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The Fall of the Stars : Capítulo 3 - O Círculo dos Corvos

  • Foto do escritor: AngelDark
    AngelDark
  • 27 de out.
  • 57 min de leitura

Volume 7: Contra-Ataque

Parte 1

24 de agosto de 20018, 08:00 da Manhã - Ilha Flutuante Apocalypse

O decreto de Kallen ecoou por todo o planeta como um trovão: dentro de um ano, a Grande Expedição começaria. A proclamação desencadeou uma reação em cadeia de ambição e esperança, forçando impérios e reinos a moverem suas peças no tabuleiro global, determinados a garantir seu lugar na jornada que redefiniria o futuro da humanidade.

A chama da ambição não se limitou aos tronos e conselhos. Ela se espalhou pelas ruas, tavernas e campos, acendendo o coração de incontáveis indivíduos.

A possibilidade de uma nova vida — de riqueza inimaginável, de fama eterna ou simplesmente da emoção de pisar em terras virgens — fez com que uma geração inteira se lançasse ao caminho do caçador. O mundo testemunhou o surgimento da era mais prolífica de caçadores em séculos, todos afiando suas lâminas se registrando em Guildas e aprimorando suas habilidades com um único propósito: tornarem-se dignos da Expedição.

O epicentro dessa transformação foi Babylon. A academia flutuante viu seus portões serem sitiados por uma torrente de aspirantes de todas as origens, idades e culturas.

A própria Babylon teve que se reinventar. A ilha cresceu, suas estruturas se adaptaram e as classes foram reformuladas para absorver o fluxo incessante de talento. Pela primeira vez em sua longa existência, a academia instituiu um exame de admissão, uma prova de fogo para separar os meramente talentosos dos verdadeiramente excepcionais.

Para instruir essa nova e promissora safra de caçadores, lendas vivas e mestres esquecidos foram chamados de suas aposentadorias e aventuras, formando o corpo docente mais formidável já reunido.

Hortus Parvus Inteira agora observava, com os olhos fixos em Babylon. A antecipação pelos festivais esportivos anuais atingiu um nível febril, pois todos sabiam que não seriam meras competições, mas o local onde as novas estrelas apareceriam. Independentemente do que acontecesse, uma verdade era inegável: aquele momento ficaria gravado para sempre na História.

Parte 2

A cidade pulsava com sua energia característica, as ruas de mosaico com árvores plantadas para criar um ambiente mais natural, era vibrante. Embora a cidade em volta de Babylon, não fosse como as grandes Cidades de Elysium com seus arranha-céus reluzentes e mercados fervilhantes, passava uma vibração mais casual e calma que ainda assim aproveitava de sua tecnologia.

Ambas as cidades mesmo afastadas estavam conectadas por sua tecnologia e a nova comunicação da rede digital, Os adolescentes agora viviam grudados nas telas dos celulares, consumindo vídeos do Goutube e conversando sobre os boatos que incendiavam as redes sociais.

Entre os trending topics, um vídeo em particular dominava as conversas: uma garota recém-chegada à babylon, que, no seu primeiro dia no colegio, desafiou todos os alunos do pátio para uma luta. A ousadia dela, capturada em pixels, já era lendária, mas não superava o falatório sobre Kintoki, que, durante o exame de admissão, enfrentou um professor e saiu vitorioso — um feito que ecoava como uma façanha épica.

Outro rumor, ainda mais intrigante, vinha de Elysium. Uma garota local, com uma confiança que beirava a arrogância, declarou publicamente que se tornaria uma Coroada antes da Grande Expedição, o evento que todos aguardavam com ansiedade. Mas não era só isso: ela jurou que, mesmo com o poder de uma Coroada, continuaria sendo a Caçadora de Elysium, prometendo tornar os serviços de Zero — O Atual Caçador N 1 — completamente obsoletos.

A internet fervia com especulações: seria ela louca, genial ou apenas uma sonhadora?

No coração de Babylon, um grupo de adolescentes se reunia em um canto movimentado da escola, os olhos fixos em seus celulares enquanto compartilhavam as últimas fofocas. O ar estava carregado de risadas e comentários, até que uma das garotas, com os cabelos tingidos de roxo e um piercing brilhando no nariz, levantou a voz, animada:

— Ei, vocês ouviram sobre o show da Aines em Babylon? — perguntou, quase gritando para ser ouvida acima do burburinho.

— Sério? Não acredito! — respondeu outra, arregalando os olhos. — Eu vi no Suits que ela vai se apresentar no Festival das Luzes!

— Mas espera, e aquele boato de que ela se matriculou aqui na escola? — questionou um garoto, franzindo a testa, incrédulo. — Tipo, uma idol famosa virar caçadora? Isso é loucura!

— Impossível! — retrucou uma garota de tranças, balançando a cabeça. — Por que uma estrela como ela se arriscaria assim?

A conversa foi interrompida por um grito súbito:

— Ei, cadê o meu celular?! — exclamou um garoto, tateando os bolsos com desespero.

— Minha carteira sumiu também! — disse outra, o pânico crescendo em sua voz.

— Meu relógio! — gritou um terceiro, olhando ao redor, desconfiado.

De repente, uma garota apontou para um trio que se afastava pelo pátio. No centro, um garoto com uma postura confiante, cabelo desgrenhado e um sorriso provocador. Sua aparência de delinquente era inconfundível.

Ele era Kagami, e ao seu lado caminhavam dois outros garotos — um com dreads, alto e intimidador, e outro com o cabelo caindo sobre os olhos.

— Foi ele, eu vi! — acusou a garota, apontando diretamente para Kagami.

O trio parou. Kagami virou-se lentamente, o sorriso se transformando em uma expressão de desafio.

— Que papinho é esse? Tem alguma prova de que fui eu? — retrucou, cruzando os braços.

— Eles estão tentando incriminar o Kagami sem motivo! — disse o garoto de dreads, sua voz grave ecoando como um trovão.

— É, tão querendo arrumar treta, isso sim — murmurou o outro, escondido atrás do cabelo, claramente sem intenção de se envolver numa briga.

Kagami deu um passo à frente, os olhos faiscando com uma mistura de arrogância e irritação.

— Eu não tava querendo me meter em problemas logo de manhã, mas se tão me acusando sem provas, é melhor se prepararem. Não vou ficar quieto!

O grupo de acusadores hesitou, recuando instintivamente. Eles sabiam que não tinham nada concreto para sustentar a acusação, e a reputação de Kagami como alguém que não brincava em serviço pesava no ar. A garota que o acusou abaixou a cabeça, murmurando:

— Foi mal, acho que me enganei.

Kagami riu, uma risada curta e debochada, enquanto dava tapinhas condescendentes na cabeça do garoto.

— Normalmente, eu ficaria bem puto com uma acusação dessas, mas como você sabe se curvar tão bem pra pedir desculpas, vou deixar passar. Só dessa vez. — Ele se inclinou, o tom carregado de sarcasmo. — Da próxima, aprendam a não falar sem provas, beleza?

Antes que a situação se resolvesse, uma voz suave, mas firme, cortou o ar atrás de Kagami:

— Então, se tiver provas, tudo bem?

Ele se virou rapidamente, apenas para tropeçar quando uma figura ágil colocou o pé no lugar exato para desequilibrá-lo. Antes que caísse, porém, ela o segurou com graça, como se estivessem em uma dança, um braço em suas costas e outro segurando sua mão.

— Opa, cuidado! Se cair assim, pode se machucar — disse a garota, com um sorriso travesso.

Kagami se desvencilhou, furioso, tentando acertá-la com um soco. Ela esquivou com uma elegância quase sobrenatural, girando para o lado como se flutuasse.

— Sua idiota! Eu sei que foi você! O que tá tentando fazer? — rosnou ele, já recuperando o equilíbrio. — Quem é você, droga?

Os murmúrios da multidão ao redor responderam por ela:

— É a Charlotte Williams!

— Espera, não é aquela garota dos boatos? A que quer virar Coroada? — sussurrou alguém, os olhos brilhando de curiosidade.

Kagami a encarou, estreitando os olhos.

— Tanto faz o que a loirinha quer comigo. Veio ajudar seus amiguinhos me acusando sem provas?

Charlotte, com seus cabelos dourados brilhando sob o sol e um sorriso sereno, balançou a cabeça.

— Claro que não. Eu nunca faria algo tão tolo assim.

O grupo ao redor se encolheu, envergonhado por suas acusações precipitadas. Mas Charlotte não terminou. Com um movimento elegante, ela deixou cair de suas mangas um punhado de objetos: celulares, carteiras, um relógio. Os pertences roubados.

— Eu vim te acusar com todas as provas que preciso, óbvio — disse ela, segurando os itens com os dedos, como uma mágica exibindo seu truque.

Kagami congelou, suas mãos voando para os bolsos. Ele percebeu, tarde demais, que estavam vazios.

— Droga… naquela hora que ela me segurou… — murmurou, o suor escorrendo pela testa enquanto tentava improvisar uma saída. — Então tá! Quer dizer que você é a ladra e agora quer usar isso como prova só porque eu fui acusado antes? Não me diga que você e seus amiguinhos armaram isso desde o começo!

Charlotte riu, um som leve, mas afiado.

— Por favor, nem comece. Mas, se quiser ir por esse caminho, podemos levar isso a um professor para investigar direitinho. Inclusive… — Ela fez uma pausa, seus olhos brilhando com astúcia. — Eu tentei te filmar roubando enquanto me aproximava. Senti que você estava usando algum tipo de poder, mas, mesmo com a câmera do meu celular, não consegui captar exatamente o que fez. É uma habilidade incrível, devo dizer.

Ela começou a devolver os pertences aos donos, que a olhavam com uma mistura de alívio e admiração. Então, com um movimento rápido, Charlotte tirou o celular do bolso, a câmera ainda visível, apontada para Kagami.

— Mas sabe o que eu gravei? Sua reação, checando os bolsos logo depois que mostrei os objetos roubados. Uma reação que só alguém que sabia que estava com eles teria, não acha?

Os murmúrios da multidão cresceram. Todos os olhares se voltaram para Kagami, e a certeza de sua culpa pairava no ar como uma nuvem pesada. Ele a encarou, os punhos cerrados, a raiva borbulhando em seus olhos.

— Sua… — começou, mas foi interrompido por um de seus amigos.

— O que acha, Kagami? Podemos ensinar uma lição nessa garota se você quiser — disse o garoto de dreads, dando um passo à frente.

— Não interfiram — cortou Kagami, a voz baixa, mas firme. — Deixa que eu cuido dela. Sinto que ela é mais do que vocês podem lidar.

Charlotte inclinou a cabeça, o sorriso nunca deixando seu rosto.

— Ah, então decidiu brincar, é? — respondeu, sem hesitar.

O clima no pátio ficou elétrico, a tensão entre os dois palpável. A multidão se afastou, formando um círculo improvisado, pronta para assistir ao que parecia ser o início de um confronto. Mas, antes que qualquer golpe fosse desferido, um estrondo ecoou pelo pátio.

Um garoto de cabelos brancos, com uma expressão sonolenta e desleixada, caiu do céu, aterrissando no meio do grupo com um impacto que abriu uma pequena cratera no chão. Ele se levantou lentamente, bocejando, como se nada de extraordinário tivesse acontecido.

— Ei, vocês dois, chega de fazer coisas espalhafatosas — disse, a voz arrastada, enquanto se espreguiçava.

— VOCÊ É O MAIS ESPALHAFATOSO AQUI! — gritaram Kagami e Charlotte em uníssono, apontando para ele.

O garoto, alheio à indignação, apenas coçou a nuca.

— O Comitê de Disciplina já tá sobrecarregado. Vamos evitar mais problemas, tá? — disse, já começando a se afastar.

Antes que pudesse ir longe, outro aluno, vestindo o mesmo uniforme que ele, apareceu correndo.

— Ei, Luka! Rápido, aquela delinquente, a Sento Manami, tá causando confusão na entrada do colégio de novo!

Luka suspirou, parecendo ainda mais exausto.

— Droga, o que tá acontecendo com os novatos deste ano? Eu nem posso mais tirar um cochilo em paz… — murmurou, saindo dos destroços e caminhando lentamente em direção à entrada. Ele olhou para trás, apontando para Kagami e Charlotte. — E eu não quero saber de briga rolando assim que eu virar as costas, entenderam?

