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The Fall of the Stars: Capítulo 1 - Olá mundo

  • Foto do escritor: AngelDark
    AngelDark
  • 14 de jul.
  • 38 min de leitura

Volume 4 : Fragmentado


Parte 1 

Nos intrincados corredores da psique, onde a memória tece a tapeçaria da identidade, eventos de magnitude avassaladora podem deixar mais do que simples cicatrizes. Falamos de traumas sequenciais – ondas de choque existenciais que, golpeando uma alma repetidas vezes, ameaçam desmantelar a própria estrutura do ser. Não se trata de uma única fratura, mas de um estilhaçamento progressivo, onde a mente, em um ato desesperado de autopreservação, busca refúgio na própria fragmentação.

Foi somente nos crepúsculos do século ⬛⬛⬛⬛ que pioneiros da psicologia começaram a mapear esses territórios sombrios, documentando casos onde o "eu" parecia ceder lugar a "outros". Relatos fragmentados, inicialmente interpretados como possessão ou histeria, gradualmente revelaram um padrão insidioso: indivíduos submetidos a abusos indizíveis ou perdas cataclísmicas desenvolviam estados dissociativos complexos. Personalidades distintas emergiram, cada qual encapsulando aspectos intoleráveis da experiência – a dor, o medo, a raiva, ou até mesmo a resiliência necessária para sobreviver a mais um dia naquele inferno particular. Cada "outro" nascia como um guardião paradoxal, um fragmento senciente criado para proteger o todo, mesmo que ao custo da coesão.

Um mecanismo central nesse processo é o véu da amnésia seletiva. A memória do evento traumático original, ou mesmo a existência dos "outros", pode ser selada em compartimentos ocultos da consciência. É uma defesa compreensível; esquecer torna-se a única forma de continuar funcionando, de manter uma fachada de normalidade enquanto a tempestade ruge internamente. O passado doloroso é relegado a um eco distante, uma sombra na periferia da percepção – talvez uma sensação de tempo perdido, uma lacuna inexplicável na narrativa pessoal, ou uma estranha desconexão dos próprios sentimentos que deveriam estar lá. Aquele que sofreu a perda pode recordar o fato, mas sentir o luto como se observasse a dor de um estranho através de um vidro espesso.

Contudo, esse santuário construído sobre o esquecimento é inerentemente frágil. Confrontar o trauma – seja por gatilhos externos, pela intrusão de memórias fragmentadas, ou por uma tentativa (muitas vezes malfadada) de forçar a recordação – pode desestabilizar catastroficamente esse delicado equilíbrio. Os resultados são diversos e imprevisíveis. A muralha amnésica pode ruir, liberando uma torrente de angústia e terror há muito represada, sobrecarregando a consciência primária. Facetas adormecidas, guardiãs da dor original ou da fúria necessária para enfrentá-la, podem emergir abruptamente, tomando o controle para proteger ou retaliar. Em alguns casos, o próprio ato de confrontar a fratura pode levar a uma nova fragmentação, um aprofundamento no labirinto do eu como defesa contra a dor redescoberta. O caminho para a integração, se é que existe, é árduo e repleto de perigos, pois cada passo em direção à lembrança é também um passo em direção ao abismo que a mente tentou tão desesperadamente selar. E para aquele cuja própria identidade foi refeita, fundida e renascida... quem pode dizer quais ecos do passado ainda ressoam, esperando o momento certo para reivindicar sua voz?

Parte 2 

⬛⬛⬛⬛

Um silêncio sobrenatural reinava por toda parte; tudo estava apagado, tudo estava fragmentado. Conforme o vazio consumia tudo, uma voz podia ser ouvida:

— Ei... 

— ... 

— Ei!!! 

— ... 

— ACORDA LOGO!!!

 — ... 

— Se por acaso o ⬛⬛⬛ morrer agora, você sabe que vai ser culpa sua, não é?

— …… 

Parte 3 

Kurokawa despertou, sentindo-se confusa, quando percebeu a misteriosa mulher parada à sua frente. Esta tocava gentilmente um lagarto gigante que se ajoelhava diante dela, e este começou a sofrer diversas mudanças. De repente, assumiu uma forma humanóide feminina, a de uma garota de cabelos vermelhos, com asas de dragão e cauda.

— Em nenhum momento você tentou agredir-se diante da minha presença  — falou a mulher misteriosa a Kurokawa, sem olhar diretamente para ela. 

— Você não tem índole violenta; não seria capaz de machucar outra pessoa, mesmo que isso custasse a sua vida. Mas, no fundo, você também se odeia. Decide sozinha o que você realmente deseja, Kurokawa, e se, no fim, perceber que não consegue perdoar-se, eu ainda estarei aqui para conceder-lhe meu amor.

A mulher afastou-se enquanto os animais e monstros a seguiam. A enigmática mensagem que ela havia deixado ressoou no coração de Kurokawa. Quando a mulher se afastou o suficiente, uma enorme ave pousou, como se pedisse para que a mulher a usasse. Assim, ela delicadamente subiu em suas costas e, juntamente com a ruiva misteriosa, deixou o solo e voou. A confusão inicial de Kurokawa a deixou lenta para entender que estava sendo deixada para trás, mas, assim que a mulher subiu alto o suficiente no céu, a ponto de Kurokawa mal conseguir vê-la, um sentimento horrível tomou conta de seu corpo.

Seu corpo começou a doer terrivelmente. Sua pele se arrepiou, alternando entre um suor frio e pegajoso e uma secura febril. Tremores incontroláveis começaram nas extremidades, subindo pelos membros como uma corrente elétrica desgovernada, fazendo seus dentes rangerem e os músculos vibrarem involuntariamente. Uma dor profunda instalou-se em seus ossos, nas juntas, como se cada centímetro estivesse sendo esmagado lentamente. Os músculos contorcem-se em espasmos dolorosos, cãibras que roubam o fôlego.

— Não! Não! Não!

Kurokawa gritava de dor, contorcendo-se no chão, chorando sem entender, babando e com ânsia de vômito. Seu estômago revirava-se em ondas de náusea, deixando um gosto amargo na boca e uma sensação de vazio ainda maior. O coração disparou, martelando contra as costelas, ou tropeçando em batidas irregulares, alimentando a sensação de pânico iminente.

— Me desculpe, por favor! Não me deixe!

A garota chorava como uma criança afastada da mãe, contorcendo-se violentamente no chão, esticando a mão na direção da mulher, mas não importava o quanto ela implorasse, a mulher simplesmente não voltava. Ela batia a cabeça contra o chão, de novo e de novo, tentando causar uma ferida física forte o suficiente para fazê-la parar de sentir a outra dor, mas não importava o quanto se machucasse, aquela dor em seu peito não cessava.

Assim, a garota em agonia, percebendo que aquilo não ia parar, começou a caminhar até à beirada da montanha, com os olhos completamente vazios, sentindo como se nada mais tivesse algum sentido. "Agora fui deixada, agora fui abandonada", eram as únicas palavras que passavam por sua cabeça. Assim, em pleno desespero, ao chegar até à beirada da montanha, olhando para baixo, sem hesitar, Kurokawa mergulhou, jogando-se de cabeça em direção ao chão.

Mas, enquanto caía sem se mover, aceitando aquilo, um garoto que subia a montanha em um skate de fumaça pegou a garota no meio do ar, amortecendo a queda dela em seus braços com poeira, enquanto os dois caíam. Assim, ele usou a poeira para ir desacelerando até atingir o chão.

— Merda! Mas o que você está fazendo? Por acaso ficou maluca? Se a gente não tivesse vindo em direção a montanha agora você estaria morta!. —  Chuya gritava, segurando Kurokawa nos braços.

A garota, percebendo o que havia acontecido e que tinha sido salva, começou a debater-se nos braços do garoto.

— Me largue! Não! Eu tenho que morrer! Essa dor não vai passar! Ela não virá me salvar!

Chuya, sem entender, mas percebendo o comportamento estranho, segurava-a com força até que Mio e Anna chegaram.

