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The Fall of the Stars: Capítulo 1 - O Tigre o Lobo e O Dragão

  • Foto do escritor: AngelDark
    AngelDark
  • 27 de out.
  • 55 min de leitura

Volume 7: Contra-Ataque

 Recapitulação :

O incidente em Threshold começou com uma convocatória, um chamado que reuniu a família Scarlune sob o céu perpetuamente nublado de Nocturia para a eleição de um novo líder. Na opulência sombria da Mansão Winchester, velhas rivalidades fervilhavam sob uma fina camada de formalidade.

A frágil paz foi estilhaçada pelo primeiro grito. Lorelei, uma das líderes da casa, foi encontrada morta, empalada em seu próprio quarto. O assassinato foi o gatilho, a primeira peça de dominó a cair. Love, agindo como líder interino, selou a mansão com uma barreira de contenção impenetrável, aprisionando suspeitos e inocentes com um assassino entre eles. O que se seguiu foi um jogo de desconfiança. Liderados pela dedução relutante de Dante, pela análise fria de Heisen e pela surpreendente perspicácia de Hyori, os Scarlune mergulharam em uma caçada interna.

Contudo, a cada passo em direção à verdade, o tabuleiro de xadrez tornava-se mais complexo e mortal. Mais corpos foram descobertos, cada morte um novo fio na teia de intrigas. Uma névoa sobrenatural, conjurada por um poder desconhecido, separou os grupos, isolando-os em corredores que pareciam sussurrar segredos e mentiras, o que culminou na revelação de que havia não um, mas múltiplos assassinos, cada um com sua própria agenda sombria.

O clímax da investigação ocorreu nas criptas úmidas sob a mansão. Lá, Heisen revelou-se não como o assassino, mas como o mestre das marionetes, manipulando o verdadeiro culpado: Love, seu próprio irmão. Mas antes que a confrontação pudesse chegar a um desfecho sangrento, a organização terrorista Horizon fez sua jogada.

Um ato desesperado de Love, em uma tentativa de cumprir um plano secreto, selou o destino de todos. Enquanto Ceto, da Horizon, recuperava a Caixa de Pandora de seu selo em Avalon, as contramedidas ancestrais foram ativadas. A realidade se partiu. Fragmentos de Avalon, o reino das fadas, foram violentamente arrancados de sua dimensão e fundidos com o continente de Nocturia.

A cidade de Threshold, com sua beleza surreal e perigos latentes, foi aniquilada. O Abismo, foi preenchido não com terra, mas com a própria essência de um mundo mágico. No epicentro da catástrofe, a Grande Árvore da Fantasia brotou, suas raízes mergulhando nas ruínas e seu tronco subindo aos céus, um novo e terrível marco no mundo. E com a árvore, veio seu guardião: Daemon Scarlune, o Progenitor, e as fadas ancestrais, as verdadeiras regentes daquela terra, finalmente libertadas de sua prisão.

Agora, após incontáveis batalhas para decidir quem ficaria no topo e controlaria a terra das fadas, o confronto final contra Daemon Scarlune, o Rei sob a Árvore, se desenrola. A Horizon, com seus objetivos ainda velados, move suas peças nas sombras. E os Scarlune, fragmentados e marcados pela tragédia, precisam encontrar um novo caminho em meio às ruínas de seu legado, pois a guerra por Nocturia e por seu futuro está longe de terminar.

Parte 1 

Longe do epicentro da destruição, em um platô rochoso que dominava o campo de batalha com uma vista panorâmica e impiedosamente clara, a guerra era travada com uma arma distinta: o intelecto. A salvo do caos visceral abaixo, quatro figuras observavam o confronto como deuses analisando um tabuleiro de xadrez cósmico. Blade, com sua calma glacial, parecia calcular cada movimento, cada explosão de éter, os olhos fixos como lâminas afiadas. Ao seu lado, Rani, a matriarca científica, processava dados com uma intensidade silenciosa, os dedos dançando sobre hologramas de informações táticas. Paracelso, a alquimista, exibia um brilho de fascínio mórbido, como se a aniquilação abaixo fosse o ápice de um experimento sublime. E Lux, a princesa das fadas, observava com uma sabedoria ancestral, sua expressão tão enigmática quanto as estrelas.

No campo de batalha, o espetáculo era de poder bruto. Bishamon, um sol dourado de fúria incandescente, colidia repetidamente contra a forma titânica de Daemon, cada impacto reverberando como trovões. Skadi, uma tempestade viva de gelo e aço, movia-se na periferia com precisão letal, seus ataques buscando as raras brechas na defesa do inimigo. Dante e Kai, em um turbilhão de ataques coordenados e caóticos, exibiam uma sincronia quase sobrenatural, como se compartilhassem um único instinto. Mas seus esforços pareciam vãos. Daemon, o Progenitor, absorvia cada golpe, cada explosão, não como feridas, mas como combustível para sua existência implacável.

— Se mantivermos esse ritmo, a taxa de vitória cairá abaixo de 40% — disse Paracelso, a voz mesclando admiração e frustração. — Mesmo com os quatro atacando em conjunto, ele não mostra sinais de desgaste. Lux, você mencionou que sua imortalidade vem de uma relíquia, correto?

Lux suspirou, o som evocando o farfalhar de folhas antigas. — Não uma relíquia inteira, mas um fragmento. A Coroa de Oberon. Um único estilhaço concede uma quantidade colossal de éter e uma capacidade evolutiva. Mas o fragmento que Morrigan infundiu em Daemon foi corrompido. Chamamos o resultado de Coroa da Peste. É uma habilidade parasitária.

Ela fez uma pausa, os olhos fixos na figura de Daemon, que regenerava um ferimento grotesco com uma velocidade nauseante.

— A Coroa tenta purificar o corpo humano de Daemon, enquanto o eleva ao topo da cadeia alimentar, forçando-o a evoluir como o predador supremo de todos os seres vivos. A regeneração que vemos é apenas um efeito colateral. Sua verdadeira força está na adaptabilidade forçada. Cada golpe significativo que recebe faz a Coroa reesculpir seu corpo, tornando-o mais resistente, mais letal.

— Então, a única forma de vencê-lo é esgotá-lo? — perguntou Rani, sua mente científica já mapeando as variáveis. — Forçá-lo a regenerar e evoluir até que sua reserva de éter colapse?

— Em teoria — respondeu Lux, a voz carregada de cautela.

Paracelso, no entanto, franziu o cenho, seus olhos cianos brilhando com desconfiança. — Não... algo está errado. — Ela ativou seu comunicador. — Heisen, relatório. Você está monitorando os níveis de éter dele desde o início, correto?

A voz de Heisen, fria e precisa, ecoou pelo dispositivo, vinda de um ponto de observação mais próximo do combate. — Correto.

— E então? — insistiu Paracelso, mais para confirmar uma suspeita do que para esclarecer uma dúvida. — Você registrou alguma diminuição?

— Nenhuma — respondeu Heisen, sem hesitar. — Na verdade, após a última investida de Bishamon, os níveis de éter de Daemon estão ligeiramente mais altos.

Rani fechou os olhos por um instante, e a revelação a atingiu como um raio. — É claro... o éter. É a energia da alteração. — Ela olhou para os outros, a excitação de uma descoberta terrível na voz. — Cada vez que a Coroa força Daemon a evoluir, a se transformar, ele gera uma nova e massiva quantidade de éter. É um ciclo autossustentável. Um motor de poder perpétuo.

Lux fitou as duas cientistas, um brilho de admiração em seus olhos etéreos. “Incrível... Mesmo sendo humanas, elas desvendaram a mecânica em minutos.” Um sorriso raro curvou seus lábios, um gesto de respeito silencioso.

Blade, que até então permanecera em silêncio, deu um passo à frente. Seus olhos, frios e calculistas, não se desviavam do campo de batalha. Ele havia absorvido cada palavra, cada dado, e chegara a uma conclusão.

— A primeira onda deve ter reduzido entre 15% e 20% de sua vitalidade base — declarou, a voz desprovida de emoção, mas carregada de autoridade. — Para a fase inicial, é suficiente. — Ele ativou seu comunicador. — Dante, Kai, recuem. Elizabeth, Homura, avancem para curá-los. Agrad, Loufen, assumam suas posições. A segunda onda começa agora.

Parte 2 

Com um estalo, Kai pegou Dante e teleportou-se para longe da linha de frente, aparecendo em um borrão de éter distorcido sob a copa de uma árvore ancestral. Ali, na clareira protegida, Heisen e a equipe de suporte aguardavam, prontos para agir. Elizabeth e Homura, as infames "Médicas Demônio" de Threshold, avançaram sem hesitação, seus olhos brilhando com uma determinação implacável.

— Droga! — rugiu Dante no instante em que a mão de Homura, envolta em chamas rosas curativas, agarrou seu braço ferido. Um som nauseante de osso se partindo ecoou pela clareira. — Precisava mesmo quebrar de novo?!

— O dano precisa ser redefinido para a cura ser perfeita. Fique quieto — retrucou Homura, a voz calma, mas carregada de uma autoridade brutal enquanto suas chamas realinhavam os ossos de Dante.

Ao lado, Kai enfrentava um destino semelhante. Elizabeth, com uma eficiência gélida, segurou sua cabeça e, com um movimento rápido e preciso, quebrou seu pescoço. O estalo reverberou, cortante, no ar. — Desgraçada! — Kai engasgou, o corpo paralisado por um instante antes que a energia curativa de Elizabeth começasse a restaurar suas vértebras, a dor se dissipando em ondas quentes.

