desmoronava.

Mio, que havia começado de forma inconsequente, sai saltando e passando à frente dele, seu olhar atento varrendo o ambiente, não apenas procurando o próximo apoio, mas também qualquer sinal dos outros.

Já Miguel se movia com uma graça econômica, parecendo encontrar o caminho mais estável quase instintivamente.

Kaiser, por sua vez, vinha atrás, amaldiçoando cada pedra solta e cada rajada de vento úmido. "Droga, não era para ser assim logo no primeiro dia de aula! Por que eu vim parar logo na turma -13?", pensou ele amargamente, agarrando-se a uma saliência rochosa enquanto seus pés escorregavam momentaneamente.

Após o que pareceu uma eternidade de tensão e esforço, o rugido da cachoeira começou a diminuir ligeiramente, substituído pelo som borbulhante do lago lá embaixo. Finalmente, Luck saltou os últimos metros, aterrissando com um baque surdo na margem rochosa e enevoada que circundava o lago turbulento na base da caverna.

— Ah, cheguei primeiro! — disse Luck, tendo roubado o primeiro lugar de Mio.

— Droga, Lu! Isso é trapaça! Eu achei que você não estava correndo! — reclamou Mio, chegando junto de Miguel logo depois.

Enquanto isso, Kaiser, o último e o que mais estava prestando atenção à sua volta, escorregou em uma das partes molhadas da escada e caiu, caindo diretamente no lago subterrâneo abaixo e sendo arrastado pela correnteza.

O ar aqui embaixo era ainda mais frio e úmido, carregado com o cheiro de pedra molhada e ozônio.

Enquanto seus olhos se ajustavam à penumbra e ao caos aquático, algo chamou a atenção de Miguel. Ali, parcialmente escondida pela cortina de água mais fina e pela névoa persistente, havia uma abertura. Não parecia natural. Tinha contornos estranhamente regulares, como uma porta gigantesca ou a entrada de um túnel, esculpida diretamente na rocha sólida. Era escura e profunda, e dela vinha uma corrente de ar perceptivelmente mais seca, trazendo um leve odor de floresta, de ar fresco e árvores.

— E lá vamos nós! — disse Luck, começando a adentrar o local, seguido pelos demais.

— Let's Go! — responderam as duas, seguindo-o.

— Sério que vão me ignorar?! — gritou Kaiser, nadando para a superfície e tentando escapar da correnteza.

Parte 3

Enquanto caminhava ao lado de Yuki, Dante tentava lembrar mais sobre aquele cenário em sua mente, sentindo que havia perdido alguma coisa.

“Se o meu ‘outro eu’ estava sempre observando tudo do trono… quem era a criatura?”

Quando, de repente, seus olhos focavam nas pessoas que se aproximavam deles à frente.

— Espera! — disse Dante, olhando para a garota atraente de cabelo longo e roupa reveladora à sua frente.

— Pervertito — disse Ludimilla, que se aproximava, encarando-o.

— Por favor, não comece com isso, você também, ou eu vou enlouquecer!

— Ah, então sua perversão já chegou até os outros membros da turma...? — disse Yuki, sorrindo da situação.

— Claro, ele não esconde como sua mente é pervertida, aí foi fácil perceber! — acrescentou Ludmilla.

— Por favor, chega disso! Eu não aguento mais!

— Hum, interessante... Mesmo dizendo isso, você parece ter acelerado os batimentos cardíacos e parece bem mais feliz agora que se encontrou com ela. Ser humilhado te anima tanto assim? Quem diria que, além de pervertido, você seria um porco masoquista! — Yuki falou com os olhos cheios de julgamento

— Aí já está exagerando! Por favor, eu peço, senão eu vou acabar chorando de verdade! 

— Elas parecem estar gostando bastante de te assediar sexualmente, hein? Mas parece que você está gostando também — observou Megumi

E quando Dante percebe a garota baixinha de cabelos roxos observando-o, assim ficando completamente vermelho ele se agacha, escondendo o rosto.

— Alguém me enterre logo, por favor… Eu não posso mais me casar… — disse Dante, chorando no chão.

— Não diga isso! Desse jeito, o mundo perderá uma ótima esposa! — disse Ludmilla, rindo. 

— Por que isso de novo…?

Assim, o grupo começou a conversar seriamente. Dante explicou sobre o que havia acontecido. Nenhum deles parecia saber exatamente quem era a mulher misteriosa, mas Megumi, a garota de cabelos roxos, explicou que sentiu que a mulher era perigosa pelo jeito que Ryunosuke havia avisado sobre ela. Além disso, ela também sentia que aquilo que os moveu de lugar no último instante havia sido Ryunosuke. Isso confirmou o que todo mundo já havia teorizado, por causa do éter que sentiram antes do teleporte.

— Bom, sendo assim, acho que já sabemos o que devemos fazer a seguir! — disse Ludmilla, enquanto todos a observavam, confusos.

— Vamos acabar com essa mulher esquisita e voltar para a missão!

— Falando assim, faz até parecer fácil... — disse Dante.

— Não é questão de ser fácil. É só que, se desistirmos, é aí que não iremos vencer — retrucou Ludmilla.

— Eu concordo. Também estava pensando em lutar — disse Yuki.

Megumi concordou, balançando a cabeça.

— Bom, então vamos bolar o plano — concluiu Ludmilla.

Enquanto caminhavam e discutiam o plano, tentando entender os poderes da misteriosa mulher, eles vasculharam o local a que haviam chegado. Enquanto se dirigiam à saída, perceberam que era como uma estranha cidade de cogumelos dentro daquela floresta secreta no subterrâneo.

Ludimilla parou por um instante, batendo o punho fechado contra o caule grosso e esponjoso de um cogumelo gigante que pulsava com uma suave luminescência azulada. O caule absorveu o impacto sem ceder.

— Certo, o plano é o seguinte — começou ela, a voz ecoando levemente na clareira subterrânea. — Dante, você vai ser a isca.

— Eu já imaginava que seria assim, mas não gostei nem um pouco de ouvir isso — reclamou Dante, chutando uma pedra solta que rolou e bateu em outro cogumelo menor, fazendo-o soltar uma nuvem de esporos brilhantes. — Esse lugar parece até ter saído de um jogo de encanador…

Ignorando a última parte, Ludmilla continuou:

— Parece que você é o prêmio que ela quer. Vamos usar isso. — Ludmilla deu de ombros. — Enquanto ela foca em você, o resto de nós cuida dos problemas secundários. Yuki, Megumi, vocês ficam com os monstros que ela vai gerar.

Yuki assentiu, os olhos analisando os arredores.

— Entendi. Alguma informação extra sobre eles, Isca?

Dante coçou a nuca, olhando para as sombras entre os cogumelos gigantes.

— Tem um em particular... um que parece um dragão zumbi, com uma grande galhada na cabeça. Eu não sei bem como funciona, mas ele é capaz de mudar completamente o ambiente ao redor.

— Mudar o ambiente... — Megumi murmurou, sua primeira fala desde a explicação anterior. Ela tocou a superfície úmida de um cogumelo próximo, seus dedos traçando os padrões luminosos. — Isso pode ser... problemático ou útil. Precisamos neutralizá-lo rápido, antes que ele nos coloque em um terreno desfavorável, ou impedi-lo de rugir.

— Impedir de rugir? Como fazemos isso? — perguntou Yuki, com olhar sério, enquanto testava a firmeza de uma plataforma de micélio endurecido que servia de ponte entre duas 'construções' de cogumelos.

— Mais alguém cansou de tanto cogumelo? — reclamou Dante ao fundo.

— O mais simples é bater muito forte e muito rápido antes que ele tenha chance — Ludimilla sugeriu, estalando os nós dos dedos. — O que me leva à parte principal: eu cuido da mulher.