— Mas o que está acontecendo com ela, afinal? — perguntou Mio.

— E eu que devia saber? Ai! Não me morde!

Kurokawa o arranhava e mordia, tentando fazer de tudo para que ele a largasse. Assim, Anna foi até ela, criando um taser e pedindo para que Chuya a soltasse. Quando ele o fez, ela tentou escapar, mas Anna a deixou inconsciente antes que tentasse algo.

— Pode dar uma explicação? — perguntou Chuya, encarando Anna, assustada.

— Eu tenho um palpite, mas... antes disso, temos que ir até o Dante.

— Espere, você tinha dito isso antes. Por que mudou de ideia? Até agora pouco, estava querendo ir para a montanha. Achei que tinha percebido aquela mulher que falava conosco e queria lutar contra ela. Então, por que decidiu mudar e ir até o Dante? — questionou Mio.

— É só um palpite, mas acho que alguém tentou meter-se onde não devia, e agora nem eu sei o que pode acontecer.

De repente, enquanto começavam a afastar-se, sentiram, do outro lado da montanha, uma enorme aura de éter de Kintoki.

— O que está rolando do outro lado da montanha? — perguntou Chuya.

— Deixamos isso para depois. Vamos logo.

Parte 4 

Do outro lado do labirinto, Ludmilla corria até Layla.

— Você também sentiu isso? — Ludmilla aproximou-se de Layla e perguntou.

— Para ter decidido aproximar-se de mim assim, acho que não foi só minha imaginação — respondeu Layla.

— É que, se aquilo for verdade, prefiro ficar com a garota que cura com o sangue.

Ambas superaram facilmente suas diferenças, uma vez que algo mais complicado para lidar estava se aproximando. A dona da voz que havia falado com elas anteriormente, e que as tinha feito ficar impotentes e sem reação por algum motivo desconhecido, agora se aproximava em alta velocidade, vindo em um pássaro naquela direção.

— Eu não sei que coisa é aquela, mas acho melhor sairmos daqui — disse Ludmilla, pegando sua espada enquanto avisava Layla.

— Se você fosse inteligente, já teria escapado. Tenho a impressão de que aquela coisa está vindo por causa do Dante.

— Então por que você também não foi mais inteligente e fugiu?

— Tenho meus motivos para não poder sair do lado dele.

— Coincidência. Eu também.

As duas observavam o céu, vendo o enorme pássaro se aproximando. Quando, de repente, Dante, atrás de Layla, começou a acordar.

— Finalmente quis se levantar, bela adormecida?

— Pois é, até porque passar outro volume seria complicado.

A resposta estranha do garoto fez com que as duas ficassem confusas, olhando para trás. Foi quando, então, a garota de cabelos vermelhos saltou do pássaro no céu e voou em alta velocidade na direção dos três, pronta para atacar. Quando a garota-dragão se aproximou, Layla moveu-se em alta velocidade, pegando a pistola de seu coldre e começando a atirar na cabeça dela com balas que atravessavam círculos mágicos e aceleravam. Assim, enquanto a garota-dragão caía para trás, Dante enfiou a mão na própria sombra, retirando uma katana, e correu com a katana em uma mão e o revólver na outra. Ele movia-se enquanto tudo ao redor parecia lento, e assim cortou o braço e a asa da garota-dragão e a chutou, lançando-a para longe.

Quando as coisas voltaram a se mover corretamente, Layla e Ludmilla perceberam que o garoto atrás delas havia sumido e olharam para frente para ver onde o garoto estava.

— Olá, mundo! O Rei Demônio do Sexto Céu voltou! Hahahaha!

Enquanto ria, o garoto deixava sua aura de éter expandir-se, colocando a katana sobre o ombro e segurando a pistola com a outra mão.

— E veja só! Com a skin da DLC do Samurai do Inferno!

De repente, enquanto ele estava falando, Kai apareceu correndo na direção deles, carregando uma garota de cabelos pretos com detalhes verdes.

— Merda! Quase achei que tinha sido aquela coisa que saltou na direção de vocês! Ha! Tentou me passar a perna e roubar meu lugar? Não vai ser fácil assim, seu merda! — Kai gritou, como se estivesse zombando da mulher no pássaro que se aproximava.

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? — Ludmilla, alheia a tudo e confusa, perguntou para qualquer um.

Assim, Dante e Kai cruzaram os olhares. Kai parecia querer falar algo, mas, ao invés de pedir ajuda, jogou Sophi no chão.

— Vamos logo! Você é amiga dele! Peça logo! — disse Kai para a garota.

— Já disse que você devia fazer isso — respondeu Sophi, levantando-se e limpando a roupa.

— Bom, era o que eu queria dizer, mas não temos tempo para isso. Agora que vocês ouviram o discurso do Professor, devem saber mais ou menos o que está acontecendo. Kai conseguiu pensar em um plano, e eu realmente acho que a melhor ação para fazermos agora é seguir o plano dele. Para isso, vamos precisar da colaboração de vocês e da ajuda de Dante.

Ludmilla e Layla pareciam ter começado a entender por que Sophi e Kai apareceram ali do nada, mas, ainda assim, ao invés de respondê-lo imediatamente, elas preferiram voltar seus olhos para Dante mais uma vez, querendo confirmar algo.

Este encarava todos com um olhar arrogante, sem mostrar qualquer conexão. Assim, ele começou a falar.

— Ei, Vel, afinal de contas… quem são esses três? O que ele quis dizer com 'essa garota sendo minha amiga'? E o que está rolando aqui?

Todos ficaram sem entender aquela reação; somente Layla parecia reagir diferente.

— Entre todos os resultados, este era o único que eu não esperava que fosse acontecer.

E, de repente, o gigantesco pássaro pousou um pouco afastado, e todos começaram a curvar-se, começando a chorar. Ao mesmo tempo, um sentimento bizarro percorreu todos os seus corpos, fazendo-os coçar o rosto em desespero.

Enquanto, lentamente, a misteriosa mulher se aproximava do grupo, à medida que fazia isso, várias criaturas por todo o labirinto próximo começaram a se mexer, aproximando-se da mulher, indo até ela e ajoelhando-se. A mulher começou a caminhar lentamente e, a cada passo, analisava cada um dos demais, chegando finalmente a Dante, o único que ainda estava parado em pé, a encará-la.

— Você não vai se ajoelhar? — perguntou a mulher, encarando-o.

— Foi mal, filhinha, mas as juntas do velhinho doem. Mas que tal aproveitar essa sua juventude e se ajoelhar no meu lugar? — respondeu Dante, com o olho vermelho cheio de raios, encarando-a de cima, enquanto todos ao redor ficavam confusos, sem entender.

Mas, enquanto os dois se encaravam, uma colisão de éter aconteceu, fazendo com que todo o lugar tremesse. De repente, a vontade que fazia com que os demais Coçassem o rosto cessou, quando perceberam, graças àquela colisão, que o éter de ambos parados à sua frente era igual.

Correndo em alta velocidade do outro lado do labirinto, Anna, Mio e Chuya continuavam sem demora, enquanto Anna suava frio, cada vez mais preocupada.

“Eu espero que seja apenas um mau pressentimento, eu espero que eu esteja errada, mas se o que eu estiver imaginando for verdade... a situação pode acabar saindo do controle.”

Parte 5

A realidade se desfazia como papel molhado sob a chuva.

“Onde eu estava? Não era mais a Babylon familiar, nem mesmo a Torre Dates distorcida pela memória traumática.”

Naquele lugar, pensamentos tomavam forma, virando palavras que pairavam no ar, nas paredes, ou flutuavam do nada, como se estivessem me questionando.

Aquele lugar era um mosaico insano: corredores distorcidos em uma mansão velha, mas que eu conseguia reconhecer; várias luzes — púrpuras e cinzentas como a névoa daquela Black Box — piscavam de maneira doentia, tornando o ambiente infinitamente mais opressor. O chão sob meus pés... não, não meus pés, os pés dele... às vezes era o teto familiar do meu quarto antigo, outras vezes o piso frio e ensanguentado do laboratório, estilhaçando-se e remontando-se a cada passo que ele dava no mundo exterior, a cada palavra arrogante que saía da boca dele.

