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The Fall of the Stars: Capítulo 2 - Possibilidade

  • Foto do escritor: AngelDark
    AngelDark
  • 27 de out.
  • 62 min de leitura

Volume 7: Contra-Ataque


Parte 1  

A tensão da batalha se intensificava a cada segundo, o ar carregado com o cheiro acre de terra queimada, éter crepitante e sangue fresco, enquanto o sol poente tingia o platô e a floresta circundante em tons de laranja sangrento. Cobrindo seu corpo com chamas curativas que dançavam como véus de fogo esmeralda, Elizabeth sabia que o tempo era seu maior inimigo.

Ela só podia lançar mais duas curas de grande magnitude, feitiços que consumiam uma grande quantidade de ether. A escolha deveria ser tática, calculada como um movimento de xadrez, mas naquela situação caótica, era dolorosamente óbvia, guiada pelo instinto de sobrevivência. Skadi, com um buraco grotesco no abdômen onde sangue congelado escorria em cristais vermelhos, precisava de tratamento urgente; em segundos, ela estaria morta, e nem seus poderes poderiam salvá-la de cair no abismo eterno. A segunda cura... era Bishamon. Com a habilidade de sua bandeira, eles poderiam multiplicar seu éter, uma cascata de energia que se espalharia como raízes vivas, e assim Elizabeth poderia, por sua vez, curar mais pessoas, virando o fluxo da batalha. Mas o Rei Demônio à sua frente não era um tolo; Cernunnos a observava com olhos negros como abismos sem fundo, e neles Elizabeth via o reflexo de seu próprio plano, uma mente antiga e astuta que antecipava cada jogada. Era uma corrida mortal, onde um passo em falso significaria o fim.

— Hahaha! SIM! MAIS! — Cernunnos gritava, sua voz um rugido primordial que ecoava pelas copas das árvores ancestrais da floresta, fazendo folhas secas choverem como confetes de outono. Seu corpo doía, feridas fumegantes cobrindo sua pele escamosa, mas o éter corria em suas veias como um rio de lava refinada, não diminuindo, mas se refinando em uma pureza letal, cada pulsação fortalecendo sua forma. — NÃO PAREM! EU AINDA NÃO MORRI! — Ele erguia as espadas duplas, Lua e Sol, que brilhavam com energias opostas, cortando o ar com um zumbido ameaçador.

Anna, com a espada embuída em éter, colidiu com a lâmina negra dele em um clangor que reverberou pelo platô, faíscas voando como estrelas cadentes. Ela o olhava nos olhos, penetrando aqueles poços de escuridão, mas sua mente estava em outro lugar, em Dante, tentando decifrar o turbilhão de pensamentos que sentia emanar dele como ondas psíquicas distorcidas. Cernunnos sentiu a distração, um leve vacilo em sua postura, e explorou com maestria predatória. Ele enfraqueceu o braço deliberadamente, fazendo-a perder o equilíbrio para a frente, seu corpo inclinado como uma árvore prestes a cair.

Mais Anna percebendo o truque recuperou o equilíbrio com um giro rápido, as botas deslizando sobre a terra rachada, sua espada traçando um arco ascendente que encontrou a lâmina negra de Cernunnos em um impacto que fez o ar estalar, faíscas continuavam dançando como vaga-lumes no crepúsculo. O Rei Demônio respondeu com um sorriso cruel, girando sua espada dourada, Sol, em um movimento circular que criou uma onda de calor, o ar tremeluzindo ao redor. — Vamos dançar, garota — ele provocou, avançando com uma estocada precisa, a lâmina negra, Lua, mirando seu ombro enquanto a dourada cortava em um arco baixo, buscando suas pernas.

Anna desviou com um salto lateral, sua espada interceptando a estocada com um clangor metálico, enquanto chutava a lâmina dourada para o lado, o movimento tão fluido que parecia coreografado. 

"Realmente, há algo estranho nessa garota; mesmo após todo o confronto, o éter dela não diminuiu nada" — Cernunnos pensava enquanto continuava sua sequência de ataques e esquivas.

Ela contra-atacou com uma série de golpes rápidos, sua lâmina cortando o ar em linhas brilhantes, o éter pulsando como relâmpagos contidos, forçando Cernunnos a recuar um passo, seus pés deixando buracos na terra. Ele riu, um som profundo que ecoava como trovão, e girou ambas as espadas em um redemoinho de luz e escuridão, bloqueando cada ataque com precisão milimétrica, o metal cantando em uma sinfonia de guerra.

Aproveitando o cenário, Anna saltou sobre uma raiz exposta da Grande Árvore, usando-a como trampolim para ganhar altura. Sua espada brilhou como uma estrela cadente, descendo em um golpe vertical que rachou o solo onde Cernunnos estava, poeira subindo em uma nuvem sufocante. Ele desviou no último segundo, girando para o lado, sua lâmina negra traçando um arco que cortou o ar com um zumbido mortal, mirando o flanco de Anna. Ela rolou para a frente, o golpe passando a milímetros de sua pele e se levantou com um giro, sua espada colidindo com a dourada em uma explosão de faíscas que iluminou o platô.

— Você é habilidosa, isso eu tenho que adimitir. — Cernunnos elogiou, seus olhos negros brilhando com respeito relutante. Ele avançou com uma sequência de cortes cruzados, as lâminas Lua e Sol movendo-se em perfeita sincronia, uma tempestade de luz e sombra que forçava Anna a dançar entre os golpes, sua espada bloqueando e desviando com uma graça que desafiava a brutalidade do ataque. O chão tremia com cada colisão, raízes expostas vibrando como cordas de um instrumento gigante, e o céu acima se enchia de nuvens escuras, como se atraídas pela intensidade do duelo.

Anna respondeu com uma estocada precisa, o éter em sua lâmina condensando-se em uma ponta afiada que perfurou o ar, mirando o peito de Cernunnos. Ele bloqueou com a lâmina negra, mas a força do golpe o fez recuar, o solo rachando sob seus pés. Aproveitando o momento, Anna girou, sua espada traçando um arco horizontal que liberou uma onda de éter, uma lâmina de luz que cortou o ar em direção ao Rei Demônio. Cernunnos cruzou suas espadas, dissipando a energia em uma explosão que fez o vento uivar, folhas secas chovendo como confetes.

Nada mal, mas ainda tem um longo caminho até conseguir me causar algum dan, pirralha! — ele gritou, sua voz um sibilo venenoso que cortava o ar.

Sua lâmina dourada brilhou como o sol nascente, acumulando energia que distorcia o ar ao redor. — Brilho Solar, Corte do Sol Poente! — Com um giro coreografado, ele liberou uma rajada de fogo incinerador que explodiu de sua espada, uma onda flamejante que acertou Anna em cheio, lançando-a para trás em um arco flamejante.

A rajada continuou em linha reta, abrindo um caminho de destruição pela floresta, árvores antigas explodindo em chamas e o chão se abrindo em sulcos carbonizados, o cheiro de madeira queimada enchendo o ar. Agrad agiu instintivamente, quebrando o solo sob Cernunnos com um gesto da mão, raízes grossas irrompendo como serpentes subterrâneas para desequilibrá-lo, o platô tremendo como se acordasse de um sono milenar. Enquanto isso, Levy descia dos céus em um chute meteórico, seu corpo envolto em ventos uivantes que formavam um vórtice, colidindo com a espada negra de Cernunnos em uma explosão de força que fez o ar estalar. Cernunnos bloqueou o golpe com um grunhido, mas o bastão de relâmpagos de Hilda o atingiu lateralmente, raios crepitantes dançando como cobras elétricas, jogando-o na direção da Grande Árvore, cujo tronco colossal se erguia como um pilar do mundo.

Elizabeth correu, suas pernas cortando a distância com urgência desesperada, iniciando os curativos em Skadi. Suas mãos brilhavam com chamas curativas que se infiltravam na ferida, tecendo tecidos rasgados como fios de uma tapeçaria vital. Cernunnos, no meio do ar, viu a manobra, seus olhos se estreitando em fúria calculada. No momento em que seus pés tocaram o tronco rugoso da Grande Árvore, ele se impulsionou como uma flecha negra, um míssil vivo cortando o vento, folhas e galhos voando em seu rastro. 

Hilda, montada em Byakko — o tigre branco espectral cujas presas reluziam como lâminas de gelo —, preparou sua lança de trovão mais poderosa, os céus respondendo ao seu chamado com nuvens trovejantes se acumulando, raios dançando no horizonte.

— Não vai passar! — Agrad gritou, erguendo barreiras de pedra e raízes na frente de Elizabeth, o solo se elevando em muralhas irregulares que brotavam como montanhas em miniatura, entrelaçadas com vinhas espinhosas.

— Corte do Eclipse!

Cernunnos ignorou Hilda, focado na curandeira. Seu Corte do Eclipse partiu o ar em um movimento fluido e mortal, as duas lâminas — uma de luz cegante e outra de escuridão devoradora — Passou cortando tudo em seu caminho, incluindo o espaço, facilmente dividindo a lança do trovão como se fosse um galho seco. O impacto criava uma onda de choque que partiu o ar e fez o tigre de Hilda recuar, tentando salvar sua mestra, mas o golpe foi tão rápido que, mesmo esquivando, parte do peito e do braço direito de Hilda foram cortados e lançados aos céus junto de seu sangue.

Os cortes continuaram, fatiando as barreiras de Agrad em fragmentos que voavam como estilhaços de rocha, o chão tremendo com o colapso. Mio, vendo o perigo iminente, saltou como uma sombra viva, empurrando Elizabeth para o chão em um rolamento protetor, cobrindo-a com seu corpo metamórfico. Quando a médica abriu os olhos, piscando poeira e fumaça, viu as barreiras cortadas em ruínas fumegantes, Mio ferida sobre ela com cortes profundos que sangravam éter, e o corpo de Agrad, que se dividiu ao meio com um atraso grotesco, como se só então percebesse que estava morto, caindo em duas metades com um baque úmido no solo rachado.

Mio se levantou, cambaleando sobre pernas trêmulas, recusando-se a cair, seu corpo se regenerando lentamente em formas instáveis de metal e pedra, gotas de sangue pingando na terra seca.

— Você não precisa vencer — disse Elizabeth, a urgência em sua voz cortando o caos, ajudando Mio a se firmar. — Só precisa me dar tempo. Se eu chegar até Bishamon, nós podemos virar o jogo!

— Não posso prometer nada... mas vou dar meus 200%! — Mio respondeu, dando um joinha ensanguentado com um sorriso determinado, antes de se virar para o Rei Demônio, sua silhueta contra o sol poente.

Elizabeth correu novamente, zigzagueando entre crateras e raízes expostas. Cernunnos se moveu para interceptá-la, seus passos ecoando como terremotos, mas Kai teleportou-se em um borrão preto e branco, chutando-o no peito com um estalo sônico que o fez recuar. Ele se virou para o teleportador, rosnando, mas foi atingido por um soco de Beatrice que veio como um cometa, o ar distorcendo ao seu redor.

— Perfure os Céus! — Beatrice gritou, sua broca de energia girando furiosamente, o golpe o jogando de joelhos no solo rachado, poeira subindo em uma nuvem sufocante.

E, diante dele, estava Mio, ereta e desafiadora.

Cernunnos sorriu, limpando sangue negro de seus lábios. — Cometi um erro ao subestimá-la.

— Isso não importa mais — ela respondeu, a determinação queimando em seus olhos como brasas vivas. — Agora, não desvie o olhar.

Começou uma sequência de combos a queima-roupa, uma dança mortal coreografada no coração do platô. Mio tinha que desviar de cada corte das espadas duplas de Cernunnos, seu corpo fluindo como mercúrio, transformando seus punhos em metal ou diamante para atingi-lo com socos que ecoavam como martelos em uma forja. 

No entanto ele era mais rápido, sua lâmina dourada traçando arcos de luz que cortavam o ar com um assovio flamejante. Sua espada negra estava prestes a acertá-la quando ela mergulhou no chão, tornando-se uma com a terra em um movimento sinuoso, emergindo atrás dele como uma raiz viva com uma rasteira que o desequilibrou, seguida de um chute ascendente que o derrubou.

No platô superior, Lux observava o espetáculo, os ventos da batalha chicoteando seus cabelos, elogiando a garota com admiração genuína. — Incrível... Ela está lutando de igual para igual.

— Não, não está — a voz de Blade era fria como gelo, cortando o ar como uma lâmina afiada, seus olhos analíticos fixos na cena abaixo. — Ela está em clara desvantagem. Seu éter diminuiu tanto que ela não pode mais se transformar em outras pessoas, apenas em matéria. Logo Cernunnos perceberá, e a batalha dela acabará. — Ele se virou para Rani, sua postura tensa como uma corda de arco. — Fale de uma vez o que quer dizer. Não temos mais tempo.