Com Luka se afastando, os olhares da multidão voltaram para Kagami e Charlotte, esperando para ver se o confronto continuaria. Kagami bufou, enfiando as mãos nos bolsos.

— Tsk, dane-se. Não quero chamar a atenção do Comitê de Disciplina por enquanto. Parece que você teve sorte, mulher — disse, virando-se para ir embora, seguido por seus amigos.

— Ah, não me diga — murmurou Charlotte, com um leve tom de provocação, antes de ser cercada pelos alunos que ela ajudara, agradecendo efusivamente.

Aquele ano em Babylon estava destinado a ser inesquecível. A chegada de figuras marcantes — já agitava a cidade. E, como de costume, durante a separação das turmas, a escola seguiu sua tradição: todos os alunos considerados “problemáticos” foram enviados para a infame Sala -13. Desta vez, porém, a sala estava mais cheia do que nunca, reunindo um grupo de personalidades explosivas, cada uma pronta para deixar sua marca na história.

Parte 3

A poeira ainda pairava no pátio de Babylon, levantada pelo frenesi dos novos alunos que cruzavam os portões da lendária academia de caçadores. No entanto, a tensão que outrora se concentrava ali, sob o sol escaldante, agora se deslocava para os corredores internos, como uma corrente elétrica prestes a explodir.

Os amplos halls de pedra polida fervilhavam com a energia caótica da nova safra de aprendizes. Rostos ansiosos, alguns confiantes, outros perdidos, buscavam suas salas designadas, enquanto os mais desinteressados — aqueles que, pela liberdade da academia, não eram obrigados a frequentar aulas — vagavam pelos corredores, trocando olhares desafiadores ou planejando missões para acumular prestígio.

Mas algo estava diferente naquele dia. Um silêncio inquietante pairava no ar, como o prelúdio de uma tempestade. Todas as missões disponíveis haviam sido misteriosamente retiradas dos quadros de avisos, e os alunos que estavam em campo foram chamados de volta à academia sem explicações.

Sussurros corriam entre os estudantes, especulando sobre o motivo. Um veterano de olhos cansados murmurou algo sobre “um grande evento”, enquanto uma caloura, perguntou a um colega se “o diretor estava tramando algo de novo”. O prenúncio era claro: algo monumental estava prestes a acontecer.

De repente, um zumbido elétrico cortou o burburinho. Todas as lousas digitais das salas de aula, dos corredores e até das áreas comuns piscaram em uníssono, acendendo-se com uma luz branca ofuscante. A mesma cena se repetia em todos os cantos de Babylon, dos dormitórios às arenas de treinamento.

Nos monitores, surgiu a figura de um homem magro, de cabelos brancos desgrenhados caindo sobre os ombros e olhos roxos que pareciam dançar com um brilho travesso. Era Aleister, o lendário — e infame — diretor da academia.

Normalmente, sua aparição provocaria risadinhas abafadas e cochichos entre os alunos, que conheciam bem sua reputação de excêntrico, brincalhão e, para alguns, um tanto pervertido. Mas não hoje. A postura descontraída que o caracterizava havia desaparecido. Em seu lugar, havia uma presença imponente, quase sufocante, que fez o ar parecer mais pesado.

Seus olhos, antes cheios de malícia brincalhona, agora carregavam uma seriedade afiada, como lâminas prontas para cortar qualquer distração. O silêncio caiu sobre a academia, e até os professores, acostumados às excentricidades de Aleister, se endireitaram em suas cadeiras.

— Bom dia, meus promissores caçadores — começou ele, sua voz ressoando com uma autoridade que ecoava pelas paredes de pedra e parecia vibrar nos ossos de todos os presentes. — Como todos sabem, estamos à beira de uma nova era. A Grande Expedição se aproxima, um evento que moldará o destino do mundo. E Babylon não ficará para trás. Vocês, os talentos excepcionais que caminham por esses corredores, são a prova disso. Mas, para enfrentar o que está por vir, mudanças são necessárias. Mudanças drásticas.

Com um gesto teatral, Aleister conjurou um holograma ao seu lado. Dezenas de figuras imponentes surgiram na projeção, cada uma exalando uma aura de poder inegável. Entre elas, destacava-se um homem de longos cabelos vermelhos, esvoaçantes como chamas, vestindo uma camisa branca impecável.

— A partir de hoje, nosso corpo docente foi completamente reformulado — anunciou Aleister, apontando para as figuras. — Conheçam seus novos professores. Ryunosuke, o caçador Escarlate, está entre eles, junto com outros que vocês aprenderão a temer e respeitar.

Cada turma terá um professor responsável, mas não se acomodem. Vocês enfrentarão um rodízio constante de especialistas, cada um trazendo desafios únicos para testar sua adaptabilidade, sua força e sua inteligência.

Ele fez uma pausa, deixando as palavras pairarem como uma ameaça velada. Os alunos trocaram olhares, alguns com excitação, outros com apreensão.

— Além disso — continuou Aleister, com um brilho perigoso nos olhos —, a regra que permitia a ausência nas aulas, tão adorada pelos preguiçosos entre vocês, está oficialmente revogada por este ano. — Um sorriso fino e cortante curvou seus lábios. — Qualquer aluno com mais de 27 faltas será expulso imediatamente. Sem apelações, sem segundas chances. Preparem-se para um intensivo infernal.

Não vamos forçar ninguém a participar, é claro. Mas saibam que, se escolherem ficar de fora, seus currículos serão congelados por um ano inteiro. E, numa corrida contra o tempo como a que enfrentamos, ficar parado é o mesmo que regredir.

Um murmúrio chocado percorreu as salas, rapidamente abafado pela próxima declaração de Aleister, que caiu como uma bomba atômica sobre a audiência.

— Os desafios que vocês enfrentarão farão qualquer prova que já passaram parecer uma brincadeira de criança. Suas vidas estarão na corda bamba, todos os dias. E, para tornar as coisas ainda mais... interessantes — seu sorriso se alargou, adquirindo um tom predatório —, eu criei um jogo para vocês. Bem-vindos ao Desafio da Coroa.

Aleister recostou-se em sua cadeira, os olhos roxos brilhando com uma intensidade quase sobrenatural. — Há eras, deuses caminhavam entre nós. Eram mesquinhos, arrogantes, e nos viam como meras formigas sob seus pés. Até que o primeiro Coroado se ergueu. Ele desafiou um deus para um jogo e, contra todas as probabilidades, venceu, tomando para si a divindade do perdedor.

Esse ato iniciou um pacto que forçou os deuses a recuarem para os reinos sagrados de Citrinitas, dando à humanidade uma chance de lutar por seu lugar no mundo. Hoje, vocês terão a oportunidade de tentar o impossível mais uma vez: aventurar-se pelo Void, o abismo onde até os deuses hesitam. É morte certa... a menos que desafiem o próprio destino, como nossos ancestrais fizeram.

Com um estalar de dedos, Aleister conjurou um pulso de luz que percorreu toda a academia. No mesmo instante, uma tatuagem minúscula e brilhante materializou-se no pulso de cada aluno: uma coroa delicada, pulsando com uma energia sutil, como se estivesse viva.

— Esta coroa é um ponto, concedido pela academia. Ela representa sua vida aqui, sua posição, sua chance de glória. E vocês podem apostá-la — explicou ele, a voz carregada de um entusiasmo quase sádico. — Desafiem uns aos outros para o que quiserem: jogos de cartas, competições de culinária, duelos de magia ou batalhas até a morte. O vencedor reivindica a coroa do perdedor. E o perdedor? Se ficar com zero coroas, será expulso no mesmo instante. Sem despedidas.

O choque entre os alunos era palpável. Um arrepio coletivo percorreu as espinhas, misturando medo e excitação em proporções perigosas. Alguns alunos, os mais ousados, já trocavam olhares calculistas, imaginando quem desafiariam primeiro. Outros, menos confiantes, apertavam os pulsos, como se pudessem proteger suas coroas com as mãos.

A academia, antes um lugar de aprendizado e rivalidades amistosas, agora se transformava em um campo de batalha onde cada escolha poderia ser a última.

— E tem mais — acrescentou Aleister, com aquele sorriso diabólico ainda estampado no rosto. — A lista com a classificação das coroas, mostrando quantas cada aluno possui, será pública. Não apenas aqui, mas em todos os reinos. O mundo inteiro saberá quem são os melhores entre vocês.

Suas coroas não são apenas pontos. São símbolos de status, de poder, de fama. Acumulem o suficiente, e vocês podem se tornar caçadores exclusivos de um reino, com salários que fariam reis corarem de inveja.

Os pensamentos dos alunos dispararam, conectando os pontos. Zero, o caçador número um do mundo, era o exemplo perfeito. Sua mera presença em um reino era um dissuasor militar mais eficaz que qualquer exército. Elysium, o reino que o contratara, pagava uma fortuna apenas para que ele residisse lá, sem precisar cumprir uma única missão.

O mesmo valia para os outros caçadores do Top 10 do Ranking Mundial. Com o Desafio da Coroa, Aleister não estava apenas treinando alunos; ele estava forjando lendas, celebridades cujo brilho atrairia patrocínios, poder e influência para a Grande Expedição. Babylon havia se tornado um reality show mortal, e o mundo inteiro estaria assistindo, fascinado pela obsessão pelas coroas — uma chance de mudar suas vidas para sempre.

— E tem mais — Aleister prosseguiu, como se o peso de suas palavras anteriores não fosse suficiente. — Aqueles que acumularem mais coroas entrarão para a nova lista dos 10 Melhores da Academia. E, no final do ano, esses 10 enfrentarão os 10 melhores caçadores do mundo, com a chance de tomar seus lugares oficialmente. Eu, como diretor e comandante do sistema de caçadores, garanto isso.

O sorriso de Aleister se alargou ainda mais, quase desafiando os limites da sanidade. — E, claro, as apostas não se limitam às coroas. Vocês podem apostar qualquer coisa: dinheiro, equipamentos, segredos, favores... até sua própria liberdade. Contanto que ambos os lados concordem, meu corpo docente e eu garantiremos que o pagamento seja cumprido. De um jeito... ou de outro.

Um silêncio pesado caiu sobre a academia, quebrado apenas pelo som de respirações contidas. Então, Aleister continuou, com um tom que misturava autoridade e divertimento.

— Para manter a ordem neste nosso novo e glorioso caos, formamos um novo corpo estudantil. O presidente do conselho será Blade, um nome que vocês aprenderão a respeitar. Sua tesoureira, Erika, cuidará das finanças com punho de ferro. A vice-líder, Susan, garantirá que o conselho funcione como uma máquina. Elijah, o novo chefe do Comitê de Disciplina, não tolerará infrações. E Mika, nossa representante de eventos, trará um toque de... criatividade ao caos. Para supervisionar os jogos, criamos uma divisão especial: os Juízes do Crepúsculo, liderados pela implacável Azuki.

Aleister se levantou, a transmissão aproximou-se do fim. Sua silhueta parecia crescer, como se ele próprio fosse uma força da natureza. — Ao final do dia, publicarei a primeira lista dos 10 Melhores, baseada em minha humilde análise e previsões, e a cada começo de mês postaremos a nova atualizada. Aqueles que estiverem nesta lista terão autoridade que supera até a de muitos professores. Usem esse poder com sabedoria. — Ele deu uma risada baixa, quase sinistra. — Ou não. A escolha é de vocês. Que os jogos comecem.

As telas se apagaram com um estalo, deixando os alunos em um silêncio atordoado. Nos corredores, nas salas, nas arenas, o peso do Desafio da Coroa se instalava. Olhares se cruzavam, alianças começavam a se formar, e rivalidades antigas ganhavam nova intensidade. Babylon não era mais apenas uma academia. Era um campo de batalha, um palco onde heróis e vilões seriam forjados — ou destruídos. E, no centro de tudo, a tatuagem em forma de coroa pulsava nos pulsos, um lembrete constante do preço da glória.