⬛⬛⬛⬛⬛⬛⬛⬛⬛⬛⬛⬛⬛⬛⬛

A risada ecoava aqui dentro, não como som, mas como uma vibração sísmica que rachava as paredes da minha consciência.

Um sentimento esquisito acelerava meu coração. O sentimento de urgência percorria meu corpo, algo como estar sendo vigiado por todos os lados, mesmo sabendo que não havia mais ninguém ali.

Quanto mais eu ficava parado, mais minha mente se tornava um lugar estranho, mais fragmentado, mais hostil.

Figuras sombrias se esgueiravam pelas minhas costas. Algo que eu não podia ver estava se aproximando. O sentimento de urgência crescia. Eu precisava correr.

Ele estava lá, sussurrando em meio aos fragmentos de memórias que não eram minhas… Já não podia confiar em mim mesmo. Algo estava falando, e palavras continuavam a aparecer, mas metade delas já não era minha.

O ar mental era pesado, carregado com o cheiro metálico de éter apodrecido. O sentimento de estar atrasado... As lágrimas caíam. A dor de ter tido o corpo todo queimado... Tudo voltava de uma vez, mas eu não conseguia gritar, não conseguia chorar. Aquilo ainda estava atrás de mim, se aproximando enquanto eu não observava. O medo crescia, o sentimento me corroía; era enjoativo, como flores morrendo em um funeral que nunca aconteceu.

Tentei me mover, me afirmar, retomar o controle, mas sempre que eu pensava em mover minha cabeça para trás, um vento gélido percorria minha nuca. Minha vontade se dissipa; minha forma aqui dentro era instável, translúcida, um espectador impotente. Ele, por outro lado, interagia com as coisas e continuava a me perseguir. Enquanto eu corria e gritava, ninguém me notava ou ouvia. Os passos que seguiam os meus aumentavam e aceleravam, e meu coração batia forte, entregando minha posição. Sua aura vermelha e crepitante, que agora queimava, pintava a paisagem mental com tons de agressão pura. Eu continuava correndo, e o sentimento de urgência crescia.

Era uma figura sentada em um trono improvisado de metal enferrujado e concreto partido, assustadoramente semelhante a ⬛⬛. Seus olhos estavam vazios, e ele parecia me encarar.

Minha cabeça doía, meus pensamentos não se completavam, meus olhos se fechavam. No canto do ouvido, eu podia ouvir aquilo se aproximando. Meu corpo doía, esfriava. Eu não queria olhar para trás. Assim, eu permanecia parado em mais um beco sem saída, sob o olhar daquela pessoa que me encarava, decepcionada, enquanto eu sentia as mãos daquilo surgindo por trás de mim e fechando meus olhos.

Assim, novamente, eu morria.

E, novamente, eu acordava parado no mesmo lugar, percebendo que aquele sentimento frio e agonizante, que cortava e rompia, era uma sensação pela qual já passara mais de uma vez.

Parte 6

Os dois continuavam a se encarar. Dante então começou a se abaixar e, num passe de mágica, um corte veio em sua direção. A garota dragão, sem um braço, levantou-se e, usando um graveto, conseguiu lançar um corte de ar que facilmente o teria decapitado se ele não tivesse escapado. Assim, ele saltou para trás. A mulher continuava com seus olhos fixos em Dante, enquanto a garota dragão ia na direção dele. Kai, que estava no chão, levantou-se, pegando todos e correndo para trás.

— Sophi! Leve esse bando de peso morto até o gordo! — Kai gritava para ela enquanto parava e voltava seu olhar para a mulher.

— Espera, isso não era parte do plano! — respondeu Sophi, sem entender.

— Eu sei, mas já não temos mais como pensar nisso. Faremos assim: uma mudança de planos, ainda mirando na vitória. De qualquer forma, meu plano era afastá-la dos fracos e daqueles que fariam o buraco na Black Box. A ordem dos acontecimentos só deu uma invertida. Vá atrás da baixinha dragão e da Mio e, se conseguir, vá atrás daquele tal de Daemon ou Anna. Precisamos de um terceiro poder destrutivo para romper este lugar.

— Mas o plano não era pedir pro Dante?

— Esqueça aquele merda. Ele nem parece estar raciocinando como devia, só para começar. E, para piorar tudo, ela não parece planejar deixá-lo ir embora, então levá-lo junto só vai atrapalhar.

— Sendo assim, você é quem devia vir. Com seu poder, você deve conseguir substituí-lo.

Mas, na hora em que ela falou aquilo, por reação natural, Kai a encarou com uma sede assassina sem igual, que quase a fez cair de joelhos no chão sem perceber. Contudo, antes disso, ele recuperou seus sentidos.

— Não diga merda. Até parece... Até parece que eu viraria o substituto dele…

Sophi agora escutava sem conseguir responder, sentindo-se culpada por não ter escolhido melhor suas palavras.

— Além do mais, tem algo que eu preciso deixar bem claro para aquela merda: mesmo sob a minha presença, essa maldita só tem olhos para o Dante. E, para piorar ainda mais, ela ousou me fazer ajoelhar! Não existe maneira conhecida nesse mundo que me faça sair daqui antes de mostrar para ela que não deveria me subestimar.

Sophi ainda não conseguia responder. Assim, só se levantou, dando as costas para ele e se afastando do campo de batalha.

— Ei, Sophi… Eu tô confiando em você.

Ao escutar aquilo, Sophi se virou para olhar Kai, mas ele foi direto para o campo de batalha.

— Pelo visto, vocês ficaram próximos, né? — perguntou Ludmilla.

— Por que você acha isso?

— Como assim? Você é a primeira que eu vejo ele chamando pelo nome.

Assim, enquanto as duas falavam, Layla se afastava um pouco pelas sombras, correndo através delas.

— Eu não sei bem o que está acontecendo, mas eu também tenho minha própria espécie de orgulho, sabia? Ainda não posso entregar o meu disfarce matando o chefão, mas…

De repente, saindo de uma sombra nos muros atrás da garota dragão e de Dante, Layla segurava um espeto de ferro em forma de cruz. Assim que a viu, a garota dragão se virou com tudo, tentando socá-la. A pressão do soco era tão forte que só ela seria capaz de quebrar as paredes do prédio atrás deles.

— Super Força, né… Foi mal, lagartixa, mas o seu poder é o pior tipo de combinação com o meu.

De repente, enquanto caminhava ao lado dela, Layla deu várias estocadas em segundos na garota dragão. Abriu sua jaqueta e, dos bolsos, tirou mais um monte de estacas, cravando-as por todo o corpo da garota, que assim começou a queimar. A mulher afastada pareceu se irritar, mas, quando começou a ir em direção à batalha, Kai apareceu, tentando chutá-la com toda a força. Contudo, assim que se aproximou, seu corpo sentiu um estranho choque por toda parte; sua consciência ia aos poucos desaparecendo.

— Droga, aquele poder dela voltou a funcionar.

Kai falava enquanto voava na direção dela, ficando cada vez mais lento. De repente, galhos de árvores saíram do chão, perfurando-o e lançando-o para o alto. Nesse meio tempo, Layla, na frente de Dante, desapareceu, deixando-o só. Ele, sem perder tempo pensando nela, avançou contra a mulher.

— Humanos... A única forma de vocês lidarem com o desconhecido, no final, sempre acaba sendo através da violência desenfreada. Que seja. Que seus corpos sirvam de adubo para o nascimento de uma nova vida.

— Nasça!

A mulher falou uma palavra de pouquíssimas letras, apenas isso, e dessa mísera e simples ação, algo completamente anormal e estranho surgiu: uma criatura monstruosa, extremamente grande, extremamente magra, quase esquelética, com uma textura que parecia pelo esfarrapado ou matéria escura e fibrosa. Possuía quatro pernas muito longas e finas que a elevavam bem acima do solo, uma cabeça com grandes galhadas, semelhantes às de um cervo ou alce, e olhos vermelhos brilhantes que se destacavam na escuridão. Tinha uma boca aberta mostrando dentes afiados, coberta por uma vegetação rasteira, como se fosse algo saído de um pântano.