O sol mergulhava no horizonte, pintando o campo de batalha em sombras alongadas, enquanto a luta pulsava com a promessa de um clímax inevitável, cada movimento uma peça em um balé de vida e morte.

Parte 2

O campo de visão de Dante havia se fechado como um túnel escuro, o mundo exterior reduzido a um borrão periférico de chamas, sombras e gritos abafados. Ao lado de Homura, cujo corpo tremia com o esforço de conter o caos, o rugido da batalha tornou-se um ruído distante, um eco surdo de metal contra metal e terra sendo rasgada, enquanto sua mente mergulhava nas profundezas de suas memórias, um oceano turbulento de fragmentos que giravam como um vórtice implacável. Ele buscava a resposta para a única pergunta que importava: o que ele estava deixando passar? O platô ao redor, marcado por crateras fumegantes e raízes expostas da Grande Árvore que se estendiam como veias pulsantes, parecia pulsar em sincronia com seu coração acelerado, o vento carregado de poeira e éter crepitante chicoteando seus cabelos.

Ele reviu tudo em flashes cinematográficos, como um filme acelerado projetado em sua mente: cada luta feroz, onde socos ecoavam como trovões e sangue salpicava o solo; cada conversa sussurrada nas sombras; cada fragmento de conhecimento que ele havia coletado como peças de um quebra-cabeça. O que era um Rei Demônio? Um ser que transcendeu os limites de seu corpo mortal, aquecendo um oceano de éter com uma vontade extrema, uma forja interna que moldava a realidade à sua imagem. E os Coroados? Aqueles que derrotaram deuses em batalhas titânicas, herdando sua Autoridade Divina, um manto de poder que dobrava o cosmos, e os Avatares ? Humanos que passaram por uma fusão com um Astreus ganhando parte de seu ether e Autoridade. 

Autoridade.

A palavra ecoou em sua mente como o badalar de um sino ancestral, reverberando pelas cavernas de sua consciência, fazendo as memórias tremerem. Os Astreus possuíam autoridade sobre seus domínios: Morte, que ceifava vidas com um toque gélido; Vida, que tecia fios de existência; Enigma, que tecia teias de mistério; e Possibilidade, que dançava nas bordas do que poderia ser. Era por isso que certas coisas eram impossíveis de serem feitas com éter — limites invisíveis traçados por deuses.

Ele se lembrou de Anna, sua voz ecoando em sua mente, os olhos dela brilhando com uma tristeza profunda: "Não posso ressuscitar Nero, pois não está sob meu domínio, não é possível fazer isso com minha autoridade." A Vida também havia falado algo parecido em seu encontro.

"Belo timing." A voz de seu outro eu soou como um eco distorcido, vindo das sombras de sua psique, acompanhada de um aplauso sarcástico que ressoava como palmas em uma sala vazia. "Finalmente percebeu."

— Assim como os Reis Demônios e os Coroados... os Avatares também seguem regras — Dante murmurou para si mesmo, sua voz baixa e rouca, o vento do platô carregando as palavras para o vazio. — E elas já me foram mostradas.

Os Astreus eram compostos de duas partes: uma quantidade gigantesca de éter, um reservatório infinito que fluía como rios de luz; e a Autoridade sobre um conceito, um cetro divino que comandava o tecido da realidade. Mas ele nunca sentiu essa autoridade, nunca exerceu esse domínio — era como segurar uma espada sem lâmina. "E por que você acha que isso acontece?" perguntou o alter ego, sua presença uma sombra dançando nas bordas de sua visão interna.

A resposta era óbvia, dolorosa como uma ferida reaberta. — Porque eu e a Anna... não somos um único ser. Somos dois. Fragmentados — Dante sussurrou, o peso da revelação fazendo seu peito apertar, como se o ar do platô se tornasse rarefeito.

Se Anna tivesse a autoridade e o éter, ela seria como os outros Avatares de Astreus, uma entidade completa. Mas ela não era — ambos eram imperfeições, híbridos de humano e Astreus, metades de um todo quebrado, e era por isso que, mesmo em conflito, não tinham problemas de compatibilidade, como peças de um quebra-cabeça que se encaixavam apesar das rachaduras. E se estavam divididos... para onde foi o poder? Pela quantidade de éter que Anna possuía, um reservatório que nunca parecia se esgotar, fluindo dela como uma fonte eterna, era claro que ela herdou o éter após a fusão. O que significava que a Autoridade devia estar com ele, mesmo que ele não conseguisse perceber.

"Você está fingindo não ver o óbvio de novo," a voz de seu outro eu zombou, com um toque de impaciência que ecoava como um riso abafado nas profundezas de sua mente.

Dante parou, o mundo externo congelou por um instante em um slow-motion mental, o caos da batalha pausado como um quadro de filme. Sua mente focou em seu braço direito, sempre enfaixado em camadas de tecido branco que escondiam uma anomalia, e as palavras de Anna, ditas há tanto tempo, retornaram com a força de um trovão que rachava o céu: "...essa 'coisa' não é um braço seu de verdade... E nunca, em hipótese alguma, deve desembrulhá-lo. Entendido?"

Ele havia ignorado, aceitado a bizarrice como parte de sua vida, uma cicatriz entre tantas. Mas agora... os pontos se conectavam em uma teia luminosa, como constelações se alinhando no céu noturno. Quando aquele "braço" saiu de controle, ele tentou devorar o éter de Chuya, uma fome voraz que buscava se completar. 

— Aquela maluca... — Dante gritou em sua mente, um misto de pânico e assombro explodindo como uma supernova interna, sua voz ecoando nas câmaras de sua consciência. — Ela transformou uma Autoridade Divina na porra de um braço direito! Eu estava usando essa coisa pra escrever e dar soco nas pessoas! E se explodisse?!

Ele chacoalhou a cabeça, forçando o foco em meio ao turbilhão, o vento do platô agora uivando como um coro de vozes. A teoria estava lá, sólida como a Grande Árvore que se erguia ao fundo. Mas como usá-la? Ele não tinha o éter necessário, seu reservatório era finito, esgotado pelas batalhas incessantes.

"De novo fingindo não saber a resposta," disse o alter ego, sua presença agora uma silhueta sombria em sua visão interna. "No Titanic você já fez algo assim. Existe uma conexão invisível entre você e ela. É uma via de mão dupla. Se você se conectou uma vez, pode fazer de novo."

O risco era imenso, um abismo de incerteza: tentar absorver o éter de outra pessoa poderia resultar em uma Alteração Espontânea fatal. E Mesmo que não acontecesse por serem o mesmo ser, fragmentos de uma entidade maior, o que ele poderia fazer com a Autoridade da Possibilidade para vencer uma luta? "Essas respostas eu não tenho," admitiu o outro eu, sua voz suavizando pela primeira vez. "Eu só sei o que você sabe. Se quiser descobrir, terá que apostar."

Dante abriu os olhos, emergindo do abismo interno como um mergulhador rompendo a superfície do mar. O fogo em seu olhar era intenso, chamas dançando em suas pupilas, refletindo a determinação que queimava sua alma. Homura, ao seu lado, suava frio, as gotas escorrendo por seu rosto enquanto observava a batalha que atingia seu clímax desesperado no platô abaixo: explosões de éter iluminando o crepúsculo, sombras alongadas de guerreiros se entrelaçando em uma dança mortal. Mio lutava com uma ferocidade que beirava a loucura, seu corpo metamórfico girando em formas de diamante e metal, desviando cortes de Cernunnos que rachavam o solo, mas o Rei Demônio era implacável, suas espadas duplas traçando arcos de luz e escuridão que cortavam o ar com zumbidos mortais. Finalmente, Elizabeth alcançou Bishamon, caindo de joelhos ao seu lado e despejando seu éter em uma aura curativa que pulsava como um coração vivo, tecendo feridas com fios de luz.

Cernunnos viu, seus olhos negros se estreitando em fúria primordial. Sabendo que Mio não o deixaria passar, ele tomou sua espada dourada, erguendo-a em um gesto coreografado que fazia o ar ao redor crepitar com chamas solares.

— Perfure o Sol: Flecha de Ícaro! — Ele rugiu, arremessando a lâmina como um cometa flamejante, que cortava o céu em um rastro de fogo, deixando um sulco de ar queimado em seu caminho na direção de Elizabeth.

Mio não chegaria a tempo, seu corpo exausto tropeçando em uma raiz exposta.

De repente, Beatrice, ensanguentada e quebrada, com feridas fumegantes e olhos flamejantes de determinação, surgiu na frente da flecha em um salto acrobático, pronta para recebê-la com o corpo, seus punhos cerrados, e seu sorriso no rosto. Elizabeth gritou para ela sair, sua voz ecoando como um lamento pelo platô. Cernunnos, vendo o erro em câmera lenta, preparou um corte para matá-la à distância, sua espada negra girando em um arco letal. Mas Mio, com lágrimas de fúria nos olhos que brilhavam como cristais, usou seu último resquício de éter em um soco devastador que acertou o flanco de Cernunnos, comprando um único e precioso segundo, o impacto ecoando como um sino de guerra.

Foi o suficiente.

Dante apareceu na frente de Beatrice em um flash de movimento, materializando-se como um espectro vingador, a flecha flamejante atravessando suas costas com um som úmido e cruel, chamas lambendo sua carne. A dor foi excruciante, um inferno interno que irradiava de sua espinha, mas ele sorriu para a garota chocada, sangue escorrendo por seus lábios em filetes vermelhos.

— Você demorou demais... — ela sussurrou, os olhos arregalados em descrença, estendendo a mão para tocá-lo.

— Concordo — ele respondeu, sua voz rouca mas firme, o sorriso torto contrastando com a agonia. — Mas agora que cheguei... está na hora do contra-ataque.

Ele se virou lentamente, encarando Cernunnos através da poeira e das chamas, o Rei Demônio congelado em surpresa momentânea. Com a mão esquerda, começou a desenfaixar o braço direito, o tecido branco caindo em espirais preguiçosas como folhas ao vento, revelando não pele, mas uma escuridão pulsante, um fragmento de vazio que parecia engolir a luz ao redor, distorcendo o ar como um buraco negro em miniatura.

"Se você é a Autoridade da Possibilidade," ele gritou internamente, a voz de sua alma ecoando no cosmos como um desafio aos deuses, "e isso me concede infinitas possibilidades... então me obedeça! Me entregue uma dessas infinitas opções! Me dê a possibilidade onde eu consigo vencer esse fóssil vivo maldito!"

Ele ergueu o braço de escuridão, as veias de vazio pulsando com energia primordial, e o lançou contra a espada que ainda o empalava, o contato criando faíscas de realidade se desfazendo.

Naquele momento, toda a realidade, o espaço e o tempo, pareceram colapsar como vidro se quebrando, o platô tremendo em ondas de distorção, a Grande Árvore gemendo como se o mundo inteiro gritasse, fragmentos de existência voando em um caos multicolorido enquanto o véu da possibilidade se rasgava.

Parte 3

No momento em que o braço de escuridão de Dante tocou a lâmina flamejante, o universo prendeu a respiração. Para os observadores — Homura, Beatrice, o próprio Cernunnos —, a realidade vacilou. O som da batalha morreu, substituído por um silêncio absoluto e pressurizado. O movimento congelou, não como gelo, mas como uma fotografia em um tempo que deixara de existir.

Para Dante, no entanto, aquele instante singular se estilhaçou em uma eternidade. O tempo se desfez, dilatando-se por séculos e milênios, até que a própria noção de fluidez, de antes e depois, perdeu todo o significado. Quando A Autoridade e O Éter se reconectaram e colidiram, sua mente não apenas se iluminou: foi aniquilada e recriada por uma visão que o próprio tecido do mundo físico jamais poderia conter.

A realidade se descortinou, banhada não em simples cores, mas em essências cromáticas que vibravam com propósito: o azul da causalidade, o vermelho da vontade, o dourado da criação, o violeta do mistério. Aquilo que seus olhos agora contemplavam não era mais o mundo, mas a sua sintaxe; uma tapeçaria de texturas e camadas vibrantes, a arquitetura invisível que sustentava a própria existência.

O universo manifesto repousava sobre esses pilares, e enquanto eles pulsassem, a estrutura da realidade seria mantida. Mas a questão ardia em sua consciência: por que agora? Por que o véu fora rasgado justamente para ele? A resposta veio como um trovão silencioso: ele estava, enfim, completo.

As duas metades de seu ser haviam se forjado em uma unidade, e com isso, sentiu seu corpo se conectar magneticamente a uma daquelas camadas primordiais — um degradê violento de rubro e ouro, uma torrente flamejante e instável. A conexão era agonia. Seu olho direito ardeu com o mesmo fogo cósmico, uma supernova contida em sua órbita, ameaçando explodir e desfazê-lo em pura energia.