Parte 4

26 de agosto de 20018, 09:00 da Manhã - Ilha Flutuante Apocalypse (Dormitório Feminino de Babylon)

Dois dias haviam se passado desde que a voz de Aleister, como um trovão, transformou os corredores de Babylon em um tabuleiro de xadrez mortal. Para a maioria dos alunos, essas 48 horas foram um turbilhão de paranoia, alianças forjadas às pressas e o som incessante de desafios ecoando pelas arenas de treinamento. Apostas de coroas, gritos de vitória e gemidos de derrota preenchiam o ar.

Mas, para Asuna Beltris, uma caloura ainda tateando seu lugar naquele mundo caótico, era apenas o começo de uma jornada que já parecia esmagadora.

BEEP! BEEP! BEEP!

O som estridente do despertador a arrancou de um sono agitado, como se o próprio dispositivo estivesse zombando de sua exaustão. Os raios dourados do sol da manhã cortavam o quarto através da janela entreaberta, trazendo consigo o aroma fresco da brisa marítima e o canto melódico dos pássaros que habitavam as árvores flutuantes da ilha.

Era um dia lindo, quase idílico, que contrastava brutalmente com o pânico que explodiu em seu peito quando seus olhos encontraram o relógio. Atrasada. No meu primeiro dia.

— Droga, droga, droga! — murmurou Asuna, saltando da cama com o coração disparado.

Enquanto se arrumava às pressas, vestindo o uniforme impecável de Babylon — uma blusa branca com detalhes azul-marinho e uma saia plissada que parecia pesada demais para sua pressa —, seu olhar varreu o dormitório. O quarto era espartano, quase vazio, um reflexo da vida focada e despojada que ela levara até ali. Não havia pôsteres nas paredes, nem bugigangas espalhadas.

O único item que quebrava a austeridade era uma fotografia em uma moldura de madeira simples, repousando solitária sobre a escrivaninha como um altar sagrado.

Era seu ritual matinal, um momento de conexão com algo maior que o caos ao seu redor. Asuna pegou o retrato com cuidado, o vidro frio sob a ponta de seus dedos trêmulos. Na foto, uma mulher de cabelos castanhos e olhos gentis, idênticos aos seus, sorria com um orgulho que parecia atravessar o tempo.

— Eu prometo que vou dar o meu melhor hoje, mãe — sussurrou, depositando um beijo delicado na imagem. — Estou indo.

Não havia tempo para um café da manhã decente. Ela pegou algumas fatias de pão de forma, enfiou-as na boca enquanto amarrava os sapatos e disparou porta afora, o coração martelando contra as costelas. Era uma mistura de nervosismo, determinação e o peso esmagador de não querer falhar — não com a promessa que fizera.

Os corredores de Babylon eram ainda mais impressionantes vistos de perto. As paredes de pedra clara, esculpidas com detalhes góticos, erguiam-se como catedrais de uma era esquecida. Arcos altos sustentavam tetos abobadados, e a luz do sol filtrava-se por vitrais gigantescos, pintando o chão de mosaico com padrões multicoloridos que dançavam sob seus pés apressados.

Entre os prédios principais, praças abertas com árvores frondosas e bancos de pedra ofereciam bolsões de serenidade, um convite à contemplação que parecia zombar da realidade brutal da academia.

Porque a paz, ali, era uma ilusão cruel.

Ao passar por uma das enormes salas de treinamento com paredes de vidro reforçado, Asuna parou por um instante, hipnotizada e aterrorizada. Lá dentro, o clangor metálico de lâminas colidindo ecoava como sinos de guerra, acompanhado por clarões de energia mágica que iluminavam o ambiente como relâmpagos.

Alunos se enfrentavam com uma ferocidade que não pertencia a um ambiente escolar — rostos crispados, olhos brilhando com uma determinação desesperada, como se cada golpe fosse uma questão de vida ou morte. O Desafio da Coroa.

Embora fosse nova, Asuna sentia a mudança no ar. Ninguém relaxava. Cada olhar trocado com um estranho era uma avaliação fria, um cálculo de poder e fraqueza. O ar vibrava com uma tensão predatória, como se todos fossem caçadores e presas ao mesmo tempo.

Ok, foco! Sala -13A, pensou, retomando sua corrida enquanto murmurava para si mesma. — Não posso me atrasar logo no primeiro dia, senão o professor vai achar que sou uma delinquente, e talvez me desafie para um duelo, e tome minha coroa, e...

Seus pés pararam abruptamente. Ela olhou para a esquerda, onde um corredor idêntico ao anterior se estendia, e depois para a direita, onde outra praça, quase um espelho da anterior, se abria. O pânico gelado voltou, apertando seu peito. Estou perdida.

Seu primeiro instinto foi pedir ajuda, mas a ideia fez seu estômago embrulhar. Sua ansiedade social, uma muralha que ela nunca conseguira escalar, sussurrava dúvidas cruéis. E se rirem de mim? E se acharem que sou fraca, um alvo fácil?

A promessa à sua mãe ecoou em sua mente, uma voz de coragem lutando contra o coro de inseguranças. Você consegue, Asuna. É só uma pergunta.

Ela respirou fundo e continuou andando, tentando projetar uma confiança que não sentia. Foi então que seus olhos encontraram um raro oásis de tranquilidade. Sob a sombra de um carvalho antigo, em uma praça isolada, um garoto estava sentado em um banco de pedra. Ele tinha a pele morena e cabelos brancos como neve, uma combinação que o fazia parecer deslocado, quase místico. Seus olhos estavam fechados, e ele parecia absorver a brisa matinal com uma calma que desafiava o caos da academia.

Ele parece... seguro. Talvez não grite comigo.

A batalha interna começou. Com o coração disparado, Asuna se forçou a dar um passo à frente, depois outro, cada movimento uma vitória contra o medo. O que eu digo? “Com licença, você poderia…” Não, muito formal. “E aí, sabe onde fica…” Não, muito casual.

Droga! Ela estava a poucos metros, respirando fundo para soltar a primeira palavra, quando um borrão de movimento no alto roubou sua atenção.

Uma figura despencou da folhagem do carvalho, aterrissando com um baque surdo diretamente no colo do garoto adormecido.

— MIGUEL, SUA MALDITA! TÁ TENTANDO ME MATAR?! — ele rugiu, os olhos se abrindo em uma mistura de susto e fúria.

A garota que caíra — Miguel, aparentemente — o encarou com um rosto impassível, os olhos vazios de qualquer emoção. Seu silêncio pareceu atiçar ainda mais a raiva do garoto.

— Ah, não vem com essa cara de paisagem! Eu sei exatamente o que você tá pensando! “Foi mal, eu dormi e escorreguei.” Acha que eu caio nessa? De tantos galhos naquela árvore, tinha que ser exatamente em cima de mim!

Após alguns segundos de um confronto silencioso, a voz de Miguel finalmente soou, monótona e direta como uma lâmina.

— É porque, se eu caísse, a queda seria mais macia do que no chão.

— EU SABIA! VOCÊ PLANEJOU ISSO!

Enquanto o garoto continuava a gritar, Asuna assistia à cena, paralisada de terror. Aquele grito... ela imaginou ser o alvo dele. A ideia a fez estremecer, o sangue gelando nas veias. Seu corpo reagiu antes de sua mente, girando nos calcanhares e disparando em uma corrida desajeitada.

Ela só parou quando estava a salvo, escondida atrás de uma coluna de pedra, o peito arfando. Foi melhor assim, pensou, tentando acalmar a respiração. Se eu tivesse falado com ele, ele poderia ter gritado daquele jeito comigo. Eu desmaiaria na hora.

Ela olhou para as próprias mãos trêmulas, o coração ainda disparado. Garotos são assustadores. Respirou fundo, a promessa à sua mãe voltando à tona como um farol. — Na próxima, eu consigo — sussurrou para o vazio. — Mas... da próxima vez, eu tento com uma garota.

Com essa resolução, Asuna seguiu em frente, determinada a encontrar alguém menos intimidador. A vastidão de Babylon, no entanto, era um labirinto projetado para esmagar o espírito. Ela passou por complexos de piscinas olímpicas onde a água explodia em colunas com o impacto de alunos testando suas habilidades mágicas, e por quadras de basquete onde bolas eram arremessadas com força sobre-humana, estilhaçando tabelas como se fossem feitas de papel.

Cada cenário era uma prova de que ela estava completamente fora de seu elemento.

Sua jornada a levou a uma área mais serena, uma espécie de mini floresta contida dentro dos muros da academia, identificada por uma placa discreta como “O Jardim Inferior Esquerdo”. O ar ali era mais fresco, perfumado com o aroma de musgo e flores silvestres, e o silêncio era quebrado apenas pelo farfalhar das folhas.

No fundo do jardim, através de uma clareira, Asuna avistou um vulto. Uma garota. A esperança, misturada ao desespero de seu atraso monumental, deu-lhe um novo fôlego.

Ela correu, os pés afundando na grama macia, até perceber que o jardim terminava em um enorme campo de beisebol, estranhamente deserto — ou quase. No centro do campo, três figuras se destacavam sob o sol escaldante. A primeira que chamou sua atenção tinha cabelos de um vermelho flamejante, presos em um rabo de cavalo alto com um laço preto. Sua jaqueta aberta revelava seus ombros, como se ela usasse a peça apenas para ostentar estilo.

Ela apontava para sua oponente com um sorriso predatório que fez Asuna engolir em seco.

— É melhor não reclamar depois que eu moer seus ossos na porrada! — gritou a garota de cabelos vermelhos.

— Até quando vai ficar falando, Mio? Foi você quem me chamou pra essa luta, não foi? — retrucou a segunda garota. Ela tinha cabelos negros longos, um quepe vermelho inclinado na cabeça e uma saia xadrez vermelha e preta que balançava com a brisa. Sua postura era relaxada, mas seus olhos brilhavam com uma intensidade afiada, como lâminas prontas para cortar.

Observando as duas com uma calma profissional, estava uma terceira garota, de cabelos amarelos brilhantes e um uniforme impecável que parecia intocado pelo caos ao redor. Ela ergueu a mão com um gesto elegante.

— Eu, Emilia Bellasartes, como Juíza do Crepúsculo, declaro este duelo válido. As competidoras, Mio Mortifer e Ludmilla Farnese, agora irão lutar pelo direito de reivindicar o assento do fundo, perto da janela, na sala de aula.

Asuna congelou. Uma Juíza do Crepúsculo. Uma batalha oficial... por um lugar para sentar? O absurdo da situação a deixou atônita. Em qualquer outra escola, isso seria uma discussão banal. Em Babylon, era motivo para um duelo que parecia capaz de derrubar o campo inteiro.

— Eu já tinha esse direito há muito tempo — rosnou Ludmilla, arrancando do chão uma espada claymore colossal, maior que seu próprio corpo. Ela a manejou com uma facilidade assustadora, como se a lâmina não pesasse mais que uma pena.

— Esquece! — cuspiu Mio, os olhos faiscando. — Aquele lugar era meu, e você sabe disso. No primeiro dia, fui eu quem sentou lá!

Não houve mais palavras. Em um piscar de olhos, as duas explodiram em movimento. Ludmilla se tornou um borrão carmesim, avançando com uma velocidade que fazia o ar sibilar. Sua espada desceu em um arco mortal, destinada a cortar Mio ao meio. Com uma agilidade felina, Mio deslizou por baixo da lâmina, o metal passando a centímetros de seu rosto. Sem perder o ritmo, ela girou e lançou um chute poderoso nas costas de Ludmilla.

Mas antes que o golpe conectasse, uma corrente de prata brilhante disparou da cintura de Ludmilla, movendo-se com vida própria. A corrente dançou pelo ar, bloqueando o chute com um estalo metálico e envolvendo a perna de Mio. Com um puxão violento, Ludmilla arremessou sua oponente para trás. Mio voou pelo ar, mas, ao tocar o chão, seu corpo pareceu se liquefazer, mergulhando na terra como se a grama fosse água.

Um segundo depois, o solo atrás de Ludmilla explodiu, e Mio emergiu, aplicando uma rasteira perfeita que derrubou a garota de cabelos pretos. Quando Mio se preparava para desferir um chute ascendente devastador, as correntes de Ludmilla dispararam novamente, agarrando-se a uma árvore distante e puxando-a para fora do alcance, colocando-a de pé em um instante.

A batalha continuou, uma dança caótica de aço, correntes e golpes marciais que sacudia o campo como um terremoto. Asuna assistia, boquiaberta, incapaz de processar tamanha demonstração de poder por um motivo tão trivial. Isso é o normal aqui?