— Se for fazer isso, Ludmilla... — Dante interveio, sério novamente. — Vai precisar usar a tática do Kai e do Kintoki. Você vai ter que desligar seus sentidos. Parece que, se você sentir a presença dela, acaba imobilizado.

Ludimilla sorriu, um brilho de desafio nos olhos.

— Desligar os sentidos? Confiar só no instinto de batalha? Parece divertido. Sem problemas.

Ela se virou e começou a andar novamente, seguindo um caminho que serpenteava entre caules colossais, parecendo raízes de árvores alienígenas.

— Vamos continuar explorando enquanto finalizamos os detalhes. Precisamos conhecer bem este lugar se vamos usá-lo.

Assim, após discutir tudo, eles decidiram usar aquele lugar como campo de batalha. Por isso, exploraram todo o lugar para conhecê-lo bem antes de se reunirem novamente em torno de uma fogueira que haviam feito. Os primeiros a chegar foram Ludmilla e Dante.

— Ei, tem uma coisa que eu queria muito perguntar... — Dante falava meio receoso.

— Fala — respondeu Ludmilla.

— Como você consegue ser tão forte?

— Forte? Você está errado.

— Como assim?

— Eu não sou forte... eu ainda sou muito fraca, justamente por isso preciso ficar ainda mais forte.

— Incrível... A última coisa que eu te chamaria é fraca.

— O mesmo vale para você, eu não acho que alguém que se moveu daquela forma contra a tal da Layla seja fraco.

— ... Eu sou sim. Eu não consigo superar os meus traumas, não consigo ser como ela e aceitar tudo o que aconteceu.

— E qual o problema disso?

— Como assim?

— Desde quando somos obrigados a superar nossos problemas? Cada um tem forças diferentes, sentimos dores diferentes. Às vezes, o que você chama de trauma dói em você de uma maneira diferente do que em Layla. Só porque você não é capaz de superar não quer dizer que você seja fraco.

— Mas eu não posso continuar assim. Não posso ficar mais forte se isso continuar me freando.

— Então não deixe isso te frear.

— Como?

— Continue carregando isso consigo, leve essa dor, aceite-a e não tente esquecê-la. Para mim, os fortes de verdade não são aqueles que superaram seus problemas e dores, mas sim aqueles que, mesmo sentindo dor, conseguem continuar seguindo em frente.

— Mesmo que doa?

— Tem que doer. É a única forma de saber que realmente importou.

Dante percebeu que aquelas não eram apenas palavras e conselhos de um espectador. Ludmilla, enquanto falava aquilo, havia mudado. Sua expressão estava muito mais séria, e parecia ter alguma espécie de dor escondida em seus olhos, mas essa dor estava no fundo de um muro de gelo, uma máscara que ela normalmente usava.

— Não tem jeito, você é realmente incrível.

— Não adianta ficar me elogiando assim, pervertido — ela disse, sorrindo, enquanto o observava.

Notando como ele estava sozinho, ela começou a ter uma imagem clara de si mesma em um local frio e nevando, no meio da noite, em frente a uma fogueira. Assim, sem falar nada, foi até ele, sentou-se ao seu lado e apoiou-se em seu ombro.

— O quê...? — Dante se assustou, confuso.

Mas, observando a expressão dela, ele só ignorou e ficou observando as chamas, refletindo sobre o que ela havia dito. Assim, ele fechou seus olhos, mentalizando o local onde seu outro eu estava, dentro de si, em seu trono.

"Então eu tenho que aprender a carregar você comigo, né?"

Parte 4

— Anda logo! Ele está aqui embaixo, precisamos chegar até ele o quanto antes.

— Ah, claro, eu tô indo!

“E novamente estamos aqui. Como? Parece meio repetitivo, mas, direi de novo: óbvio que eu não faço a menor ideia.”

Agora, no topo da cachoeira, prontos para descer as escadas, estavam Anna e Daiki, que haviam se reunido anteriormente após a separação de todos.

“Alô, ADM? Preciso relatar que o seu jogo tá apresentando alguns erros, hein?! Não é pra falar nada, mas acontece que um NPC parece estar se envolvendo na ‘Main Quest’ por algum motivo, e eu não tô gostando nada disso.”

Saltando pelas escadas com o coração na mão, Daiki avançava seguindo Anna.

“Sinceramente, como eu vim parar aqui? Eu apenas saí andando por aí quando percebi que tinha ficado sozinho. Quando encontrei essa garota, pensei em avisá-la sobre o que o professor havia dito, mas, do nada, ela me chamou para ir com ela atrás do tal Dante. Mas, pelo que ela disse, parece que ele é o alvo do ‘boss’, né?! Isso aqui é, obviamente, a história principal em que um ‘mob’ como eu não deveria se envolver.”

— Ei! — disse Anna, parando e olhando para trás.

— Oi!

“Droga, saiu mais alto do que eu pensei.”

— É que... à primeira vista, você não parece tão forte. Será que...?

Daiki começou a suar frio, observando-a, pensando se ela perceberia a verdade.

— Esquece, deve ser só impressão minha. Para você ter sobrevivido tanto tempo nesse labirinto, mesmo sem encontrar a mulher, você deve ser bem forte.

— Ha ha... deve ser isso mesmo.

Daiki continuou andando, com lágrimas nos olhos, percebendo que o mal-entendido continuava.

“Espera aí! Será que essa, na realidade, não é minha chance? Se o tal do Dante é o alvo principal da mulher, a última coisa que eles devem querer é que ele se encontre com ela... Então, se eu ficar junto dele, me escondendo na sombra dele de ‘main character’, com certeza vou passar o resto do tempo sem nenhum problema.”

Daiki saltou os últimos degraus, sorrindo confiante, e olhou para Anna.

— Melhor nos apressarmos, senhorita! Estou preocupado com seu amigo.

Disse ele, fazendo um sinal de 'joinha' e com um sorriso confiante no rosto. 

— É... verdade.

“Acho que não preciso me preocupar. Do jeito que ele está agindo, deve ter algum segredo e estar escondendo seu verdadeiro poder ou algo assim... e, logo, eu não deveria julgar os outros.”

Anna pensou isso enquanto começava a correr pela entrada da caverna, quando, de repente, ambos escutaram um forte estrondo vindo de cima.

De cima da cachoeira, agora, duas novas forças tinham acabado de chegar. Voando em sua tesoura, Vivian observava de cima a mulher no chão, que a observava de volta.

— Agora você é minha inimiga.

De repente, uma runa celta apareceu no corpo da mulher, que não entendeu. Assim, ela parou de esconder seu éter e, finalmente, todos que estavam perto sentiram sua presença. No entanto, aqueles que já sabiam sobre o truque rapidamente pararam de senti-la.

— Parece que você realmente estava certa, Beatrice. Parece que é assim que o poder dela funciona.

Assim, Vivian saltou, parando na frente da mulher.

— Se quiser ir adiante, vai ter que passar por mim.

Nesse momento, uma criatura saiu da sombra da mulher e acertou Vivian, lançando-a para trás em alta velocidade. A criatura possuía uma silhueta sombria e agourenta, uma postura curvada e membros esguios e finos, apoiando-se sobre patas que terminavam em dedos longos e afilados, tanto nas dianteiras quanto nas traseiras. 

Assim, Vivian se levantou e, controlando sua tesoura, acertou a criatura enquanto corria na direção da mulher mais uma vez. Só que árvores acertaram o estômago, perfurando o corpo de Vivian. De repente, outra runa celta apareceu no corpo da mulher, que ficou sem entender.

Assim, sorrindo, ela cuspiu sangue no olho da mulher, que o fechou a fazendo não perceber que outra runa havia aparecido. Enquanto controlava a tesoura, Vivian a fez voltar e cortar o tronco, saindo dele e começando a se curar. Ela novamente avançou na mulher, mas agora, de sua sombra, saiu o enorme dragão com galhadas na cabeça, cuspindo chamas negras. Vivian foi jogada para trás enquanto a mulher subia no dragão, atropelava Vivian e começava a descer pela cachoeira, fazendo Vivian colidir com as estruturas e as paredes da caverna até lançá-la completamente no chão com outra baforada de fogo. Assim, quando pousou, Daiki e Anna encararam, sem acreditar, a mulher que havia chegado montada no dragão.