Então, um peso esmagador, não de um mundo, mas de universos, desabou sobre seus ombros. Seu corpo era consumido por chamas que pareciam forjar sua alma em uma bigorna divina. E em meio ao tormento, uma voz — antiga como o próprio vazio — sussurrou, não em seus ouvidos, mas no centro de seu ser:

"Bem-vindo ao lugar onde o infinito termina e recomeça. Agora, estenda a mão. Puxe a chave de sua ascensão... ou o gatilho de sua perdição."

De repente, a visão se transfigurou. O mundo inteiro se transformou: agora estava escuro, vazio, e o céu era um mar de estrelas. No entanto, ao encará-las, seu olho percebeu que não eram estrelas. Eram armas — de lanças a espadas, de arcos a fuzis, de chicotes a correntes —, um arsenal infinito de armas com um brilho dourado e flamejante.

Cada arma era uma possibilidade. Cada estrela, uma resposta. Ele só precisava escolher.

Sua mão, ainda a forma de escuridão disforme, ergueu-se em direção àquele céu de poder. Ele não hesitou.

Ele levantou as mãos para as estrelas e disse em alto som, a voz de sua alma ecoando no vazio: — Não importa se vai ser uma espada ou uma pedra, um martelo ou um machado! Me dê o que eu preciso para acabar logo com isso!

Naquele momento, uma figura se materializou diante dele, flutuando em meio ao arsenal estelar. Era uma garota, cuja beleza era tão afiada e perigosa quanto as lâminas ao seu redor. — Você não acha que está sendo muito grosseiro para quem já está forçando uma fusão? — a voz dela era calma, mas cortante. — Não me deixa nada contente saber que alguém assim terá minha irmã em suas mãos. Mas que seja. É um direito seu, humanozinho. Agora, me mostre o que você pode fazer com a Autoridade da Possibilidade em suas mãos.

As armas no céu brilharam como supernovas. E, como se atendesse ao pedido de Dante, uma delas caiu. Não era uma lança, ou um machado mas uma espada de pesadelos forjada em fogo e fúria.

Sua estética, com formas complexas, pontas e ângulos agudos que lembravam chamas congeladas. A lâmina era a parte mais proeminente; larga, mas com uma estrutura quase esquelética, com recortes e sobreposições que lhe davam uma profundidade única. As bordas irregulares e serrilhadas, com farpas e ganchos, a tornavam visualmente brutal, feita mais para rasgar do que para cortar. E sua cor predominante era um vermelho metálico vibrante, variando do carmesim ao escarlate, com um jogo de luz que destacava suas bordas com um brilho intenso. No centro da espada, próximo à guarda, uma joia amarela em formato de losango brilhava com uma luz própria, o coração pulsante da arma.



No mundo real, o tempo retornou com a violência de uma chicotada. Ninguém, além de Dante, percebeu que o universo havia parado. Cernunnos e Mio, no meio de um golpe, congelaram, a confusão estampada em seus rostos. Beatrice e Elizabeth, que corriam para prestar socorro, pararam, sentindo a súbita e inexplicável mudança na atmosfera.

A espada flamejante de Cernunnos, que atravessava o corpo de Dante, simplesmente desapareceu. Em seu lugar, uma nova visão tomou forma. O braço direito de Dante não era mais escuridão disforme; era um membro negro como obsidiana, coberto por runas vermelhas que pulsavam com um calor infernal. E em sua mão, ele segurava a nova e gigantesca espada carmesim.

Por um instante, um aro de luz ofuscante pairou sobre sua cabeça, e de suas costas e cintura, asas de éter flamejantes e crepitantes irromperam, antes de desaparecerem como a imagem de um sonho.

Dante abriu os olhos. Ele encarou o ancestral, a surpresa e o medo no rosto do Rei Demônio alimentando a chama em seu próprio olhar.

— Cai dentro, múmia velha — sua voz era um rosnado baixo e perigoso. — Tá na hora do segundo round.

Em seu olho direito, agora uma orbe de puro fogo etéreo, uma estrela de cinco pontas brilhou intensamente.

 Parte 4

Na base da Horizon, envolta nas sombras úmidas de uma caverna profunda onde o eco de gotas d'água caía como um relógio eterno, o grupo observava a cena do outro lado do espelho místico, a superfície ondulante refletindo o caos distante como um portal vivo para o inferno. A confusão estampada em seus rostos era palpável, olhares trocados em silêncio carregado de tensão, enquanto o ar frio da caverna parecia se condensar em névoa ao redor deles. A única exceção era Nicklaus, que parecia já esperar por algo assim, sua postura ereta e impassível, os olhos fixos no espelho com uma intensidade que cortava o ar, como se ele visse além das imagens, para o tecido da realidade.

— Isso… então era disso que você estava falando — murmurou Love, mais para si mesmo do que para qualquer outra pessoa, sua voz ecoando baixinho nas paredes rochosas, os punhos cerrados tremendo ligeiramente enquanto ele se inclinava para frente, o reflexo da batalha dançando em seus olhos.

“Naquele dia, eu já havia percebido. Dante era diferente dos demais, até mesmo dos Scarlunes. O brilho em seus olhos era intenso, mas ele não estava focado em um sonho ardente como eu, que decidi dedicar minha vida ao meu objetivo. Diante dele, residia apenas um inimigo que nunca havia encontrado antes e, ainda assim, a vontade em seu olhar para me derrotar era a mesma de alguém que daria a própria vida para matar um deus.” A memória invadiu a mente de Nicklaus como um flash cinematográfico, o passado se sobrepondo ao presente, com imagens de uma batalha antiga onde faíscas voavam e o ar crepitava com energia, os olhos de Dante brilhando como fornalhas vivas.



No planalto de Blade, onde o vento cortante chicoteava os cabelos e carregava o cheiro acre de batalha distante, Lux e Paracelso olhavam para o campo de batalha abaixo, com o suor frio escorrendo por suas testas, gotas que traçavam caminhos irregulares em rostos tensos, o sol poente tingindo o horizonte em tons de sangue e fogo, enquanto o platô tremia levemente com os ecos remotos de explosões.

— Então, se entendi bem, o motivo de você achar o Dante tão especial é porque ele não tinha um desejo ou uma ambição? — Blade perguntou, seus olhos se recusando a deixar o campo de batalha, sua mão apertando o punho da espada ao lado, os músculos tensos como cordas de arco, o vento uivando ao redor como um coro de fantasmas.

— Não, é justamente o contrário. Apenas parecia isso para os outros — respondeu Rani, sua voz suave mas carregada de uma excitação sutil, enquanto ela se aproximava do grupo, os passos ecoando no solo rachado, seus olhos brilhando com um fervor quase obsessivo, como se ela estivesse desvendando um enigma divino. — Após cada missão, assim como os demais, eu o fazia passar pela mesma entrevista que aplicava aos outros Scarlunes, para verificar se sua ambição já havia despertado. — Ela gesticulou com as mãos.

— E em nenhuma dessas vezes você admitiu ser a mãe dele, não é? — comentou Paracelso ao fundo, com um tom de julgamento, sua figura sombria contra o céu avermelhado, os braços cruzados em uma pose de reprovação, o suor em sua testa reluzindo como diamantes frios sob a luz declinante.

— Durante essas entrevistas, eu testemunhei a coisa mais absurda, inacreditável e, ao mesmo tempo, fascinante de todas. Talvez tenha sido uma mutação genética, causada pela evolução do DNA Scarlune ao longo dos anos, ou talvez a introdução do DNA Seraphin que o pai dele possuía. Eu simplesmente não conseguia explicar, e por isso o via como um espécime tão interessante. — Rani lambeu os lábios, sentindo que finalmente estava observando seu amado rato de laboratório novamente, um gesto quase predatório em seu sorriso, enquanto o vento do planalto agitava suas vestes, criando uma aura de mistério ao seu redor, o sol poente projetando sombras longas que dançavam como segredos não ditos.

A narrativa alternava entre as vozes de Rani e Nicklaus, ambos em locais diferentes, mas pensando quase simultaneamente a mesma coisa, como se uma conexão invisível tecesse suas mentes através do éter, o eco de suas palavras ressoando em uníssono, o cenário de cada lado pulsando com a mesma intensidade — a caverna escura da Horizon contrastando com o planalto aberto, mas unidos pela revelação compartilhada.

“Não importa o quanto você se esforce em algo, se aquilo não for um desejo do fundo do seu coração, você nunca se entregará de corpo e alma. No entanto, nos olhos de Dante, era visível: ele era alguém que sacrificaria a própria vida sem hesitar para pegar uma colher que caiu no chão, caso essa fosse sua vontade. A capacidade de transformar qualquer vontade em desejo... era essa determinação insana ou loucura sem limites que o tornava tão especial.” As palavras de Rani ecoavam no planalto, enquanto Nicklaus, na caverna, murmurava algo similar, seus olhares distantes fixos no espelho e no horizonte, respectivamente, o ar ao redor deles carregado de uma eletricidade palpável, como se a própria realidade estivesse prestes a se dobrar com a profundidade daquela verdade.

 Parte 5

No platô devastado, Cernunnos analisava seu oponente com a atenção de um caçador milenar, seus olhos negros como abismos capturando cada detalhe da figura diante dele. O crepúsculo banhava o cenário em tons de laranja sangrento, as sombras alongadas da Grande Árvore dançando como espectros sobre a terra marcada por crateras e raízes expostas. A transformação de Dante era visível e inegável. Ele não entendia o que havia acontecido, mas era impossível fingir que nada mudou, o ar ao redor de Dante pulsando com uma energia que parecia dobrar a luz, como um horizonte prestes a colapsar. No entanto, estranhamente, ele não sentia uma alteração gritante no éter de Dante, nem a transcendência avassaladora de um novo Rei Demônio. Fosse o que fosse, era algo que ele nunca tinha visto antes, uma anomalia que desafiava milênios de experiência.

"E é justamente essa parte que me faz hesitar", Daemon pensou, seus instintos de caçador, adormecidos por eras, gritando cautela, um rugido primal que ecoava nas profundezas de sua mente. O desconhecido tendia a ser perigoso, uma lição gravada em sangue ao longo de incontáveis batalhas. Mesmo que seu poder ainda fosse vastamente superior, avançar cegamente poderia significar a morte sem nem saber o que o atingiu. 

Ele estreitou os olhos, enquanto fixava sua atenção no olho direito de Dante, onde uma estrela flamejante ardia com uma intensidade sobrenatural, como uma supernova contida em uma órbita mortal. "No minuto em que aquele garoto tocou minha espada, seu olho explodiu em chamas..." Uma conclusão se formou em sua mente, lógica e familiar, como o encaixe de uma peça antiga em um quebra-cabeça velho. "Uma Alteração Espontânea."

Cernunnos sorriu, um brilho cruel que refletia séculos de vitórias. Dante, prestes a morrer, deve ter arriscado tudo em um ato insano: tentar absorver o éter de sua espada flamejante para se curar, desafiando os limites do corpo. O resultado foi uma mutação que transformou seu olho em um Devil Eye, uma marca de poder que pulsava com uma energia tão crua que fazia o ar ao redor crepitar. 

Cernunnos já viu isso antes, em guerreiros loucos que dançavam na linha entre vida e morte, como Kai, cujos olhos também carregavam o peso de um poder arrancado do caos. Se fosse apenas isso, mesmo um Devil Eye poderoso não mudaria o resultado da batalha. Ele só precisava eliminar as peças de suporte — Elizabeth, com suas chamas curativas, e Bishamon, com sua bandeira que multiplicava éter. Sua mente traçava uma estratégia fria e precisa, como um predador cercando a presa, enquanto o vento carregava o cheiro de terra queimada e sangue fresco, o platô tremendo com os ecos distantes dos golpes anteriores.

Enquanto o Rei Demônio traçava sua estratégia, Dante sentia o peso da nova arma em sua mão, a espada carmesim vibrando com uma energia que parecia viva, suas bordas serrilhadas refletindo o crepúsculo em tons de vermelho. 

— Que pesada... — ele murmurou, as palavras mal saindo, sua respiração entrecortada enquanto o sangue ainda pingava de sua ferida, o calor da espada aquecendo sua palma como uma fornalha viva. "Quem você tá chamando de pesada?!" A voz, estridente e irritada, gritou dentro de sua cabeça, cortando o silêncio interno como uma lâmina afiada. 

Dante olhou para os lados, os olhos arregalados, já cansado de ter sua mente invadida por vozes inesperadas, o vento do platô uivando ao seu redor, carregando folhas secas que dançavam como fantasmas. "Idiota! Sou eu!" Ele congelou, a compreensão o atingindo como um raio, o peso da revelação fazendo seu coração acelerar, o solo sob seus pés parecendo pulsar em sincronia com a arma.