Emilia, a juíza, finalmente notou a espectadora paralisada na beira do jardim. Com um sorriso profissional, ela começou a caminhar em sua direção. O pânico de Asuna explodiu como uma bomba. Ela vai me interrogar! Vai achar que sou uma espiã e me desafiar também! Homens eram assustadores, mas agora ela tinha certeza: mulheres também.

Apavorada, Asuna deu meia-volta e correu, o desespero tomando conta. As lágrimas de medo e vergonha começaram a brotar, borrando sua visão. Estou perdida para sempre. Nunca vou encontrar minha sala. Vou ser expulsa no primeiro dia... Sua mente era um redemoinho de catástrofes imaginárias.

O mundo de Asuna se resumiu a um impacto surdo e à sensação de perder o chão sob os pés. Ela colidiu com outra pessoa, caindo em um emaranhado de membros no chão de pedra.

— Ai! — exclamou uma voz suave, quase musical.

Com o coração na garganta, Asuna levantou a cabeça. A garota com quem colidira era de uma beleza estonteante, quase etérea. Seus cabelos amarelos, longos e brilhantes sobre os ombros, adornados com laços delicados. Seu uniforme, uma blusa branca com detalhes em vermelho e azul-marinho, parecia feito sob medida, e joias discretas brilhavam em seu pescoço e orelhas. Seus olhos, no entanto, eram o que mais hipnotizavam.

A mente aterrorizada de Asuna chegou a uma conclusão imediata: É uma chefona! Uma daquelas alunas super populares e poderosas! Acabou pra mim! Ela vai me humilhar, e todo mundo vai rir! Ela se encolheu, antecipando o pior, as lágrimas finalmente escorrendo pelo rosto.

— Oh, céus! Você está bem? — A voz da garota era pura preocupação, desprovida de qualquer traço de malícia.

Antes que Asuna pudesse reagir, a garota já estava de pé, limpando a poeira de seu vestido e estendendo a mão para ajudá-la. Sua expressão era de uma gentileza imensa, sem sombra de raiva ou superioridade.

— Eu te machuquei? Me desculpe, eu não estava olhando para onde ia.

Tremendo, Asuna aceitou a mão e foi puxada para cima com uma força surpreendentemente delicada. A garota a examinou com cuidado, verificando se havia arranhões ou machucados, como uma irmã mais velha preocupada. Essa é minha chance. A última chance, pensou Asuna, o coração ainda disparado.

— E-eu... E-eu... sa... — As palavras se recusavam a sair, presas em sua garganta como pássaros assustados. Seu rosto queimava, vermelho como um pimentão, enquanto a frustração se misturava ao medo.

A garota inclinou a cabeça, a preocupação em seus olhos aumentando. — Você bateu a cabeça? Está se sentindo tonta? Quer que eu te leve para a enfermaria?

A gentileza dela era quase insuportável para Asuna. Reunindo até a última gota de coragem, ela fechou os olhos com força e deixou as palavras explodirem em uma enxurrada desajeitada.

— Euestouperdidanãoseiondeéminhasala!

Ela disse tudo tão rápido que quase desabou de nervosismo logo em seguida, os ombros tremendo. A garota piscou, processando a informação, e então um pequeno sorriso adorável surgiu em seus lábios. Ela o escondeu rapidamente com a mão, não por zombaria, mas para não constranger ainda mais a caloura visivelmente tímida.

— Ah, entendi! — disse, sua voz como um bálsamo. — Não se preocupe, acontece com todo mundo. Este lugar é um labirinto.

Com uma delicadeza que parecia quase sobrenatural, ela pediu licença antes de ajeitar o colarinho amassado do uniforme de Asuna. — Qual é a sua sala? Eu te levo até lá.

A gentileza da garota era como um farol em meio à tempestade de pânico de Asuna. Ela se apresentou como Charlotte Williams e, enquanto guiava Asuna pelos corredores labirínticos, sua conversa fluía com uma naturalidade desarmante.

Com uma risada calorosa, Charlotte revelou que elas não apenas estudavam no mesmo ano, mas estavam na mesma sala, -13A. Para Asuna, aquilo era nada menos que um milagre.

Mesmo com o alívio inundando seu ser, Asuna mal conseguia se concentrar nas palavras de Charlotte. Sua mente estava cativa, fascinada pela beleza quase irreal de sua nova amiga. Os cabelos loiros de Charlotte caíam em ondas suaves, decorados com laços delicados. Seus olhos heterocromáticos brilhavam com uma intensidade que parecia mudar com a luz, e seu uniforme, impecável, parecia feito para uma princesa. Com certeza ela é uma rainha da escola, pensou Asuna, sentindo-se pequena e desajeitada em comparação.

De repente, Charlotte parou, e Asuna, perdida em seus devaneios, quase colidiu com ela novamente. Ela se assustou ao ver aqueles olhos hipnotizantes focados nela, brilhando com um toque de diversão.

— Chegamos — disse Charlotte, com um sorriso tranquilizador, apontando para uma porta de metal pesado com um “-13” riscado em tinta preta.

Asuna respirou fundo, o ar enchendo seus pulmões com uma determinação recém-descoberta. Ok, vai ficar tudo bem. O começo do dia foi um desastre, mas agora tenho uma amiga. Não há mais motivos para pânico. Com o peito estufado de uma coragem frágil, ela empurrou a porta e entrou.

E seu mundo desabou.

O interior da sala -13A era uma jaula de feras. A atmosfera era densa, carregada com uma energia caótica e hostil, como se o próprio ar estivesse prestes a explodir. E as feras... algumas eram assustadoramente familiares. Lá estava o garoto de cabelos brancos, ainda gritando com Miguel, a garota de expressão vazia que caíra em seu colo.

No outro canto, Mio e Ludmilla, as duelistas do campo de beisebol, se encaravam com uma tensão que sugeria que a luta poderia recomeçar a qualquer momento. Espalhados pela sala, outros alunos exalavam auras de perigo, cada um mais peculiar e intimidador que o outro: uma garota com cabelos brilhando sob a luz, um rapaz com cicatrizes visíveis no pescoço, outro mexendo em um cubo mágico que parecia pulsar com energia mágica.

O destino não fora apenas cruel; ele a jogara no epicentro de seus piores pesadelos. Asuna sentiu as pernas fraquejarem, as lágrimas ameaçando voltar.

— Charlotte... por quê…? — sussurrou, a voz embargada.

— Você está bem? — perguntou Charlotte, a preocupação genuína em seu rosto.

Antes que Asuna pudesse responder, uma voz cortante e fria como o aço atravessou a sala.

— Se já terminaram a conversa na frente da porta, façam o favor de entrar e sentar.

As duas se viraram. Parado ali estava o professor Vlad, com feições afiadas e postura rígida. Seus olhos cinzentos, frios e analíticos, exalavam uma autoridade gélida que parecia sugar o calor da sala, e sua presença impunha um silêncio opressor, como se o próprio ar estivesse prendendo a respiração. Ele fez um gesto impaciente com a mão, e Asuna e Charlotte correram para os únicos assentos vazios, no canto mais afastado.

Vlad caminhou até a frente da sala, seu olhar varrendo cada aluno como se estivesse inspecionando armas defeituosas. O silêncio que ele impunha era opressivo, desconfortável, como se o próprio ar estivesse prendendo a respiração.

— Meu nome é Vlad — anunciou, sua voz desprovida de qualquer traço de calor. — Serei o responsável pela aula de hoje. E já lhes adianto: não serei tão... permissivo quanto Ryunosuke tem sido com vocês. Vamos começar. Chamada.

Ele pegou uma prancheta digital, e a lista de nomes começou.

— Anna Lighthart.

— Presente — respondeu uma voz entediada de uma garota no fundo, mastigando um pão de melão com uma expressão de tédio quase cômica.

— Asuna Beltris.

O silêncio pesou. Asuna estava tão imersa em sua espiral de pânico, questionando se estava mesmo no lugar certo, imaginando todos os cenários horríveis possíveis, que não ouviu seu próprio nome.

— Asuna Beltris! — A voz de Vlad estalou como um chicote, fazendo-a pular na cadeira.

Todos os olhares se voltaram para ela. O rosto de Asuna queimou de vergonha, as bochechas parecendo pegar fogo.

— P-presente! — gaguejou, a voz quase inaudível.

Vlad a encarou por um longo segundo, seus olhos dissecando-a como se pudesse ver através de sua alma.

— Você provavelmente é a última adição a este... zoológico.

Para a Asuna que estava sentada na frente da sala, Vlad era ainda mais intimidador. Sua presença era como uma sombra gelada, e a aura opressiva que ele exalava se misturava ao peso dos olhares dos outros alunos. Ela abaixou a cabeça, os piores cenários possíveis dançando em sua mente: Eles estão me julgando. Vão me desafiar. Vou perder minha coroa no primeiro dia. O desespero a engoliu, e ela mal notou que Vlad continuou a chamada, os nomes passando como um borrão enquanto ela se afogava em sua própria ansiedade.

— A aula de hoje será ao ar livre — anunciou Vlad, sua voz cortando o murmúrio baixo que começava a surgir. Um gemido coletivo percorreu a sala.

— De novo não... — resmungou um garoto chamado Chuya, afundando na cadeira. — Não quero passar pelo incidente Ryunosuke 2.0

— Relaxe — disse Vlad, com um desprezo evidente. — Eu jamais cometeria um erro tão grosseiro quanto o dele. Mas, antes de sairmos, tenho algo a dizer.

Os alunos se ajeitaram, talvez esperando um discurso motivacional. Estavam redondamente enganados.

— Olhem ao redor — começou Vlad, sua voz carregada de um cinismo afiado. — Esta é a Sala -13A. A sala dos desajustados. Dos problemáticos. A verdade é que a academia não espera absolutamente nada de vocês. Vocês são o depósito dos alunos que causaram confusão desde o primeiro dia, os que desafiam a ordem ou simplesmente não se encaixam.

Seu olhar era impiedoso, como se estivesse esmagando qualquer esperança que ainda restasse na sala. — Claro, alguns de vocês estão aqui por suas habilidades inatas, seus talentos brutos. Confiam no instinto, sem um pingo de conhecimento técnico. E, diferente do meu colega Ryunosuke, eu não vejo isso com bons olhos. É essa arrogância, essa certeza de que o “talento” basta, que levou incontáveis alunos desta classe a morrerem cedo no passado, aceitando missões muito além de suas capacidades.

A palavra “morrer” caiu como uma pedra no estômago de Asuna, enviando um arrepio por sua espinha.

— Sim, vocês têm permissão especial para aceitar qualquer missão, mesmo aquelas reservadas a professores — continuou Vlad. — A academia lhes dá a corda, esperando que aprendam a subir com ela. Na maioria das vezes, vocês apenas se enforcam.

Ele fez uma pausa, deixando o peso de suas palavras esmagar o ambiente. Alguns alunos trocaram olhares, alguns com desafio, outros com medo. Asuna só queria desaparecer.

— Dito isso, não nego que tenham potencial — admitiu Vlad, quase a contragosto. — O motivo para eu não esperar nada de vocês não é por terem um futuro ruim, mas sim um futuro imprevisível. Isso pode significar que têm uma chance de alcançar o topo... embora, pessoalmente, eu duvide disso. Gostaria de ver vocês tentarem me provar o contrário. Não com palavras, mas com ações. E, para garantir isso, eu vou treiná-los. Vou levá-los ao limite, até que implorem para desistir.

Ele terminou, e o silêncio na sala era absoluto, como se o próprio tempo tivesse parado.

— Pátio de treinamento. Em cinco minutos.

O clima ficou sombrio, a energia caótica da sala substituída por uma resignação pesada. Os alunos começaram a se levantar lentamente, alguns resmungando, outros com olhares determinados. Asuna, no entanto, permaneceu imóvel, a cabeça abaixada sobre a mesa.

Ela finalmente entendeu. Tinha caído na sala dos problemáticos, dos renegados, dos que a academia já considerava perdidos. Os piores cenários que imaginara se tornaram realidade. Um soluço silencioso escapou de sua garganta. Socorro...