Heisen observava a cena, sua mente clínica registrando cada detalhe. A habilidade de converter dano em cura. Um poder anômalo fascinante. O alvo sofre a dor excruciante do ferimento inicial, mas o resultado é uma regeneração quase instantânea. Útil... mas bárbaro.

— Aquele filho da mãe do Blade! — rosnou Kai, assim que recuperou o movimento do pescoço, a dor dando lugar a uma fúria renovada. — Me tirar da luta... Acha que sou fraco? Vou fazer ele engolir essa subestimação!

— Cala a boca — cortou Dante, a voz desprovida de sua arrogância habitual, agora baixa, focada, quase perigosa. Kai virou-se, pronto para retrucar, para acusar Dante de covardia por aceitar a retirada. Mas as palavras morreram em sua garganta. Os olhos de Dante não estavam nele. Estavam cravados na figura distante de Daemon, a quilômetros dali, visível apenas como uma silhueta titânica contra o horizonte em chamas. Não havia raiva ou medo naquele olhar; apenas uma concentração absoluta, uma análise fria e incansável. Dante ainda estava lutando — não com o corpo, mas com a mente, seu próprio campo de batalha.

— A equipe de inteligência já analisou a habilidade de Daemon? — perguntou Elizabeth, enquanto finalizava a cura de Kai, suas mãos ainda brilhando com resquícios de energia.

— Sim — respondeu Heisen, sem desviar os olhos do combate ao longe. — O poder dele se autoalimenta por meio de... — Um estalo seco e violento interrompeu sua explicação. Heisen soltou um grito agudo, o corpo se contorcendo de dor. Elizabeth, com uma calma perturbadora, havia torcido sua espinha.

— O que... por quê?! — engasgou Heisen, a dor irradiando por suas costas.

— Ordens do espadinha — respondeu Elizabeth, impassível, enquanto suas mãos brilhavam, curando o dano que acabara de infligir. — Você está escalado para uma das próximas ondas. Considere isso um pré-tratamento.

Homura, que agora observava Dante com um interesse quase científico, inclinou a cabeça. — Ele está... murmurando algo. Rápido demais.

Heisen, recuperando o fôlego e amaldiçoando Elizabeth mentalmente, explicou: — É a habilidade dele. Ele acelera os processos neurais, reduzindo o tempo necessário para aprender e analisar. Agora, ele está criando simulações de combate em sua mente, dissecando cada movimento de Daemon.

Kai estalou a língua, a irritação borbulhando novamente. “Droga! Sempre um passo à frente! Pensei que minha Black Box seria suficiente para superá-lo, mas é inútil se não posso usá-la quando quero. E aquele novo modo dele, o tal "Deus Dragão"... que saco! Preciso ultrapassá-lo. Logo.” Ele ativou seu comunicador, a voz carregada de impaciência. — Blade, aqui é Kai. Estamos prontos. Faça a troca quando quiser.

— Espera o Dante — disse Homura, ainda estudando o garoto concentrado.

Mas, sem desviar o olhar da batalha distante, a voz de Dante soou, clara e firme. — Não se preocupem comigo. Assim que derem o aval, estou pronto para o segundo round.

Parte 3 

O estrondo silencioso da ordem de Blade reverberou como um trovão invisível, cortando o caos do campo de batalha com a precisão de uma lâmina. O ar vibrou com a tensão, enquanto Dante e Kai, como sombras fugazes, recuavam em um balé mortal, seus movimentos tão fluidos que pareciam dançar com o vento. Bishamon e Skadi, em perfeita sincronia, deslizaram para trás, seus corpos movendo-se como engrenagens de um relógio cósmico, abrindo espaço para a tempestade que estava por vir. O palco estava pronto, e o céu rugiu em antecipação.

De repente, o firmamento se partiu. Dois vultos rasgaram as nuvens como falcões em mergulho, suas silhuetas traçando arcos de pura energia. Agrad, o guarda-costas feérico, colidiu com o solo como um meteoro, a força de seu impacto reverberando como o rugido de uma montanha viva. O chão de pedra se estilhaçou sob seus pés, rachaduras serpentinas espalhando-se como teias de aranha. Seu corpo, uma fusão primal de casca de árvore e rocha vulcânica, transformou-se em uma armadura viva, pulsando com a força da própria terra. Ao seu lado, Loufen dançava com a leveza de uma brisa, sua espada de cristal capturando a luz em prismas verdes que brilhavam com uma fome predatória. A segunda onda de ataque havia chegado, e o campo de batalha parecia prender a respiração diante da promessa de destruição.

Daemon, o Progenitor, observava com um brilho de diversão nos olhos, como um predador intrigado por sua presa. Incapaz de falar, sua resposta foi uma sinfonia de violência orquestrada. Agrad bateu os punhos contra o solo, e a terra respondeu com fúria: muralhas de pedra irregular e raízes ancestrais, retorcidas como garras de um titã, irromperam do chão, tentando aprisionar Daemon em uma gaiola viva. No mesmo instante, Loufen se dissolveu em um feixe de luz esmeralda, ricocheteando entre os cristais que brotavam das muralhas como estrelas cadentes. Sua trajetória formava uma teia hipnótica de lasers verdes, cada feixe cortando o ar com precisão cirúrgica, projetado para cegar e desorientar o inimigo.

Daemon, porém, movia-se com uma graça aterradora, desviando da tempestade de luz com passos que desafiavam a física, seus punhos pulverizando as barreiras de Agrad com golpes que ecoavam como trovões. Mas ele não percebeu as verdadeiras ameaças se reposicionando nas sombras. Skadi, agora uma com a escuridão, deslizava pelas fissuras do chão, sua presença tão sutil que nem o ar ousava denunciá-la. Sua lâmina gélida, forjada em gelo negro, brilhava com uma promessa de morte, buscando o momento exato para atacar. Em contraste, Bishamon era a própria encarnação da fúria visível. Sua aura dourada explodiu como uma supernova, iluminando o campo de batalha com um brilho que parecia desafiar o próprio sol. Seus cavaleiros mecha, antes dispersos, reagruparam-se em formação, suas armas carregadas emitindo um zumbido grave, como o prenúncio de uma tempestade.

O Grito Final da Segunda Onda

— AGORA! — O grito de Bishamon cortou o ar como uma lâmina de éter, o gatilho para o caos.

Agrad rugiu, um som primal que fez a terra tremer. Raízes colossais explodiram do solo, envolvendo os tornozelos de Daemon como correntes vivas, enquanto o chão sob seus pés se agitava como um oceano enfurecido. Loufen canalizou toda sua energia em um único ponto de luz ofuscante, um raio verde tão intenso que parecia queimar a própria realidade, mirando diretamente os olhos do Progenitor. Das sombras, Skadi emergiu como um espectro vingativo, sua lâmina traçando um arco mortal que cortava o ar com um silvo gélido, mirando a vulnerabilidade exposta de Daemon. E, do céu, Bishamon liderava sua legião dourada, descendo como uma chuva de meteoros flamejantes, cada cavaleiro mecha brilhando com o peso de um cometa.

A colisão foi um espetáculo apocalíptico. O éter dourado de Bishamon, o gelo negro de Skadi, a luz esmeralda de Loufen e a força telúrica de Agrad convergiram em um único ponto, desencadeando uma explosão multicolorida que engoliu o campo de batalha. Uma cúpula de energia bruta se expandiu, vaporizando rochas, árvores e até o ar em um raio de centenas de metros. O impacto foi tão devastador que os observadores no platô, a quilômetros de distância, foram forçados a erguer barreiras de éter, seus rostos pálidos diante da magnitude do ataque.

Por um instante, o mundo ficou em silêncio. Um silêncio carregado de esperança, como se o próprio tempo prendesse a respiração.

Então, do coração da cratera fumegante, uma gargalhada ecoou. Profunda, vibrante, terrivelmente viva. A fumaça se dissipou, revelando Daemon, de pé, desafiador. Ferido, sim — um braço decepado, um buraco fumegante no peito —, mas vivo. E, pior ainda, ele estava a mudar.

— Interessante… — Sua voz, agora restaurada, ressoou com um tom de divertimento cruel, mas ninguém se deu ao trabalho de ouvir.

A Adaptação da Peste

Diante dos olhos horrorizados dos combatentes, o braço perdido de Daemon regenerou-se em um espetáculo grotesco. Não era carne, mas uma maça viva de escamas negras, músculos retorcidos e ossos serrilhados que pulsavam como uma armadura demoníaca. De suas costas, tentáculos de sombra irromperam, chicoteando o ar com violência, cada um pulsando com uma energia maligna. A Coroa da Peste o forçava a evoluir, transformando-o em uma máquina de guerra ainda mais letal. Ele não apenas se curava; ele se reinventava.

Em um piscar de olhos, Daemon se materializou atrás de Skadi, seu novo braço erguido para desferir um golpe imbuído de éter puro, capaz de despedaçar montanhas. Bishamon, Agrad e Loufen mal tiveram tempo de reagir. Mas, no último segundo, um chute flamejante cortou o ar, atingindo Daemon com a força de um vulcão em erupção. O impacto lançou o Progenitor para trás, o chão sob seus pés se partindo como vidro.

Levi e Anna entraram em cena como furacões. Anna correu, o éter em suas mão criando uma bazuca flamejante que o impulsionou como um foguete. so para alcançar Daemon e o colocar no alvo do próximo disparo o lançando contra o solo. Mas a vitória foi breve. Uma rajada de éter puro explodiu do Progenitor, lançando Anna aos céus como uma boneca de pano, seu corpo colidindo com o solo em uma cratera de poeira e pedra.