— Anna?! — ele exclamou, a voz rouca ecoando pelo platô, enquanto seus olhos fixavam a espada carmesim, a joia amarela em seu centro brilhando com uma luz que parecia responder à sua surpresa. "Claro que sou eu!" A voz dela estava cheia de fúria, vibrando dentro de sua mente como um trovão contido. "Quando você puxou para si o meu ether através da conexão, conectando a Autoridade e o Éter, eu fui pega de surpresa!” Ouvindo a explicação de Anna, a mente de Dante ficava confusa, pois a situação estava diferente do ocorrido dentro do Titanic. 

“No Titanic, o cabo de guerra ficou empatado, cada um recebeu uma parte do outro. Dessa vez, você puxou tudo para si, me transformando nisso e se tornando o avatar principal!" A espada vibrou em sua mão, as runas vermelhas em seu braço pulsando com indignação, o ar ao redor tremeluzindo com o calor de sua raiva.

Dante ficou confuso, a mente girando enquanto tentava processar a informação, o peso da espada agora não apenas físico, mas emocional, como se segurasse a essência de Anna em suas mãos. "Eu disse pra você não desenfaixar o braço!" ela gritou, a voz ecoando como um lamento furioso nas câmaras de sua consciência, enquanto o vento do platô chicoteava seus cabelos, poeira subindo em espirais ao seu redor. 

— E eu queria saber que ideia era essa de esconder a verdade sobre o meu braço até agora! — ele retrucou, sua voz carregada de frustração, os olhos brilhando com a estrela flamejante enquanto ele apontava a espada para o chão, como se desafiasse a própria arma a responder.

No instante em que os dois iriam começar a discutir, o ar foi cortado por um zumbido mortal, o solo tremendo com a força de um impacto iminente. Cernunnos saltou, sua figura colossal movendo-se como uma sombra viva, a lâmina negra, Lua, cortando o ar em um arco mortal que parecia dividir o próprio crepúsculo, o vento uivando em protesto enquanto a energia escura da espada criava rachaduras no chão antes mesmo de tocar. "PRESTA ATENÇÃO!" Anna gritou na mente dele, sua voz um trovão que o arrancou da confusão, o eco reverberando em seu crânio como um chamado à guerra.

Com um movimento instintivo, Dante ergueu a espada carmesim, o metal vibrando com a fúria de Anna, as runas pulsando em sincronia com seu coração acelerado. O choque da lâmina negra contra a vermelha criou uma onda de choque que estilhaçou o chão ao redor, fragmentos de pedra e raízes voando como estilhaços, o platô gemendo sob a força do impacto, enquanto faíscas multicoloridas explodiram no ponto de contato, iluminando o cenário como fogos de artifício infernais. 

— Deixo pra discutir isso mais tarde — Dante rosnou, a estrela em seu olho direito brilhando intensamente, um fogo etéreo que parecia desafiar o próprio céu, sua postura firme contra o vento que uivava ao redor. — Por enquanto, eu tenho uma múmia velha para enterrar.

 Parte 6

No platô devastado, o ar crepitava com o resíduo de éter, quando a batalha explodiu em um caos primordial. A lâmina carmesim de Dante, pulsando com uma energia flamejante que distorcia o ar ao seu redor, e a katana de ossos de Cernunnos, reluzindo com uma escuridão devoradora que parecia sugar a luz, colidiram em uma troca de cortes em alta velocidade, cada impacto levantando nuvens de poeira e destroços que subiam aos céus como pilares de fúria. Os golpes eram uma sinfonia mortal: Dante girava o corpo em um arco fluido, balançando a espada carmesim em um movimento ascendente que traçava um rastro de chamas vermelhas, colidindo com a katana de ossos que Cernunnos manejava com giros precisos e predatórios, cada balanço criando ondas de choque que rachavam o solo e faziam raízes expostas da Grande Árvore tremerem como veias pulsantes. Cernunnos atacava com uma curiosidade predatória, seus olhos negros analisando cada movimento, cada faísca de éter, tentando decifrar a natureza daquele novo poder ocular, enquanto sua katana cortava o ar em arcos descendentes que ecoavam como uivos ancestrais. Dante, por outro lado, lutava com uma cautela contida, seus golpes calculados para não envolver os aliados feridos espalhados pelo campo de batalha, balançando a lâmina carmesim em giros defensivos que desviavam os ataques com precisão milimétrica, o impacto de cada colisão enviando vibrações que faziam o platô gemer.

Percebendo a hesitação, Cernunnos se lançou aos céus com um salto poderoso, seus músculos se contraindo como cordas de arco, pronto para disparar uma de suas Arts devastadoras, o ar ao seu redor distorcendo enquanto acumulava energia. Vendo isso, Dante saltou em resposta, impulsionando-se do solo rachado com uma explosão de força, ficando de frente com o inimigo para interceptá-lo, seu corpo girando no ar em um movimento acrobático que posicionava a espada carmesim para um bloqueio aéreo. Foi a brecha que o Rei Demônio esperava, seus olhos brilhando com astúcia enquanto notava a falta de familiaridade de Dante com a espada, seu corpo ainda não acostumado com o peso e o balanço da arma colossal, os músculos de Dante tremendo ligeiramente com o esforço de equilibrar a lâmina pesada. Com uma finta rápida, Cernunnos girou o corpo no ar, balançando a katana de ossos em um arco traiçoeiro que enganava o olho, tomando a vantagem e enchendo Dante de cortes superficiais que traçavam linhas de sangue no ar, antes de agarrá-lo pelo rosto com a mão e lançá-lo com força total contra o tronco da Grande Árvore, o impacto ecoando como um trovão enquanto o corpo de Dante colidia, rachando a casca antiga e enviando fragmentos de madeira voando como estilhaços.

— Corte da Meia Lua! — ele bradou, sua voz um rugido que abalava as raízes, balançando a lâmina de éter negro em um giro descendente que afundava Dante na madeira ancestral com uma força cataclísmica, o tronco gemendo em protesto enquanto a espada cravava profundamente, poeira e lascas de casca explodindo em uma nuvem sufocante. Cernunnos sorriu, achando que seu medo inicial foi infundado, sua postura relaxando por um instante enquanto observava o estrago, o vento carregando o cheiro de madeira queimada e sangue fresco.

Das linhas de trás, um grito cortou o ar como uma lâmina afiada, ecoando pelo platô. — Dante! — A voz de Homura carregada de urgência, enquanto ela carregava o corpo de Mio em suas costas e arrastava uma Hilda inconsciente, seus passos pesados deixando marcas no solo macio, o suor escorrendo por seu rosto tenso.

— Vou tirar todos daqui! Lute com tudo que tem! — gritou ela, sua determinação brilhando nos olhos enquanto arrastava os feridos para longe, o vento uivando ao redor como um coro de apoio.

Já na cratera da árvore, Dante sorriu, limpando um filete de sangue dos lábios com as costas da mão, o sorriso torto contrastando com a dor em seus olhos, o tronco ao seu redor tremendo com o resíduo do impacto. Cernunnos, vendo aquilo, ficou verdadeiramente irritado, seus olhos negros flamejando com fúria, a ideia de que seu oponente estava se contendo por causa dos outros sendo um insulto que queimava como ácido em sua alma. Ele recriou sua espada de luz com um gesto rápido, balançando-a em um arco que acumulava energia flamejante, e a imbuiu em fogo, as chamas dançando ao longo da lâmina como serpentes vivas.

— Corte do Amanhecer Dourado! — bradou ele, girando o corpo em um movimento coreografado que liberava a rajada flamejante, a espada balançando em um arco amplo que enviava uma onda de fogo dourado cortando o ar na direção de Dante, o calor distorcendo o ar e incendiando o solo em seu trajeto.

"O efeito dessa espada..." Anna gritou na mente dele, sua voz ecoando como um aviso urgente nas câmaras de sua consciência, o pânico vibrando através da conexão.

— Não se preocupe. Eu sei. — Dante respondeu, e de alguma forma, ele realmente sabia, sua confiança irradiando como uma aura enquanto balançava a lâmina carmesim em um giro defensivo preciso.

Ele rebateu o corte de fogo com sua espada carmesim, o impacto criando uma explosão de faíscas douradas e vermelhas que iluminavam o platô como um sol nascente, a lâmina não absorvendo, mas refletindo o ataque, que passava por anéis mágicos invisíveis traçados no ar por giros sutis da espada, multiplicando sua velocidade a um ponto em que nem mesmo Cernunnos conseguia desviar, o fogo devolvido como um cometa, colidiu com o Rei Demônio em uma explosão gigantesca, o platô tremendo como se o mundo inteiro gritasse, nuvens de fumaça e chamas subindo aos céus.

Irritado, o Rei Demônio balançou sua espada em um giro amplo e furioso, dissipando a cortina de fumaça com uma onda de energia que fazia o ar chiar, poeira e detritos voando em todas as direções enquanto ele emergia das chamas. Em sua frente, Dante já descia dos céus com um salto acrobático, impulsionando-se das raízes da Grande Árvore, sua espada gigantesca balançando em um arco descendente com uma força descomunal que o jogava violentamente contra o solo, o impacto criando uma cratera que rachava a terra como um terremoto, ondas de choque propagando-se pelo platô e fazendo as raízes tremerem.

Afastados dali, os sobreviventes assistiam ao espetáculo, o vento carregando os ecos dos golpes, seus rostos iluminados pelas explosões distantes. Kai, consciente, mas terrivelmente ferido, apoiado contra uma rocha rachada, os olhos fixos na luta com uma mistura de admiração e fúria. Skadi, com o buraco em seu abdômen finalmente curado por Elizabeth, continuava inconsciente. Assim como Heisen que acabou inconsciente pela exaustão de éter e sem seu braço direito, deitado imóvel sob o cuidado de aliados. Hilda, em péssimo estado, recebia os cuidados de Elizabeth e Homura, que, sem mais poder de cura, fechavam suas feridas manualmente, as mãos tremendo com o esforço enquanto olhavam para o confronto. Beatrice e Mio, sem forças, apenas encaravam a cena, suas respirações ofegantes ecoando no ar tenso. De repente, Yuki surgiu do meio dos destroços, carregando o corpo de Amarylis e de uma Levy inconsciente, seus passos pesados deixando marcas na terra macia, o suor escorrendo por seu rosto.

— O que está acontecendo? — ela perguntou, sua voz cortando o silêncio dos observadores, os olhos fixos na batalha distante.

Bishamon, ao seu lado, apenas balançou a cabeça, sua bandeira tremulando levemente ao vento. — Eu também não tenho certeza.

No campo de batalha, a poeira assentou lentamente, revelando as silhuetas dos combatentes sob o céu escurecendo, o vento uivando como um arauto de mais caos. Dante estava ofegante, o peito arfando enquanto segurava a espada carmesim, gotas de suor misturadas a sangue pingando no solo. Cernunnos se levantou, o sorriso retornando ao seu rosto com uma ferocidade renovada, seus olhos negros brilhando com uma mistura de excitação e fúria. 

A troca de olhares durou menos de um segundo, mas continha uma eternidade de promessas e ameaças. A batalha recomeçou, não com um grito, mas com o som do ar se partindo, como se o próprio vento fosse rasgado por lâminas invisíveis.

Os dois avançaram em uníssono, os pés chutando nuvens de poeira que se erguiam como véus de guerra, e o campo de batalha se transformou em um borrão de carmesim e ébano, onde sombras e chamas dançavam em um balé mortal. Uma troca de cortes em alta velocidade iniciou-se, tão rápida que a poeira e os destroços não caíam, mas eram erguidos em um redemoinho constante ao redor deles, girando como um furacão de destroços que obscurecia o sol. Cernunnos, agora lutando com a genialidade de um caçador, testava Dante com uma série de investidas calculadas: ele girava o corpo em um arco fluido, balançando a espada negra em um amplo semicírculo horizontal para forçar uma defesa baixa, seguido de um golpe ascendente que cortava o ar como uma foice, cada golpe uma pergunta sobre a natureza daquele novo olho flamejante, sondando fraquezas com a precisão de uma flecha. Dante, por sua vez, lutava com uma precisão defensiva impecável, a lâmina carmesim movendo-se em paradas curtas e giratórias para interceptar os ataques.

Cernunnos se viu cercado, não por um homem, mas por um caleidoscópio de ecos, um exército de um homem só que o atacava de todas as direções: um eco girava para um corte lateral, outro saltava para um golpe descendente, enquanto o verdadeiro Dante zigzagueava entre eles com balanços precisos. Era a velocidade de Dante, agora superior à do Rei Demônio, manifestada de forma a quebrar a percepção do inimigo, os ataques vindo como uma chuva de lâminas de múltiplos ângulos.

— Chega de truques! — Cernunnos rugiu, liberando uma onda de choque de éter negro com um giro completo de 360 graus, as espadas estendidas para destruir as pós-imagens em uma explosão radial que limpava o ar.