De repente, ela sentiu uma presença ao seu lado. Ergueu a cabeça, assustada, e viu três garotas paradas ali. Eram Sophi, Kurokawa e Yuki, e haviam se aproximado para falar com Charlotte.

Charlotte se levantou para se juntar às amigas, mas parou. Ela se virou para Asuna, que ainda estava encolhida na cadeira, os olhos marejados.

— Vamos, Asuna? — perguntou, sua voz suave como um convite gentil em meio ao caos.

Asuna ergueu os olhos. Ali estava ela, a garota que parecia uma rainha, rodeada por amigas igualmente impressionantes, e ainda assim a chamava. Chamava a caloura perdida, aterrorizada, que mal conseguia falar sem gaguejar. Asuna fungou, limpando uma lágrima teimosa com as costas da mão.

Contra todas as probabilidades, ela havia feito uma amiga — uma amiga genuinamente boa.

Mesmo nervosa demais para falar com as outras garotas, Asuna assentiu, levantando-se com pernas trêmulas. Ela seguiu Charlotte e seu grupo para fora da sala, em direção ao pátio de treinamento, onde o inferno prometido por Vlad os aguardava. Enquanto caminhava, a promessa à sua mãe ecoava em sua mente, misturada com uma faísca de esperança. Eu vou conseguir. Um passo de cada vez.

Parte 5

26 de agosto de 20018, 10:30 da Manhã - Ilha Flutuante Apocalypse (Pátio de Treinamento de Babylon)

O pátio de treinamento era um coliseu ao ar livre, um descampado de terra batida e pedra polida, marcado por sulcos profundos e cicatrizes de incontáveis batalhas. Sob o sol escaldante, a poeira pairava no ar, carregada com o eco de golpes passados e o peso da expectativa.

Os alunos da Sala -13A estavam reunidos, não mais como um grupo caótico de desajustados, mas como um pelotão tenso, alinhado diante de seu comandante. Vlad os observava do centro do pátio, sua silhueta rígida contra o céu claro. Seu silêncio era mais intimidador do que qualquer grito, uma força invisível que fazia até os mais confiantes se encolherem.

— Eu sei o que vocês são — começou Vlad, sua voz cortante rasgando o silêncio como uma lâmina. — Alguns de vocês dominam o poder que corre em suas veias por puro instinto, um dom natural que os torna arrogantes. Outros arranham a superfície com um conhecimento básico, achando que isso é suficiente. E alguns... — seu olhar glacial varreu os rostos mais nervosos, demorando-se por um instante em Asuna, que sentiu o estômago embrulhar — ...não têm a menor ideia do que é o Ether. Por isso, começaremos do zero.

Ele ergueu uma mão, e o ar ao seu redor pareceu se distorcer, como se a própria realidade estivesse se curvando à sua vontade. Uma energia densa e opressiva emanou de seu corpo, visível a olho nu — uma aura de um roxo profundo, quase negro, que dançava como fumaça tóxica, tornando o ar mais frio e pesado. Os alunos recuaram instintivamente, o peso daquela presença esmagando qualquer resquício de coragem.

— Isto — disse Vlad, sua voz ressoando com um poder que parecia vibrar nas pedras sob seus pés — é Ether. A energia primordial da alteração. A substância que compõe a própria realidade. Tudo, sem exceção, desde o menor grão de poeira até cada um de vocês, possui Ether em sua composição. Ele reside dentro de vocês, em um estado líquido, dormente. Um oceano de potencial adormecido, esperando para ser despertado.

Ele começou a caminhar lentamente entre os alunos, seus passos ecoando no pátio silencioso. Cada movimento era deliberado, e sua presença fazia com que os alunos se encolhessem, como se temessem que ele pudesse enxergar suas fraquezas mais profundas.

— Indivíduos capazes de despertar e manipular essa energia são conhecidos como Shapers — continuou, sua voz firme e didática. — Aqueles que moldam a realidade. E a chave para despertar esse oceano interior é surpreendentemente simples: sua Vontade.

Pensem em seus corpos como um recipiente cheio de água fria. Sua Ambição, sua Determinação, sua Força de Vontade... é o fogo que aquece essa água. Conforme o Ether é aquecido, ele se torna ativo, instável. O sinal mais visível disso é a aura.

Seu olhar se fixou nos alunos mais confiantes, como Dante Scarlune e Beatrice Dragonroad, que sustentaram o contato visual com uma mistura de desafio e tédio. — Alguns de vocês são Gifteds. Nascem com uma conexão natural, usando seus poderes como se fosse tão natural quanto respirar. Outros se tornarão Magos, aprendendo a controlar essa energia através de estudo e disciplina rigorosos. E há os Anômalos... — ele fez uma pausa, olhando para Reimu Kaguya, que se encolheu como se soubesse que ele se referia a ela — ...cujos poderes desafiam qualquer classificação. Mas não importa a origem, o primeiro passo é sempre o mesmo.

Com um gesto quase casual, Vlad desfez sua aura, e a pressão esmagadora que preenchia o pátio desapareceu, como se o ar tivesse voltado a respirar. — Chega de teoria. Quero que aqueçam o Ether dentro de vocês. Externalizem-no. Tornem suas auras visíveis. Agora.

A ordem estalou no ar como um trovão. Por um instante, o pátio permaneceu em silêncio, os alunos trocando olhares hesitantes. Então, as primeiras auras começaram a surgir, como faíscas em uma fogueira.

Um grupo se destacou pela pura apatia com que realizou a tarefa. Dante Scarlune, Luck Kennedy, Kintoki Sakata e Chuya Lindell liberaram suas auras com um suspiro entediado, como se o exercício fosse uma perda de tempo. Suas chamas eram poderosas e estáveis, porém suas expressões, no entanto, deixavam claro que consideravam aquilo um jogo de crianças, seus olhos já buscando um desafio de verdade. Anna Lighthart, no mesmo grupo, liberou uma aura dourada sem sequer parar de mastigar seu pão de melão, o farelo caindo no chão enquanto ela revirava os olhos.

Em outro canto, a competição explodiu como uma tempestade. Mio Mortifer fechou os punhos, e uma aura vermelha e agressiva irrompeu de seu corpo, crepitando com energia bruta, como chamas famintas. Ao seu lado, Beatrice Dragonroad sorriu com confiança, liberando uma aura vermelha tão vasta e brilhante que parecia um pequeno pôr do sol, engolindo a de Mio em intensidade. Não muito longe, Ludmilla Farnese manifestou sua própria aura carmesim, tão afiada quanto sua espada claymore.

Ao ver Mio rindo em sua direção, Ludmilla gritou insultos, as auras das duas pulsando em uma rivalidade feroz que fazia o ar ao redor delas tremular.

Havia também o grupo dos eficientes, aqueles cuja disciplina era evidente. Charlotte Williams liberou uma aura multicolorida. Ao seu lado, Kai, Vivian e Hyori Scarlune, junto com Yuki e Mirai Bianchi, Daemon Hakurei e outros, fizeram o mesmo, suas auras surgindo de forma rápida e estável — tons de azul, roxo e branco que refletiam talento e prática incansável.

Alguns, no entanto, enfrentavam dificuldades. Kagami Rindo conseguiu liberar uma aura instável, um laranja vibrante que piscava e variava de intensidade, revelando mais poder bruto do que controle. Shimura Tendo cerrava os dentes com esforço, suor escorrendo por sua testa enquanto uma fina camada de energia esverdeada finalmente envolvia seu corpo, tremendo como uma chama sob o vento.

Asuna, por sua vez, fechou os olhos com força, concentrando-se na promessa que fizera à sua mãe, no desejo ardente de provar que pertencia àquele lugar. Após um esforço que a deixou ofegante, uma pequena e trêmula chama de luz branca surgiu em sua mão, fraca, mas presente. Um começo tímido, mas um começo.

E havia os fracassos. Kurokawa Marin ficou vermelha de esforço por minutos, o rosto contorcido, mas nenhuma aura apareceu. Sophi Pencilgon suspirou dramaticamente e desistiu após alguns segundos, cruzando os braços com um olhar de desdém. Sento Manami, Leona e Shimura Daiki pareciam não saber nem por onde começar, trocando olhares confusos enquanto tentavam imitar os outros. E Reimu Kaguya... bem, Reimu gritou quando uma pequena explosão de energia inofensiva estourou em sua mão, deixando-a com o rosto coberto de fuligem e os cabelos em pé, para o divertimento contido de alguns colegas.

Vlad observou tudo, sua expressão indecifrável, como um escultor avaliando blocos de mármore bruto. — Como imaginava — disse, sua voz carregada de desdém, fazendo os que falharam se encolherem ainda mais. — E aceitável — acrescentou, olhando para os demais com um leve aceno de aprovação. Ele já tinha uma ideia clara do nível de cada um, e seus olhos pareciam catalogar cada aluno como uma peça em um tabuleiro.

— A partir de agora, vamos nos dividir — anunciou. Ele apontou para Marin, Sento, Kurokawa, Sophi, Leona, Daiki e os outros que não conseguiram manifestar suas auras. — Vocês ficarão comigo. Vou ensiná-los a sentir, a entender e a despertar o Ether à força. Será demorado, doloroso e, para alguns, humilhante. Preparem-se.

Então, ele se virou para o grupo maior, aqueles que haviam conseguido externalizar suas auras, mesmo que de forma instável. — Vocês, que já têm uma noção básica, vão treinar algo mais fundamental: seus instintos de caçador e sua capacidade de sentir o Ether no ambiente.

Com um gesto de sua mão, dezenas de pequenos cristais roxos, idênticos à cor de sua aura, materializaram-se no ar, pulsando com uma luz suave que parecia viva. Cada cristal era do tamanho de uma moeda, mas sua presença era inegavelmente magnética, como se contivessem um fragmento do próprio poder de Vlad.

— Há um cristal aqui para cada um de vocês — disse ele, sua voz cortante. — E, antes que perguntem, não, não é um presente.

Em um piscar de olhos, os cristais desapareceram, espalhando-se em feixes de luz que cortaram o céu, dispersando-se por toda Babylon. Os alunos seguiram o movimento com os olhos, boquiabertos, enquanto os cristais se perdiam entre os prédios, telhados e jardins da academia.

— Eu os espalhei pelo colégio — continuou Vlad. — Em salas de aula, nos telhados, nos jardins, nas arenas. Sua tarefa é encontrar o seu cristal e trazê-lo de volta para mim até o final do dia. Usem sua capacidade de sentir o Ether para rastreá-los. Ou, se preferirem confiar na sorte, boa sorte com isso.

Um sorriso fino e cruel curvou seus lábios, e seus olhos brilharam com um prazer quase sádico. — E caso alguém não consiga... essa pessoa estará expulsa. Comecem.

A ordem de Vlad ecoou como uma sentença de morte. Em um instante, o pátio explodiu em movimento, os alunos disparando em todas as direções como estilhaços de uma granada. Alguns, como Dante e Beatrice, saíram com uma confiança arrogante, enquanto outros, como Asuna, correram com uma urgência nascida do puro desespero. Ela se lançou para os corredores de Babylon, o coração batendo tão forte que parecia querer escapar do peito. E então, seu erro se tornou dolorosamente claro.

Correndo sem rumo, guiada apenas pelo pânico, Asuna não demorou a se ver completamente sozinha em um corredor que não reconhecia. As paredes de pedra, os vitrais coloridos, os arcos góticos — tudo parecia idêntico, um labirinto projetado para engolir os desavisados. Por quase uma hora, ela vagou por aquele colégio monumental, o pânico crescendo a cada minuto que passava.

Salas de aula vazias, pátios desertos, corredores que pareciam se repetir infinitamente — ela perdeu a conta de quantos havia visto. Pior ainda, não fazia ideia de como voltar ao ponto de partida. O desânimo começou a pesar em seus ombros, a voz da desistência sussurrando em sua mente. Você não pertence aqui. Nunca vai conseguir.

Mas então, a imagem do sorriso de sua mãe surgiu, clara como o sol que banhava Babylon. A promessa que fizera pulsou em seu peito, reacendendo uma faísca de determinação. Eu vou dar o meu máximo.

Ela se levantou, sacudindo a poeira da derrota, e correu novamente, desta vez com um propósito renovado. Vasculhou cada canto, cada sombra, até que, finalmente, seus olhos captaram um brilho roxo sutil, quase escondido. Lá estava. Aninhado entre as folhas de um galho alto em um carvalho antigo, no coração de um jardim isolado.