Nesse instante, o céu se abriu. Uma tempestade de raios caiu, cada relâmpago atingindo Daemon com precisão devastadora. “Byakko!” Uma voz trovejou, e do coração das nuvens negras, um tigre branco colossal emergiu, seu rugido sacudindo as fundações do campo de batalha. O som mal se dissipou quando um raio ainda mais poderoso cortou o ar, transformando o solo em uma ravina fumegante.

Daemon, queimado e coberto de cicatrizes, saltou para o céu, suas asas de sombra tentando escapar da destruição. Mas uma nova voz ecoou, fria e autoritária: 

— Que o peso do mundo se anule e que seu corpo sinta a intensidade de sua vontade.

— Prisão do Ego! — Amarylis gritou, suas mãos traçando runas no ar enquanto um círculo mágico colossal se materializava, cobrindo o campo de batalha como um céu estrelado. O corpo de Daemon foi subitamente esmagado contra o chão, a gravidade dobrada sob o peso de sua própria existência, suas asas se debatendo inutilmente.

Nos comunicadores, a voz de Blade cortou o caos, firme como uma rocha: — Não parem. Se a segunda onda não deu certo, enviarei a terceira. Se a terceira não der, enviarei a quarta. Esta batalha não pode terminar com nossa derrota. Lembrem-se disso.

Bishamon, com um riso selvagem, deu um tapa no próprio rosto, os olhos brilhando com determinação. — Onde está a compostura? Fui eu quem anunciou que iria governar, então não é hora de deixar o Bladezinho tomar todo o destaque! — Ela arrancou seu colar, que se transformou em uma garota radiante e, em seguida, em uma bandeira flamejante, erguida como um estandarte de guerra. — Escutem todos! Muitos de nós conhecemos o básico de uma luta em equipe, mas a maioria nunca lutou junto antes. No entanto, não existe outra opção. Por mais ridículo e impossível que pareça, aprendam a lutar com os novos companheiros ao seu lado. Continuem atacando sem hesitar. Não deixem que essa velha lenda do passado os faça perder a visão do importante. Esta batalha não pode ter outro resultado além da vitória! E quanto às suas retaguardas, deixem que delas cuido eu!

Ela cravou a bandeira no chão, e uma onda de éter puro explodiu, envolvendo cada combatente. Suas auras se intensificaram, multiplicando-se como chamas alimentadas por um vento divino. O campo de batalha pulsava com uma energia renovada, cada guerreiro movendo-se com uma sincronia quase sobrenatural.

— Agora, mesmo que morram, continuem atacando! — Bishamon rugiu, sua voz ecoando como um hino de guerra, enquanto o campo de batalha se preparava para a próxima onda de um confronto que desafiava o próprio destino.

Parte 4 

A impaciência crescia. Vivian já havia sacado sua enorme tesoura, girando-a com a mão. — Finalmente. Quase na nossa vez.

Beatrice, ao seu lado, concordou com um aceno, os punhos cerrados. — Já estava me sentindo entediada.

A voz hesitante de Mio quebrou a tensão. — E a Tenma? Aquilo que ela falou... a gente não deveria se preocupar com isso?

A calma de Yuki foi o pilar para as outras. — Não há tempo para isso. Nossas ordens vêm de Levi e Hilda. Nosso foco é Daemon Scarlune. Primeiro, eliminamos a ameaça. Depois, lidamos com o resto."

Sua declaração foi como um gatilho. O comunicador chiou, e a voz inconfundível de Blade cortou o ar: — Próxima Onda. Agora! — A ordem veio, seca e sem espaço para debate, e as garotas sabiam que, finalmente, era a hora delas entrarem na batalha.

Parte 5

O chão gemia sob o peso do poder, rachando em teias de aranha que se estendiam por todo o campo de batalha. O que antes era um vasto planalto elevado, agora jazia em ruínas absolutas, destruído pelo confronto. Enormes raízes, arrancadas das profundezas da terra como veias pulsantes, erguiam-se retorcidas e expostas, formando barreiras irregulares. Os guerreiros as usavam como cobertura improvisada, saltando sobre elas em acrobacias ágeis para evitar os golpes sísmicos de Daemon.

Grandes pilares de gelo, criados pela habilidade de Skadi em redemoinhos gélidos, erguiam-se como sentinelas congeladas, rachando e derretendo sob o calor das chamas de Levi. Poças escorregadias se formavam, adicionando um elemento de perigo à dança mortal. O cenário se movia como uma entidade viva, com o solo tremendo em ondas sísmicas que faziam as raízes balançarem e os pilares desabarem em cascatas de fragmentos afiados, forçando os combatentes a adaptarem seus passos em uma coreografia imprevisível de saltos, rolamentos e desvios.

Daemon, que continuava a evoluir, perdia sua forma humanoide a cada instante, contorcendo-se em um espetáculo grotesco de mutação. A cada soco de Bishamon, que ressoava como um trovão, Daemon se reerguia. Seus braços, agora longos e maciços como troncos de árvores ancestrais, suas pernas, pilares de basalto, e sua pele, um mosaico de escamas negras e ossos expostos. A Coroa da Peste, um parasita que se alimentava da violência, estava em pleno efeito, transformando-o em um predador ainda mais letal. Bishamon, com movimentos que pareciam uma avalanche controlada, girava em torno das raízes expostas, usando-as como trampolins para impulsionar seus punhos em uma sequência de uppercuts ascendentes. Cada golpe criava crateras no peito de Daemon, enquanto Bishamon desviava de tentáculos de energia que chicoteavam o ar, rachando pilares de gelo próximos e enviando estilhaços voando como shurikens.

Longe do epicentro, Blade assistia, sua mente fria dissecando o caos. "A nova onda não foi o suficiente", ele murmurou, a voz cortante.

Hilda e Levy se moviam com precisão cirúrgica pelo planalto destruído, saltando sobre uma raiz colossal que tremia com o impacto distante. Eles ajustavam sua posição para analisar os padrões de mutação de Daemon enquanto disparavam projéteis de raios e fogo para chamar sua atenção e distraí-lo.

No campo de batalha, Skadi, uma tempestade viva de gelo e aço, deslizava, patinando pelo chão com precisão letal. As lâminas em seus pés cortavam o solo enquanto ela buscava as raras brechas na couraça de Daemon. Ela executava uma coreografia glacial hipnótica, girando no ar como uma patinadora em um lago congelado imaginário, evocando pilares de gelo que surgiam do chão rachado para empalar o flanco de Daemon. Deslizava entre as raízes expostas, usando-as para ganhar tempo e lançar estacas como arpões em uma rajada sincronizada. O cenário respondia com geadas que se espalhavam pelas rachaduras, congelando raízes e criando plataformas escorregadias que ela navegava com graça letal.

—  Lutar contra ele já não parece mais uma luta contra outro humano... sua evolução talvez não seja tão vantajosa agora. Ele é só uma aberração, uma besta selvagem —  ela murmurou, cravando estacas de gelo em seu flanco, que se quebravam contra a pele impenetrável do Progenitor. —  Tsk, mesmo assim isso ainda vai ser um saco."

Amarylis, com as mãos estendidas, canalizava sua magia, suor escorrendo por seu rosto. A Prisão do Ego, sua habilidade, tentava conter Daemon com correntes invisíveis forjadas da vontade do inimigo. Ela pairava sobre uma raiz retorcida, seus pés plantados firmemente enquanto traçava runas no ar com gestos fluidos e circulares. O éter pulsava em veias luminosas que se entrelaçavam com as rachaduras do planalto, fazendo o solo vibrar em harmonia com sua magia e os pilares de gelo tremerem como se desafiassem a gravidade. —  Não adianta tentar sair, gigante. Sua própria determinação te aprisiona… —  ela sussurrou, sentindo a dor excruciante de sua energia vital sendo drenada. Mas Daemon, com um rugido triunfante, rompeu a prisão de Amarylis e a jogou para longe. O impacto de sua liberação fez o planalto estremecer violentamente, raízes se contorcendo como serpentes vivas e pilares de gelo desabando em avalanches que forçavam os aliados a rolarem para o lado em uma evasão coreografada.

Nesse instante, Anna entrou em ação, acompanhada por Levi e Hilda com Byakko. Levi correu em direção a Daemon, sua perna flamejante desferindo um chute que fez o Progenitor cambalear. Ele avançava em uma corrida flamejante, saltando sobre poças de gelo derretido e usando raízes como degraus para ganhar altura, girando no ar em uma série de chutes giratórios que criavam arcos de fogo dançantes. Incendiava as escamas de Daemon e fazia o ar ao redor crepitar com calor intenso, enquanto o cenário respondia com raízes carbonizadas que fumegavam e rachaduras que se alargavam com o calor.

Hilda, do céu, canalizou raios que serpenteavam pelo ar, atingindo o corpo de Daemon com uma sequência de choques devastadores, enquanto Byakko, o espírito felino elétrico, rasgava a pele do monstro com suas garras de luz. Hilda montava Byakko em uma dança aérea eletrizante, mergulhando em espirais que contornavam os pilares de gelo, lançando raios que ricocheteavam nas raízes expostas para criar uma rede de eletricidade que envolvia Daemon. O felino saltava de pilar em pilar com garras faiscantes, rasgando e pulando em uma coreografia felina de ataques rápidos e evasões ágeis. A distração foi tudo que Anna precisou.