A batalha se tornou um duelo de vontades, um balé coreografado de força e agilidade. A força colossal de Cernunnos, manifestada em balanços amplos e giratórios que cortavam o ar com ondas de choque, contra a velocidade impossível e a lâmina traiçoeira de Dante, que desviava com rodopios ágeis e contra-atacava com giros rápidos da espada. Cada Arte que o Rei Demônio lançava — um vórtice de cortes giratórios ou uma rajada flamejante — era refletida com o dobro da força e uma velocidade absurda, forçando-o a desviar de seu próprio poder amplificado com saltos laterais e defesas cruzadas.

Foi então que o olho direito de Dante brilhou intensamente, pulsando como uma estrela em colapso. O mundo se transformou para ele em uma teia de informações, uma visão completa, 360 graus, de todo o campo de batalha, onde ele não via apenas com os olhos, ele entendia tudo: linhas de trajetória piscando como fios luminosos, vulnerabilidades destacadas em vermelho. o tremor no músculo do ombro de Cernunnos, um prenúncio de seu próximo golpe, um balanço ascendente que já se formava na mente do inimigo.

Ele desviou de um corte que ainda não havia sido lançado, girando o corpo para o lado em um movimento fluido e contra-atacando com uma precisão cirúrgica, a espada traçando um arco descendente que visava o ombro exposto. Mas a torrente de informações era avassaladora, um dilúvio de dados que inundava sua mente. De repente, uma dor aguda, como mil agulhas, perfurou seu cérebro de Dante, fazendo-o cambalear por uma fração de segundo. Uma sobrecarga. Sua visão piscou, e por uma fração de segundo, ele parou, o corpo congelando no meio de um giro.

Cernunnos, viu a abertura como um lobo farejando sangue. Com um golpe brutal, ele avançou em um salto giratório, balançando a espada negra em um arco horizontal amplo que atingiu Dante no torso, o impacto ecoando como um sino rachado, fazendo-o voar, o corpo quebrado girando no ar antes de rolar pelo chão devastado em uma trilha de poeira e sangue. O Rei Demônio avançava com passos pesados, a vitória novamente ao seu alcance, as espadas girando em preparação para o golpe final, quando Dante se levantou devagar, o sangue escorrendo em riachos pelo rosto e braços, mas o sorriso ainda no rosto, desafiador e inabalável. 



No platô rochoso, Blade e os demais assistiam à sinfonia de destruição abaixo, o confronto entre Dante e Cernunnos reverberando como trovões que faziam o chão tremer. O céu, manchado por nuvens escuras entrecortadas por relâmpagos carmesim, parecia pulsar em sincronia com a batalha titânica. De repente, o som de passos rápidos ecoou, subindo as escadas de pedra irregulares que levavam ao platô. Delas surgiram Akira, as mãos nos bolsos; as duas empregadas de Dante, Belltrylis e Alana, movendo-se com graça, suas vestes esvoaçantes dançando com o vento; e a enigmática Shiranui Tenma, cujo semblante sereno escondia uma tempestade de pensamentos.

— Estamos prontos. Pode nos enviar como a próxima onda — declarou Akira, a voz firme, mas com um leve tremor de antecipação, seus olhos varrendo o grupo no platô. Eles haviam chegado sem saber a que ponto a batalha havia escalado, o ar carregado com a densidade de éter que fazia os cabelos se arrepiarem. Mas, naquele momento, Tenma caminhou até a borda do penhasco, os pés movendo-se com uma precisão quase ritualística, como se ela estivesse dançando sobre um fio invisível. Seus olhos, normalmente frios como gelo, se arregalaram levemente ao fixarem-se no confronto titânico abaixo: o borrão de Dante, sua nova forma envolta em uma aura carmesim que pulsava como um coração vivo, a espada carmesim girando em arcos fluidos enquanto ele dançava com o Rei Demônio Cernunnos, cujas lâminas negras cortavam o ar com fúria primal, cada golpe deixando rastros de escuridão que se dissipavam como fumaça.

— Ele usou... — Tenma sussurrou, a voz carregada de um significado que só ela parecia entender. Seus olhos brilhavam com uma mistura de fascínio e preocupação, como se visse algo além da batalha física — Akira, ao seu lado, soltou um assobio baixo, um som de puro espanto que cortou o silêncio tenso do platô.

— Mas que porra é aquela espada...? — murmurou ele, inclinando-se para frente, os olhos semicerrados enquanto tentava acompanhar os movimentos quase impossíveis de Dante, a lâmina carmesim girando em suas mãos como uma extensão de seu próprio corpo, cada balanço criando ondas de choque que faziam o solo vibrar.

Os quatro encarregados do comando — Blade, Paracelso, Lux e Rani — mal registraram a chegada do grupo, imersos em sua própria batalha de intelecto, seus olhos fixos na dança mortal abaixo, as mentes trabalhando como engrenagens de um relógio cósmico. Blade, de pé com os braços cruzados, o rosto uma máscara de frieza analítica, quebrou o silêncio com uma voz que cortava a cacofonia da luta como uma lâmina afiada.

— Analisei os dados — disse ele, os olhos estreitados, o brilho nos olhos refletindo os relâmpagos distantes. — Mesmo após a transformação, o nível de éter de Dante não é superior ao de Cernunnos. Ele não ficou mais forte. Apenas... mais irritante de se lidar. — Sua voz era desprovida de emoção, mas carregava a precisão de quem dissecava a batalha com a frieza de um cirurgião, cada palavra um golpe calculado.

A cena da batalha abaixo parecia confirmar suas palavras com uma clareza brutal. Cernunnos avançou como uma força da natureza, sua espada de ébano reluzindo com chamas negras que lambiam o ar. Cada passo seu partia o chão, rachaduras se espalhando como teias sob seus pés, enquanto ele brandia suas espadas gêmeas em um arco amplo, o movimento tão poderoso que o ar rugia em protesto. Dante, em vez de enfrentá-lo de frente, usou sua velocidade sobrenatural para se esquivar, o corpo girando em um rodopio fluido, a capa carmesim esvoaçando como asas de um corvo enquanto ele deslizava para o lado, a força bruta do golpe de Cernunnos passando a centímetros de seu peito. A onda de choque, porém, era uma fera própria, explodindo em uma rajada de vento e poeira que forçou Dante a recuar, os pés deslizando pelo solo enquanto ele ajustava a espada com um giro rápido do pulso, pronto para o próximo movimento.

— O segredo está naquela espada estranha — disse Paracelso, sua voz tingida de fascínio científico, os olhos cianos brilhando com a intensidade de um alquimista diante de um mistério divino. Ele ajustou os óculos de armação fina, o reflexo da batalha dançando nas lentes. — Minha habilidade registrou a capacidade dela no momento em que refletiu a técnica do inimigo. E, se medi corretamente, a potência está dobrada. Mas há mais. — Ela ergueu a mão, como se estivesse desenhando diagramas invisíveis no ar. — O verdadeiro truque é que Dante usa sua habilidade Gifted para manipular o tempo que o ataque devolvido leva para acertar o inimigo. Mesmo não sendo mais forte, ele está causando um dano massivo usando o poder do próprio Daemon contra ele.

Como se coreografada para provar sua teoria, a batalha abaixo explodiu em um novo espetáculo. Cernunnos, com um rugido que ecoava como o trovão de uma tempestade, disparou uma rajada de energia negra, um vortex giratório de escuridão que rasgava o solo em seu caminho, arrancando pedras e destroços em uma dança caótica. Dante, com um movimento gracioso, ergueu a espada carmesim, girando-a em um arco defensivo que parecia quase cerimonial. A lâmina não apenas bloqueou a rajada — ela a bebeu, a escuridão sendo sugada para o losango amarelo em seu centro, que pulsava como um coração faminto. Anéis de luz dourada se formaram ao redor da espada, colapsando e se reformando em uma sequência hipnótica, como se o próprio tempo estivesse sendo dobrado. 

Com um balanço preciso, Dante devolveu o ataque, a rajada agora transformada em um feixe vermelho flamejante, visivelmente mais rápido e poderoso, cortando o ar com a velocidade de um relâmpago. O impacto atingiu Cernunnos no peito, o Rei Demônio rugindo de dor e fúria, o corpo recuando enquanto chamas negras explodiam ao seu redor, seu próprio poder amplificado voltando para feri-lo.

— Vocês não estão percebendo algo importante — interrompeu Lux, sua voz suave como um sussurro do vento, mas carregada de uma sabedoria ancestral que parecia ecoar de eras perdidas. Ela estava de pé, os cabelos prateados esvoaçando levemente, os olhos dourados fixos na batalha com uma clareza que transcendia o caos. — Dante está cometendo erros bobos. — Ela apontou com um gesto delicado, mas firme, para o campo abaixo. — Vejam. Ele para do nada, ou sua esgrima falha. Ele não está acostumado a lutar com uma espada, muito menos com uma daquele calibre. No início, Cernunnos estava em desvantagem por ter acabado de se transformar, precisando se acostumar com seu novo poder até lutar perfeitamente. Agora, é Dante quem está passando pelo mesmo processo de adaptação, em tempo real, no meio da batalha.

A previsão de Lux se materializou com uma precisão cruel.

Dante, no meio de uma esquiva perfeita — um giro lateral que o fazia parecer uma sombra dançante, desviando de um golpe descendente de Cernunnos que partiu o solo ao meio —, vacilou subitamente. 

Sua mão livre foi à cabeça, os dedos pressionando a têmpora como se uma lança invisível perfurasse seu crânio, o rosto contorcendo-se em uma careta de dor. Era uma sobrecarga de seu novo Devil Eye, o fluxo avassalador de informações ameaçando engolir sua mente. Cernunnos, com a precisão de um predador que fareja fraqueza, aproveitou a abertura. 

Ele girou o corpo em um arco fluido, as espadas gêmeas traçando um padrão cruzado no ar, e desferiu um corte de éter flamejante brutal, uma onda de chamas negras que explodia com a força de um vulcão. O golpe atingiu Dante em cheio no flanco, o impacto ecoando como o clangor de um sino gigantesco, lançando-o pelo ar em uma espiral descontrolada, o corpo colidindo contra um pilar de pedra que se estilhaçou com o impacto, poeira e destroços voando como confetes em uma tempestade.

Dante rolou pelo chão devastado, o corpo um mapa de dor, cada músculo gritando em protesto. O impacto deixou sulcos profundos na terra, poeira e fragmentos de rocha voando em uma dança caótica. Ele se levantou, ensanguentado, ferido e ofegante, a exaustão profunda pesando em seus ossos como chumbo derretido, muito além do que qualquer mortal deveria suportar. 

"Você está desperdiçando éter como uma cachoeira!" a voz de Anna ecoou em sua mente, cortante e urgente, a espada carmesim vibrando em sua mão como se compartilhasse sua angústia, o losango amarelo em seu centro pulsando erraticamente. "Você não está acostumado com este poder! Seu corpo está indo ao limite!"

— Como isso é possível? — Dante ofegou, o peito arfando enquanto desviava de um novo corte de Cernunnos, um arco descendente que rasgou o ar com um rugido sônico, a lâmina negra traçando um rastro de escuridão que abriu outra fissura na terra, o solo se partindo como casca seca. Ele girou o corpo em um movimento fluido, a espada carmesim erguida em um ângulo defensivo, parando o golpe com um clangor metálico que lançou faíscas brilhantes ao redor. 

— Eu tenho todo o seu éter agora!

"Não, não tem!" A luta e o diálogo ocorriam simultaneamente, um balé caótico de sobrevivência e revelação, os movimentos de Dante sincronizados com as palavras de Anna. Enquanto ele aparava outro golpe, girando a espada em um arco circular para desviar a força bruta de Cernunnos, a mente de Anna trabalhava furiosamente, como uma máquina. "Você puxou, mas o éter ainda está comigo, no núcleo desta espada! Sua Autoridade, seu braço direito, está devorando esse éter continuamente. e a ação contínua de puxar e gastar está esgotando sua mente e seu corpo!"

— Então eu preciso treinar mais pra usar isso... — Dante pensou, sentindo a verdade nas palavras dela como uma faca. Ele estava no limite, o corpo tremendo com cada passo, cada giro, cada balanço da espada carmesim que parecia pesar uma montanha. Precisava acabar com aquilo, de uma vez por todas, antes que seu próprio poder o consumisse.

Longe do epicentro, Kai começou a caminhar lentamente em direção ao campo de batalha, o corpo quebrado movido por pura teimosia, cada passo uma batalha contra a dor, o sangue escorrendo de feridas abertas. Seus olhos ardiam com uma determinação feroz, o rosto contorcido em uma mistura de raiva e orgulho. Bishamon, se interpôs em seu caminho, a bandeira plantada no chão como uma barreira viva.

— O que pensa que está fazendo? — ela perguntou, a voz firme apesar da exaustão que fazia sua postura vacilar, a aura dourada ao seu redor tremeluzindo como uma chama prestes a apagar.