Seu coração afundou. A árvore era imensa, seus galhos esticando-se para o céu como dedos de um gigante. Mas a memória de Charlotte, de seu convite gentil para se juntar às suas amigas, e a pequena chama de esperança de que talvez pudesse pertencer àquele lugar a impulsionaram. — Eu não vou ser a única eliminada — disse para si mesma, a voz trêmula, mas firme.

Com dificuldade, ela começou a subir. Cada galho era um desafio, cada metro conquistado uma vitória contra seu próprio medo. Suas mãos tremiam, o suor escorria por sua testa, mas ela continuou, impulsionada por uma determinação que nem ela sabia que possuía. Após uma escalada que pareceu durar uma eternidade, seus dedos finalmente se fecharam ao redor do cristal frio e pulsante. Um sorriso de alívio genuíno iluminou seu rosto, o primeiro momento de verdadeira vitória naquele dia caótico.

CRACK.

O som da madeira se partindo foi a única advertência. O galho sob seus pés cedeu, e o mundo girou. O céu e a terra trocaram de lugar enquanto ela despencava, o grito preso em sua garganta. Em um segundo de clareza aterrorizante, Asuna fechou os olhos, esperando o impacto, a dor, o fim.

Mas ele nunca veio. Em vez disso, ela sentiu braços firmes envolverem seu corpo, acompanhados pelo aroma suave de flores e um calor reconfortante. — Você está bem?! — A voz era de Charlotte.

Asuna abriu os olhos, o rosto a centímetros do de sua amiga. Charlotte a segurava no ar com uma força surpreendente, seus olhos heterocromáticos brilhando com preocupação. O alívio, o medo e a gratidão explodiram dentro de Asuna em uma onda de lágrimas. Ela se agarrou a Charlotte, chorando contra seu ombro.

— Eu... eu achei que ia morrer... — soluçou, a voz abafada.

— Shhh, está tudo bem agora — confortou Charlotte, pousando-a gentilmente no chão. — Você conseguiu. No final, você pegou o cristal.

Asuna se acalmou, fungando e limpando o rosto com as mãos trêmulas. — E você? Conseguiu o seu?

— Sim — respondeu Charlotte, com um pequeno sorriso. — Eu já estava voltando, mas lembrei que você não conhecia bem a escola. Fiquei preocupada.

O rosto de Asuna queimou de vergonha e felicidade. Charlotte se lembrou de mim. A ideia era quase demais para processar. As duas começaram a caminhar de volta, a tensão finalmente se dissipando, quando uma sombra bloqueou seu caminho.

Era Kagami Rindo, e ele não estava sozinho. Atrás dele, um grupo de alunos formava uma barreira intimidadora — seus dois amigos habituais, mais alguns delinquentes de olhares predatórios. Uma aliança forjada nas regras cruéis do Desafio da Coroa, seus olhos brilhando com a promessa de violência e poder.

— O que você quer, Kagami? — perguntou Charlotte, sua voz fria como gelo, o corpo se posicionando sutilmente na frente de Asuna.

Kagami abriu um sorriso presunçoso, os braços cruzados com uma arrogância que parecia desafiar o próprio sol. — Só vim lhes apresentar uns amigos. Na verdade, meus novos bichinhos de estimação. Tragam os presentes!

Dois de seus capangas arrastaram um grupo de alunos para a frente. Estavam machucados, as roupas rasgadas, os olhos vazios de esperança. Asuna os reconheceu imediatamente — eram os garotos e garotas que haviam acusado Kagami de roubo dias atrás, agora reduzidos a sombras de si mesmos.

— O que você fez com eles? — A voz de Charlotte era perigosamente baixa, cada sílaba carregada com uma raiva contida.

— O óbvio — respondeu Kagami, apertando o rosto de uma das garotas com força, fazendo-a estremecer. — Eles viraram meus escravos. Perderam um desafio das coroas.

A aura de Charlotte começou a faiscar, sua energia multicolorida crepitando ao seu redor como uma tempestade prestes a explodir. Ela deu um passo à frente, mas Kagami a deteve com uma palavra.

— Calma aí, loirinha. Nós não quebramos nenhuma regra. Foi uma batalha válida, não foi, senhor juiz?

Das sombras, um garoto de cabelos azuis e óculos, vestindo o uniforme preto e prata dos Juízes do Crepúsculo, emergiu. Ele confirmou com um aceno relutante, os olhos desviando do olhar furioso de Charlotte.

— Eu não acredito que eles teriam aceitado um desafio seu sem motivo! — retrucou Charlotte, os punhos cerrados.

— E quem disse que não tiveram? — zombou Kagami, o sorriso alargando-se. — Não há regra que nos impeça de usar outros métodos de persuasão. Uma cobrança de dívida, uma chantagem leve... tudo que não podemos fazer é forçá-los a aceitar com violência. E nós não fizemos isso, Mas se você tentar soltá-los após terem perdido o jogo de forma justa, acho que seu plano de virar juíza não vai rolar, né?

Charlotte estava de mãos atadas. Atacá-los agora seria quebrar as regras da academia, arruinando sua chance de se tornar uma Juíza do Crepúsculo e provavelmente resultando em sua própria expulsão. Kagami sabia disso, e seu sorriso era a prova de sua confiança.

— Mas... como estou de bom humor, tenho uma proposta. Um desafio — disse ele, os olhos brilhando com malícia. — Você contra todo o meu grupo. Batalha de força bruta, sem uso de Ether. Se você vencer, eu os liberto. Se nós vencermos... você se torna minha nova escrava de estimação.

A proposta era uma sentença de morte. O grupo de Kagami incluía alunos do terceiro e quarto ano, alguns com auras tão poderosas que faziam o ar ao redor deles tremer. Era uma batalha injusta, impossível. Mas ao ver os olhos suplicantes dos alunos cativos, Charlotte soube que não podia recusar.

— Asuna, vá embora. Agora — ordenou, sua voz firme, mas com um tremor de preocupação.

— Não! Eu não vou te deixar! — protestou Asuna, os olhos marejados.

— VAI! — gritou Charlotte, com uma fúria que fez Asuna recuar, o coração partido.

Com lágrimas escorrendo pelo rosto, Asuna se virou e correu, o som da risada de Kagami ecoando atrás dela como uma maldição. Charlotte ficou sozinha, cercada por um círculo de predadores que se fechava lentamente.

Asuna corria, o choro a cegando, o ódio por sua própria covardia a sufocando. Inútil! Covarde! Ela se chocou contra outra pessoa, caindo no chão com um gemido.

— Ei, cuidado! — disse uma voz familiar.

Ela ergueu os olhos, o rosto molhado de lágrimas. Era um colega de sua sala, cabelos pretos com mechas vermelhas, um braço enfaixado, olhos heterocromáticos brilhando com uma mistura de tédio e curiosidade. Dante Scarlune, um dos que manifestaram sua aura sem esforço. Sem pensar, Asuna se agarrou à camisa dele, as palavras saindo em um jorro desesperado.

— Por favor... me ajuda! A Charlotte... ela...

A urgência em sua voz foi o suficiente. Dante a ajudou a se levantar, seus olhos estreitando-se. — Me diga onde.

...

Enquanto isso, Kagami saboreava sua vitória iminente. — Sabe, loirinha, você já deve saber que vai perder. Mas que tal uma troca? Se humilhe. Aqui e agora. Tire sua roupa, ajoelhe-se e implore por meu perdão por ter quebrado meu orgulho. Se fizer isso, eu liberto todo mundo. E nem te forço a virar minha escrava.

O silêncio foi a resposta de Charlotte. Os celulares dos delinquentes já estavam apontados para ela, prontos para gravar sua humilhação. Ela sabia que não havia garantia de que Kagami cumpriria a promessa. Mas, naquela situação, era a única jogada que lhe restava. Com as mãos trêmulas, ela começou a desabotoar a blusa, o som dos botões ecoando em seus ouvidos como trovões. As risadas e os comentários vis a cercaram, cada palavra como uma facada. Uma única lágrima solitária traçou um caminho por seu rosto.

Quando a risada de Kagami estava no auge, algo foi jogado sobre os ombros de Charlotte, cobrindo-a. Era uma jaqueta preta, ainda quente com o calor de seu dono.

— Já chega — disse uma voz entediada, mas carregada de autoridade.

Kagami se virou, irritado. — Quem é você pra se meter onde não foi chamado?

Caminhando lentamente para o centro do círculo, estava Dante Scarlune. Seus olhos heterocromáticos brilhavam com uma calma perigosa, como a quietude antes de uma tempestade.

— Um intrometido que adora se meter em problemas alheios — respondeu Dante, o tom quase casual, mas com um peso que fez os delinquentes recuarem.

— É melhor não se achar um herói — rosnou Kagami. Mas então seu grupo o reconheceu. A arrogância em seus rostos foi substituída por um lampejo de medo. Aquele não era só um aluno da Sala -13A. Ele era...

— Se você fizer qualquer gracinha, será punido por quebrar as regras! — ameaçou Kagami, a voz tremendo ligeiramente.

A resposta de Dante foi um borrão de movimento. Em uma velocidade estonteante, ele apareceu na frente de Kagami e o acertou com um chute no rosto que ecoou pelo pátio como um trovão. Kagami caiu, o corpo mole no chão.

— E eu com isso? — disse Dante, indiferente.

Um murmúrio se espalhou como fogo entre os delinquentes. “O Top 10”, “Dante Scarlune”. O medo tomou o lugar da arrogância em seus rostos. Dante se virou para a gangue, os olhos estreitados.

— Quem venceu o jogo contra esse pessoal? — perguntou, a voz calma, mas mortal.

Ninguém falou. Dante cerrou o punho, e o ar ao seu redor pareceu ficar mais pesado. — Entendi. Então vou ter que esmurrar todo mundo.

— Foi ele! — gritaram todos, apontando para um garoto que tremia da cabeça aos pés, o rosto pálido como cera.

Dante se aproximou dele com um sorriso na boca, a expressão inegável de um vilão. — Nós dois. Pedra, papel e tesoura. Você joga tesoura. A liberdade deles está em jogo.

O garoto tentou protestar, mas ao encontrar os olhos de Dante, seu corpo agiu por instinto. — Sim, senhor! — Sua mão tremeu enquanto formava uma tesoura. Dante jogou pedra.

— Eu ganhei — declarou, a voz sem emoção.

Todos olharam para o Juiz do Crepúsculo, que sabia que a autoridade de um Top 10 rivalizava com a de um professor. Ele não podia fazer nada. Com um guincho de pânico, o juiz saiu correndo, seguido pelo resto da gangue, deixando Kagami inconsciente no chão.

Charlotte, que acompanhará tudo em choque, mal conseguiu processar o que aconteceu.

Dante passou por Charlotte como se nada tivesse acontecido. — Obrigada... — conseguiu dizer ela, a voz trêmula.

— Não foi nada. Agradeça à sua amiga — disse ele, apontando com o queixo para Asuna, que observava de longe, os olhos arregalados. — Pode me devolver a jaqueta depois.

E com isso, ele se foi, sua figura desapareceu entre os corredores de Babylon como um espectro.

Asuna correu, pulando nos braços de Charlotte, o choro agora de puro alívio. — Fiquei com tanto medo!

Charlotte a abraçou de volta, o calor da jaqueta de Dante ainda em seus ombros, a sensação de segurança finalmente retornando. Quando a adrenalina da batalha se dissipou, a realidade do que havia acontecido assentou sobre o grupo. Os alunos resgatados, agora livres das garras de Kagami, aproximaram-se de Charlotte, suas cabeças curvadas em uma mistura de gratidão e vergonha.

Agradeceram com vozes trêmulas, pediram desculpas por tê-la envolvido, mas Charlotte, ainda processando a intervenção de Dante, apenas balançou a cabeça, oferecendo um sorriso cansado.

Seu olhar caiu sobre a figura inconsciente de Kagami. Uma ideia, tão brilhante quanto perversa, formou-se em sua mente. Usando seu controle de Ether, ela materializou uma corda. Com uma eficiência impiedosa, amarrou Kagami de cabeça para baixo no galho mais grosso do carvalho, o corpo balançando como um troféu de guerra. Por fim, ela pegou o cristal roxo do bolso dele, segurando-o entre os dedos com um sorriso frio.