Com um comando mental, o éter em suas mãos se materializou em uma espada que brilhava com um fulgor intenso. Ela se lançou em direção a Daemon, tentando escalar suas costas. Corria pelo planalto destruído em ziguezagues que evitavam as rachaduras sísmicas, saltando sobre uma raiz colossal para ganhar impulso e escalar o corpo mutante de Daemon em uma sequência de pulos precisos. Girava a espada em arcos amplos que cortavam o ar com assovios etéreos. O cenário se movimentava com ela: raízes tremendo sob seus pés e pilares de gelo refletindo o brilho de sua lâmina como espelhos congelados. A lâmina rasgou a couraça de escamas, fazendo sangue negro jorrar como uma cascata sombria. Daemon urrou de dor, um som que abalou o mundo, no entanto ela não parou. Continuou a correr pelas costas da criatura, aumentando sua ferida, enquanto o monstro em agonia tentava se virar para esmagá-la. Seu giro fez o planalto vibrar, arrancando mais raízes do solo e derrubando pilares em uma chuva de gelo que os guerreiros desviavam em rolamentos sincronizados.

No entanto, antes que Daemon pudesse atingir Anna, Beatrice, a guerreira de coração flamejante, surgiu como um furacão. Beatrice irrompia do meio das ruínas, correndo em uma carga explosiva que pulverizava raízes sob seus pés. Saltava sobre uma poça de gelo derretido para girar no ar e desferir o soco em uma trajetória ascendente, criando uma onda de choque que propagava rachaduras pelo planalto e fazia pilares desabarem como dominós, adicionando camadas de caos à coreografia da batalha. Seu punho, envolto em éter cinético, colidiu com o de Daemon em uma explosão que fez o próprio continente vibrar. O ar estalou, e as duas guerreiras foram lançadas para trás pela onda de choque, aterrissando com uma agilidade felina ao lado uma da outra.

— Valeu! — gritou Anna, limpando um filete de sangue do canto da boca.

— Não entenda errado, eu só fiz isso porque aquele idiota ficaria triste se você fosse esmagada — Beatrice retrucou, sem se virar. — Por isso, se acha que não consegue acompanhar, é melhor dar o fora, pois não pretendo te ajudar de novo. 

— Pois pode deixar que, quando eu te salvar, farei questão de que saiba que pode errar à vontade, já que eu sou forte o suficiente para cobrir seus erros e te salvar — Anna sorriu, a tensão entre elas se convertendo em uma perigosa sinergia.

No platô de comando, a voz de Blade cortou o ar, fria e precisa, transmitida para todos os combatentes. — Não percam tempo, Terceira onda. Começe.

A ordem foi o estopim para um inferno orquestrado. Daemon, ainda se recuperando do impacto, tentou avançar, mas o chão sob seus pés subitamente cedeu, transformando-se em um pântano lamacento e traiçoeiro pela magia combinada de Skadi e Levi. O Progenitor rugiu em fúria, mas antes que pudesse encontrar um ponto de apoio, os cavaleiros mecha de Bishamon, como formigas de ouro, começaram a escalar seu corpo titânico. Eles ignoraram a couraça impenetrável, focando seus ataques na ferida aberta que Anna deixou em suas costas, cravando lâminas de éter na carne exposta.

Daemon virou a cabeça, os olhos buscando os pequenos parasitas em suas costas, e nesse exato instante de distração, um vulto mergulhou dos céus. Com um SNIP metálico que ecoou como o som de um trovão, Vivian usou sua tesoura para cortar os globos oculares do Progenitor. Ele urrou, um grito de pura dor, agitando-se cegamente.

O solo lamacento congelou instantaneamente sob a vontade de Skadi, a fricção desaparecendo. Com um chute de chamas violentas que parecia um cometa rasteiro, Levi atingiu o calcanhar de Daemon. O gigante, cego e sem equilíbrio, tombou para trás em uma queda cataclísmica que fez a terra tremer.

Enquanto ele caía, a verdadeira armadilha se revelou. Abaixo, no solo, Loufen estava posicionado ao lado de um cristal gigantesco que ele vinha preparando, pulsando com uma luz esmeralda ofuscante. — Disparo de Refração! — gritou ele. Um raio de éter puro, concentrado e devastador, perfurou o peito de Daemon em queda, explodindo do outro lado em uma chuva de luz e sangue negro.

Uma onda de energia verdejante emanou de Agrad, percorrendo cada combatente. A estamina foi restaurada, feridas leves se fecharam. — Não se enganem pela ausência de dor! — a voz do guarda feérico soou na mente de todos. — Meus poderes apenas mascaram a fadiga. Os gravemente feridos devem ter cautela, ou o corpo cederá sem aviso!

Bishamon cravou sua bandeira no chão novamente, o corpo tremendo sob o esforço, mas sua determinação inabalável. Uma nova onda de éter puro explodiu, multiplicando o poder de todos. Impulsionadas por essa energia, Anna e Beatrice saltaram, suas silhuetas recortadas contra o céu caótico, prontas para desferir o próximo golpe.



No platô, o espetáculo de destruição era analisado com uma calma sobrenatural. Blade observava cada detalhe, cada flutuação de éter, sua mente processando o caos como um supercomputador. 

— Impressionante... — Rani murmurou, virando-se para o filho. — Sua forma de ver o campo de batalha... é diferente da minha. Eu vejo um tabuleiro de xadrez, peças com funções definidas. Mas você... como você o enxerga, Blade? 

Paracelso inclinou a cabeça, os olhos cianos brilhando com curiosidade. — É verdade. Cada analista tem sua própria metáfora. Um organismo vivo, uma equação matemática... Qual é a sua, garoto? 

Lux, a princesa das fadas, também se virou para ele, o interesse em seus olhos ancestrais. — Diga-nos.

Blade suspirou, a irritação mal contida em sua voz. — Esta não é a hora para discussões filosóficas. 

— Pelo contrário — insistiu Rani, com uma autoridade materna. — É a hora perfeita. Queremos entender. 

Ele as encarou, sabendo que não cederiam. — Certo. Mas prestem atenção, não irei repetir.

Ele apontou para a batalha, e sua explicação se entrelaçou com a ação que se desenrolava abaixo.

Skadi e Levi são nossos Sub-DPS e Controladores. — A cena cortou para o campo de batalha. Skadi deslizava pelo gelo, criando paredes e espinhos que limitavam os movimentos de Daemon, enquanto Levi conjurava rios de fogo que o forçavam a recuar para as armadilhas de gelo. — Eles não têm o dano bruto para finalizá-lo, mas sua função é ditar o ritmo da luta. Eles sujam o campo, aplicam efeitos, desestabilizam a postura do inimigo e causam dano constante para abrir brechas.

Bishamon é o Suporte Universal. — A imagem mostrou Bishamon, o rosto suado, mas firme, mantendo o poder da bandeira. Seus cavaleiros mecha agiam como um enxame, distraindo e atacando pontos fracos. — Seria um desperdício usá-la como DPS primária. Nesta posição, ela multiplica o poder de todos os outros. Seu exército não causa dano significativo, mas amplia o dano já feito e, mais importante, divide a atenção do alvo. Ela é a base que sustenta todo o ataque.

Vivian é a Debuffer. — A cena focou em Vivian, que agora dançava ao redor de Daemon, suas lâminas não buscando cortes profundos, mas roçando a pele do monstro. A cada toque, uma nova runa celta, fraca e sinistra, brilhava no corpo do Progenitor. — Ela já aplicou a cegueira. Agora, a cada golpe, ela acumula penalidades: lentidão, enfraquecimento, hemorragia... Ela está desconstruindo o inimigo, peça por peça.

Agrad e Loufen são a Pressão Contínua. — Agrad e Loufen atacavam da periferia, lançando projéteis de rocha e feixes de luz menores, mas incessantes. — Seus ataques são fracos, mas nunca param. O objetivo deles é impedir que o inimigo tenha um único segundo para se recuperar completamente, mantendo sua vitalidade sempre em declínio.

Daemon, enfurecido e coberto de debuffs, finalmente se reergueu e, com um salto poderoso, mirou nas duas maiores ameaças que sentia: Anna e Beatrice.

Yuki, Amarylis e Mio são o Suporte Tático. — No exato momento do salto de Daemon, Mio, que carregava uma Amarylis inconsciente nos braços, agiu. Seus traços se contorceram e, por um instante, ela era Amarylis.

 — Prisão do Ego! — a voz dela soou, e correntes de gravidade invisíveis se prenderam a uma das pernas de Daemon. No mesmo instante, Yuki, que a seguia, ergueu uma barreira de chamas azuis puras que se solidificou na outra perna, agindo como uma âncora. Preso no meio do salto, o Progenitor foi violentamente puxado para baixo, caindo com um estrondo ensurdecedor.

Blade então se virou para as três mulheres no platô, seu olhar frio e afiado. — E finalmente... Beatrice e Anna. Elas são nossas DPS primárias. Sua única missão é simples: causar o máximo de dano possível.

Como se para pontuar suas palavras, Beatrice gritou para Anna: 

— Para cima!  — Com um soco no chão, ela criou uma plataforma de pura força cinética que lançou Anna aos céus como um foguete. Em seguida, Beatrice canalizou todo o seu poder. — Desintegre: Broca do Dragão Carmesim! Uma cachoeira espiral de energia carmesim desceu sobre o corpo caído de Daemon, perfurando sua couraça e desintegrando tudo em seu caminho. Ao mesmo tempo, Vivian aplicava mais uma série de runas, enfraquecendo-o ainda mais. Do alto, Anna caía como um cometa prateado. Duas espadas materializaram-se em suas mãos. Ela atingiu o corpo do titã, sua velocidade se tornando um borrão incompreensível. O som de carne sendo rasgada ecoou dezenas de vezes em menos de um segundo. Ela aterrissou suavemente no chão, de costas para o monstro. Por um instante, nada aconteceu. Então, dezenas de cortes profundos se abriram simultaneamente por todo o corpo de Daemon, e um rio de sangue negro jorrou, inundando a cratera.