A mulher mudou seu campo de visão até a entrada da torre quando, de repente, Vivian fez sua tesoura atravessar o corpo do dragão por baixo, acertando a mulher em cima e lançando-a até os céus.

— Vamos lá! Estamos só começando! Hahahahaha!

Mergulhada no sangue, a transformação se desfez, revelando assim sua verdadeira aparência como vampira louca de cabelos brancos e olhar aterrorizante.

Assim, Vivian olhou ao redor e entendeu a situação.

— DAIKI! LEVE ESSA GAROTA ATÉ MEU IRMÃO E TIRE-O DAQUI POR OUTRA PASSAGEM!

A garota gritava, sem saber que, alguns instantes antes, quando ela e a mulher tinham chegado, no momento em que ele virou seu rosto para trás, Daiki havia congelado e desmaia de medo, ficando completamente imóvel em uma pose incrível, como se estivesse analisando as habilidades do oponente enquanto ainda ria, confiante.

Mas, para sorte de Daiki, aquele grito acabou ativando a parte de seu cérebro que havia congelado. Assim, o mesmo, vendo Vivian, mas sem a reconhecer e acreditando que ela era um monstro, ativou sua covardia ao máximo, correndo o mais rápido possível para dentro da caverna, sem pensar duas vezes.

“Incrível! Ele conseguiu entender a ordem dela e, sabendo que eu podia acompanhá-lo, foi na frente sem hesitar ou pedir por mais detalhes!”

Anna pensava enquanto corria.

— Bom, parece que ele não estava mentindo, no fim das contas. Ele realmente não paralisou mesmo na frente dela agora há pouco.

Vivian murmurava para si, observando o céu e esperando o retorno da mulher.

— Você... você me incomoda profundamente.

A mulher falava, caindo.

Ouvindo aquilo, Vivian sorriu e saltou para o céu.

O dragão se regenera e rugia, e logo todo o interior daquela caverna mudou.

Enquanto a batalha acontecia e o campo de batalha mudava, observando aquilo sem entender, o cérebro de Daiki ativou-se além do limite, ao ponto de apagar. Chegando a um ápice de medo tão grande que ele corria, corria, sem nem mesmo pensar ou considerar para onde estava indo, apenas correndo em frente. O mesmo estava tão rápido que passou em segundos por Luck, Kaiser, Mio e Miguel, sem nem perceber os quatro.

— Mas o que foi aquilo?

Luck perguntava, olhando em frente.

— Sei lá...

Mio respondia.

E quando Anna chegou:

— Espera, vocês também estão aqui?

— An-chan!

Assim, Anna explicou tudo que estava acontecendo e disse que, se eles quisessem evitar a batalha, deveriam ir também. Assim, começaram a correr, mas somente Miguel continuou. Enquanto isso, os outros ficaram ali parados, como se esperassem. Mas, no momento em que Miguel e Anna começaram a correr, todo o lugar à volta deles mudou para uma floresta densa.

— Droga! Demorei demais explicando. Tenho que ir mais rápido.

Assim, ela começou a correr, enquanto os demais, parados, aguardavam o inimigo, concentrados. Mas, mesmo com todos focados, por conta disso, paralisam e começam a se ajoelhar assim que ela se aproxima. Mas, nesse instante, atravessando tudo em uma velocidade sobrenatural, Vivian a alcançou e desferiu um chute forte o suficiente para lançá-la de volta para o começo, enquanto cortava a asa do dragão para derrubá-lo. Assim, coberta de hematomas, machucada e coberta de sangue, Vivian gritava:

— Escutem, estorvos! Eu não tenho tempo! Se quiserem participar, não atrapalhem e desliguem sua capacidade sensorial para poderem se mover!

Vivian gritou aquilo, vazando uma intenção assassina tão grande que todos entenderam. Assim, o dragão levantou, mas, ao redor deles, mais monstros estranhos começaram a surgir, assim como alguns saindo do chão, prendendo-os onde estavam. De repente, o dragão cuspiu seu fogo, mas, cobrindo os punhos com chamas azuis, Luck absorveu as chamas do dragão, saltou na direção dele e começou a socá-lo. Kaiser puxou seu arco elétrico e começou a mirar no olho da criatura, enquanto Mio, transformando sua perna em uma lâmina, começou a cortar as criaturas ao redor, tentando impedi-los de se locomover.

— Isso! Continuem sendo úteis, brinquedos!

Após murmurar isso para si mesma, Vivian disparou na direção da mulher, montada em sua tesoura como skate. Ao chegar nela, abriu sua tesoura em duas e desferiu dois cortes, só para ver, a nova expressão da mulher: dentro de todo aquele incidente, para todos com quem ela lutou (desde Kai, Kintoki, Dante e até Daemon), a mesma continuou com a mesma expressão. Exceto para a garota com a tesoura à sua frente, onde, pela primeira vez, ela mostrou uma feição de pura ira.

— Hahaha! Esqueça! Odeie o quanto quiser! Seu funeral já estava previsto no minuto em que a Sinfonia da Decadência começou.

Assim, ela começou a se levantar. Na hora em que as lâminas iam atingir, barreiras de madeira apareceram. A mulher, então, criou flores que absorviam as partículas de luz do local, deixando tudo escuro, e assim liberou um feixe de luz da flor em sua mão direto em Vivian, que foi jogada com toda a força contra as paredes. Mas, novamente, ela se levantou.

— Não subestime a resistência humana, deusa idiota!

A mulher a encarava, ainda mais irritada.

— Deixa eu adivinhar, pequena divindade: o sangue dos seus machucados não para de correr, né? Seu corpo está mais lento e esse último ataque não foi nem metade do dano que você queria. Aposto que não tem ideia do que está acontecendo.

De repente, uma nova runa apareceu na mulher. Assim, ela correu rápido, chutou a deusa no rosto, rodou e cortou seu corpo com sua tesoura. E mais uma nova runa apareceu.

Habilidade: Sinfonia da Decadência

— Haha! Vamos lá! Estamos só começando! Ainda estamos apenas no começo.

A mulher saltou. De sua sombra, vários corvos feridos saíram. A garota tentou cortá-la no meio da tempestade de corvos, mas ela simplesmente desapareceu.

“Droga! Será que ela foi até o Dante?”

Aquele minuto de vacilo foi tudo que ela precisou para fazer surgir outra criatura enorme, completamente distorcida e incompleta, mas que foi o suficiente para socar Vivian contra a parede do túnel. Mas, no minuto em que isso aconteceu, vários cortes apareceram pela criatura. Ao mesmo tempo, aparecendo atrás dela, ainda mais ferida, estava Vivian, que novamente a atacou. Dessa vez, a mulher sentiu uma descarga elétrica que a desacelerou e, novamente, ela foi cortada pela lâmina da tesoura. E mais runas apareceram.

Agora, a mulher cuspiu um sangue negro perturbador, perdendo as forças e a capacidade de ficar em pé.

— Hahahaha!

Enquanto isso, a batalha contra o dragão prosseguia ferozmente no espaço confinado da caverna. A fera, incapaz de alçar voo com a asa ferida, cuspia violentas rajadas de fogo negro, tentando incinerar tudo ao seu redor.

Luck, com os punhos e antebraços envoltos em chamas azuis vibrantes, movia-se na linha de frente, interceptando as labaredas direcionadas aos seus companheiros, dissipando o calor infernal com seus próprios poderes e respondendo com socos explosivos que ressoavam contra as escamas grossas do monstro.