— O que parece? — Kai cuspiu, irritado, o punho cerrado enquanto apontava para o caos abaixo. — Aquele idiota está no limite. Vou acabar com essa palhaçada, ajudá-lo, e depois que ele se recuperar, acabo com ele de novo.

— É suicídio. Nesse estado, você só vai atrapalhar — Bishamon insistiu, os olhos estreitando-se.

— Então por que não usa a sua bandeira?! — Kai explodiu, a voz ecoando no platô, a fúria transborda como lava. — Aumente o éter da maldita curandeira! Se eu estivesse curado, se todos estivéssemos, não teríamos que depender dele!

Bishamon baixou o olhar, a aura dourada vacilando como uma vela ao vento. — É impossível. A bandeira... ela só funciona enquanto eu acredito ser mais forte que o inimigo. Minha determinação foi abalada quando levei aquele golpe, mesmo que tenha sido por segundos não posso mais usar o poder dela nessa batalha. — Sua voz era um sussurro carregado de vergonha, os ombros caindo ligeiramente.

Kai a encarou, a fúria dando lugar a um desprezo amargo que cortava mais fundo que qualquer lâmina. Ele cuspiu no chão, o som ecoando como um insulto. — E quem é a inútil agora?

— Silêncio! — a voz de Beatrice cortou o ar como um relâmpago, chamando a atenção de todos. Seus olhos, normalmente frios, brilhavam com uma intensidade sobrenatural, fixos no campo de batalha abaixo. Ela sentia. Algo estava para acontecer, uma mudança no éter que fazia o ar crepitar com antecipação.

No centro do caos, Cernunnos finalmente entendeu, sua mente afiada como uma lâmina forjada em eras esquecidas. Ele sorriu, a estratégia se formando em sua mente como um cristal de gelo perfeito, frio e letal. Ele usaria o Corte do Eclipse, sua técnica mais poderosa. Dante, com sua nova e previsível habilidade de reflexão, não hesitaria em tentar devolvê-la. E enquanto ele estivesse preso nesse ato, Cernunnos avançaria com um segundo Corte do Eclipse, despejando todo o seu poder restante em um golpe final que esmagaria tanto Dante quanto o ataque refletido, um xeque-mate perfeito.

Ele começou a carregar seu éter, as lâminas negra e dourada zumbindo com um poder apocalíptico, o ar ao redor delas distorcendo-se como uma miragem sob o calor do deserto. O chão sob seus pés rachava, fragmentos de rocha flutuando para cima como se a gravidade tivesse sido suspensa. O Rei Demônio girou as espadas em um padrão cruzado, o movimento fluido e hipnótico, acumulando energia em uma aura negra e dourada que pulsava como um coração demoníaco.

Foi quando o mundo pareceu parar. Uma aura crepitante, vermelha, explodiu ao redor do corpo de Dante, como uma tempestade elétrica. Ele ergueu a cabeça, o olho direito flamejando com uma intensidade que desafiava a escuridão, e sua voz ecoou com uma autoridade que fez até o vento hesitar.

— Liberar Arquivo: Segundo Modo - Deus da Velocidade!

Todos congelaram, o platô mergulhado em um silêncio atônito. Ele tinha toda aquela velocidade — os giros impossíveis, os desvios que desafiavam a percepção, as pós-imagens que pareciam lutar ao seu lado — sem nem ter ativado seu segundo modo? No campo de batalha, até mesmo Cernunnos vacilou por um instante, seus olhos arregalaram-se antes de se estreitarem, recalculando com a frieza de um predador. Não fazia diferença, ele pensou. A velocidade não era poder destrutivo. Dante ainda precisaria refletir o ataque, e isso selaria seu destino.

O primeiro Corte do Eclipse foi lançado, uma onda de aniquilação que distorcia o espaço, uma foice de escuridão e com um brilho flamejante que rasgava o ar com um rugido ensurdecedor, o solo se desintegrando em seu caminho como se a própria realidade estivesse sendo apagada. No instante seguinte, Cernunnos avançou, girando o corpo em um salto giratório, as lâminas erguidas para preparar o segundo Corte do Eclipse, o golpe final que consumiria tudo em seu caminho.

Mas Dante não refletiu.

Com uma velocidade que parecia divina, ele se moveu, o corpo transformando-se em um borrão de luz e sombra. Seus pés dançavam pelo solo devastado, cada passo um trovão, deixando rastros de éter vermelho que brilhavam como relâmpagos. Ele desviou do primeiro Corte do Eclipse com um giro lateral impossível, o corpo contorcendo-se no ar como uma folha ao vento, a onda de aniquilação colidindo com a Grande Árvore em uma explosão cataclísmica que lançou farpas e seiva em todas as direções, o tronco milenar gemendo em agonia. Dante correu, o mundo ao seu redor desacelerando como se o tempo fosse seu servo. Seus movimentos eram fluidos, quase líquidos, os braços balançando em sincronia com a espada carmesim, que girava em arcos precisos enquanto ele cruzava o campo de batalha em uma fração de segundo, o vento uivando em seu rastro.

Ele apareceu na frente de um Cernunnos chocado, que ainda segurava as espadas erguidas, o segundo Corte do Eclipse começando a se formar em um brilho cegante. Dante estendeu o braço direito, a mão de Autoridade brilhando com uma aura voraz, tocando o peito do Rei Demônio. O ar crepitou quando a energia do ataque que estava para ser lançado foi sugada, devorada, transferida em um instante, o éter negro e dourado fluindo como um rio para a mão de Dante, que pulsava com um poder roubado.

Com um movimento fluido, Dante canalizou esse poder roubado para sua própria Arts, a espada carmesim na mão esquerda brilhava. 

— Corte Relâmpago: Leão de Plasma! — ele rugiu, a voz ecoando como um trovão primordial.

Um corte vermelho de pura energia elétrica e temporal irrompeu da lâmina, sua forma rugindo com uma ferocidade que fez o céu tremer. A lâmina fervente e brilhante como relâmpagos atravessava o pouco espaço entre ele e Cernunnos. O Rei Demônio, pego de surpresa, tentou erguer suas espadas em defesa, mas o golpe o atingiu em cheio, a explosão resultante cegando todos com um clarão branco que engoliu o campo de batalha. O impacto lançou ondas de choque que despedaçaram o solo, rachando montanhas distantes e fazendo o ar vibrar com um rugido que ecoava como o fim do mundo.

O silêncio que se seguiu foi absoluto, um vazio que parecia engolir até o som do vento. Ninguém sabia o resultado, o campo envolto em uma cortina de poeira e fumaça, iluminada por faíscas residuais de éter. De repente, do platô de comando, uma figura saltou, movendo-se com a graça de um espectro. Shiranui, mergulhou em direção ao centro da explosão, seu corpo cortando o ar como uma flecha.

A voz de Blade soou nos comunicadores, cortante e urgente, quebrando o silêncio atônito. — Todos os times. Avancem. Chequem o que aconteceu. Agora! — enquanto descia o platô, seguido por Akira, Belltrylis, Alana e os outros, todos correndo em direção ao epicentro, onde o destino de Dante e Cernunnos permanecia envolto em mistério, o ar carregado com a promessa de um desfecho.

 Parte 7

No coração da cratera devastada, onde o chão ainda fumegava com o rescaldo da batalha titânica, o primeiro grupo a chegar, liderado por Kai e Mio, deparou-se com uma cena de exaustão absoluta que parecia suspender o próprio tempo. Dante estava caído, o corpo inerte esparramado sobre a terra rachada. Ao seu lado, Anna, agora em sua forma humanoide, os cabelos dourados emaranhados e o rosto pálido, parecia uma estátua quebrada, exaurida, ambos haviam dado tudo de si, seus corpos marcados pelo preço de uma vitória impossível. A admiração pelo poder que Dante demonstrou era palpável, um silêncio reverente pairando sobre o grupo, mas o custo estava estampado em cada corte, cada hematoma, cada respiração fraca que escapava de seus lábios. 

De repente, um arrepio de terror percorreu a espinha de todos, um frio primal que fez os instintos gritarem. Ao longe, emergindo de outra cratera como uma sombra ressurgida do abismo, o corpo de Cernunnos se levantava, lento e cambaleante. Os guerreiros, exaustos e feridos, começaram a se posicionar, os músculos tensos, as armas erguidas com dificuldade, preparando-se para o que parecia ser um novo round final. Kai cerrou os punhos, o sangue escorrendo pelos dedos, enquanto Mio ajustava a postura, os olhos arregalados de determinação misturada com medo. Foi então que o grupo de Blade chegou, descendo do platô com a gravidade de uma tempestade iminente, suas espadas reluzindo sob os relâmpagos distantes. Blade, com a lâmina em punho, os olhos frios como aço, plantou-se entre os aliados e o inimigo.

— Agora somos nós — declarou, a voz cortante como a borda de sua espada, carregada com a promessa de um fim. — A onda final.

Mas, para o choque de todos, o corpo de Cernunnos começou a se desfazer, como se a própria realidade o rejeitasse. Fissuras, percorreram sua pele branca, espalhando-se como rachaduras em porcelana. Ele ergueu a mão, observando-a com uma calma desconcertante enquanto ela se desintegrava em poeira estelar, partículas luminescentes que dançavam no vento. Um sorriso, não de um demônio cruel, mas de um homem cansado, marcado por eras de batalhas, surgiu em seus lábios, suavizando suas feições duras.

"Então era isso que você queria me dizer, Abhartach," ele pensou, uma paz inesperada inundando sua consciência, como um rio encontrando o mar. "O braço desse garoto... é capaz de devorar a própria imortalidade... Que droga. Por que será que, agora que estou morrendo, sinto que não queria ir?”  — ele pensava enquanto levava seus olhos até Dante.  — “Me pego pensando como seria divertido lutar contra esse garoto de novo... Mas que porcaria, hein."  — Sua voz interior era um sussurro melancólico, carregado de um respeito relutante e uma curiosidade que nunca seria saciada.

Cernunnos caiu de joelhos, as espadas gêmeas escorregando de suas mãos, desmoronando em cinzas ao tocar o chão, como se nunca tivessem existido. Sua voz ecoou na mente de todos, não com o peso de um demônio, mas com a gravidade solene de uma lenda que reconheceu sua derrota. — Vocês conseguiram. Venceram esta velha lenda. Mas prestem atenção: é sempre quando se está vivendo os momentos mais felizes que este mundo gosta de te derrubar no chão.

Uma lágrima solitária escorreu de seu olho, brilhando como uma estrela fugaz, e por um instante, ele viu a imagem de Morrigan, sua figura etérea sorrindo suavemente por trás de seus descendentes, os cabelos esvoaçando como asas de um corvo. — Parece que você os criou bem... — ele sussurrou para a memória dela, a voz quase inaudível, carregada de uma saudade que transcendia o tempo. Uma última pergunta ecoou no vento, frágil e cheia de anseio: "Será que poderei reencontrá-la?"

Seu corpo caiu para a frente, desmoronando completamente em cinzas douradas que se ergueram em um redemoinho brilhante, dissipando-se no céu como uma constelação fugaz. O silêncio que se seguiu era pesado, um vazio que parecia engolir o mundo, até que a voz de Bishamon o quebrou, firme, mas tingida de reverência.

— O éter que ele gastou... finalmente chegou ao fim. Sem a capacidade de sustentar a própria existência, ele morreu. — Sua bandeira estava plantada no chão, a aura dourada ao seu redor tremeluzindo como uma chama que lutava para permanecer acesa.

A maioria pareceu aceitar essa teoria, um fim lógico para uma batalha impossível. Todos, exceto três. Blade, Paracelso e Rani encaravam o local onde o corpo de Cernunnos desaparecera, os olhos estreitados, a dúvida pairando como uma sombra. Ao lado de Dante, Kai também sabia, o peito ardendo com uma frustração incandescente. "Foi ele," pensou, os punhos cerrados tão forte que as unhas cravaram na palma. "De algum jeito, foi o Dante quem venceu. É melhor se preparar, seu merda. Logo, eu vou te superar de novo."

O clima se apaziguou, a tensão se dissipando como névoa ao amanhecer. A evacuação começou, os sobreviventes se movendo com uma eficiência exausta. Rani, com os olhos fixos em um dispositivo de comunicação, enviou uma mensagem para os sobreviventes no subterrâneo, sua voz firme ecoando no comunicador: — A batalha acabou. Threshold está seguro.

Lux, com passos leves, aproximou-se das cinzas de Cernunnos, seus olhos dourados brilhando com uma curiosidade quase mística enquanto buscava o fragmento da Coroa de Oberon, a relíquia que pulsava com um poder antigo. Foi então que o céu, que começava a clarear com tons suaves de azul, foi subitamente rasgado por um trovão sem som. Uma pressão esmagadora, divina e avassaladora, desceu como uma maré invisível, forçando todos a caírem de joelhos, o ar vibrando com um peso que parecia dobrar a própria realidade. Uma figura caiu dos céus, sua chegada anunciada por um clarão ofuscante, o corpo envolto em uma aura dourada que pulsava com a essência da criação.