Assim, a criatura imensa começou a rugir e, daquele rugido, o mundo ao redor começou a mudar. A parte do labirinto em que eles estavam antes era como uma enorme cidade em ruínas com vegetação em crescimento, mas, num piscar de olhos, a criatura fez com que todo aquele lugar virasse uma floresta alta e imensa, com uma neblina pesada e forte, além de fria e úmida.

— Por acaso acha que a floresta vai me matar? Pois, se for isso, errou, idiota! — Dante falava, saltando para trás por entre as árvores, quando sentiu um movimento. Algo com olhos vermelhos como sangue, em uma velocidade extremamente alta, chegou às suas costas, chicoteando-o contra o chão com sua cauda feita inteiramente de ossos. Quando atingiu o chão, cuspindo sangue, Dante conseguiu ter uma visão do céu e ficou sem acreditar.

— Mas em que tipo de inferno eu acabei vindo parar?!

No céu escuro que se formou, havia uma figura perturbadora e colossal, meio humanoide, mas com um grande par de olhos vermelhos. Dante se sentia como uma formiga olhando para uma colossal e perturbadora parte superior de um humano.

Enquanto se distraía com a paisagem horripilante, Dante percebeu a criatura que o havia acertado e lançado até ali. Deformada, lembrava um pouco um humano e um inseto. Gigantesca, a silhueta vagamente humanoide era preenchida por ossos, lodo, coisas que lembravam plantas e sangue, além de um líquido negro que vazava de seus olhos, meio curvada ou inclinada para a frente. Possuía pernas grossas e braços longos que também pareciam feitos de ossos, além de um torso muito longo. Possuía uma cauda longa como a de um lagarto, mas feita puramente de ossos.

— Merda!

Dante levantou e a coisa veio até ele. Aproximando-se, os dois começaram a correr, e a criatura era capaz de acompanhá-lo. Dante rolou no momento certo em que a criatura quase o atingiu. Voltando para trás com uma cambalhota reversa, ele a chutou, mandando-a para longe. Foi quando Dante percebeu que estava chutando algo tão duro e pesado quanto um poste de concreto sólido.

A criatura novamente balançou sua cauda e acertou seu estômago, fazendo os ossos de Dante estalarem. Mas, encarando a criatura, Dante sorriu.

— Que saudade dessa sensação... Que saudade dessa maldita dor!

Dante enfiou a mão na boca da criatura, enrolou-se em sua cabeça e desceu um chute na parte de trás da nuca. Usando eletricidade, ele atraiu com eletromagnetismo a katana que havia deixado para trás e assim começou a encher a criatura de cortes, mas os mesmos ainda eram superficiais. Assim, ele puxou a pistola de Velvet, usando a mesma técnica, e começou a atirar, mas novamente não surtiu efeito. A criatura avançou nele como um touro, colidindo diretamente com ele e o fazendo atravessar várias árvores.

— Ainda tá leve, né? Ainda tá superficial, né? Hahahah!

Dante saltou por cima da criatura. Jogou com toda a força a katana, que atravessou vários círculos mágicos e acelerou, acertando a criatura pelas costas, mas, apesar de ter perfurado, ainda não foi o suficiente para atravessar a carapaça de ossos da criatura. Assim, Dante, ainda no ar, puxou sua pistola, mirando no cabo da katana. A bala viajou por vários círculos, acelerando, e assim acertou o cabo da katana como um martelo atingindo um prego. Desta forma, a katana perfurou o monstro, atingindo seus órgãos, o que fez com que ele ficasse se debatendo de dor.

Assim que Dante aterrissou no chão, com um sorriso demoníaco na face, correu até a criatura e segurou sua katana, liberando seu éter nela, o que provocou uma descarga elétrica por dentro do monstro, como uma espécie de desfibrilador. A criatura se jogava contra as árvores tentando tirar Dante de cima enquanto era eletrocutada, mas Dante não largava por nada. Assim, o monstro foi ficando cada vez mais devagar, até parar de se mover por completo.

A visão mudava novamente para  a mulher que fazia carinho em uma pequena criatura em seus braços enquanto falava.


— Ainda não. Vocês estão quase lá, mas ainda não.

De repente, saltando pelo céu sem um braço, com o braço humanoide na boca como um animal selvagem, com um óculos preto no rosto, o Demônio da Violência passava por cima da floresta, encarando a mulher.

— Achei você!

— Barulhento...

Novamente, para conseguir localizar a mulher sem ser pego pela sua habilidade, Kintoki desativou por completo sua capacidade sensorial, o que o fez não perceber o que estava acima dele. Somente quando a criatura começou a mover o braço ele reparou na entidade colossal e sombria que dominava completamente a paisagem noturna daquele lugar. Kintoki, que conseguia ter uma visão um pouco mais detalhada graças a estar fora da neblina, ainda conseguia ver que aquela criatura era uma figura vagamente humanoide, talvez feminina, com cabelo escuro na altura dos ombros que caía para a frente. Mas, mesmo próximo, por conta dela tapar completamente qualquer luz que tentasse invadir aquela floresta com sua cabeça, seu rosto estava parcialmente obscurecido. Sua forma não era nítida; parecia feita inteiramente de sombra ou neblina escura, misturando-se com o céu e a atmosfera. O detalhe mais marcante era, sem dúvidas, seus dois grandes olhos ou órbitas que brilhavam intensamente com uma luz vermelha sinistra, destacando-se na escuridão da cabeça.

Ao ficar imobilizado por conta da estranha figura no céu, Kintoki só reagiu quando foi tarde, e a criatura começou a esmagá-lo com sua enorme mão contra o chão. Kintoki, pego completamente com a guarda baixa, sentia seus ossos quebrando e sendo esmagados, cuspindo sangue enquanto uma das lentes de seu óculos escuro quebrava. A mulher apenas reparou no braço que havia caído e depois olhou na direção onde a garota dragão foi morta.

— Dois de meus filhos foram mortos, mas eu não guardei ódio por isso. Para sobreviver, vocês apenas fizeram o que lhes era necessário. Eu entendo isso, por isso lhes peço mais uma vez que entendam: para que os seres vivos do planeta continuem sobrevivendo, vocês, humanos, precisam morrer.

Kintoki queria falar algo ou gritar, mas era impedido pela sensação de que, se abrisse a boca, seria completamente esmagado. De repente, Kai, saindo do alto das árvores, cortou o espaço na junta do braço da criatura, socorrendo Kintoki, que se forçou e saiu de baixo da enorme cratera que havia sido feita. Assim, ambos ficaram lado a lado, completamente encharcados de sangue. Novamente, a mulher olhou para Kai, e ele começou a vacilar. Kintoki deu um soco em sua cabeça e disse para ele desativar sua capacidade sensorial. O senso de perigo ativado contra Kintoki fez com que Kai entendesse o pedido e o fizesse.

— Como? — perguntou Kai.

— Ela, de algum jeito, faz com que o nosso sistema nervoso não a reconheça como ameaça, resultando em um estado sem adrenalina, o que faz com que nossos corpos respondam devagar. Mas quando eu fiz você me reconhecer como ameaça, te atacando, seu corpo ficou em estado de alerta, e isso te fez reagir às minhas ordens — Kintoki falava.

Kai queria reclamar dessa parte sobre ele ter obedecido ordens, mas sabia que não era hora para isso.

— Mesmo que não sejamos afetados pela habilidade dela agora, não muda o fato de quão forte ela seja. Além do mais, piora para nós, já que estamos praticamente cegos. Mesmo com ela parada à frente, às vezes minha visão fica tão embaçada que ela desaparece — Kai resmungava sem tirar os olhos da mulher.

— Eu sei disso. Esse ainda é o único erro do meu plano, mas enquanto não tivermos uma alternativa melhor, terá que ser assim.