De uma posição mais afastada, Kaiser mantinha a pressão: seu arco elétrico zumbia a cada disparo, lançando flechas que rasgavam o ar na velocidade do som. Cada projétil buscava os pontos vulneráveis do monstro – os olhos, as juntas das escamas, a ferida na asa –, forçando o dragão a se desviar e interromper seus ataques.

Próximo ao corpo colossal, Mio era um borrão de movimento; transformando suas pernas em lâminas afiadas e os braços em garras resistentes, ela esquivava das patas e da cauda do dragão com agilidade sobre-humana, desferindo cortes profundos e rápidos sempre que uma abertura surgia, rasgando carne e escamas.

Apesar dos golpes incessantes de Luck e Mio, e da saraivada de flechas de Kaiser, o dragão resistia com fúria primitiva. Contudo, o espaço apertado da caverna era seu maior inimigo ali; seus movimentos eram desajeitados, e cada tentativa de ataque mais amplo esbarrava nas paredes rochosas, levantando poeira e lascas de pedra. O equilíbrio tenso persistia, uma dança perigosa entre os caçadores e a fera encurralada.

— Continuem mais um pouco e ele já era! — luck gritava para os demais. 

Enquanto a mulher continuava caída no chão, Vivian já preparava um novo corte com sua tesoura. Quando acertou, mais uma runa apareceu na adversária. Nesse instante, porém, a mulher ficou imóvel; em sua mente, vários pensamentos passavam rapidamente.

Desde que tudo aquilo começara, ela havia mudado. Quando nasceu, acreditava já ter tudo que precisava para salvar este mundo, mas, à medida que vagou por ele, percebeu como estava errada. Os humanos mostraram isso a ela, mais de uma vez. Como Vivian havia dito, ela estava subestimando-os. Havia algo que os diferenciava, algo a que não havia prestado a devida atenção: as tais “Habilidades Shaper”. Os poderes que aqueles humanos possuíam eram, de fato, uma força a se levar em conta. Com eles, os humanos eram capazes de superar suas expectativas, superar seus próprios limites. Mas, se ela também havia nascido como humana, não existia nada que a impedisse de usar esses poderes. Assim, começou a repassar cada detalhe, todos os acontecimentos anteriores, todas as habilidades que viu e sentiu. Usando todo esse conhecimento recém-adquirido, ela criou sua própria habilidade.

Flosculum Noctis Aeternae

De repente, ao pronunciar aquelas palavras, de seu corpo flores negras nunca antes vistas começaram a brotar, espalhando-se também por todo o túnel – chão, árvores e teto. Então, todas elas começaram a desabrochar simultaneamente. As misteriosas flores negras pareciam sugar a luz, mergulhando tudo em uma escuridão densa, como uma noite sem fim. Elas surgiam não apenas nas superfícies, mas também brotavam diretamente no corpo das pessoas e do dragão. Vivian observou, empunhando a tesoura, pronta para atacar mais uma vez, quando sentiu sua mão, que segurava a arma, pender, sem forças. Ela olhou para frente e viu a mulher caminhar em sua direção. Asas negras como as de um anjo, feitas inteiramente de pétalas escuras, surgiam nas costas dela.

Vivian ficou parada, sem saber o que iria acontecer. Um medo sem igual a tomava, mas ela ainda mordia o lábio, numa aceitação desafiadora, pronta a enfrentar e provocar sua inimiga até o fim. Foi quando a mulher se aproximou e, gentilmente, a abraçou, como uma mãe abraçando a filha. Ao se afastar e olhar em seus olhos, a mulher tinha uma expressão de pura gratidão.

— Obrigado.

“Não...”

— Realmente, muito obrigado.

“Não, não, não!”

— Graças a você, eu pude crescer, pude ver mais do mundo. Obrigado por ter me ensinado o que era a raiva e o ódio.

A mulher talvez não soubesse, não fizesse ideia, mas o que Vivian mais odiou naquele momento foi o fato de que sua inimiga simplesmente a havia perdoado. No final, tudo que Vivian fez fora em vão. Ela não foi apenas subestimada; pior que isso, a mulher que ela tanto havia odiado e combatido agora a tratava como algo tão insignificante que simplesmente a deixou para trás e voltou a seguir seu caminho.

— É verdade, eu não contei. Não precisam se preocupar: nenhum de vocês vai morrer! — ela falava com um sorriso enquanto se afastava. — Mesmo quando seus corpos murcharem e definharem, caindo em decadência, vocês não irão morrer, mas sim se tornarão parte de algo maior: a nova floresta silenciosa que continuará a crescer e se expandir. Uma consciência coletiva pacífica, uma forma de vida eterna dentro das flores. Então, não precisam temer: mesmo após morrer, vocês não irão acabar.

A mulher falava aquilo sorrindo para Vivian. Para a mulher, talvez, essa habilidade fosse a maior demonstração de misericórdia, o próprio conceito de vida eterna personificado. Mas para Vivian, ou qualquer outro ser humano que ouvisse aquilo, não haveria outra reação senão o mais puro e completo medo. Mesmo quando seus corpos parassem, mesmo quando suas cinzas deixassem de existir, suas consciências continuariam ali, existindo eternamente aprisionadas em flores – uma prisão eterna e sem escapatória.

Para piorar, diferente das mortes causadas por Vivian anteriormente, ninguém atingido pelas flores se sentia feliz ou confortável. Pelo contrário, eram preenchidos por um frio gélido em seus corações, um medo crescente que se expandia, fazendo-os perceber que já não havia mais escapatória.

Assim, a mulher, caminhando, passou pelo grupo de Luck, Mio e Kaiser sem nem mesmo virar seus olhos para eles, absorta em sua nova felicidade. Ignorou-os ao ponto de retirar as flores de seus corpos para recuperar a energia e ajudar seu dragão. Quando caíram no chão, os três perceberam que estavam completamente esgotados, sem nem um pingo de éter pelo corpo. As flores que brotaram neles, além de sugar seu sangue e força vital – deteriorando e apodrecendo sua carne –, também roubavam seu éter e o usavam para se expandir ainda mais.

“Só pode ser brincadeira… Isso não pode ser sério! Foram apenas alguns segundos e eu não sinto nada...”

Kaiser, o único a manter alguma consciência, pensou, enquanto tentava pegar algo em seu bolso. Ele evitava ao máximo fazer qualquer movimento brusco, sem saber que a mulher, já acariciando seu dragão, estava tão absorta que nem mesmo notara sua tentativa. Assim, ela curou a asa do dragão e alçou voo novamente, seguindo em frente.

Parte 5

Daiki, que vinha correndo, finalmente chegou até a cidade dos cogumelos. Em sua pressa, acabou tropeçando e rolando, mas, antes de parar, conseguiu se posicionar para cair em pé.

— Que chegada triunfal, hein? — Megumi disse, encarando-o.

— Ah! Sim, foi proposital! — Daiki explicou rapidamente.

Nesse momento, Anna e Miguel chegaram.

— Rápido! Temos que sair daqui! Ela está vindo! — Anna alertou.

Assim, Daiki começou a correr novamente, ao se lembrar do motivo pelo qual estava fugindo.

— Relaxem. Nós já planejamos tudo. Mas vocês deveriam se afastar. Aproveite e pegue o Dante e leve-o até lá no fundo, lá atrás. — Ludmilla disse, assumindo o comando.

— Vocês não estão entendendo mesmo! Não tem como vocês vencerem aquilo! — Anna retrucou, desesperado.

— Só tem um jeito de descobrir. — Ludmilla rebateu de forma fria.

— Espera! Como assim, "eu me afastar"? Eu achei que também fosse lutar! — Dante protestou.

— Não seja idiota. Você é a isca para tirar a atenção dela.

— Então, nem pensar!

— Pensei que você diria isso. — Ludmilla respondeu. Dito isso, ela agarrou Dante e o jogou com força para trás, atingindo Daiki, que ainda estava correndo.