Lux, a princesa das fadas, ofegou, seus olhos arregalados com a visão da carnificina coordenada. A voz de Blade, no entanto, soou novamente nos comunicadores, firme como uma rocha em meio à tempestade.

— Não percam o foco. A batalha está apenas no começo.

Parte 7

O silêncio que se seguiu ao ataque de Anna foi pesado, antinatural. Por um instante, o único som foi o gotejar espesso do sangue negro de Daemon no chão rachado. A vitória parecia palpável, um prêmio conquistado com uma sinfonia de violência perfeitamente orquestrada.

Mas o silêncio foi uma mentira.

Do corpo mutilado do Progenitor, uma nova e avassaladora onda de éter pulsou, não como um grito de dor, mas como o batimento cardíaco de uma estrela em colapso. As feridas abertas por Anna não jorravam mais sangue; elas emanavam uma luz doentia, e a carne ao redor delas começou a se contorcer, a borbulhar, a se refazer.

No posto de observação médico, mais próximo da ação, Elizabeth observava com uma incredulidade fria. — Heisen, relatório — sua voz soou, cortante. — Os níveis de éter dele deveriam estar em queda livre. Confirme. 

A voz de Heisen era precisa, mas carregada de uma urgência contida. — Não e preciso usar meu olho para isso da para ate sentir no ar. Os níveis não estão caindo. Eles estão... se multiplicando. A cada segundo, a reserva dele dobra.

Elizabeth cerrou os dentes, a revelação a atingindo como uma lâmina de gelo. — É claro... o ego. A Vontade. — Ela olhou para Homura, Dante e Kai que pareciam não entender, assim com seus olhos brilhando com a luz de uma terrível epifania falou. — A Coroa da Peste o transformou em uma besta irracional porque a vontade consciente de Daemon era a de morrer. Um desejo fraco, incapaz de "aquecer" o oceano de éter dentro dele de forma eficiente. Mas agora... agora que está sendo pressionado, encurralado, o que desperta não é o ego, mas o instinto primordial, a vontade selvagem e absoluta de um animal de não morrer!

A compreensão era aterrorizante. Heisen, ouvindo aquilo juntou os pontos e tambem chegou em uma conclusão. — Blade! Evacuação! Tire todos dalí, imediatamente! 

Mas era tarde demais.

No platô, a mente de Rani já havia chegado à mesma conclusão inevitável. — Transformação em Rei Demônio — Ela murmurava enquanto sua mente fazia diversos calculos em segundos. — "É como a metáfora da cafeteira, no entnato, Quanto mais água(Ether), mais demorado e trabalhoso é aquecê-la. Daemon possui um oceano de éter inativo. Mas uma vontade ardente, um desejo que transcende a razão, como o instinto de sobrevivência... essa é a chama capaz de ferver o oceano de uma só vez. Toda a 'água' está prestes a evaporar em uma única e colossal explosão de poder."

Rani já havia agido. Seu dedo pairava sobre um comando em seu console holográfico. — Hilda, agora!

Dos céus escuros de Nocturia, uma resposta veio. Nuvens de tempestade se formaram instantaneamente sobre o campo de batalha, e delas desceram milhares de raios que não atingiram o chão, mas se entrelaçaram, formando uma cúpula crepitante, uma gaiola de trovão projetada para selar o apocalipse iminente.

No mesmo instante, Paracelso sorriu, um brilho de fascínio mórbido em seus olhos. — Que experimento sublime! Multiplicação e Divisão! enquanto blade comandava o ataque seu corpo havia se dividido em dezenas de clones idênticos que dispararam em todas as direções ao redor da Batalha. cada clone ergueu uma barreira translúcida de poder, formando uma segunda camada de contenção, uma colmeia hexagonal projetada para dividir e dissipar a onda de choque.

Então, a explosão aconteceu.

Não houve som. Apenas uma luz branca e absoluta que engoliu o mundo, apagando cores, sombras e formas. Foi uma onda de pura alteração, a realidade se desfazendo sob a pressão de um poder que não deveria existir. A cúpula de raios de Hilda estalou, brilhou intensamente e se estilhaçou como vidro. As barreiras de Paracelso duraram uma fração de segundo a mais antes de serem pulverizadas.

A onda de choque, embora enfraquecida, atingiu os combatentes com a força de um deus furioso. Anna, Beatrice, Skadi, Levi, todos foram arremessados para longe como bonecos de pano, seus corpos colidindo com as ruínas distantes do planalto.

Quando a luz finalmente recuou, o cenário era de aniquilação. Uma cratera de centenas de metros marcava o epicentro, o chão transformado em vidro enegrecido e fumegante. E, no centro de tudo, em pé, não havia mais um titã disforme.

Havia um homem.

Sua forma era pequena, quase humana, mas seu corpo era de um branco pálido e antinatural, coberto por marcas douradas que pulsavam com poder. Músculos densos e perfeitos definiam sua silhueta. Seus olhos eram abismos negros, com pupilas vermelhas que queimavam com uma inteligência antiga e cruel. Da sua cabeça, chifres negros e retorcidos, como os galhos de uma árvore morta, subiam em direção ao céu.

Daemon Scarlune não existia mais. Em seu lugar, estava Cernunnos, o Rei Demônio da Peste.

Parte 8

O silêncio na cratera fumegante durou apenas um batimento cardíaco, o ar carregado com o cheiro acre de terra queimada e éter crepitante. Cernunnos, o recém-nascido Rei Demônio, moveu-se. Sua velocidade não era a de uma besta desajeitada, mas a de um predador puro, um borrão de sombras e chifres retorcidos que rasgou o espaço, desaparecendo de sua posição e reaparecendo diante da combatente mais próxima caída nos destroços: Skadi. O chão tremia sob seus pés, cada passo uma promessa de destruição. Uma katana de ossos negros e éter solidificado materializou-se em sua mão, a lâmina reluzindo com uma luz profana, a ponta mirando o coração da guerreira indefesa com precisão letal. Mas, no instante em que ele se preparava para a estocada, a realidade se dobrou, o ar se partindo com um estalo sônico. 

— Não se esqueça de mim, desgraçado! — Kai surgiu em um teleporte caótico, o pé envolto em éter distorcido, uma espiral de energia vermelha que colidiu com o rosto de Cernunnos em um chute que fez o ar explodir em uma onda de choque, o som reverberando como trovão.

A voz de Blade soou nos comunicadores, desprovida de surpresa, carregada apenas de uma autoridade gélida, cortando o caos como uma lâmina de gelo. — Eu já disse que não gosto de me repetir, mas novamente falarei, besta estúpida: “a batalha está longe de acabar”. Próxima onda. Agora.

 Como uma resposta ao comando, Dante apareceu bem na frente de Cernunnos, emergindo da poeira como um espectro vingador. Seu punho direito já recuado, envolto em uma aura crepitante de chamas vermelhas que dançavam como chamas vivas, pulsando com poder. 

— CHRONOS BREAK! — O grito ecoou, e o golpe, já preparado, atingiu o Rei Demônio em cheio. A explosão de poder, uma onda de energia que distorceu o espaço ao redor, lançando Cernunnos como um meteoro para trás. Ele atravessou centenas de metros, o ar gritando em seu rastro, até colidir com a base distante da Grande Árvore, o impacto criando uma cratera que fez o solo gemer e a poeira subir como uma cortina apocalíptica.

Naquele momento, reforços surgiram por toda a periferia do campo de batalha, movendo-se com a precisão de uma máquina de guerra. Flame Reapers, soldados de elite de Hilda, e outras unidades de suporte avançaram como sombras, não para lutar, mas para resgatar. Seus movimentos eram uma dança sincronizada, retirando os guerreiros mais feridos das ondas anteriores — Agrad, Loufen, Bishamon e Levy — com uma eficiência quase sobrenatural, carregando-os em direção à equipe de Elizabeth e Homura, que aguardavam.

Heisen, Kai e Dante se posicionaram, um triângulo de prontidão, seus corpos tensos como cordas de arco, os olhos fixos no horizonte de poeira. A poeira assentou, e Cernunnos caminhou para fora da cratera que seu corpo criara, ileso, sua armadura de ossos reluzindo sob a luz fraturada. Ele soltou uma risada, profunda e selvagem, e avançou com sua espada, a lâmina cortando o ar com um zumbido mortal. Mas um borrão laranja o interceptou, uma força bruta que desafiava a lógica. Beatrice, ignorando seus ferimentos, com sangue escorrendo de seus dedos, colidiu seu punho contra a lâmina de ossos de Daemon. O choque foi brutal, um clangor que ecoou como sinos de guerra; a lâmina cortou parte de seus dedos, mas a força cinética parou os dois no ar. Aprendendo com a última interceptação, Beatrice puxou o corpo para trás em um giro acrobático, lançando um chute devastador no queixo de Cernunnos, o impacto fazendo sua cabeça pender para trás. Com um salto ágil, ela se afastou, o chão rachando onde aterrissou.

— Volte, você está muito ferida! — Dante gritou, sua voz cortando o rugido da batalha. Beatrice o encarou, a fúria e a teimosia queimando em seus olhos como brasas vivas. Dante recuou instantaneamente, erguendo as mãos em rendição. — Quer dizer... faça o que quiser! Quem sou eu pra dizer o que você deve fazer? — ele falou, escondendo-se atrás de Kai, que apenas revirou os olhos.

Cernunnos riu, uma risada genuína e profunda que fez o ar vibrar, seus olhos brilhando com uma mistura de deleite e loucura. — Sim... era isso que eu esperava! — Sua voz, agora clara e articulada, ecoou com uma inteligência recém-despertada, cada palavra carregada de peso. — Eu sabia! Eu sabia que meus descendentes poderiam, enfim, me conceder a morte que tanto anseio! Estava tão perto... Falta pouco! Continuem!