A punição estava selada: sem seu cristal, Kagami seria expulso no final do dia.

Enquanto as duas caminhavam de volta ao pátio de treinamento, a paz recém-descoberta permitiu que a mente de Asuna processasse tudo. — Eu não sabia que um dos dez melhores estava na nossa sala — disse ela, maravilhada.

— Para ser honesta, eu também não tive tempo de olhar a lista — admitiu Charlotte, com uma risada suave. — Entre ajudar os alunos que não queriam participar do desafio e... bem, tudo isso, não tive a chance. E, de qualquer forma, com a contagem de coroas, essa lista vai mudar constantemente.

O comentário fez Asuna lembrar de algo. — Charlotte, por que você quer tanto ser uma Juíza?

Charlotte olhou para o horizonte, onde as torres de Babylon se erguiam, tocando as nuvens como lanças desafiando o céu. — Ser uma Juíza não é o objetivo final, Asuna. É uma ferramenta. Um passo necessário.

Ela parou, seus olhos heterocromáticos brilhando com uma intensidade que Asuna nunca vira. — Meu verdadeiro objetivo é me tornar mais forte. Tão forte que eu possa proteger as pessoas do meu reino, para que ninguém precise passar pelo que aqueles alunos passaram hoje. Mas eu percebi uma coisa... a ideia de superar Zero e me tornar a número um, de reformar esta academia e criar um lugar melhor... é impossível para mim sozinha. Sonhos grandes precisam de aliados fortes.

Sua voz era um testamento de uma vulnerabilidade que ela raramente mostrava. — Por isso, eu decidi. Vou criar meu próprio grupo. Com o poder e a influência dos Top 10 e uma posição entre os Juízes, meus objetivos não serão apenas sonhos. Serão planos de ação.

Asuna sentiu uma onda de admiração, o peito aquecido por aquelas palavras. — Eu vou te ajudar! — declarou, sem hesitar. — Quem você está pensando em chamar?

Um sorriso estratégico surgiu nos lábios de Charlotte. — Depois de hoje, eu sei exatamente de quem precisamos para começar. Alguém com poder esmagador e status inquestionável. Precisamos do Dante.

A ideia era brilhante e aterrorizante. — Mas... como? — gaguejou Asuna. — Ele já é um dos dez melhores. O que poderíamos oferecer a ele? E não temos como vencê-lo em um duelo agora...

— Exatamente — concordou Charlotte, pensativa. — Força não vai funcionar. Lógica e benefícios também não. O que nos deixa com apenas uma alternativa...

Asuna a encarou, confusa. Charlotte suspirou, o rosto corando levemente. — Teremos que seduzi-lo. Usar nossos... poderes femininos para fazê-lo se apaixonar e se tornar nosso aliado.

Asuna engasgou, os olhos arregalados. — O quê?! Você está falando sério?

— É a única maneira que sobrou! — defendeu-se Charlotte, claramente desconfortável com a própria ideia. — Mas... não tenho certeza se minha aparência será o bastante para alguém como ele.

Asuna a olhou como se ela tivesse enlouquecido. — Você está brincando? Você é a garota mais bonita da escola! É óbvio que vai dar certo!

O elogio sincero fez Charlotte sorrir, um brilho de gratidão em seus olhos. — Obrigada, Asuna. Mas, às vezes, eu queria ser fofa e feminina como você. — Ela acariciou os cabelos rosas de Asuna com um carinho genuíno, fazendo-a corar violentamente.

A aula de Vlad continuou com mais treinos exaustivos de domínio de Ether, que deixaram os alunos completamente esgotados, os corpos e mentes no limite. Quando finalmente foram liberados para o descanso, Charlotte e Asuna colocaram em ação a “Operação Encanto”. E foi um desastre.

Charlotte tentou a clássica tática do “esbarrão acidental” no corredor, mas no exato momento, Layla Azael “acidentalmente” tropeçou, fazendo uma bandeja de comida voar e criar uma barreira de macarrão garfos e facas afiadas que voaram entre Charlotte e Dante. A tentativa de “me ajude a pegar este livro na prateleira alta” na biblioteca foi frustrada quando Beatrice Dragonroad usou a cabeça de Dante como apoio para pular e tentar atacar alguém do outro lado da estante, derrubando uma avalanche de livros. A abordagem do bento preparado com carinho foi sabotada por Anna Lighthart, que agarrou Dante pelo braço e o arrastou para a cantina para comprar pão de melão e rosquinhas, seu rosto coberto de migalhas enquanto gritava sobre sua fome.

Cada tentativa era interrompida, na maioria das vezes por garotas que pareciam orbitar Dante constantemente, seja por rivalidade ou fome. O tempo estava se esgotando.

A próxima aula, com o professor Ryunosuke, estava para começar, mas ele, como de costume, estava atrasado. Charlotte estava sentada em um banco no corredor, a cabeça baixa, pronta para admitir a derrota, quando uma sombra caiu sobre ela.

— Você está bem?

Era Dante. Ele estava parado na sua frente, a expressão neutra, mas com uma centelha de preocupação em seus olhos heterocromáticos. Charlotte sentiu o rosto esquentar violentamente. Asuna, que estava perto, viu a oportunidade de ouro e se posicionou como uma pequena e nervosa guarda-costas, pronta para impedir qualquer interrupção.

— O-o que você quer? — gaguejou Charlotte, toda a sua pose de sedutora calculista evaporando em um instante.

— Vim pegar minha jaqueta — disse ele, a voz calma. — E você parecia desanimada. Fiquei preocupado que pudesse ser por causa do que aconteceu mais cedo.

Ele estava... preocupado comigo? Ele prestou atenção? A revelação a deixou tão envergonhada que seu cérebro travou. Ela se levantou, murmurou uma apresentação apressada, entregou a jaqueta e a conversa morreu ali. Sem charme, sem progresso, apenas um silêncio constrangedor.

Derrotada, Charlotte se virou para a sala de aula. A Operação Encanto havia sido um fracasso total.

A transição da aula de Vlad para a de Ryunosuke foi como sair de uma tempestade de gelo e entrar em um dia de sol preguiçoso. Ryunosuke, com seu ar perpetuamente sonolento e um sorriso amigável, sentou-se na beirada de sua mesa, contrastando drasticamente com a postura rígida de Vlad. Sua camisa branca estava desabotoada no peito, e seus cabelos vermelhos caíam em mechas desleixadas sobre os olhos, dando-lhe um charme descontraído que relaxou a atmosfera tensa da sala.

— Bom, pessoal — começou ele, bocejando abertamente. — Vlad já deve ter derretido o cérebro de vocês com treinamento prático, então hoje vamos relaxar um pouco. Vamos falar de história. Especificamente, sobre o livro que todo caçador, explorador e acadêmico neste mundo considera sua bíblia: o bestiário O Mundo.

Ele projetou uma imagem holográfica de um antigo diário de couro no centro da sala, suas páginas amareladas e bordas gastas brilhando com uma aura mágica. — Tudo começou com um homem: o lendário explorador Fernão de Magalhães. Em sua jornada impossível ao redor do globo, ele não apenas mapeou terras desconhecidas, mas também catalogou cada criatura fantástica e cada conceito misterioso que encontrou.

Seu diário — explicou Ryunosuke, gesticulando para a imagem — foi o primeiro bestiário.

Ele contou a história com a paixão de um contador de histórias, descrevendo como o diário passou por mãos secretas ao longo dos séculos até chegar a Loud Scarlune, um nome que fez alguns alunos, incluindo Dante, se endireitarem em suas cadeiras. — Loud viu o potencial ali. Com a ajuda da União da Rosa-Cruz e de suas próprias explorações, ele transformou um diário pessoal em uma enciclopédia do nosso mundo. Mas a verdadeira genialidade — e aqui Ryunosuke se inclinou, os olhos brilhando com entusiasmo — veio com a última atualização.

Usando um processo mágico complexo, Loud e sua parceira, Carmila, transformaram O Mundo em um compêndio vivo.

A sala, antes desinteressada, agora prestava atenção, até mesmo Anna parando de mastigar seu pão de melão por um instante. — Cada cópia deste bestiário, não importa onde esteja, se atualiza automaticamente a cada nova descoberta que Loud faz. É um documento em constante evolução. E um dia — seu olhar varreu os alunos, detendo-se em cada um — talvez sejam vocês a preencher as páginas que ainda estão em branco.

A aula foi fascinante, mas a mente de Charlotte estava em outro lugar. A vergonha de sua tentativa falha de sedução a consumia. Não era o rubor tímido de Asuna, mas a frustração fria de uma estrategista cujo plano, por mais ridículo que fosse, havia falhado miseravelmente. Ela se sentia uma idiota.

— Eu entendo bem como é — sussurrou Asuna, notando sua angústia. — A vergonha pode travar a gente. Parece que todo mundo está olhando e julgando.

Charlotte deu um pequeno sorriso de gratidão. Vindo de Asuna, a especialista em paralisia social, o consolo era genuíno.

Quando a aula finalmente acabou, o trio de amigas de Charlotte — Yuki, com sua postura neutra, Sophi a mais relaxada, e Kurokawa também meio tímida aproximaram-se.

— Você parece desanimada — observou Yuki, direta como sempre.

Antes que Charlotte pudesse responder, Asuna, superando sua própria vergonha, explicou toda a situação: o plano de Charlotte para formar um grupo, a necessidade de recrutar Dante, a desastrosa “Operação Encanto”. As três garotas se entreolharam e soltaram um suspiro coletivo e cansado.

— talvez tenha um geito de lidar com isso — disse Sophi, ajeitando uma mecha de cabelo negro esverdeado.

— Como assim? — perguntou Charlotte, a esperança murchando.

— talvez saibamos uma forma de lidar com esse problema — esclareceu Kurokawa, com um sorriso enigmático. — Mas a solução... não tenho certeza se é a melhor escolha para você.

A curiosidade de Charlotte foi aguçada. — Por favor, me digam.

Elas ainda hesitaram, até que Asuna deu um passo à frente, a voz trêmula, mas cheia de convicção. — Por favor. A Charlotte me ajudou muito hoje. Eu quero poder ajudá-la também.

A lealdade de Asuna pareceu quebrar a resistência do trio. Sophi deu de ombros. — Certo. Mas não diga que não avisamos. Venham com a gente.

Elas guiaram Charlotte e Asuna para fora dos portões da academia, em direção à cidade que a cercava. O destino era um alojamento de dormitórios que parecia diferente dos outros, mais isolado, com uma arquitetura moderna de linhas elegantes e janelas de vidro fumê. Uma aura de energia caótica parecia emanar do prédio, como se ele próprio estivesse vivo.

— Eles estão dormindo por aqui ultimamente — disse Yuki, parando em frente a uma porta reforçada.

— “Eles” quem? — perguntou Charlotte, confusa.

Sophi apenas sorriu enigmaticamente e abriu a porta.

O que as recebeu foi um tsunami de caos absoluto. A sala principal era uma zona de guerra. Em um canto, um borrão de movimento revelou Dante, Kai e Kintoki em um treino de combate de alta velocidade, o ar estalando com o impacto de seus golpes, faíscas voando como se o próprio espaço estivesse se rasgando. Do outro lado, Luck e Anna estavam sentados no chão, gritando e trocando fichas de aposta sobre quem cairia primeiro, uma pilha de moedas brilhando entre eles. No sofá, Mio e Beatrice devoravam uma montanha de comida, reclamando em uníssono que “já estava acabando!” enquanto migalhas voavam em todas as direções. Era uma bagunça de poder, barulho e energia desenfreada, como se um circo tivesse colidido com uma arena de gladiadores.

Charlotte e Asuna ficaram paralisadas na porta, sem palavras, os olhos arregalados diante do espetáculo.

Sophi se inclinou ao lado de Charlotte, a voz calma em meio à confusão. — A verdade, Charlotte, é que “eles” já têm um grupo. Você não precisa recrutar o Dante.

Ela abriu os braços, apresentando a cena caótica como se fosse uma obra de arte. — Se você quer mesmo se juntar a um time com o Dante, cercada por pessoas fortes e empenhadas... então, considere-se bem-vinda.