— Leve-o com você! O mais longe daqui!

Daiki, sem entender, levantou-se, puxando Dante, que, ainda machucado de sua batalha anterior, não conseguia resistir.

— Vocês deveriam mesmo dar o fora daqui! — Anna disse, enquanto corria até a parte dos fundos, seguindo os dois.

“Adoraria dizer que você está exagerando, mas sinto que algo pior do que eu esperava está se aproximando…” — Ludmilla pensou, observando a entrada.

— Vocês duas! Desativem a percepção, agora! — Ludmilla ordenou a Megumi e yuki.

Então, enquanto esperavam pela chegada iminente, atentos à entrada, o ar começou a esfriar, e a tensão no ambiente aumentava a cada segundo.

Enquanto isso, Daiki, que havia carregado Dante até o fundo, chegou a um beco sem saída e cansou-se a ponto de não conseguir mais se mover, caindo no chão.

— Ei, você está bem? — Dante perguntava, preocupado, mas Daiki, cansado, nem conseguia responder; apenas levantava a mão e fazia um sinal de joia.

— Droga, cara! Você deve ter se esgotado de tanto lutar antes. Só eu ando por aqui sem fazer nada. — Dante fechava o punho. — Seu idiota.

Nisso, Anna finalmente o alcança.

— Você realmente não aprendeu nada?

— Do que você...?

— Idiota, idiota, idiota!

— Tá bom, calma! Eu sou um idiota, mas também não precisa humilhar.

Ela foi até Dante e começou a golpear sua cabeça.

— Ei... se bater leve assim não vai doer, sabia?

— Eu sei bem disso, mas o que mais eu posso fazer? Olha o estado em que você está! Se eu bater de verdade, termino de te mandar para o mundo dos mortos.

— Hahaha!

— Isso lá é hora para rir?

Os dois ficaram se encarando.

— Afinal, quem foi que fez aquilo com você? Quem mexeu com sua cabeça dessa vez?

— Isso não importa.

— É claro que importa! Quando eu achar o responsável, vou fazer questão que ele sinta na pele a dor que eu acabei sentindo.

— Ah, então é uma vingança pessoal, é...?

— Claro. Eu não vou comprar as suas batalhas.

— Hahaha.

Anna continuou encarando-o.

— É sério, está tudo bem. Aquilo foi importante. Fez-me perceber que eu era fraco, não só fisicamente, mas mentalmente. Eu estava ignorando meu passado.

— Você não estava. Seu corpo não aguentou seu trauma, por isso o escondeu de você mesmo, mas isso é porque...

— Eu sei… Alguém me explicou que não é exatamente necessário superar seus traumas, às vezes apenas aprender a conviver com eles… Mas acontece que eu acho que ainda não consigo…

Anna o encarava em silêncio.

— Continua doendo do mesmo jeito que doeu no dia. Continua machucando. Eu sinto que, quando abro a porta e deixo essa dor voltar, é sufocante. Não acho que seja forte o bastante para superar essa porta, nem para ignorá-la e deixá-la aberta. Eu sei que sou fraco, porque tudo que eu consigo é deixá-la fechada.

Anna o olhava, sentindo-se culpada.

— Ei, eu consigo sentir, sim. Não é culpa sua. Sou só eu.

— Ei, será que eu posso me intrometer?

Daiki, que estava quieto no canto, começou a falar, assustando Dante e Anna, que haviam esquecido sua existência até agora pouco.

— Ah, verdade, você estava aqui. Foi mal. Acabou escutando algo estranho, né? Hahaha. — Dante respondeu sem jeito.

— Eu acho que você está olhando da maneira errada — disse Daiki.

— O quê?

— Você disse que não pode superar nem conviver com a dor, mas isso é porque não é apenas uma dor, isso é um trauma. Uma dor que seu corpo não pôde aguentar, por isso ele a escondeu de você mesmo.

Anna e Dante ficaram impressionados com como o homem parecia ter domínio sobre o que falava e escutaram com atenção.

— Escuta, para início de conversa, o fundamento do que você e essas pessoas com quem conversou entenderam deve estar errado. Mesmo que traumas se pareçam, a maioria deles às vezes funciona diferente. Uma memória amarga da qual não gostamos e não queremos lembrar é diferente de uma que nosso cérebro nos força a esquecer.

— Mas eu não posso continuar só esquecendo disso e fingindo que não aconteceu.

— Exato. Você não pode. Deve enfrentar de frente.

— Então...?

— Mas! Ninguém é invencível. Todos sentimos dor. E lembre-se que seu corpo conhece seus limites melhor que você mesmo; ele esquecer não foi sem razão. Ainda assim, deve-se enfrentar isso. Mas superar ou conviver é somente um estágio que você alcança quando, aos poucos, vai tratando e suportando essa dor. Não precisa aceitar tudo de uma vez, não precisa tentar carregar tudo nas costas e melhorar num passe de mágica.

Dante concentrava-se nas palavras do homem, sentindo que havia entendido alguma coisa.

— A primeira coisa que você deve fazer é aceitar o fato de que essas memórias, esses sentimentos, estão lá. Parar de negar, mesmo que ainda não esteja pronto para aceitá-los dentro de si. A caminhada pode ser árdua e longa, mas ela só começa com o primeiro passo.

“Ou pelo menos era isso que diziam meus livros de psicologia” 

Então, Dante percebeu algo: as palavras de Velvet, assim como aquele lugar em sua mente.

— Eu nunca….

Então, Dante caminhou até o canto.

— Obrigado, cara. Eu não sei bem quem é você, mas sinto que você me ajudou a entender algo muito importante.

— Hum, nada que eu não faça para ajudar um Kohai com problemas. — Daiki falou, sorrindo e coçando embaixo do nariz, como se estivesse se gabando.

— Espera, o que você vai fazer? — Anna perguntou, preocupada.

— Tem uma coisa que eu ainda não fiz e preciso fazer.

Então, Dante fechou os olhos, sentado e encostado em uma árvore. Anna correu até ele, vendo-o se concentrar.

— É melhor não fazer nada idiota.

Assim, novamente, Dante foi até o espaço de sua mente, lascado e quebrado, o lugar onde ele rodou e rodou sem sair do mesmo lugar. Abrindo uma porta, como se já conhecesse completamente aquele espaço, ele rapidamente voltou para a sala onde seu outro eu o observava do trono.

— O que foi? Veio aqui para reclamar do que eu fiz?

— Não... Eu converso com você daqui a pouco.

Então, Dante sentiu a criatura se aproximando por suas costas. Ele tremia; era assustador, frio, fazia seu coração acelerar. Mas, dessa vez, Dante se virou para vê-la assim que as mãos dela subiram em direção aos seus olhos.

— Então era realmente você...

A criatura que o seguiu por todo aquele tempo não era ninguém além da própria Nero. Dante estava correndo daquela morte, fugindo dos sentimentos ligados a ela. Quando sua mente veio para lá, ele ainda não conseguiu admitir para si mesmo, por isso não era capaz de encará-la e de sair do loop. Mesmo que dissesse que iria aceitar, ele estava tentando encontrar uma maneira fácil de fazê-lo sem admitir.

— Você morreu. Você morreu e me deixou sozinho. Isso doeu. Eu me senti mal, Nero... Quando eu achei que não tinha mais família, você apareceu. Mesmo que a gente brigasse, mesmo que a gente não se desse bem, você sempre esteve lá. Eu sentia que te devia, porque você foi a minha família quando eu comecei a achar que estava só, mas nunca tive a chance de te recompensar. Então, quando você disse que me amava, eu fiquei feliz, porque percebi que talvez você também sentisse que eu estive lá por você. Mas você morreu antes de eu poder te agradecer e te perguntar. E isso dói. É vazio, é sufocante. Eu não sei se um dia vou poder superar ou aceitar esse sentimento, mas eu prometo, prometo que não vou me esquecer ou fingir que não sinto...