— Ele recuperou o ego — Heisen murmurou, seu Devil Eye brilhando como um farol, analisando cada nuance da nova postura do inimigo, cada músculo, cada intenção. — Mas, ainda assim, existe um tempo até que ele se acostume com seus novos poderes. Mesmo sendo um Rei Demônio, acabou de se transformar.

— É verdade! — Cernunnos concordou, um sorriso cruel esticando seus lábios, os dentes afiados reluzindo. — Por isso, vocês precisam ser rápidos. Aproveitem esta chance o quanto antes!

— Olha só o sorriso no rosto dele — a voz de Vivian cortou o ar como uma lâmina, afiada e provocadora. Ela emergiu dos destroços, a tesoura gigante em mãos, o metal refletindo a luz em um brilho ameaçador. Seu corpo estava ferido, o uniforme rasgado, mas seus olhos brilhavam com desprezo puro. — Que tal admitir, Progenitor? Você não está gostando só porque poderá morrer. Você está gostando porque ama lutar.

No instante em que a verdade foi dita, uma nova e complexa runa celta brilhou na pele de Cernunnos, traçada no ar por Vivian com um movimento preciso de sua tesoura. O debuff se manifestou, o Rei Demônio, sentiu seu corpo pesar, uma lentidão sutil, mas irritante, como correntes invisíveis. O campo de batalha pulsava com energia, cada combatente em sua posição, a tensão no ar tão densa que parecia prestes a explodir. A batalha estava prestes a recomeçar, mas agora, contra um gênio tático, não uma besta, e a coreografia mortal prometia atingir seu ápice.



Na ala médica improvisada, Homura tratava de loufen. — Mestra Elizabeth... — ela começou, a confusão em sua voz. — Se Blade e os outros no QG sabiam dessa transformação, por que não avisaram? Poderíamos ter nos protegido melhor. Não faz sentido.

Elizabeth, impassível, terminou de aplicar um selo de cura em outro guerreiro. — Faz todo o sentido, Homura. Eles calcularam. — Ela se virou, a expressão clínica. — Primeiro, não podíamos saber se o ego de Daemon havia sido completamente suprimido. Avisar a todos sobre a possibilidade de uma Ascensão a Rei Demônio poderia alertá-lo, caso ele ainda estivesse analisando a batalha. Eles não queriam que ele soubesse que estávamos prontos. Eles queriam que ele fizesse.

— Mas por quê? Ele está ainda mais forte! 

— Não — Elizabeth corrigiu, um raro brilho de admiração em seus olhos. — Ele está mais poderoso, mas não mais forte. Pense. A Ascensão a Rei Demônio, como descrita nos textos, tem um preço. O usuário "queima" seu corpo, evaporando todo o seu oceano de éter em uma única detonação para forjar um novo corpo conceitual. Ele não tem mais aquela reserva quase infinita para se regenerar e evoluir. Ele agora tem um limite visível. Sua principal característica, a adaptabilidade infinita, foi neutralizada. — Ela fez uma pausa, a brutalidade da estratégia evidente. — Sim, eles colocaram todos em risco mortal. Mas foi por conseguirem pensar em coisas assim, por priorizarem o resultado acima de tudo, que Blade, Paracelso e Rani foram deixados no comando. Eles não se importam com a vida de ninguém, apenas com a vitória.



No platô, Lux encarava Blade, o vento cortante do campo de batalha chicoteando seus cabelos enquanto faíscas de magia e o clangor de armas ecoavam ao fundo. — Entendo a lógica, mas foi um risco imenso. Todo o plano agora depende desta onda de combatentes. Como pôde ter certeza de que eles conseguiriam vencer esta nova forma?

Blade permaneceu em silêncio, os olhos afiados como lâminas, fixos na dança caótica da batalha abaixo. Cada golpe, cada movimento, parecia refletir em suas pupilas como um mapa vivo. Foi Rani quem respondeu, rindo suavemente, sua voz cortando o rugido do confronto com uma confiança quase palpável. — Meu filho é tímido, Princesa. Ele não gosta de falar. Desta vez, eu farei as honras. — Ela sorriu, os olhos brilhando. — Ele já sabia o que aconteceria, pois analisou não apenas os dados desta batalha, mas de todas as outras que os garotos relataram nas termas,como os confrontos com as fadas. O campo de batalha, neste exato momento, está exatamente como ele previu.

As palavras de Rani se entrelaçavam com a coreografia frenética da luta, cada sílaba ecoando como tambores de guerra, sincronizada com o ritmo pulsante da batalha. A câmera imaginária mergulhava no coração do conflito, capturando cada movimento com precisão letal.

— Heisen e Vivian agora atuam como Debuff e Controle de Campo.

No centro do caos, Cernunnos, uma fera imponente de chifres retorcidos e olhos flamejantes, avançava com um rugido que fazia o chão tremer. Mas Vivian, com um giro gracioso, traçou no ar uma runa brilhante, sua luz dourada cortando o ar como uma lâmina. A runa explodiu em uma teia de energia que envolveu as pernas de Cernunnos, fazendo-o tropeçar com um estrondo que ecoou pelo platô. Heisen, com seu Devil Eye brilhando como um farol carmesim, apontou com precisão sobrenatural uma falha na postura do monstro, seu dedo cortando o ar como uma flecha. — Eles não apenas enfraquecem Daemon, mas Heisen, conhecendo seus "alunos" como ninguém, está coordenando uma frente de ataque muito mais precisa do que a anterior. — Cada ordem de Heisen era um fio invisível, unindo os combatentes em uma sinfonia mortal, seus movimentos tão afinados quanto uma orquestra.

— Kai é o Sub-DPS de Dano Contínuo, e Dante é o Sub-DPS de Suporte.

A cena se acelerou, a câmera seguindo Kai, um borrão preto e branco que parecia desafiar as leis da física. Ele se teleportava em uma dança frenética, suas lâminas girando em arcos reluzentes, cada golpe forçando Cernunnos a erguer seus braços em uma defesa desesperada. O monstro não tinha um segundo de respiro, seus rugidos de frustração abafados pelo zumbido constante das lâminas de Kai cortando o ar. Então, o foco mudou para Dante, posicionado a distância, seus olhos focados enquanto disparava projéteis, pedras em alta velocidade cobertas de ether que explodiam em rajadas sônicas ao atravessar círculos mágicos no formato de um relógio antigo acertando o flanco de Cernunnos.

Com um movimento fluido, ele correu até Beatrice, tocando seu ombro. Uma aura vermelha crepitante envolveu-a como um manto, sua respiração ofegante se estabilizando em um instante, os olhos brilhando com nova determinação. — Kai nunca dá espaço para o oponente, enquanto Dante pode tanto causar dano em qualquer alcance quanto acelerar seus aliados, aumentando a velocidade de cura, recuperação de stamina e uso de poder. — Cada disparo de Dante era um compasso, cada toque um catalisador, transformando o campo de batalha em um espetáculo de sincronia e potência.

Rani deu um sorriso orgulhoso, seus olhos refletindo o brilho da luta como se ela própria estivesse no centro do palco. — E, finalmente, Beatrice continua sendo a DPS Primária, encarregada de desferir o dano massivo.

Naquele instante, o caos se alinhou em um momento perfeito. Kai, com um último teleporte, abriu uma brecha na defesa de Cernunnos, suas lâminas traçando um arco que desviou um golpe do monstro. Beatrice, com os olhos em chamas e a aura vermelha pulsando, avançou como uma força da natureza. Seu punho, carregado com uma energia tão densa que distorcia o ar ao seu redor, colidiu com o peito de Cernunnos. O impacto foi cataclísmico — o chão rachou, uma onda de choque varreu o platô, e o rugido do monstro foi abafado pelo estrondo que ecoou montanha abaixo. — O grupo anterior era perfeito para lutar contra uma besta monstruosa e irracional. Este... este grupo é especialista em lutar contra pessoas.

A batalha continuou, cada movimento uma peça em um tabuleiro vivo, cada combatente um mestre em sua arte, coreografados por uma mente que via além do caos, transformando a luta em uma obra-prima de estratégia e violência.

Cernunnos sorriu, um gesto que não continha calor, apenas a satisfação de um artesão diante de um material promissor. — Sim... era isso que eu esperava. Seus ataques são admiráveis, descendentes. Mas ainda são superficiais. — Ele limpou um filete de sangue dourado do lábio. — Vocês precisam atacar mais forte. Muito mais forte, se quiserem realmente me matar.

Com uma velocidade que desafiava a própria percepção, ele saltou, tornando-se um borrão negro contra o céu artificial. No ápice de seu salto, brandiu sua katana de ossos. 

 — Corte a Escuridão da Noite : Meia Lua 

Naquele momento um corte de éter negro desceu, sobre Beatrice a atingido e a afundando no chão. A terra se abriu com um grito, uma ravina profunda e fumegante apareceu dividindo o cenário.

— Não se esqueçam — sua voz ecoou — eu também sou um caçador.

Dante reagiu instantaneamente, seus canhões de éter disparando projéteis acelerados pelo tempo. Mas Cernunnos, agora em terra, movia-se com uma graça letal, sua katana um ciclone negro que cortava cada disparo no ar com uma precisão insultuosa.

— Eu ainda me sinto lento… hahaha sua habilidade e de fato muito irritante garota vampira — disse Cernunnos, sem desviar o olhar de Dante, mas suas palavras eram para Vivian. — É fascinante. Impor a decadência através da verdade. Mas há uma verdade que você mesma se recusa a admitir. — Ele parou, um sorriso cruel se formando. — Você se preocupa com aquele garoto teleportador. Durante toda a batalha, seus olhos o procuram, garantindo sua segurança a cada instante.