De repente, troncos de árvores começaram a sair do chão. Kai correu, tocou em Kintoki e, de repente, quando todos os troncos iriam atingir o local, eles foram teleportados para cima dos troncos.

— Isso foi...?

— Eu posso me teleportar para um lugar onde eu já tenha visto, estado e registrado o espaço. Também pode teleportar pessoas ou coisas num raio de 3 metros de mim, contanto que eu as tenha tocado.

— Isso é o suficiente.

— O quê?

De repente, Kintoki pegou Kai pelo colarinho e começou a correr na direção da mulher. Novamente, árvores saíam do chão, e Kintoki gritou: "— Agora!". Kai os teleportou para trás da mulher. Kintoki então largou Kai e, concentrando seu éter em seu único braço, preparou-se.

Exploda e Perfure: Espiral do Dragão V2

Assim, Kintoki concentrou uma quantidade massiva de Éter cinético em seu único braço e disparou-a na forma de uma gigantesca onda de choque em espiral. O golpe atingiu a mulher diretamente, jogando-a na direção das árvores.

— E assim, nesse dia, que eu, o grande Kintoki, acabo de socar um deus! Hahahaha! — Kintoki gargalhava de felicidade.

Ele realmente conseguiu? — Kai pensava, observando aquilo sem acreditar.

Mas, assim, antes que ambos percebessem, novamente raízes de árvores saíram do chão, perfurando o abdômen de ambos e jogando-os para cima. Kai os teleportou para frente, mas notando que havia agido tarde demais.

Assim, saindo do chão, a criatura imensa com as galhadas na cabeça surgiu, esticando-se para devorar o corpo dos dois em meio ao ar. Foi quando Dante, saltando das árvores com o éter crepitante, pegou Kai com um braço e puxou Kintoki, mordendo a roupa dele com a boca. Disparou um corte, concentrando todo seu éter, atingindo a parte de dentro da boca do imenso monstro, que saiu por completo do chão, revelando-se ainda maior que anteriormente. A criatura então concentrou uma enorme quantidade de éter em sua boca, pronta para disparar a rajada como um lança-chamas negro.

— Droga! — Kai falava, cuspindo sangue, teleportando os três para uma parte afastada da floresta.

Aterrissando no chão, Dante começou a usar seu éter para reverter o estado dos dois, curando-os, mas focando-se apenas em curar o que era letal para não ficar completamente esgotado.

Assim, os três se levantaram juntos. Sem piscar ou nem mesmo fazerem sinais, os três sabiam exatamente o que estava se passando na cabeça um do outro. Como no antigo costume dos espadachins, que conseguiam visualizar o resultado da batalha no pique da adrenalina ao ver a postura de seu adversário, apenas olhando os estados uns dos outros, eles sabiam o que estavam pensando.

“EU NÃO VOU PERDER!”

Assim, Dante começou a correr. Kai o seguia logo atrás, e Kintoki por último, mantendo uma formação não muito afastada de Kai. Dante usava sua percepção para notar tudo que vinha à frente, enquanto Kai cuidava de mover e recuar, além de os proteger através do teleporte caso necessário. Kintoki, aquele com o maior poder destrutivo, vinha por trás de ambos para golpear o inimigo com toda a força assim que chegassem perto o suficiente.

Mas as árvores iam saindo. Antes de serem teleportados dessa vez, Dante começou a cortar cada uma das árvores com sua katana, evitando que Kai se esgotasse.

Assim, criaturas começaram a emergir do solo, buscando a luz da superfície, com aparências grotescas, cheias de carne, buracos e o líquido negro pulsante. Elas começaram a ir na direção dos três. Kai trocou Kintoki e Dante de lugar rapidamente, fazendo-os ficar na melhor posição para golpeá-las. Kintoki usava seu punho coberto de éter cinético, enquanto Dante as cortava com sua katana. Eles continuavam avançando.

Mas a mulher, ao fundo, prestando atenção em Kai, percebeu sua mania: sempre que Kai os trocava de lugar, ele primeiro tinha que os olhar; segundo, estalava os dedos. Analisando essa mania e usando as memórias que havia adquirido com Kurokawa, ela logo percebeu a restrição autoimposta. Assim, ela sorriu, e à volta de Kai, várias versões diferentes dela, usando insetos, árvores e até a carne das criaturas que eles mataram, surgiram. Mesmo sem sentir seu éter, encarando-as tão de perto e sentindo o éter da mulher, Kai começou a chorar, e sua perna direita vacilou. Sem conseguirem se mover através dos teleportes, Kintoki e Dante não esquivaram como deveriam do último ataque das criaturas. A gosmenta enfiava seus dedos magros e esqueléticos dentro do abdômen de Dante, soltando um líquido negro que invadia seu corpo e apodrecia seu abdômen, enquanto Kintoki era perfurado por vários espinhos das árvores, longos e finos como bambus, enchendo seu corpo de buracos.

MENSAGEM DO FUTURO: DEAD END

De repente, Dante acordou alguns segundos no passado, empurrando Kai e o atacando com sua aura de éter quando vários clones da mulher emergiram. Kai, percebendo, recuou, teleportando ele, Dante e Kintoki para trás. Mas a mulher, sorrindo ainda mais como se tivesse percebido que seu plano estava dando certo, continuava parada, mas estalou os dedos enquanto a criatura imensa e galhada atrás novamente rugia. E assim, todo o lugar se alagou de água. Várias ondas enormes de água começaram a empurrar Dante, Kintoki e Kai, e toda aquela floresta agora ficava completamente alagada. Enquanto tentavam se segurar em alguma árvore, os três viam a enorme figura no fundo do oceano os encarando.

Logo abaixo da superfície da água, a criatura gigantesca e sombria era visível sobre a profunda escuridão do mar. Ela possuía um rosto vagamente humanoide, mas distorcido e ameaçador, com olhos escuros e vazios e uma boca aberta, como se estivesse gritando ou rugindo silenciosamente sob a água. A criatura era enorme; sua forma, mesmo não sendo totalmente visível na escuridão das profundezas, era claramente vasta em comparação com os três, que pareciam pequenas moscas em volta da figura. A criatura invocava uma forte sensação de pavor e vulnerabilidade. Além disso, sua aparência era horripilante: tentáculos ou longos cabelos escuros flutuavam ao redor de sua cabeça. Grandes formas, que podiam ser membros, nadadeiras ou simplesmente a parte superior de um corpo imenso, estendiam-se por baixo, fazendo-os parecer insignificantes.

Assim, a criatura rugiu, jogando os três no céu em um enorme jato de água. A pressão de serem arrancados do mar era tão grande que seus corpos se contorciam em pleno ar e, ao olharem para baixo, avistaram um imenso buraco, um redemoinho bem onde a criatura devia estar. Sabiam que, se caíssem, seriam levados automaticamente para ela. Kintoki então gritou:

Desintegre: Broca do Dragão Carmesim!

Assim, ele lançou o ataque mais poderoso de Beatrice. Ao carregar uma quantidade máxima de Éter cinético em sua mão, ele o lançou na forma de uma lança que deixava um rastro de sua cauda em formação espiral e, quando atingia a superfície da água, liberava uma explosão colossal de energia concentrada. A energia então se manifestou como uma "broca" flamejante e descendente de poder espiral carmesim, que não apenas perfurava, mas desintegrava molecularmente tudo em seu caminho direto.

A explosão foi tão grande que lançou os três, que ainda estavam em pleno ar, ainda mais longe. A água começou a se espalhar, mas novamente eles ouviram o rugido da criatura com galhadas na cabeça. Agora, o solo era uma paisagem ártica congelada e, saltando do céu, a criatura com chifres galhados estava ainda maior e com uma aparência ainda mais perturbadora.