Dante falava. Finalmente ele verbalizou o que sentia, o que manteve preso na garganta, recusando-se a admitir. Ele ainda não havia superado nada, ele ainda não havia ficado forte para carregar toda aquela dor, mas, dentro de si, finalmente ele admitiu que aquela dor era real e deu seu primeiro passo.

A figura de Nero desaparecia com um sorriso. Dante tentou abraçá-la, mas ela desapareceu.

A verdadeira não está aqui, esqueceu?

— Não, eu não me esqueci…

— E agora acho que eu vou levar a bronca, né?

— Não... Não adianta nada te culpar, já que no final você continua sendo eu.

— Então, o que vai dizer? Que devemos nos fundir com uma dança engraçada para virarmos o Super Dante?

— Não. Porque, mesmo não te culpando, também não estou pronto para simplesmente aceitar você ou carregar o que você carrega. Ainda assim, eu também não vou mais fingir que você não existe, nem te culpar. Vou ouvir você e aceitar como parte de mim. Por isso, enquanto ainda não se tornou parte de mim, enquanto ainda não voltamos a ser apenas um, me ajude. Se não quer fazer isso por mim, faça por ela. Você sabe que é o único jeito para trazê-la de volta.

— Bom... É um bom começo. Está tudo bem, vamos consertar uns cacos de vidro quebrados. Mas lembre-se bem: se você vacilar e me esquecer, se eu ver que você ficou fraco e está para desistir, se acabar deixando a guarda baixa e pondo a vida de Luck em risco, eu vou voltar, te dominar nem que tenha que te consumir. Não se esqueça que os reis demônios mais fortes são aqueles que sempre voltam...

Então, o outro Dante desaparecia, deixando seu trono desocupado, fragmentando-se como peças de quebra-cabeça que voavam na direção do original. E este se remontava. Assim, ele caminhou até seu trono e se sentou. Com seus dois olhos de cores diferentes e cabelo com dupla tonalidade, o homem fragmentado sentava-se e abria os olhos em frente ao domínio fragmentado de seu coração.

Parte 6

Na Cidade dos Cogumelos, Yuki, Megumi e Ludmilla preparavam-se quando a figura surgiu, acompanhada de seu dragão – ou do que antigamente deveria ter sido um dragão. Agora, em seu lugar, havia uma criatura colossal e sombria emergindo de dentro do túnel, curvando-se e, mesmo assim, destruindo a passagem. Seu corpo maciço era sustentado por múltiplos membros grossos e peludos, semelhantes a patas de aranha, mas com mãos humanoides. Ele se apoiava em apenas duas pernas, mantendo os outros braços ao redor do corpo. No lugar onde deveria ficar a cabeça, erguia-se uma temível cabeça de dragão, com traços reptilianos. Da testa e das laterais desta cabeça dracônica brotavam imponentes galhadas de cervo, com chifres ramificados que se estendiam para o alto como galhos secos e retorcidos. A criatura gigantesca agigantava-se sobre a mulher que caminhava à sua frente e sobre aquelas que seriam suas desafiantes.

— Saiam da minha frente! — disse a mulher, encarando-as com um estranho sorriso gentil no rosto.

— Foi mal, mas não vai ser fácil assim — respondeu Ludmilla.

A mulher correu para frente, e as três foram pegas de surpresa. De acordo com as informações que tinham, ela não deveria ser uma combatente de linha de frente, limitando-se a ficar atrás e deixar as criaturas atacarem, mas parecia que algo havia mudado. De repente, as asas da mulher se transformaram numa longa espada, com a qual ela desferiu um corte contra Ludmilla, que se defendeu com sua espada de metal. Enquanto isso, movendo-se a uma velocidade impossível, o gigante chegou por trás de Yuki, atingindo-a com um soco e lançando-a contra Megumi. Em seguida, correu para frente, atravessando a parede e chegando a uma nova área do subterrâneo.

Ludmilla começou a perceber que algo estava errado. O objetivo do plano delas era exatamente esse, mas agora parecia que esse também era o plano da própria mulher: separá-las. Assim, a mulher continuou trocando golpes enquanto Ludmilla parava de pensar.

"Seja como for, não faz diferença. Se quer vir para cima e brincar, não serei eu a fugir de medo agora!"

Então, Ludmilla avançou em alta velocidade. Ambas trocavam golpes quando, de repente, os olhos de Ludmilla trocaram de cor, e o corpo da mulher começou a ser cortado, sem nem mesmo ser atingido diretamente pelos golpes. Ela se afastou, mas em seguida Ludmilla já estava sobre ela, desferindo outro corte. A espada de flores da mulher se desmanchou, aparecendo em sua frente para defendê-la. A mulher, então, tocou no chão; galhos de árvores saíram do solo e foram na direção dela, mas Ludmilla correu para trás e se afastou.

"Então, sua habilidade requer que esteja próxima de mim?", pensou a mulher.

"É isso que você deve estar pensando, né?", pensou Ludmilla em resposta. Ao olhá-la com seus olhos, o corpo da mulher foi dividido ao meio.

Flores apareceram por seu corpo antes que ela se dividisse por completo, conectando as partes cortadas. Mas, nesse segundo de atraso, Ludmilla já estava atrás dela, realizando um corte com sua espada longa. Contudo, uma árvore surgiu para defendê-la, aparando a espada. Ludmilla dividiu a lâmina em duas, que se aqueceram, e realizou vários cortes em sequência. Flores se espalharam e bloquearam os golpes. Então, após absorverem a luz e o calor dos cortes, uma flor apareceu na mão da mulher, liberando um feixe de luz que lançou Ludmilla para trás.

Já contra o monstro, Yuki corria por seu braço, cuspindo sangue e banhando sua katana. De repente, ela saltou e cortou vários braços da criatura, que tentava golpeá-la com outro. Da sombra de Megumi, porém, uma criatura feita de sombras roxas apareceu, envolveu-se nas pernas do monstro como uma corda e o desequilibrou. Assim, Yuki alcançou seu corpo desequilibrado, enfiou sua espada nele e começou a correr, descendo pelo estômago e cortando-o. O monstro tentou acertar Megumi por baixo, mas ela correu, carregando sua pistola. Assim que se aproximou, atirou. A bala, ao atingir o corpo, liberou uma explosão roxa quente como o sol. A criatura gritou, seu sangue borbulhava e ela rugia. De repente, uma floresta nasceu ali, jogando todos – incluindo Ludmilla e a mulher – para a superfície, quebrando o teto, que caiu sobre eles. As pedras machucaram Megumi, que estava no solo sem conseguir ver a queda dos destroços.

Enquanto isso, Ludmilla, voltando a se mover, aproveitou para ir por baixo, por dentro da floresta, cortando os destroços que caíam sobre ela, conseguindo aparecer bem atrás da mulher e realizando outro corte. Mas, controlando a madeira das árvores à sua volta, a mulher se defendeu, atravessando por dentro da madeira. Controlando as folhas das árvores, criou uma lança que perfurou o estômago de Ludmilla. Porém, atravessando o chão como se estivesse nadando na terra, outra mulher chegou ao campo de batalha, alcançando a mulher num salto, transformando seu braço em metal e socando o rosto dela com toda a sua força, lançando-a contra o chão.

— Isso é por ter me subestimado, sua vad**!!! — Mio gritou, enfurecida, voltando para o campo de batalha e cuspindo sangue.

"Droga, eu só tinha mais uma barra de cereal! Quando o combustível dela acabar, eu provavelmente não conseguirei mais me mover!"

— AHHHH!!! — ainda assim, ela gritou enquanto saltava na direção da mulher.

Ludmilla ignorou o buraco em seu estômago e também correu até ela. As duas a golpearam enquanto a mulher usava as folhas ao redor como escudo, que se juntaram, transformando-se em lanças, e as jogou na direção de ambas.