Vivian, preparando um novo ataque, congelou. Um rubor de fúria e vergonha tomou seu rosto. No mesmo instante, as runas que enfraqueciam Cernunnos piscaram e se extinguiram. A regra auto imposta de sua habilidade a traíra.

Sempre que o oponente de Vivian fala uma verdade sobre ela (seja uma que ela conheça ou desconheça, mas que seja factualmente correta sobre sua natureza, passado ou segredo), o alvo perde seus Debuffs.

Aproveitando a vulnerabilidade conceitual, Cernunnos desapareceu. Ele surgiu diante de Vivian, a mão agarrando seu pescoço, e saltou para os céus. Lá em cima, ele a liberou e, enquanto ela caía, desferiu uma tempestade de cortes de éter negro, um combo brutal que a afundou contra o solo, abrindo uma nova cratera.

— Chuva da Meia Noite: Tempestade Lunar

Heisen disparou, aparecendo para acertar Cernunnos “Distraído”. No entanto uma colisão de lâminas ecoou, o aço verde da espada de Heisen contra o osso negro do Rei Demônio. Heisen procurava uma fraqueza, um ponto de falha, mas não havia nenhum. A postura, o corpo, a fluidez de Cernunnos... tudo era perfeito.

"Se não existe uma, eu criarei!" — Heisen pensou, focando seu Devil Eye para implantar uma vulnerabilidade conceitual no ombro de Cernunnos. Mas o Rei Demônio sentiu a sutil alteração no fluxo de éter, a fração de segundo de concentração que a habilidade de Heisen exigia. Naquela abertura infinitesimal, ele atacou. Sua lâmina cortou o braço de Heisen, e um chute poderoso em seu estômago o lançou como uma bala, desaparecendo a quilômetros de distância.

Dante surgiu atrás de Cernunnos, um novo Chronos Break crepitando em seu punho. Mas Cernunnos se virou, a katana cortando o ar. — Pare de usar essa habilidade inútil — ele disse, o corte dissipando a energia de Dante. Naquele instante, uma bola de fogo rosa curativa atingiu as costas de Dante, cortesia de Homura, que invadiu o campo para um rápido resgate. Cernunnos moveu-se para atacar novamente, mas a bandeira de Bishamon bloqueou o golpe. Uma troca rápida de golpes se seguiu, mas Cernunnos era mais rápido, enchendo a Deusa da Guerra de cortes superficiais.

— Sempre com os mesmos truques, garoto? — Cernunnos rosnou, quando o chute familiar de Kai o atingiu por trás. Ele se virou para reclamar, mas Kai já não estava lá. Estava acima dele, caindo com um soco carregado de força espacial que o esmagou contra o chão.

Dante, observando à distância, ficou impressionado com a teimosia selvagem de seu clone.



No platô, Blade estalou a língua. — Rani, você errou em sua especulação. Esqueceu de uma variável que eu conheço bem, mas pela qual você nunca se interessou. 

Rani ergueu uma sobrancelha. — E qual seria? 

— Kai — respondeu Blade, e seu olhar se tornou incrivelmente focado.



No campo de batalha, algo mudou. Kai, em vez de recuar, avançava, sua velocidade aumentando, seus movimentos se tornando mais precisos. Bishamon, sentindo a mudança, usou sua bandeira não para fortalecer a todos, mas para concentrar seu poder em Kai.

Na mente de Kai, as palavras de Skadi ecoavam: "Uma fogueira que queima rápido demais se extingue com a mesma velocidade." Ele lembrou de sua Black Box instável, de como sempre usava seu poder de forma agressiva e descontrolada. Mas então, a imagem de Dante, usando o Taikou com um domínio preciso, surgiu. Destruição era uma coisa. Controle era outra. "Chega!" ele pensou. "Está na hora de instalar ordem no meu caos."

Usando seu poder espacial, ele não atacou. Ele reescreveu o campo de batalha. Com um grito, arrancou uma vasta porção do solo, que se fragmentou em dezenas de plataformas flutuantes, criando uma arena tridimensional. Um labirinto de pedra e ar onde ele podia usar o 3D completo, enquanto Cernunnos, preso a uma visão mais linear, era forçado a reagir.

Kai começou a se teleportar entre as plataformas, buscando brechas. Cernunnos, irritado, fechou os olhos, usando seu éter para sentir a localização exata para onde Kai se moveria. Ele sentiu uma concentração de energia e atacou, sua lâmina cortando uma rocha que Kai havia teleportado no lugar.

A rocha explodiu em uma cortina de poeira. Naquele instante, Kai, que havia suprimido completamente sua aura, caminhou por baixo, desprotegido, e copiou a técnica que vira Dante usar.

"Olha só, seu verme," ele pensou, um sorriso arrogante no rosto. "Vou usar a sua habilidade para fazer o que você não consegue."

Durante a distração de Cernunnos, ele desferiu sua própria variação do Chronos Break. Mas em vez de apenas poder temporal, ele imbuiu o soco com uma força espacial reversa, uma anomalia que puxou o corpo de Cernunnos em direção ao seu punho, multiplicando a força destrutiva do impacto.



— É aí que está a diferença — a voz de Blade soou no platô, fria e cheia de uma certeza absoluta. — Rani, você sempre olhou para Dante, o talento natural que treinou para se tornar mais forte. Eu sempre observei Kai. Ele não tem talento natural. Mas ainda assim é um prodígio com a capacidade de melhorar. Seu ego e como um tigre faminto, sua vontade de estar no topo, o força a devorar tudo e todos ao seu redor — táticas, poderes, fraquezas — para se aprimorar a cada instante. E isso... isso sempre esteve nos meus cálculos.



Cernunnos ergueu-se do chão, o sangue negro evaporando de suas feridas. Ele olhou para Kai, não com raiva, mas com uma admiração genuína e predatória. — Hahaha! Sim! — Sua voz ressoou, agora calma e terrivelmente lúcida. — Você conseguiu me surpreender, garoto. Realmente, digno de toda a minha atenção.

A trégua durou um piscar de olhos. Cernunnos avançou, e a batalha recomeçou, mas de uma forma terrivelmente diferente. A força bruta deu lugar a uma esgrima sutil, uma dança macabra de cortes negros violentos, cada movimento delicado, mas extremamente preciso e coeso. Ele aumentava seu ritmo, sua velocidade, sua força, começando a superar Kai, que se via forçado a uma defesa desesperada.

Vendo seu rival ser pressionado, os outros não aceitaram a derrota. Um a um, os guerreiros feridos se levantaram. Beatrice, com os punhos cerrados. Bishamon, apoiando-se em sua bandeira. A batalha se intensificou, uma sinfonia de destruição contra um único rei.

Enquanto o inferno se desenrolava, Dante, observando de longe, tentava se levantar, forçando seu corpo exausto a voltar para a luta. "Pare." A voz soou em sua cabeça, fria e familiar. Ele procurou, mas não viu ninguém. "Aqui do seu lado, idiota." Dante virou-se e viu a si mesmo. Ou melhor, seu outro eu, O Antigo e “verdadeiro” Dante, parado com os braços cruzados e uma expressão de puro desdém. 

— O que você quer? — Dante rosnou. 

— O que eu quero? Estou me esforçando ao máximo para não tomar o volante enquanto você comete os mesmos erros idiotas de novo e de novo. — O outro apontou para a batalha frenética de Kai. — Olhe para ele. Antes, no labirinto, ele não era tão diferente de você. Mas agora, ele ficou inegavelmente mais forte. E isso porque você, que tem a habilidade de aprender e evoluir. 

— O que você quer que eu faça?! — Dante explodiu, frustrado. — Eu já fiquei mais forte! Dominei o Taikou, estou me esforçando! 

— você por acaso e Burro? — retrucou o alter ego. — Você não está fazendo o mais importante. Você tem uma cabeça. Use-a para pensar de verdade, idiota! 

— E como eu posso usar a cabeça para derrotar um Rei Demônio?! — Questionou Dante. 

— Alem de idiota agora tambem e medroso? — suspirou o outro eu, massageando as têmporas. — Você também é um Rei Demônio. Não há motivo para ter medo. 

— Não tenho tempo para perder com suas desilusões de chunibyou! — Se só veio aqui para falar bobagem então não me atrapalhe.

— Engraçado você falar isso, já que está visivelmente falando sozinho. — O alter ego apontou. Dante seguiu seu olhar e viu Homura, à distância, encarando-o com uma expressão confusa, o que o fez corar de vergonha.

Dante tentou ignorá-lo, voltando a focar na luta, buscando uma brecha. "Vai agir assim? Buscando desculpas? Vai fazer o mesmo quando se encontrar com o Astreus da Morte?" Aquelas palavras o atingiram como um soco. A seriedade e uma profunda frustração tomaram seu rosto.

A batalha atingia um novo pico. Cernunnos agora enfrentava Kai, Beatrice e Bishamon, enquanto os outros davam suporte. Mais Flame Reapers surgiram, posicionando-se para evacuar os feridos. 

— Cansei disso — a voz de Cernunnos ecoou. Com um único corte horizontal de éter negro, ele ceifou a vida de todos os Flame Reapers em seu caminho. A reação foi instantânea. Uma onda de frio emanou de Skadi, sua fúria silenciosa mais terrível que qualquer grito. Ela disparou, deslizando sobre uma lâmina de gelo que se formava sob seus pés, desviando de cortes e ataques com uma graça vingativa. Sua lâmina de patins colidiu com a katana negra de Cernunnos. Os dois se encararam, olhos de gelo contra abismos de fúria. 