Agora, a criatura possuía uma postura que lembrava a de um pássaro grande, um dinossauro terópode ou até mesmo um dragão, apoiando-se em duas pernas traseiras com garras afiadas. Seu corpo era esguio, quase esquelético, coberto por plumagem escura e esfarrapada, ou talvez uma pele fibrosa que lhe conferia uma aparência decadente. Longas penas ou espinhos eriçados percorriam seu pescoço e costas, e grandes asas membranosas, semelhantes às de um morcego, um tanto rasgadas ou danificadas, mas que ainda lhe davam a capacidade de voar. A cabeça era alongada, como um focinho. Possuía seus chifres que se assemelhavam a galhos secos ou corais crescendo para cima e para trás. Da mandíbula inferior, dentes expostos como os de um crânio, mas por baixo uma barba composta por tentáculos. Os olhos amarelos eram as coisas mais visíveis, junto com sua expressão ameaçadora.

Assim, novamente, a criatura liberou uma rajada de fogo negro. Com todos esgotados demais para desviar, foram lançados do céu em alta velocidade à terra, como um meteoro que queimou tudo no local de impacto. Assim, a mulher caminhou até os corpos destruídos e esgotados dos garotos, cheios de queimaduras e machucados, mas sem uma gota de sangue, pois havia vaporizado por completo.

Assim, a mulher perguntou:

— Posso assumir que essa brincadeira foi o suficiente para vocês?

Parte 7

Voltando um pouco no tempo, durante a manhã daquele dia, outro grupo caminhava pelo labirinto tentando encontrar o Professor Ryunosuke. O grupo era formado por Beatrice, Daiki, Vivian e Morgan. Eles tinham decidido, após escutar as palavras de Ryunosuke, que deveriam ir atrás do professor antes de procurar a misteriosa mulher para obter mais informações sobre o inimigo e suas capacidades, pois, de acordo com os instintos de Daiki, ela não era alguém que devesse ser subestimada.

“Deixe-me adivinhar neste momento, você deve estar se perguntando: Afinal, quem é esse tal de Daiki? Ele estava naquela sala? Ou melhor, por que esse bando de monstros o escutaria?"

Ele sorria com confiança, olhando para o nada.

“Hum, hum... Que inocente, garoto. Você ainda é inocente. Se acha que eu tenho uma resposta para tamanha insanidade, saiba que eu também não sei!”

Aquele era Shimura Daiki, um assalariado. Até uma semana atrás, ele trabalhava como faz-tudo em sua cidade, literalmente fazendo tudo que lhe pediam, 18 horas por dia, de segunda a sábado, sem falta. Um homem com os olhos meio cansados, usando terno e gravata, que facilmente transmite uma aura madura, aparentando ter uns 30 anos.

Certo dia, enquanto estava atolado em dívidas após um trabalho exorcizando fantasmas de uma casa, ele acabou cruzando com outro jovem que também tinha sido chamado para realizar o serviço. Acontece que esse garoto era um caçador. Assim, Daiki relembrou a existência dessa profissão e, ao ver o pagamento que o garoto havia recebido pelo mesmo tipo de trabalho que ele fazia de vez em quando, percebeu como estava perdendo tempo.

“Como eu não pensei nisso antes? Eu posso virar um caçador! Se eu me registrar no Colégio de Babylon, obviamente poderei cumprir missões de caçador e ganhar recompensas enormes. Afinal, 'caçador' não é só um nome chique para faz-tudo? Pensando bem, posso até me considerar um veterano perto dos outros novatos!”

O homem começou a imaginar como seria sua vida: os caçadores, além de muito dinheiro, eram respeitados e conhecidos, principalmente os estudantes de Babylon, já que a moeda da Ilha Voadora era supervalorizada.

“Com apenas algumas missões, como exorcizar fantasmas, coletar ervas, resgatar gatinhos... eu ficarei rico! Terei mulheres ao meu redor e, quem sabe, até mesmo um iate! Hahahaha!”

Enquanto pensava assim, o homem sorria, imaginando-se realizando seu sonho e não tendo mais que se preocupar com dívidas.

“Ah, mas quem eu quero enganar? Como eu entraria em um colégio? Eu já passei, e muito, da idade para entrar em algo assim. Além disso, eu nem tenho uma habilidade Shaper, e desconfio que, ao invés disso, eu tenha a incrível capacidade de não sentir o sobrenatural.”

O homem, então, voltou a ficar desanimado, como se um balde de água fria tivesse sido jogado sobre si e ele tivesse voltado para a realidade. Ainda assim, chegando em casa, ele refletiu muito e percebeu que talvez valesse a pena tentar.

“Mas não é o que aqueles livros de psicologia e autoajuda que eu sempre leio dizem? 'Em vez de se culpar depois, arrependendo-se do que não fez, vá lá e faça!' Sim, é verdade! Está decidido: eu irei prestar o exame de admissão de Babylon!”

Mal sabia Daiki, naquele momento de empolgação movida a desespero e autoajuda barata, aonde aquela decisão o levaria. Pois, contra todas as suas previsões pessimistas, ele não só foi aceito no colégio com extrema facilidade, como também, por algum capricho do destino, foi parar justamente na sala dos alunos "especiais". E agora, no seu primeiro dia de aula, estava ali, arriscando a própria vida contra a sua vontade.

“Por que eu? Eu sou apenas um mob, um NPC! Então, por que eu tinha que acabar numa aula tão mortal? Droga, com certeza serei eu o aluno que irá morrer... Já posso ver os jornais de Babylon amanhã anunciando a minha morte…”

Enquanto continuava a caminhar, sorrindo e neutro, mantendo a postura, uma lágrima caía de seu olho.

“Ah, mas quem era esse mesmo? Espera, tinha um velho desses no primeiro ano? Droga, eu já posso até ouvir o que vão falar…”

Nisso, Morgan, que estava andando ao lado dele, virou-se e, observando a lágrima, falou:

— Não pode ser?!

Imediatamente, as outras duas se viraram para ela, já se preparando, enquanto Daiki se assustava.

"Droga, ela descobriu!"

— O que foi? — Beatrice perguntou.

— É que, mesmo estando tão longe a ponto de nem conseguirmos sentir, olhem só! O Daiki parece ter começado a sentir a aura daquela mulher e a ser afetado pela habilidade dela!

— Ah?... Digo... ah, você percebeu! — Daiki confirmou, tossindo um pouco. — Realmente, acabei deixando minha capacidade sensorial ativada para confirmar a teoria de Beatrice de que talvez o segredo do poder dela se ativasse quando sentíamos sua presença.

Enquanto Vivian e Beatrice o encaravam com expressões meio sérias.

— Não faça algo tão perigoso. Se você fosse atingido de verdade e ficasse imobilizado, não saberíamos o que fazer — Beatrice alertou.

— Ah, não acho que precise se preocupar tanto — Vivian acrescentou. — Não lembra quando ouvimos a voz da mulher em nossa mente? Ele foi o único que continuou em pé, sem chorar. Acho que ele deve ter uma resistência natural.

Assim, elas voltaram a caminhar, seguindo na mesma direção.

"Sim, exatamente", pensou Daiki. "Foi nesse momento que toda a confusão começou, naquela hora, pela manhã. No entanto, há um segredo do qual nenhuma delas faz ideia."

Novamente caminhando, mantendo a postura e com um sorriso no rosto, Daiki continuou seu monólogo interior:

"Naquele momento, quando eu vi todas as três se ajoelhando ao mesmo tempo em alta velocidade, jurei que alguém estava realizando um ataque e que elas tinham feito isso para se esquivar!"

Ele então começou a afastar os galhos de sua frente enquanto andava, olhando para Morgan, que ainda o encarava com uma expressão impressionada.

"Sim, exatamente, eu achei que era um ataque! Logo, você deve imaginar o que eu fiz... Imaginando que esses três monstros tinham se esquivado ao perceber a magnitude do ataque que vinha em nossa direção, eu congelei de medo na pose em que estava e desmaiei!"

O homem passou o dedo embaixo do nariz, como se estivesse se gabando.


Parte 8


"Ei, você já ouviu?"

O garoto continuava caminhando por aquele lugar escuro, distorcido, quebrado e fragmentado.

"Uma vez, contaram-me uma história sobre um homem que desesperadamente corria da própria morte."