A criatura imensa fazia sombra, interpondo-se à luz brilhante no céu, enquanto Yuki, passando pelas árvores, cortava a perna da criatura. Esta rugiu novamente, mas Yuki sorriu.

— Seu idiota! Com meu sangue no seu organismo, não vai conseguir mais usar ether! — disse Yuki, sorrindo enquanto cuspia sangue.

Então, a criatura da sombra de Megumi subiu pelo monstro, convertendo sua forma em uma lança que atravessou o estômago da enorme criatura.

A criatura então se quebrou, dividiu-se, e de seu sangue vários outros seres saíram pelo chão, atacando Yuki e Megumi, que estavam lentas e machucadas. Mas Yuki parou, respirou, concentrou todo seu pensamento em sua espada, e assim seus olhos brilharam em branco. Raios completamente brancos saíram de seu corpo. Ela começou a saltar entre os galhos da árvore, cortando tudo que aparecia em segundos, pegando Megumi sem que ela percebesse e subindo novamente no estômago da criatura.

— Ainda não! Ele ainda não morreu! — gritou Yuki, deixando Megumi lá e novamente correndo, saltando entre os braços do monstro e os cortando em segundos, em rodopios consecutivos, com os olhos brilhando e uma sede assassina gigantesca.

— Exato! Esse é nosso trabalho! Você vai ficar aqui!!! — gritou Megumi, usando todo seu ether e mandando-o para sua sombra como um tributo. A criatura aumentou, saindo de dentro dela, perfurando o estômago da criatura, tocando o chão e virando vários espinhos que saíram da terra e o encheram de buracos. 

Cama da Dama de Ferro!

A mulher sorriu, tocou em sua sombra e, de dentro, uma nova criatura começou a emergir. Ludmilla e Mio avançaram, mas a mulher se abaixou no instante em que elas iam atingi-la e, em segundos, lanças de madeira atingiram as duas, lançando-as para o céu. A nova criatura colocou a cabeça para fora e foi na direção da criatura perfurada, misturando-se com ela. A primeira se desmanchou em sangue e bolhas, diminuindo e desaparecendo. Megumi e Yuki começaram a procurar pela criatura, quando notaram o mesmo ser, em uma forma muito reduzida, meio humanoide, no centro: um homem de cabelos lisos, com galhadas. Ele se levantou e, em suas mãos, pedaços de madeira como pistolas apareceram. Em instantes, ele surgiu na frente de Yuki, sendo mais rápido que ela, e disparou uma rajada de energia tão grande que a lançou contra uma montanha, que desapareceu. Logo em seguida, ele foi na direção de Megumi, chutando-a no estômago e lançando-a contra o chão, atirando na garota várias vezes, antes de estalar os dedos e mudar o ambiente novamente para um enorme jardim aberto, onde a mulher, na frente de Ludmilla e Mio, mexia os dedos, pronta para disparar sua habilidade e vencer a batalha, matando todos ali.

Mas, quando estava para falar algo, uma flecha atingiu seu pescoço e explodiu. Outra foi na direção de seu estômago. Afastado, completamente esgotado, usando o máximo que podia de seu adrenalizador, estava Kaiser.

"Era isso que você queria, Levy?" O mesmo lembrou dentro de si do dia em que Levy apareceu para ele pela primeira vez, antes mesmo dele se matricular em Babylon. Ela apareceu pedindo para que ele a ajudasse, pedindo sua força emprestada para ajudar aqueles que precisavam. "Droga, foram palavras tão simples… acho que nem pensei tanto na época, mas aqueles olhos… eu sentia que algo incrível aconteceria se eu estivesse ao seu lado. Então, para poder continuar, eu não vou deixar que meus colegas morram aqui!"

Assim, ele engoliu o frasco inteiro do adrenalizador e usou sua Arts:

Precisão Máxima, Recuo Zero

Uma magia de encantamento complexa aplicada a uma única flecha, carregada com todo seu poder no momento do disparo. Garante que a flecha atingirá o alvo designado com 100% de certeza. Ela ignora magicamente a distância, obstáculos físicos ou barreiras energéticas, ajustando sua trajetória de forma impossível ou atravessando impedimentos até que o impacto ocorra.

Assim, uma flecha carregada com raios negros foi disparada. O homem com galhadas, vendo o quão perigoso aquilo era, correu a toda velocidade, indo para frente da flecha, atirando com todo seu poder tentando destruí-la. Mas era completamente inútil; mesmo com seu ether enorme, os ataques nem arranharam a flecha, que destruía tudo entre ela e seu alvo – inclusive a criatura – e continuava indo em direção à mulher. Mio puxou Ludmilla e começou a correr, afastando-se dela o mais rápido possível. E assim que a flecha atingiu, uma explosão enorme foi vista por todo aquele labirinto.

— EU TAMBÉM SOU ALUNO DA CLASSE -13!!!!!! — Kaiser gritou, vendo a explosão e perdendo completamente suas forças frente a ela.

Ludmilla e Mio, afastadas, observavam aquilo sem acreditar quando, de repente, viram a mulher parada no meio das chamas, mas com a metade direita de seu corpo destruída, com sangue escorrendo e sua cara de medo, completamente assustada.

Ela começou a gritar de dor. Vendo que ainda estava viva, Ludmilla e Mio correram até ela, tentando alcançá-la quando, de repente, o homem com galhadas aparece, disparando contra as duas e as lançando para longe. O homem, então, com o estômago exibindo um enorme buraco, sem mais órgãos, caminhou até a mulher e a abraçou.

Assim, ele se transformou em um sangue negro e foi para a parte ferida da mulher, tornando-se suas partes perdidas. Ela novamente se recuperou parcialmente, enquanto todos estavam esgotados. Em fúria, ela criou uma pistola de madeira como a do homem, disparando sua rajada, mas que agora misturava o raio solar que sua flor disparava, na direção de Kaiser, criando uma explosão descomunal que rasgou o céu, destruindo parte da Black Box, que começou a rachar.

A mulher, notando que seu poder havia crescido ainda mais, não percebeu quando Dante apareceu atrás dela, chutando-a e jogando-a para longe.

— Dante!!!!! — a mulher gritou

Os dois correram na mesma direção. A mulher atirava com suas balas e Dante desviava. Assim, ele a chutava e socava, e mais árvores cresciam do chão. Ambos estavam completamente esgotados, mas indo além do limite. Dante acelerou e disse:

Liberar Arquivo: Segundo Modo - Deus da Velocidade!

Assim, ele acompanhava a velocidade dela, desviando dos tiros e socando a mulher. Seu corpo estava tão machucado que cada soco fazia seu punho sangrar, mas a mulher também estava tão exausta que simplesmente sentia sua cabeça se contorcer a cada soco. Eles continuavam sem parar um segundo que fosse. Dante deixou-a esticar o braço para atirar, mas ele subiu o braço, descendo quando o braço dela foi esticado, prendendo a mão e a arma dela em sua axila. Usou o braço dela como apoio para sair do chão e subir um chute bem no queixo dela. Espinhos de árvores saíram da mão dela, perfurando o corpo dele. Ele se afastou com tudo, gritando de dor.

A mulher largou as armas, saltou na direção de Dante, caindo sobre ele e começando a encher a cara dele de socos consecutivos, sem cessar. Dante então fechou a boca e deu uma cabeçada bem no nariz dela, fazendo-a se afastar cuspindo sangue. Ela foi para trás, troncos de árvores saíram do chão e Dante se jogou para trás, mas ainda foi atingido no canto do abdômen, sem conseguir desviar. Anna apareceu do lado dela, transformando o braço em um canhão, e tentou atirar, mas, sentindo sua presença, a mulher a pegou pelo braço esticado, arremessou-a do outro lado, fazendo Anna bater de cabeça contra o chão, e a chutou no estômago para trás.