Kurokawa sorriu, seus olhos brilhando com um toque de diversão. — Bem-vinda ao Circle of Ravens.

Charlotte e Asuna olharam para a cena, para o balé mortal do treino, para a gritaria das apostas, para a briga pela comida. A mente de Charlotte, sempre dez passos à frente, estava completamente em branco. Seu plano grandioso de recrutamento, sua estratégia calculada... tudo se desfez diante da simples e caótica verdade.

Ela não precisava caçar um corvo. Ela tinha acabado de ser convidada para o ninho.

Parte 6

A mente de Charlotte, uma máquina afiada de calcular estratégias e prever resultados, travou como um motor sobrecarregado. Circle of Ravens. O nome ressoava com um peso imponente, quase mítico, evocando imagens de segredos antigos e alianças sombrias. A realidade, no entanto, era um pandemônio absoluto — uma zona de desastre onde o caos reinava com mais autoridade que qualquer líder.

— Este grupo — continuou Sophi, ignorando o estrondo de uma batalha de treino que, por pouco, não estilhaçou uma janela próxima — é formado pelos alunos mais antigos da Sala -13. O Circle já existia muito antes do Jogo das Coroas.

Charlotte piscou, tentando processar a informação enquanto o barulho de golpes e gritos ecoava ao fundo. — Mas... por quê? — perguntou, a voz reduzida a um fio, quase engolida pelo tumulto.

Sophi, normalmente um furacão de energia, deixou a expressão suavizar-se em um raro momento de gravidade. Seus olhos, geralmente brilhando com sarcasmo, agora carregavam uma intensidade que fez o ar parecer mais pesado. — Nós nos reunimos com um objetivo em comum. Encontrar e derrotar um avatar de Astreus.

A menção a uma das entidades conceituais que governavam o universo caiu como uma bomba no peito de Charlotte. Astreus. Um nome que evocava o tecido do cosmos, uma força além da compreensão humana. Aquilo não era um clube de estudos, nem uma aliança tática para o Jogo das Coroas. A ambição do Circle of Ravens era de escala cósmica, uma empreitada que desafiava a lógica e a sanidade.

— Fomos caçando pistas, cada um por sua conta, até que nossos caminhos se cruzaram — acrescentou Ludmilla, enquanto, com um movimento rápido, roubava um pedaço de carne do prato de Beatrice. — Percebemos que sozinhos éramos fortes, mas juntos... podíamos ser invencíveis. Compramos esta casa para servir de base. Tem um porão de treino que é praticamente um bunker, mas, nossa, custou um rim e meio.

— POR QUE VOCÊS TROUXERAM ESTRANHAS AQUI?! — O grito de Kai cortou o ar como uma lâmina, sua aura crepitando com eletricidade enquanto ele interrompia o treino, os olhos faiscando de irritação.

O berro foi tão súbito e ensurdecedor que Asuna, já nervosa com o ambiente caótico, deu um pulo, os olhos marejados de susto. Suas mãos tremiam enquanto ela se encolhia, tentando se fundir à cadeira.

O caos, como se respondesse a um chamado, mudou de foco instantaneamente.

— Olha só, Kai, você fez a coitadinha chorar — provocou Dante, a voz carregada de uma zombaria tão afiada que poderia cortar vidro.

— Que mané — resmungou Luck, balançando a cabeça em desaprovação, como se Kai tivesse violado algum código sagrado de etiqueta.

— Nada descolado da sua parte — completou Kintoki, cruzando os braços com um ar de superioridade moral.

Mio, a boca cheia de comida, apenas assentiu vigorosamente, incapaz de articular palavras, mas claramente alinhada com a crítica coletiva.

Sophi, com a calma de um predador que não precisa rugir para ser temido, caminhou até Kai. Parou a poucos centímetros dele, o olhar frio como gelo seco. — Ela é tímida. Menino mau — disse, cada palavra cortando o ar com uma precisão gélida.

— EU NÃO SOU UM CACHORRO! — explodiu Kai, o rosto vermelho de fúria, as veias saltando no pescoço. Mas, para espanto de Charlotte, ele girou nos calcanhares e subiu as escadas pisando duro, como uma criança obedecendo a uma ordem implícita. O som dos passos ecoou, deixando um silêncio momentâneo no ambiente.

Com o obstáculo removido, o grupo se reuniu em torno da mesa principal, uma peça de madeira maciça que parecia ter sobrevivido a guerras. Charlotte, recuperando a compostura, respirou fundo e expôs seu plano: formar uma aliança estratégica para dominar o ranking dos Top 10, usar essa influência para reformar a academia e proteger os mais fracos. Sua voz, inicialmente hesitante, ganhou força à medida que ela detalhava sua visão, os olhos brilhando com determinação.

— É uma boa ideia — admitiu Sophi, após ouvir tudo com atenção. Ela tamborilava os dedos na mesa, um hábito que parecia denunciar sua mente trabalhando a mil. — Você é boa em gerenciar e liderar. Nossa melhor ideia para subir no ranking era, basicamente, sair derrotando todo mundo até chegarmos ao topo. Bem... menos sofisticado.

— O que me irrita é que o Dante já está no Top 10 e eu não! — explodiu Kai, que havia retornado tão rápido quanto saíra, como se a fúria o tivesse catapultado de volta à discussão. — Essa lista idiota não faz sentido!

— É óbvio que o único que deveria estar no topo sou eu! — retrucou Kintoki, apontando para si mesmo com um polegar, o ego inflado quase visível no ar.

Dante, recostado na cadeira com um sorriso maligno, ergueu uma sobrancelha. — Submetam-se, ralé — disse, o tom tão debochado que parecia provocar um incêndio.

Naquele instante, Kai e Kintoki pularam sobre ele, uma explosão de movimento e testosterona. Asuna, já à beira de um colapso nervoso, agarrou o braço de Charlotte, esperando o pior. Mas, antes que a situação descambasse para a violência total, algo inesperado aconteceu.

BAM!

Beatrice bateu a mão na mesa com uma força que fez a madeira gemer e rachar ao meio. O som reverberou pela sala, silenciando todos. Ela encarou os três garotos com um olhar que poderia congelar o sol.

— Estamos tendo uma conversa séria aqui — disse, a voz baixa, mas carregada de uma autoridade inquestionável. — Será que dá para agirem como adultos, pelo menos por cinco minutos?

Os três — Kai, Kintoki e Dante — pararam no mesmo instante, como se um feitiço os tivesse petrificado. Abaixaram a cabeça, envergonhados, como crianças pegas roubando doces.

— Desculpa, Bea — murmuraram em uníssono, a rebeldia evaporando.

Charlotte finalmente entendeu. Dante podia ser o mais forte, com sua presença magnética e aura avassaladora, mas Beatrice era o verdadeiro pilar do grupo. Ela não precisava gritar ou exibir poder — sua autoridade era absoluta, forjada em respeito e, talvez, um pouco de medo.

A votação para aceitar a liderança de Charlotte foi tensa e dividida. Embora seu plano fosse promissor, nem todos estavam convencidos. Kai, em particular, cruzou os braços, o cenho franzido. — E o que nós ganhamos com isso? — perguntou, a voz carregada de desconfiança.

Beatrice, sempre a mediadora, levantou a mão para silenciar as objeções. — Certo, um teste — decidiu, o tom definitivo. — Charlotte, você e sua amiga entram para o Circle. Você lidera. Por uma semana. Se, nesse tempo, você não conseguir nos convencer de que seus métodos trazem os resultados que queremos, voltamos ao nosso jeito de sempre: socar primeiro, perguntar depois.

Charlotte engoliu em seco, mas assentiu. Era sua chance, e ela não pretendia desperdiçá-la. Mais tarde, Kurokawa as guiou por um corredor mal iluminado até um quarto vago, o cheiro de madeira antiga e poeira impregnado no ar.

— O que eles esperam de mim, de verdade? — perguntou Charlotte, a dúvida rastejando em sua voz enquanto caminhavam.

Kurokawa a encarou, os olhos escuros refletindo a luz fraca das lâmpadas. — Também não tenho certeza — admitiu, a voz calma, mas pensativa. — Mas acho que eles querem ver se seguir você pode torná-los mais fortes. No fundo, é isso que nos une. A frustração de saber que ainda não somos os melhores, que há algo maior lá fora... e que ainda não o alcançamos.

Depois de verem o quarto — um espaço simples, com camas e uma janela que dava para um céu estrelado —, Charlotte e Asuna voltaram ao dormitório principal para buscar suas coisas. Sob a luz prateada da lua, Charlotte remoía as palavras de Kurokawa, o peso da responsabilidade apertando seu peito. Será que ela estava à altura do desafio?

Foi quando Asuna, caminhando ao seu lado, pegou sua mão. O gesto foi tão inesperado que Charlotte quase parou.

— Continue acreditando em si mesma — disse Asuna, a voz baixa, mas firme, cortando o silêncio da noite. — Eu te conheço há pouco tempo, então não tenho muito a dizer... mas você é forte, Charlotte. Você sempre faz o que quer e nunca hesita. Mesmo quando está abalada, você segue em frente. Diferente de mim... você é forte. Por isso eu sei que vai conseguir. E se precisar de ajuda, eu estarei aqui.

A sinceridade crua nas palavras de Asuna reacendeu algo em Charlotte — uma faísca de confiança que ela nem sabia que havia perdido. Elas chegaram à porta da casa dos Corvos, prontas para começar, quando um estrondo ensurdecedor e um clarão de raios iluminaram as janelas. O som de algo — ou alguém — sendo arremessado contra uma parede ecoou lá dentro.

Charlotte bateu na porta, o coração acelerado. Luck abriu, a mão cobrindo o rosto em um gesto de pura exasperação.

— O que aconteceu? — perguntou Charlotte, já temendo a resposta.

— Nada demais — suspirou Luck, o tom exausto de quem já viu aquele filme várias vezes. — Só o Dante sendo o Dante.

Ele deu um passo para o lado, revelando a cena no corredor. Dante, o autoproclamado rei do Top 10, estava colado na parede, o corpo chamuscado e sangrando, preso por uma teia de eletricidade crepitante. Na frente da porta do banheiro, Yuki, envolta apenas por uma toalha, faiscava com raios, o rosto vermelho de fúria.

— SEU PERVERTIDO MALDITO! COMO OUSA ENTRAR ASSIM?! — gritava ela, os cabelos eriçados pela eletricidade estática.

— Mas... a porta... tava aberta... — murmurou Dante, a voz fraca, o corpo deslizando lentamente pela parede.

— É verdade, eu esqueci de fechar… — gritou Vivian, a voz calma sem qualquer intenção de ajudar.

— Não falei... — conseguiu dizer Dante, antes de ser interrompido.

— AINDA ASSIM, VOCÊ DEVERIA BATER ANTES DE ENTRAR! ESSA JÁ É A QUARTA VEZ! — retrucou Yuki, um novo raio formando-se em sua mão.

Ludmilla saiu do banheiro já vestida, passando pelo caos com a tranquilidade de quem está acostumada a desastres. Em italiano, murmurou: — Questo pervertito stava solo cercando una scusa. — (Este pervertido só estava procurando uma desculpa.)

Kurokawa, que havia se aproximado para receber Charlotte e Asuna, olhou para a cena com um suspiro resignado. Charlotte forçou um sorriso, tentando ignorar o absurdo à sua frente. — É sempre assim? — perguntou, quase com medo da resposta.

— Praticamente — responderam Kurokawa e Luck em uníssono, como se recitassem uma verdade universal.

Asuna, ao lado de Charlotte, parecia à beira de um colapso. Seu rosto estava pálido, e ela segurava o braço de Charlotte com tanta força que parecia temer que o chão fosse engoli-la. Era como se sua alma estivesse visivelmente escapando do corpo.

No chão, Dante, com um esforço hercúleo, mergulhou o dedo no próprio sangue e começou a rabiscar na parede, as letras tortas, mas legíveis:

“Não me arrependo de nada.”

Charlotte olhou para o grupo — um amontoado de talentos explosivos, egos colossais e personalidades que desafiavam qualquer tentativa de ordem. O Circle of Ravens estava formado. E ela, de alguma forma, havia acabado de assumir a liderança de um hospício.

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