— NÃO SINTAM O ÉTER DELA! — Mio gritou, a voz rasgada pela memória traumática do labirinto, os olhos arregalados enquanto ela se esforçava para se manter de pé. O aviso veio quase tarde demais. Blade, com os olhos vidrados, cravava as unhas no próprio peito, a um segundo de arrancar o coração. A maioria conseguiu cortar a conexão com o éter, ofegantes e aterrorizados, os corpos tremendo como se tivessem escapado de um abismo.

— O que foi isso?! — Blade exigiu, a voz rouca, os olhos flamejando enquanto se levantava, a mão ainda tremendo sobre o peito.

— É ela... — Mio ofegou, o rosto pálido, os punhos cerrados. — Aquilo que nos atacou na aula. O avatar do Astreus da Vida.

A mulher caminhou calmamente até os restos de Cernunnos, cada passo ressoando com uma graça sobrenatural, como se o próprio chão se curvasse em reverência. Seus cabelos esvoaçavam como um véu de luz, e seus olhos brilhavam com uma intensidade que parecia devorar o mundo. Ela se abaixou, recolhendo o fragmento da Coroa de Oberon, um cristal pulsante que brilhava com um verde etéreo. Para o horror de todos, ela o levou à boca e o devorou, o éter da relíquia sendo absorvido em seu ser com um brilho que fez o ar estremecer.

— O que você está fazendo?! — Kai gritou, a fúria explodindo em sua voz enquanto tentava se levantar, os punhos cerrados prontos para lutar, apesar da exaustão.

A Vida o olhou com um desprezo glacial, os olhos cortantes como lâminas de gelo. — Cale-se. Não quero ouvir o zumbido irritante de uma escória, uma falha tentativa de recriar a vida, sujando meus ouvidos. — Sua voz era lúcida, inteligente, cruel, um contraste aterrorizante com a criança irracional que outrora enfrentaram.

Kai e Mio perceberam na mesma hora, um calafrio percorrendo seus corpos. Ela não era mais uma força caótica — era uma entidade consciente, com um propósito afiado como uma guilhotina. Ela caminhou até Lux, segurando seu queixo com uma força impossível, os dedos delicados, mas inquebráveis, forçando a princesa das fadas a encará-la. — As fadas... sim. As criações que mais se aproximaram da perfeição que busco. Talvez com elas, eu possa completar minha obra.

Naquele momento, todos notaram, os olhos arregalados de terror. O céu havia enegrecido, uma noite sem estrelas ou lua, um vazio que parecia engolir a luz. E sobrevoando-os, uma silhueta aberrante e gigantesca, um dragão negro maior que qualquer montanha, suas asas batendo com um som que ecoava como trovões distantes. Seus olhos brilhavam como fornalhas, e seus chifres, retorcidos como galhadas de um cervo ancestral, pulsavam com um éter sombrio.

— Behemoth... — Blade murmurou, o reconhecimento tingido de incredulidade.

— Ele está errado — Paracelso corrigiu, os olhos arregalados, o fascínio científico lutando contra o medo. — É parecido, mas está diferente. Aqueles chifres de galhada...

— Ele é o primeiro passo — a Vida disse, um sorriso cruel curvando seus lábios enquanto olhava para sua criação no céu, o dragão pairando como um deus primordial. — A vida definitiva. Estava a poucos passos de completá-lo, mas encontrei barreiras. — Ela se virou para Lux, beijando-a com uma ternura perturbadora. A princesa das fadas desmaiou, o corpo caindo suavemente enquanto a Vida sorria, agora com o conhecimento roubado brilhando em seus olhos. — Entendo. As outras onze partes da coroa estão com as outras princesas. Terei que achar outra maneira de entrar em Avalon. A entrada de Threshold é fraca demais.

Ela se afastou, os passos leves como se flutuasse, pronta para partir. O dragão abaixou sua cabeça colossal, permitindo que ela subisse em suas costas com uma graça que desafiava a gravidade. Antes de partir, ela lançou um último olhar para o grupo, os olhos fixos no inconsciente Dante. — Quando Dante acordar, digam a ele que estou feliz que meu novo irmão também está crescendo. Caso ele resolva ajudar, agora que tem mais domínio sobre sua Autoridade, ainda o aceitarei ao meu lado.

— E como ele a encontraria? — Paracelso perguntou, a curiosidade científica superando o medo, os olhos brilhando com um desejo ardente de compreender. — E qual o seu nome?

A Vida olhou uma última vez para a inconsciente Lux, um sorriso enigmático cruzando seu rosto antes de saltar para as costas do dragão colossal, o movimento fluido como o de uma deusa ascendendo ao seu trono. — Ele vai saber como me achar. E quanto ao meu nome... podem me chamar de Titania. A futura rainha das novas fadas.

O dragão bateu as asas, cada movimento enviando rajadas de vento que faziam o chão tremer, e ambos desapareceram no céu noturno, engolindo-se na escuridão como se nunca tivessem existido. O céu, lentamente, devolveu seu brilho suave, as estrelas reaparecendo como testemunhas silenciosas. O Incidente de Threshold, real e finalmente, havia se encerrado, mas o eco das palavras de Titania permanecia, uma promessa de novos conflitos que pairava como uma sombra sobre o futuro.

Parte 8

Três dias inteiros se passaram, e o mundo parecia ter prendido a respiração, o silêncio pós-batalha envolvendo Threshold como uma manta suave, carregada de alívio e melancolia. A paisagem, outrora um campo de guerra devastado, começava a se curar, com o orvalho da manhã brilhando sobre as rachaduras da terra e os primeiros brotos verdes desafiando as cinzas. A vitória sobre Cernunnos era um marco, mas o preço pago ecoava em cada coração, em cada alma que sobreviveu ao Incidente de Threshold.

Quando Dante acordou, foi com um gemido rouco, o corpo exaurido protestando contra o simples ato de abrir os olhos, como se cada músculo guardasse a memória de golpes titânicos. Ele estava em seu antigo quarto na Mansão Winchester, o teto familiar adornado com entalhes antigos que pareciam sussurrar histórias de eras passadas. A luz suave do amanhecer filtrava-se pelas cortinas, banhando o ambiente em tons dourados. Ao seu lado, duas figuras se curvaram, suas presenças familiares trazendo um conforto inesperado.

— Mestre Dante, bem-vindo de volta — a voz calma de Belltrylis o saudou, um tom melodioso que misturava alívio e devoção, seus olhos ametistas brilhando com uma suavidade que contrastava com seu habitual ar sedutor.

— O senhor está bem? — Alana perguntou, a preocupação genuína gravada em seu rosto delicado, as mãos torcendo o tecido de seu avental enquanto o observava com olhos ansiosos.

Dante piscou lentamente, a mente enevoada tentando costurar os fragmentos de memória. A batalha, o rugido do leão de plasma, o colapso de Cernunnos — tudo parecia um sonho febril, distante e vívido ao mesmo tempo. — Estou... tendo um flashback? — murmurou, a voz rouca, tentando encontrar humor em meio à dor.

Belltrylis sorriu, um brilho travesso iluminando seus olhos. — Se for, Mestre, com certeza deve ser um déjà-vu delicioso. — Sua risada era leve, como sinos ao vento, mas havia uma ternura genuína por trás do tom provocador.

Ele bocejou, o movimento enviando uma onda de dor lancinante por cada músculo, como se o próprio ato de respirar fosse uma batalha. As garotas se aproximaram, prontas para ajudá-lo, mas Dante ergueu a mão, um gesto teimoso que dizia mais sobre sua determinação do que sobre sua condição. — Estou bem. Só... me expliquem. Tudo. O que aconteceu?

Belltrylis assumiu uma postura mais séria, o brilho sedutor dando lugar a uma gravidade que parecia carregar o peso dos últimos dias. Seus olhos se tornaram distantes, como se vissem além do quarto, revisitando o caos que se seguira à vitória. — Após a sua vitória, Mestre, o caos deu lugar a uma mulher, um ser de poder avassalador, desceu dos céus como uma deusa vingativa. Mio a identificou como o avatar do Astreus da Vida, a mesma entidade que os atacou no labirinto. Que mais tarde se auto-nomeou de Titania.

— Depois que ela se foi, o verdadeiro trabalho começou. Os feridos foram levados para as Termas das Fadas. A maioria se recuperou, mas a fonte cobra um preço por milagres. como sabe para curar feridas próximas da morte, ela consome uma grande quantidade do tempo de vida do paciente.

— Heisen se recusou a usar a fonte para curar seu braço — Alana acrescentou, a voz baixa, quase um sussurro, como se temesse perturbar a memória do guerreiro. — Ele disse que precisava garantir que viveria o suficiente para... trazer seu irmão idiota de volta. — Um leve sorriso tocou seus lábios, mas havia tristeza ali. — Ele também nos informou que recuperou os corpos de Ozymandias e Raikou, mas, achando que seriam inúteis no resto do confronto, ele os jogou embaixo da terra usando seu poder para criar uma fraqueza no solo, acreditando que cairiam nos andares inferiores... antes de saber que tudo havia sido destruído pela colisão com avalon.

Belltrylis continuou, o relato se transformando em um mosaico do estado fragmentado da família, cada peça uma história de perda, resiliência e esperança. — Hilda usou a fonte e já se recuperou completamente. Ela está na superfície agora, forjando uma nova força policial com uma determinação feroz, jurando que Threshold jamais passará por algo assim novamente. Levy também se recuperou, mas a batalha a marcou profundamente. Sentindo sua própria fraqueza, ela decidiu partir para treinar nos andares inferiores, buscando se tornar mais forte. Yuki, foi com ela, prometendo apoiá-la em cada passo.

A conversa foi interrompida por um corte de cena, uma memória vívida dos eventos dos últimos dias que parece se materializar no ar. Em um salão parcialmente destruído, com colunas rachadas e vitrais estilhaçados deixando a luz do sol entrar em feixes dourados, Bishamon e Blade se encaravam, a tensão entre eles era palpável. Bishamon, ainda marcada pela batalha, a frustração brilhando em seus olhos.

— Eu não posso aceitar — disse ela, a voz carregada de orgulho ferido. — Você venceu no quesito de liderança, Blade. Sua estratégia nos salvou. Não posso aceitar o título apenas porque você não pode concorrer.

Rani, sentada em um trono improvisado feito de destroços empilhados, sorriu com uma mistura de divertimento e sabedoria. — Que dilema nobre. Sendo assim, eu, Rani Scarlune, assumo a coroa como líder interina por um ano. Ano que vem, haverá uma prova, um desafio para decidir quem está mais apto: você ou meu filho. Estou curiosa para ver o resultado. — Sua voz era firme, mas havia um brilho de expectativa em seus olhos, como se ela saboreasse a competição iminente.

Blade deu de ombros, enquanto ele se movia com uma indiferença calculada. — Por mim, tudo bem. Seja ano que vem ou agora, estou pronto. Serei eu quem irá mudar esta família. — Ele se virou, os passos ecoando no salão destruído, deixando uma Bishamon ainda mais irritada para trás.

A memória se dissipou, e a voz de Belltrylis trouxe Dante de volta ao presente, suave como uma brisa. — Akira também partiu. Ele tinha problemas urgentes na Yakuza para resolver, questões que não podiam esperar. Mikasa e seu mordomo, sempre fiéis, o acompanharam. Ele deixou uma mensagem para o senhor: disse que gostou de conhecê-lo e que, antes de sua expedição para o Void, deveria passar em Elysium. Ele também prometeu enviar o presente que mencionou para seu dormitório em Babylon, com um sorriso que sugeria que será algo... memorável.

— E os outros? — Dante perguntou, sentando-se com dificuldade, o corpo protestando a cada movimento, mas sua curiosidade superando a dor.

— Kai encontrou o corpo de Vivian — Alana respondeu, com os olhos baixos, como se a lembrança doesse. — Ela estava viva, mas... terrivelmente ferida. Precisou usar a fonte novamente, o que a deixou furiosa, como se o preço pago fosse um insulto. Ambos voltaram para o colégio na frente, não quiseram esperar. Disseram que precisavam treinar, ficar mais fortes, como se a derrota os tivesse marcado mais profundamente do que qualquer ferida física. — Ela hesitou, antes de continuar. — Skadi foi a que mais sofreu. Mesmo com a fonte e os cuidados de Elizabeth, a ferida no abdômen foi devastadora demais. A carne reconstruída é frágil, seus órgãos estão instáveis. Ela nunca mais poderá lutar, pelo menos não como antes.

O peso da notícia pairou no ar como uma névoa. Skadi, a deusa da guerra do inverno, reduzida a uma sombra de sua antiga glória, aleijada pelo destino. Dante cerrou os punhos, a culpa e a determinação misturando-se em seu peito.