Novamente, ele passava por aquele lugar que lhe enchia de medo e ansiedade. Quantas vezes já havia passado por ali? Nem mesmo o garoto saberia dizer. Agora, seu suor já não escorria tão facilmente; ele conhecia ainda mais os caminhos que percorria.

"O homem temia a morte mais do que tudo, mas não apenas pela morte em si. Ele temia o fato de que havia tanto naquele seu mundo: tantas coisas belas e feias, escuras e brilhantes, incríveis e assustadoras. Mas, com seu tempo passando, ele sabia que uma hora a morte chegaria e ele não poderia mais apreciar aquelas coisas."

Ele começava a esquivar-se enquanto a criatura novamente voltava a persegui-lo. Ele se desesperava, corria enquanto continuava seu monólogo, recontando aquela história para si mesmo.

"Para evitar isso, para poder apreciar mais seu mundo, o homem correu, explorou, viajou, fez coisas que achou que jamais faria, tudo para fugir da incansável morte que o seguia."

Novamente ele via: aquela torre velha e quebrada; aquele laboratório subterrâneo com cheiro de sangue e gritos de dor; aquele navio no céu que vagava em meio às estrelas... Todos misturados, mas ao mesmo tempo divididos.

"Quando sua caminhada se aproximava do fim, o homem então notava aquilo que evitava ao máximo comentar."

Assim, ele novamente chegava àquela sala vazia onde, em um trono, a mesma figura – exatamente igual a si – o observava com uma expressão decepcionada.

— Minha velha e antiga amiga Morte... Será que tudo que fiz foi em vão? Será que toda a minha corrida só me levou até seus braços?

Enquanto murmurava para si mesmo, a criatura novamente o alcançava. Ele não se virava. Seu peito ficava frio, o medo o cercava, as mãos da criatura tamparam seus olhos e, novamente, ele morria.

E assim, mais uma vez, aquele louco e inacabável círculo se repetia.


Parte 9

Do lado de fora, os três garotos estavam lá, na frente da mulher, completamente esgotados. Nenhum deles tinha energia para sequer se arrastar ou despertar. A mulher, então, novamente voltou seus olhos para Dante e lentamente caminhou até ele, ignorando completamente a existência de Kai ou Kintoki. Ela deu um passo de cada vez em direção ao garoto. Ao chegar à sua frente, começou a estender a mão até tocar no corpo dele, quando então percebeu que algo estava errado. Assim, ela se virou para a figura no céu. A mulher conseguia ver através da visão da figura humanoide gigantesca no céu e usou isso para tentar encontrar o paradeiro do garoto, percebendo que aqueles à sua frente não passavam de uma ilusão.

— Lenta demais.

Dizia um garoto que corria ao seu lado. Com sua katana, cortou o braço da mulher e saltou para trás. Seu olho direito, vermelho, brilhava enquanto ele continuava a olhá-la. A mulher, sem entender, apenas o observava enquanto seu braço ia lentamente se regenerando, como se não fosse nada.

O garoto continuava a encará-la, como se tivesse entendido ou percebido algo. Novamente, ele correu até ela, expandindo uma aura escura e gigantesca, com seu olho brilhando em vermelho intensamente. Criaturas vieram em sua direção, e ele saltou para trás mais uma vez. Pisando no tronco da árvore atrás de si para pegar impulso, ele atravessou por entre as criaturas, bem na parte onde não conseguiam atingi-lo, como se tivesse uma percepção extremamente precisa.

Assim, o garoto chegou novamente por cima dela. A mulher invocou vários galhos de árvore que saíam do chão, mas ele apenas observava e conseguia desviar de cada um deles, passando entre eles sem suar. Diferente de Dante, que conseguia ver tudo mais lento, este garoto possuía uma percepção ainda mais aguçada de tudo que acontecia, como se mais "frames" passassem pelos seus olhos antes da ação ser realizada, permitindo-lhe desviar. Ao atravessar, ele aumentou a gravidade do chão, fazendo com que a mulher vacilasse novamente.

Então, ele transformou sua espada em uma alabarda, mergulhando-a em sombras. Acertou-a como um bastão, mas a lâmina, envolta em uma esfera de escuridão, havia tido sua massa alterada para ter um peso massivo. Assim, ao tocar na mulher, a lançou com toda a força para o lado. A criatura com aparência de um dragão negro espectral, mas com galhadas na cabeça, a segurou. Novamente, a mulher voltou a cuspir sangue. O garoto girou e lançou sua alabarda em direção aos dois. De repente, ele liberou a concentração gravitacional massiva da ponta de sua lança no momento exato em que atingiria ela e o dragão. A liberação súbita dessa tensão causou um 'relaxamento' violento do espaço-tempo à sua volta, convertendo a energia potencial armazenada em energia cinética, resultando em uma explosão de chamas negras.

O garoto novamente se afastava enquanto mais criaturas iam aparecendo; ele as cortava. Encarava o centro da explosão, sabendo que ela logo avançaria novamente. Nesse momento, a criatura no céu mudou seu campo de visão, como se procurasse algo. Ele, então, arremessou pequenas facas que escondia consigo na direção dos olhos da criatura, enquanto criava um campo gravitacional maior à sua volta. Isso fez a cabeça da criatura pender para baixo como efeito secundário, mas também fez a gravidade das lâminas imbuídas em seu éter subir, fazendo-as acertar com toda força os olhos da criatura, deixando-a cega.

— Era através dessa criatura que você conseguia ter uma visão completa de toda a floresta, não é mesmo?

Mais uma vez, moldando seu éter de sombra em uma lança enquanto a encarava, Daemon se preparava para o contra-ataque.

Da frente da mulher, uma criatura parecendo uma águia distorcida, com a pele negra coberta de raios, acelerou. Quando chegaram perto do garoto, ele se esquivou, apenas para ser surpreendido por uma descarga elétrica enorme da criatura, que se explodiu. Ainda assim, não lhe causaram ferimentos graves. Mas, ao seu redor, várias borboletas negras apareceram. Ele estava mergulhado em um éter sombrio e violento, enquanto ao seu redor várias borboletas feitas de escuridão surgiam.

— Você… — a mulher, o encarando, parecia perceber alguma coisa.

— Então você já notou?... — o garoto respondia.

Ela continuava olhando para o olho vermelho dele, cuja íris formava uma meia-lua e brilhava intensamente no meio da escuridão.

— Ainda não. Ainda não cresci o suficiente para ser refletida nesse olho.

— E nunca vai. A sua história acaba aqui.

— Os mortos não têm direito de dizer onde a história dos vivos deve acabar.

Assim, o garoto correu na direção dela. Novamente, o dragão zumbi com chifres de galhada rugiu, e mais uma vez todo o ambiente à volta mudou. Agora, o cenário era coberto por um lago imenso, sem árvores à volta, enquanto chuvas violentas caíam. O garoto sentia que seu éter ainda estava com a carga da ave que havia explodido em si; assim, agindo como um para-raios, enormes raios caíram do céu em sua direção em uma velocidade impossível de se desviar enquanto ainda estava no ar.

Novamente, o dragão abriu a boca, liberando sua rajada de fogo negro e lançando o garoto para longe. A mulher saltou nas costas do dragão, quando a visão alternou para um ponto mais afastado dali.



O grupo de Chuya, Mio e Anna levava os corpos de Kintoki, Kai e Dante enquanto corriam, tentando fugir o mais rápido possível.

— Mas o que está rolando? É sério que esses três perderam? — Chuya perguntava enquanto corria, levando Dante em suas costas.

— Não temos tempo para isso! Temos que ir mais depressa! Não dá para saber o quanto Daemon vai aguentar segurando aquela coisa. Tem certeza que foi uma boa ideia deixar ele sozinho, Anna? — Mio respondia, correndo e também perguntando.

— Está tudo bem. Ele deve conseguir nos dar algum tempo e fugir… com aquele olho.

Pouco tempo atrás, antes de chegarem ao grupo de Dante, o grupo de Anna acabou se encontrando com Daemon, que havia se separado de seu grupo e decidido agir sozinho para poder analisar as capacidades de seu inimigo. Assim, quando viu que a mulher havia aberto sua guarda, ele percebeu a aproximação de Anna e os outros e foi até eles para que os ajudassem com seu plano.