De repente, sem conseguir controlar algo dentro de si, várias sombras começaram a sair do corpo da mulher por suas costas, como se ela estivesse se transformando. Seus olhos ficaram negros com pupilas douradas. Ludmilla voltou e cortou o braço dela, mas a mulher o puxou para perto, reconectou-o e ele regenerou.

Assim, virou-se para trás e a socou na cara, lançando-a para trás. Mas ela se levantou junto de Dante e Anna, que novamente foram para cima. Foi quando, no meio do caos, a mente da mulher mais uma vez ficou limpa, percebendo seu erro. Tudo causado por conta daquele maldito arqueiro que a interrompeu. Sua batalha estava ganha desde o início. Assim, sorrindo, ela falou:

Flosculum Noctis Aeternae!

Todos se desesperam quando ouvem aquilo, prontos para receber um ataque sem igual. De repente, flores negras surgiram, mas, ao mesmo tempo, o corpo da mulher começou a se rasgar e estourar por dentro. Todos entenderam: o ether dela finalmente havia se esgotado. Ela, que ainda não havia passado por isso desde que nasceu, não sabia dos riscos de tentar usar uma Arts sem ether. Assim, eles continuaram avançando, golpeando-a, mas no segundo que tocaram seu corpo, flores negras apareceram, e Ludmilla e Dante caíram sem força, mas lançando-a para longe. Todos estavam sem energia, mas forçando-se a levantar, completamente ofegantes.

Naquele momento, todos estavam indo além do limite para continuar se movendo. Assim, Dante perguntou:

— MAS AFINAL, QUEM É VOCÊ?!?!?

Aquela pergunta ressoou no coração da mulher, caída, sem forças para se mover e, refletindo sobre isso, ela desencadeou uma nova transformação.

Parte 7

Quando nasceu, ela já teve esse amor implantado dentro de si, mesmo tendo nascido do nada. Seu ego ainda era frágil; por isso, ela aprendeu, evoluiu e mudou desde que tudo começou. Mas, se era assim, o que ela era? Como algo novo podia ter nascido com vontade? Como algo novo nasceu sabendo algo? A menos que, dentro dela, houvesse algo que não fosse novo.

No início, não existia nada, apenas o vazio e a inexistência. Dela surgiu seu igual, mas também seu oposto: a existência, como reflexo do que não existia. Mas, mesmo que agora deixasse de ser uma única coisa, estando cercada pela inexistência, a existência se viu sozinha. Para libertar-se do sofrimento que era a solidão eterna, novos seres foram criados, uma nova existência para poder coexistir com ela. Assim, dentro da existência, a Vida nasceu.

— Eu sou a Vida.

Naquele momento, a fusão se fez completa. Uma explosão de ether tão grande que pôde ser sentida além da Black Box ressoou, e todos sentiram a vontade de se ajoelhar.

Assim, abrindo os olhos, envolta em um ether dourado e vasto como um oceano, a mulher curava-se de suas feridas.

— Isso é péssimo. A fusão já está acontecendo sem imperfeições — disse Anna para Dante.

— Espera, você sabia? — perguntou Dante.

— Ela era a candidata perfeita para se tornar o avatar da minha irmã mais velha, mas estava instável. Achei que, enquanto ela não tivesse um ego, a fusão não ficaria estável. E se ela acabasse criando uma personalidade distorcida o suficiente, a fusão seria impedida, mas nós a pressionamos demais. Agora, mesmo com ego e personalidade distorcida, a personalidade dela está sendo suprimida pela minha irmã — explicou Anna.

— Ah, pobres e frágeis seres vivos... A vida curta e frágil que lhes entreguei não pôde lhes trazer a felicidade completa. Mas agora eu os levarei à verdadeira e eterna vida — falou a mulher.

Dante levantou-se, forçando-se a caminhar. O ether dourado e intenso da mulher era o suficiente para rasgar e queimar seu corpo.

— Isso não passa de invenção! Você sabe quantos você já matou? Não venha me dizer que veio para nos salvar ou conceder vida eterna! — disse Dante.

— Você está errado. — Assim, a mulher deixou seu ether se expandir, e Dante conseguiu ver o ether e as almas de todos que a mulher havia matado dentro dela.

— Nenhuma criança ou ser vivo morrerá sob minha presença. Eu sou a representante do domínio da Vida.

Dante ficou sem entender, confuso.

— Mas, afinal, o que você quer?

— Eu reescreveria a vida neste mundo. Apagarei a morte, a violência e a dor. Criarei um paraíso eterno com apenas vida e felicidade.

Dante percebia que ela parecia estar dizendo a verdade, mas também via como aquilo era apenas uma verdade distorcida de um ser superior que se achava Deus. Não dava para dizer que espécie de paraíso era esse que ela queria criar, mas era fácil ver que ela não se importava com a vontade das pessoas de fato. Não se importava se era isso que elas realmente queriam – como uma mãe que, para proteger seu filho, o colocaria de castigo em seu quarto por toda a eternidade para que ele nunca saísse do alcance de seus braços, fosse isso o que ele queria ou não.

— E o que você quer comigo...?

— Eu preciso do poder do meu irmão para tornar esse paraíso uma realidade. Eu preciso da autoridade da possibilidade contida em você.

Dante não conseguia entender o que ela queria dizer com aquilo. Como um ser com tanto poder poderia precisar de mais poder? Algo parecia errado.

— Mas por que você não foi atrás da Anna, a sua irmã? Não era a Anna quem deveria ter essa autoridade, não?

— Eu não faço ideia de quem seja essa Anna. Apenas senti a presença de um dos meus irmãos vindo de você. Um irmão que eu desconhecia, mas que é a chave para meu paraíso.

— Então, só me resta uma última pergunta... você pode trazer os mortos de volta à vida?

Um silêncio pairou no ar. Parecia que aquela resposta decidiria algo importante. Ainda assim, a Vida escolheu dizer a verdade e então falou:

— Não, eu não possuo autoridade sobre a Morte.

— Foi o que eu pensei! Agora, Professor, o tempo que dava pra segurar ACABOU!!!! — gritou Dante com toda a sua força, deixando a Vida confusa por questão de segundos. O suficiente para que Ryunosuke aparecesse na frente dela com uma esfera de energia na ponta do dedo indicador, os olhos brilhando.

— Agora, vamos lá! Golpe de Amor Máximo!

Assim, ele disparou, sorrindo. Um feixe de energia descomunal que destruía por completo todo o restante da Black Box, dilacerando tudo em seu caminho com tanta força que até as fibras musculares de seu braço explodiram enquanto ele sustentava o disparo.

O plano de Ryunosuke consistia em duas partes: ganhar o máximo de tempo possível e, então, concentrar todo o seu poder para realizar um ataque definitivo. Para isso, Ryunosuke teve que confiar por completo em seus alunos para conseguir esse tempo, uma vez que tinha confiança absoluta de que, com essa técnica, poderia ganhar. Isso porque essa técnica possuía um segredo, uma das regras auto impostas mais restritivas de todas. Acontece que Ryunosuke, quando descobriu que teria uma irmã e conhecendo como era seu pai, havia decidido por conta própria que cuidaria, protegeria e ensinaria tudo para ela no lugar dele. Para isso, Ryunosuke desistiu de ser um caçador, mesmo sendo o maior prodígio da história. Ele simplesmente criou para si a regra de que, a partir daquele momento, seus poderes de Shaper só poderiam ser usados para treinar e ensinar – o que lhe concedeu capacidades incríveis, como a Black Box com vários mapas diferentes. Ele se tornou o maior professor de todos. Mas existia um segredo, uma condição única: somente para proteger aqueles que ele considerava como alunos de um poder avassalador, somente aí Ryunosuke poderia utilizar seu potencial máximo em um único e descomunal disparo, concentrado com todo seu poder e amor.


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