— Amarylis foi promovida a líder temporária dos Flame Reapers — Belltrylis continuou, tentando trazer um tom de esperança. — Ela e Diane estão reconstruindo a força no subterrâneo, com Skadi servindo como conselheira, compartilhando sua experiência mesmo que não possa lutar. E Lux... ela descobriu que a entrada para Avalon está instável, comprometida pela batalha. Rani, como nova rainha interina, designou alguns Scarlunes para ajudá-la na reconstrução, e Lux mergulhou na tarefa com uma determinação quase obsessiva, como se quisesse provar algo a si mesma.

— E a Anna, a Bea e a Mio? — Dante perguntou, um leve sorriso surgindo ao imaginar as três, já prevendo a resposta.

Alana riu, um som leve que quebrou a tensão do quarto. — Estão no salão de jantar, como sempre. Esvaziaram a despensa da mansão no primeiro dia, comendo como se o mundo pudesse acabar amanhã. Agora, uma equipe de caça foi designada exclusivamente para reabastecer os mantimentos para elas. Beatrice parece estar liderando a operação, com Mio e Anna competindo para ver quem consegue comer mais.

Belltrylis deu um sorriso cansado, mas afetuoso. — O grupo especial de Babylon, que caçava Titania, também apareceu logo após a batalha. Kintoki, Daiki e Tenma. Eles a rastrearam até aqui, mas a perderam no caos da partida dela. Kintoki e Daiki já retornaram para Babylon, ansiosos para relatar o que viram, mas Tenma, por algum motivo, decidiu ficar. Ela tem vagado pela mansão, silenciosa, observando tudo.

— E a Paracelso? — Dante perguntou, a curiosidade tingida de cautela, lembrando do brilho intenso nos olhos da alquimista.

— Ah, sim. A Mestra Paracelso... — Belltrylis começou, mas foi interrompida por um som.

TOC TOC.

Uma batida firme na porta ecoou pelo quarto, cortando a conversa como uma lâmina. Belltrylis sorriu, um brilho de antecipação em seus olhos. — Falando nela.

A porta do quarto de Dante se abriu sem cerimônia, o rangido das dobradiças ecoando suavemente no silêncio. Paracelso entrou, os cabelos ciano brilhando como um halo sob a luz dourada do amanhecer, os olhos reluzindo com uma curiosidade científica que parecia capaz de desvendar os segredos do próprio universo. Atrás dela, Rani Scarlune seguia com passos calmos, sua presença serena absorvendo a tensão do ambiente como uma brisa que apaziguava um mar agitado. A aura de Rani era um contraste com a energia vibrante de Paracelso, mas juntas, elas preenchiam o quarto com uma gravidade que fazia o ar parecer mais denso, carregado de promessas e mistérios.

O que se seguiu foi uma torrente de informações, uma cascata de palavras que fluíam como um rio desvendando os acontecimentos recentes. Paracelso, com sua precisão clínica, fez perguntas incisivas sobre a transformação de Dante, sondando os detalhes de sua nova transformação. Ela mencionou o incidente na Torre Dates, um evento que ainda ecoava nas mentes dos sobreviventes, e, mais importante, revelou fragmentos de uma grande reunião que ocorreu em Marte — um encontro de forças que Dante desconhecia completamente, mas que parecia conectar os fios do destino de maneiras que ele ainda não compreendia. Rani, por sua vez, observava em silêncio, os olhos gentis fixos em Dante, como se enxergasse não apenas o homem diante dela, mas também o menino com quem conversava tanto antigamente.

À medida que as peças de um quebra-cabeça cósmico se encaixavam em sua mente, Dante sentiu a exaustão recuar, substituída por uma chama de determinação que queimava mais forte a cada palavra. Ele se levantou da cama, ignorando os protestos de seu corpo machucado, os músculos ainda doloridos vibrando com uma energia renovada. 

— Se o que você contou sobre Marte é verdade, já estou atrasado — declarou, a voz firme, os olhos brilhando com uma resolução inabalável. — Preciso voltar para Babylon o quanto antes e começar a treinar.

— Antes disso... — Paracelso o interrompeu, um sorriso afiado, curvando seus lábios, como uma cientista prestes a revelar um experimento ousado. — Tenho algumas coisas que quero saber. Na realidade, estou atrás de você desde que descobri que havia voltado.

— O motivo? — Dante perguntou, a desconfiança tingindo sua voz, os olhos estreitando-se enquanto cruzava os braços.

Paracelso o analisou de cima a baixo, os óculos refletindo a luz do sol em um lampejo que parecia dissecar cada centímetro de sua alma. — Dante, querido. Você ainda é virgem?

O ar no quarto congelou, o tempo parece parar enquanto a pergunta absurda pairava. Dante ficou completamente vermelho, da ponta das orelhas à gola da camisa, o rosto uma mistura de choque e constrangimento. 

— O-o que... Que tipo de pergunta é essa?! — gaguejou, a voz subindo uma oitava enquanto tentava recuperar o controle.

— Pela sua reação, devo assumir que sim — Paracelso concluiu com uma calma exasperante, ignorando o rubor evidente dele. — Você deveria parar de perder tempo. Sei que o efeito colateral da sua habilidade é que você sente tudo mais rápido, até mesmo se apaixona mais rápido. E, por não conseguir reconhecer se seu parceiro sente o mesmo, você decidiu nem pensar em romance, provavelmente por causa de algum trauma.

— Pare de falar dos meus sentimentos assim! — Dante gritou, a frustração transbordando enquanto jogava as mãos para o alto, o rosto ainda ardendo. Ele deu um passo à frente, como se pudesse intimidar a alquimista com pura indignação.

— Estou falando sério — a voz de Paracelso tornou-se clínica, fria como o bisturi de um cirurgião. — Se não resolver isso, pode acabar magoando alguém que se apaixonou de verdade por você, enquanto ignora os sentimentos dela. Sua habilidade amplifica suas emoções, mas também o deixa cego para as dos outros.

— E por que você quer tanto saber disso? — Dante perguntou, a voz baixando, carregada de uma mistura de curiosidade e irritação.

Paracelso inclinou a cabeça, a honestidade em suas palavras tão crua que era quase aterrorizante. — Porque eu quero analisar um filho seu. — Seus olhos brilhavam com uma curiosidade científica insaciável, como se Dante fosse um experimento vivo, o próximo passo em sua busca por conhecimento.

Dante a encarou, a decepção gravada em seu rosto, não pela pergunta em si, mas pelo lembrete de que, para alguns, ele era mais um objeto de estudo do que um homem. Sem dizer mais uma palavra, ele se virou, a decisão tomada em silêncio. — Vou atrás das garotas. Está na hora de irmos embora — murmurou, os passos pesados enquanto se dirigia à porta, a mente já focada em seu próximo objetivo.

Mas Rani, que permanecera em silêncio como uma guardiã silenciosa, estava parada agora se apoiando na porta do quarto. Seus olhos, profundos e gentis, o observavam com uma intensidade que parecia enxergar através dele. Dante parou, sem se virar completamente, o peso de uma revelação pairando entre eles.

— Finalmente... eu lembrei — ele disse, a voz baixa, quase um sussurro, carregada de uma emoção que ele próprio não sabia nomear. — Era você. Sempre que eu voltava das missões quando criança, tinha que relatar tudo para uma médica que fazia várias perguntas, como "O que você quer fazer?". Só agora eu lembrei que era você.

Do outro lado da porta, Paracelso, Belltrylis e Alana, que haviam se aproximado silenciosamente, prenderam a respiração, os olhos arregalados enquanto escutavam. O ar parecia carregado, cada palavra de Dante um fio que costurava um passado fragmentado.

Rani o encarou, um sorriso gentil curvando seus lábios, mas seus olhos brilhavam com uma emoção contida, como se ela estivesse segurando um oceano de palavras não ditas. Dante finalmente se virou para ela, a memória daqueles encontros infantis mesclando-se com as imagens de Kai, Blade e Vivian olhando para Rani com uma mistura de reverência e ressentimento. Ele hesitou, antes de perguntar: — Você... é a minha mãe?

Rani não respondeu diretamente, sua expressão imutável, mas o calor em seus olhos era uma resposta em si. — Você gostaria que eu fosse? — perguntou suavemente, a voz como uma carícia. — Por acaso, tem algo que queira dizer para a sua mãe?

Dante pensou por um momento, os olhos fixos no chão, como se buscasse as palavras certas em meio às rachaduras de sua mente. Quando falou, sua voz era firme, mas carregada de uma vulnerabilidade rara. 

— Eu já pensei nisso... mas mesmo agora, não tenho certeza. Só que, pensando com calma, cheguei à conclusão de que deveria agradecê-la. Mesmo as coisas tendo saído como saíram... eu ainda estou feliz de ter nascido. Foi isso que me permitiu conhecer a Nero, o Luck, a Anna, a Beatrice... todo o resto. Então, valeu a pena.

Rani sorriu, um calor genuíno iluminando seu rosto, como se as palavras de Dante tivessem acendido uma chama há muito adormecida. 

— Tenho certeza que ela receberá a informação — disse, a voz suave, mas carregada de uma promessa silenciosa.

— Entendi — Dante murmurou, começando a se virar para ir, o peso da conversa ainda pairando sobre ele.

— Dante — Rani o chamou uma última vez, sua voz como um farol em meio à névoa. — Tem algo que você gostaria de fazer agora? Você tem um objetivo?

Ele parou, a pergunta ecoando em sua mente, a mesma que ela fez tantas vezes em sua infância, quando ele voltava ferido e exausto de missões impossíveis. Ele a encarou nos olhos, e toda a hesitação, toda a dúvida, desapareceu, substituída por uma certeza que brilhava como uma estrela. — Vou trazer a Nero de volta à vida — declarou, a voz firme, sem um pingo de hesitação.

Rani sorriu. — Então, desejo-lhe boa sorte.

Assim, eles se separaram. Dante se afastou, os passos ecoando com uma determinação renovada, pronto para reunir Beatrice, Anna e Mio e partir para Babylon. Belltrylis e Alana o seguiram logo depois, enquanto Paracelso lançou um último olhar para Rani, uma sobrancelha erguida em uma pergunta silenciosa.

— Tem certeza que não quer contar? — perguntou, a voz baixa, quase conspiratória.

— Está tudo bem — Rani respondeu, caminhando até uma janela quebrada, onde o vento suave entrava, trazendo o perfume de flores selvagens e o aroma fresco de um novo dia. — Se um dia ele realmente quiser encontrar sua mãe, ele dará um jeito. Até lá, vou apenas observar um pouco mais para onde a minha obra-prima irá.

Ela ficou ali, olhando para fora, o horizonte banhado pela luz do amanhecer, enquanto o vento soprava, levando as memórias da batalha e trazendo o clima refrescante de novos começos. A Mansão Winchester, apesar de suas cicatrizes, parecia viva novamente, um farol de esperança em meio às ruínas de Threshold.

Entrelinhas

Em uma sala vasta, onde o silêncio era quebrado apenas pelo virar de páginas antigas, uma figura observava o universo através de seu livro. O ambiente era um santuário de veludo vermelho e conhecimento, com estantes que se erguiam até um teto invisível, abarrotadas de livros. No centro de tudo, em um trono imponente, Alpha sorriu, seus olhos se voltando do livro para encarar diretamente você.

— E então? O que acharam? Hahaha! Que final, não é mesmo? — A voz dela era melódica, carregada de um divertimento antigo. — Traições, revelações, um Rei Demônio encontrando a paz na aniquilação e um novo monstro nascendo das cinzas para tomar seu lugar no tabuleiro. Tantas pontas soltas, tantos novos começos. É delicioso.

Ela se recostou no trono, girando uma pequena peça de xadrez — um rei — entre os dedos.

— Mas, me digam uma coisa... — Alpha inclinou a cabeça, um brilho de pura malícia em seu olhar. — Durante aquele momento... quando o nosso querido Dante mergulhou na própria alma para reivindicar seu poder... ele ouviu uma voz, não foi? Uma garota que o repreendeu.

Ela fez uma pausa dramática, o sorriso se alargando.

— Quem vocês acham que era a dona daquela voz? O mais engraçado é que, o próprio Dante já nem se lembra mais. A memória daquele encontro foi selada, um eco perdido em sua mente fraturada. Mas... — ela deu de ombros, fingindo indiferença — ...talvez essa pessoa se torne importante no futuro. Ou talvez não. Quem sabe?

Alpha colocou a peça de xadrez de volta no tabuleiro ao seu lado, o som da madeira ecoando na sala silenciosa. Ela olhou para você uma última vez, os olhos brilhando com todos os segredos do universo que ela se recusava a compartilhar.

— O Incidente de Threshold finalmente se encerrou. A poeira assentou, e novas peças foram posicionadas. E agora? Para qual arco vocês acham que vamos seguir?



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