— Afinal, que olho era aquele? É um olho demoníaco, né? Isso eu percebi, mas ainda assim, depois que ele te mostrou, parecia que ele tinha certeza que você entenderia por que ele tinha uma chance contra ela. Então você sabe que olho é, né? — Chuya insistiu.

— … Não temos tempo para isso! Continue correndo ou ela vai nos alcançar!

E quando Anna se virou para Chuya, percebeu algo: o braço de Dante estava emanando um éter sombrio e apodrecido.

— Droga, Chuya, larga ele agora! — Anna gritou, mas já havia sido tarde demais.

Uma sombra negra bizarra saiu das bandagens do braço e se expandiu, acertando Chuya, que o estava segurando, fazendo-o cuspir sangue. Várias outras sombras se espalhavam com espinhos e lâminas, cortando e perfurando tudo ao redor. Junto com um grito desesperado de Chuya, todos em volta sentiram algo imenso e perturbador ganhando forma. Aquilo parecia com éter, mas tinha uma presença completamente diferente.

— Droga, eu cheguei atrasada… A mente dele não aguentou. Desse jeito, vai se quebrar ainda mais — Anna falava enquanto aquela massa negra se expandia. Chuya já não podia mais ser visto.

Enquanto os espinhos e lâminas se expandiam ainda mais, como se estivessem vindo atrás delas, Anna então gritou:

— Mio! Corra o mais rápido possível! Não deixe esse negócio negro te tocar, ou todo o seu éter vai ser consumido!

— Espera! Mas e o Chuya?! Ele foi atingido em cheio!

Ouvindo Anna, Mio deixou Kai no chão e começou a dar a volta.

— Essa é minha responsabilidade! Eu tenho que resolver isso!

Mas quando Anna chegava atrás de Dante, pronta para fazer algo, vinda do céu, voando em seu dragão atrás dela, a mulher se aproximava.

"Droga, agora não…"

Parte 10 

Naquele momento, o grupo de Beatrice finalmente alcançava o professor, Ryunosuke, que desde seu grito de desafio e alerta aos alunos não havia dado um único passo.

— Sensei! O que está acontecendo? — Beatrice perguntou.

— São vocês? Ótimo! Escutem bem, porque eu não tenho mais muito tempo. Senti uma outra energia estranha no local onde a batalha está acontecendo. Acho que já deu o tempo para a primeira parte do plano. Preciso que vocês encontrem os outros e digam para eles continuarem ganhando tempo junto de Dante. Eu prometo que no final eu irei fazer algo!

— Espera! O que você quer dizer com isso?

De repente, todo o chão ao redor, em toda a Black Box, começou a brilhar.



(Flashback)

Algum tempo antes, logo após Ryunosuke ter gritado, alertando seus alunos e novamente expandindo seu éter em desafio, ele já havia calculado tudo que se seguiria dentro daquela Black Box. Sabia que o inimigo não seria alguém de quem poderiam escapar ou vencer. Ainda assim, seus alunos eram fortes e poderiam ganhar algum tempo; infelizmente, ele sabia que não seria o suficiente. Assim, ele elaborou um plano que se dividia em duas partes principais.

"O Plano será a Vitória Absoluta Alcançada com o Golpe de Amor Máximo!"

Para realizar seu plano, Ryunosuke precisava ficar ali, preparando seu poder, concentrando-o ao máximo. Ele sabia que, mesmo que seus alunos conseguissem algum tempo contra a criatura, bem provavelmente ainda não seria o suficiente. Assim, aproveitou-se do fato de a criatura ter percebido que era superior a ele e ter parado de prestar atenção em Ryunosuke. Com isso, começou a fazer duas coisas ao mesmo tempo: concentrar seu éter e, em paralelo, conectar-se novamente ao éter daquela Black Box. Atualmente, como a Black Box estava sendo sustentada pelos dois (ele e, presumivelmente, a antagonista), ele não tinha um domínio grande o suficiente para abri-la, quebrá-la ou mudar para outro mapa além do labirinto. Mas, ainda assim, ele tinha um controle parcial daquele labirinto. Usando esse controle, estava conectando todo o mapa através de seu éter para, no momento em que visse que seus alunos já não poderiam continuar atrasando o inimigo, ativar a reconfiguração do mapa.

Assim, todo o mapa do labirinto se transformou, mudando por completo sua forma, juntamente com o paradeiro das pessoas que estavam nele. Com seu éter reduzido (já que estava concentrando-o e não queria desperdiçá-lo), não teve forças para mudar a localização da mulher. Ainda assim, movendo seu alvo, Dante, para algum lugar afastado dela, assim como todos os outros alunos para posições totalmente diferentes, ele causaria um atraso (delay) no adversário, à medida que voltava a ganhar tempo.

— Foi mal, mas parece que o jogo de esconde-esconde está só começando! — ele falou, sorrindo, enquanto voltava a usar toda sua concentração para novamente comprimir e reunir o máximo de éter.

Sabia que a mulher agora teria que tomar a decisão de ir em sua direção ou novamente procurar por Dante. Mas, assim como ele havia notado, sempre que colocada nessa posição, a mulher respondeu com o mesmo comportamento previsível.

"Você não pode resistir, né? Eu não sou nada de especial, não é?!" (pensou Ryunosuke, antecipando a reação dela).

E, como ele havia antecipado, a mulher começou a procurar por Dante, tentando encontrá-lo em algum lugar desse novo labirinto.

Parte 11 

De repente, Dante acordou, percebendo o céu de pedra. Começou então a olhar à sua volta, notando a floresta subterrânea onde agora estava, e sentindo seu corpo completamente desgastado, cansado e exausto. As memórias de tudo que havia acontecido invadiram sua cabeça com uma dor intensa: todas as sequências que ocorreram desde que ele agiu como seu outro "eu". Assim, ele mordeu a língua enquanto se deitava no chão de frustração e socou o solo com força, apertando o punho.

— Mas o que eu 'tô' fazendo?! Droga!

"Eu acabei deixando todos em risco, atrapalhei e ainda por cima…"

Ele relembrou ter atingido Chuya e apertou ainda mais o punho, até o mesmo sangrar.

— Eu preciso fazer algo... não posso continuar assim, ou então…

De repente, alguém pisou sobre o rosto do garoto.

— Ah, droga! Pisei em um pervertido. Acho que vou ter que queimar minha sandália — Yuki falou, ainda com o pé em cima do rosto dele.

— Droga, Yuki! 'Tá' vendo que eu 'tô' em um momento sério?! — Dante reclamou.

— Espera aí... então até os pervertidos têm momentos de autorreflexão? Se é assim, como você não se matou ainda?

— Mas como é que você me vê dentro da sua cabeça, Yuki? — Dante perguntou, confuso, enquanto ela começava a caminhar.

— Vamos logo, parando de perder tempo! Se está frustrado com alguma coisa, não vai ser parado aí, se criticando, que você vai encontrar a resposta.

— E você sabe como eu faço para encontrar?

— Claro! Conversando com alguém.

— Quer conversar comigo?

— Hein? Ficou idiota? Eu 'tô' dizendo para você andar logo, para a gente encontrar alguém para conversar! Se, por acaso, você começar a chorar no meu ombro, desabafando alguma coisa, provavelmente eu vou te bater.

Dante ficou com a feição vazia, ouvindo aquela resposta fria, mas completamente honesta, de Yuki.

— Você não consegue ser fofa mesmo, né, Yuki? — Que peninha para você.

Assim, ainda se sentindo mal por dentro e também extremamente exausto – ao ponto de se levantar devagar, sentindo dor –, Dante, com um olhar ainda frustrado, mas tentando forçar um sorriso enquanto a acompanhava para não deixá-la preocupada, começou a se aventurar com Yuki pelo novo labirinto, tentando encontrar os outros. Ao mesmo tempo, Dante também começava a pensar se havia alguma forma de derrotar a criatura.


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