Black Box: Nevasca Eterna.

Uma cúpula de gelo e neve ofuscante explodiu do ponto de impacto, expandindo-se e engolindo a todos que estavam próximos — Kai, Beatrice, Bishamon, Vivian e o próprio Cernunnos. O mundo se tornou branco, e o som da batalha foi subitamente abafado.

Dante, deixado do lado de fora, viu a barreira se fechar. A frustração o consumiu. Ele socou o chão de terra e cinzas, uma nuvem de poeira erguendo-se com o impacto inútil. — Droga! 

Homura se aproximou, observando-o em silêncio, esperando.

Parte 9 

O mundo se refez em uma sinfonia de branco e silêncio, como se o tecido da realidade fosse tecelado por fios de gelo eterno. A Black Box de Skadi era uma floresta congelada, presa em uma nevasca perpétua, onde árvores antigas se curvavam sob o peso de camadas intermináveis de geada, e o chão era um tapete de neve virgem que rangia sob cada passo como ossos se quebrando. O ar, fino e cortante como lâminas afiadas, queimava os pulmões com cada inspiração, carregado de cristais de gelo que dançavam no vento uivante. A lei imposta por sua criadora era absoluta e impiedosa: dentro daquele domínio, a capacidade de recuperar éter era congelada, um vazio gélido que devorava a essência vital de todos. Cada feitiço, cada golpe, cada pingo de poder gasto era um passo em direção à exaustão final, um relógio inexorável ticando para o colapso. Incluindo para ela, Skadi, cuja respiração formava nuvens de vapor que se dissipavam na tempestade impiedosa.

— Lobo do Inverno! — a voz de Skadi ecoou como o uivo de um lobo ancestral, reverberando pelas árvores congeladas, e a nevasca se intensificou, transformando-se em uma cortina branca e rodopiante que engolfava tudo em um vórtice cegante de flocos afiados como navalhas. Em um instante, todos os seus aliados desapareceram, engolidos pela tempestade, suas silhuetas borradas e sumindo no caos branco, como fantasmas se dissolvendo no nada.

Cernunnos, agora isolado no coração da floresta gelada, sorriu, seus dentes afiados reluzindo sob a luz difusa que filtrava através da nevasca. Ele tentou sentir o fluxo de éter ao seu redor, estendendo os sentidos como raízes em busca de água, mas era como tentar ouvir um sussurro em meio a um furacão, o vento rugindo e abafando qualquer vestígio de energia. 

— Hahaha, interessante... Já faz tempo que não luto em uma Black Box. Vejamos o quão refinada é a sua, Rainha do Gelo. — Sua voz ecoava com um tom de deleite sombrio, enquanto ele erguia os braços, os chifres retorcidos coroando sua figura imponente contra o pano de fundo branco.

Ele lançou vários cortes de escuridão a esmo, as lâminas negras irrompendo de suas mãos como sombras vivas, cortando o ar com um zumbido mortal, mas sendo devoradas pela neve que as envolvia e dissipava em fragmentos inofensivos. Mas a resposta veio de um ângulo impossível, um truque da nevasca que distorcia a percepção. Um floco de neve ao lado de Beatrice, a quilômetros dali na percepção normal, foi trocado de lugar com ela por Kai em um piscar de olhos, o espaço se dobrando como papel amassado. 

— Perfure os Céus! — Beatrice gritou, sua voz cortando o vento, enquanto uma broca de energia espiral se formava em seu punho, girando com fúria luminosa, perfurando a nevasca e atingindo Cernunnos com um impacto que fez o chão tremer, cristais de gelo voando em todas as direções. Cernunnos aguentou o impacto, seu corpo massivo recuando um passo, o gelo rachando sob seus pés como vidro estilhaçando, enquanto ele grunhia de surpresa misturada a admiração.

Antes que pudesse retaliar, com sua mão se erguendo para contra-atacar, uma figura surgiu por trás dele como um espectro emergindo da neve. Vivian. Ele se preparou, girando com graça predatória, sabendo que o ataque dela não seria destrutivo, mas sutil, uma armadilha de debuffs. Ele só precisava deixá-la aplicar o debuff e então dizer outra verdade sobre ela, seus olhos brilhando com cálculo frio. No entanto, no instante em que a tesoura dela estava prestes a tocar sua pele, Vivian se transformou em Mio em um flash de ilusão, seu corpo se contorcendo e mudando de forma como água fluindo. O erro foi instantâneo e fatal, os olhos de Cernunnos se arregalando por uma fração de segundo. Antes que pudesse processar a mudança de tática, Mio se transformou novamente, assumindo a forma de Dante em um movimento fluido, como uma dança de metamorfose. 

— Chronos Break! — O punho carregado de poder temporal, pulsando com chamas vermelhas que iluminavam a nevasca, o atingiu em cheio, o impacto distorcendo o tempo ao redor, fazendo flocos de neve pairarem no ar antes de explodir em uma onda de choque que varreu a floresta gelada. No momento do impacto, Cernunnos entendeu: 

"Ela trocou de lugar com a verdadeira depois que eu a joguei para longe...", sua mente raciocinando em meio ao caos, enquanto seu corpo era lançado para trás, derrubando árvores congeladas que se partiam como estalactites.

Aproveitando a abertura, Bishamon avançou como uma força da natureza, sem sua bandeira, apenas com os punhos envoltos em éter dourado que brilhavam como sóis minúsculos na tempestade branca. Ela, Kai e Beatrice iniciaram uma sequência brutal de golpes, uma tempestade de ataques que não dava a Cernunnos um segundo para se recuperar — Bishamon com socos que ecoavam como trovões, Kai teleportando-se em borrões pretos e brancos para flanquear, e Beatrice girando sua broca em arcos devastadores. 

Ele bloqueava com braços cruzados, desviava com giros ágeis, mas golpe atrás de golpe o atingia, cobrindo seu corpo de feridas que fumegavam no ar gelado, sangue negro congelando instantaneamente na neve.

— Sim! É disso que estou falando! — ele rugiu, sua voz um trovejar que abalava as árvores, enquanto sua aura explodia em uma onda de energia sombria, os afastando como folhas em um vendaval, neve voando em um redemoinho caótico. — Mas ainda não é o suficiente! Vocês podem ir muito além! — Seus olhos flamejavam com excitação selvagem, o chão ao seu redor rachando em fissuras que expeliam vapor gelado.

Ele avançou, a lâmina negra, cortando o ar com fome voraz, mas Kai se teleportou, criando uma distorção espacial que bloqueou o corte, o espaço se dobrando como um escudo invisível, faíscas de éter explodindo no impacto. Cernunnos se virou para um segundo ataque, girando com velocidade sobrenatural, e uma nova espada se formou em sua outra mão — uma lâmina de seu próprio sangue, que se tornou dourada e se imbuiu de éter, criando uma espada flamejante que chiava contra a neve. Lua e Sol. A espada negra e a dourada. 

— Corte do Eclipse! — Ele gritou, executando um corte duplo em um movimento coreografado como uma dança mortal, um de escuridão que engolia a luz e outro de luz que cegava, desfez a nevasca por completo, revelando a armadilha final em um flash de claridade súbita.

Skadi, Heisen e Loufen emergiram das sombras das árvores agora expostas. Loufen disparou uma cortina de raios de luz que cortavam o ar como flechas luminosas, iluminando a floresta em explosões de brilho. Enquanto Skadi avançava com uma lança de gelo negro, todo o seu éter restante concentrado na ponta que pulsava com energia congelante, o ar ao redor dela congelando em cristais afiados. 

— Fraqueza: Desaceleração Motora! — Heisen aplicou um último debuff, seu Devil Eye brilhando intensamente, antes de cair de joelhos, o éter esgotado, confiando tudo a Skadi, seu corpo tremendo no chão gelado.

Cernunnos cortou cada raio de luz com giros precisos de suas espadas duplas, faíscas voando em arcos luminosos, mas não conseguiu bloquear o avanço de Skadi completamente. Ele virou o corpo em um movimento fluido, e a lança de gelo negro perfurou seu flanco, congelando suas células e impedindo a regeneração, cristais de gelo se espalhando como veias negras em sua pele. 

— Não darei a coroa da vitória apenas para os humanos! — Loufen gritou, disparando em forma de luz, um borrão etéreo, a espada de cristal pronta para cortar a cabeça de Cernunnos em um arco descendente perfeito.

O Rei Demônio sorriu, seus olhos brilhando com astúcia. Aproveitando o impulso do golpe de Skadi, ele fincou a mão no chão como uma âncora, o gelo rachando sob a pressão, parando seu movimento com um estrondo. Com a outra mão, atravessou o estômago da guerreira de gelo com sua lâmina negra, o metal penetrando com um som úmido e cruel. 

— Pode levar meus órgãos internos, Rainha de Gelo... mas os seus também serão meus! — A ponta da lâmina saiu pelas costas de Skadi, mirando o raio de luz que era Loufen, e Cernunnos explodiu seu éter com violência, uma erupção de energia que distorcia o ar.

A explosão estilhaçou a realidade, a Black Box se desfazendo em fragmentos de gelo que choviam como confetes mortais, devolvendo todos ao campo de batalha original, o platô rochoso agora marcado por crateras fumegantes. O corpo sem vida de Loufen caiu ao chão com um baque surdo, sua forma de luz se dissipando em partículas inertes. O abdômen de Skadi era um buraco enorme, sangue congelando nas bordas, mas ela, com suas últimas forças, tentava congelar a ferida por dentro, cristais se formando em uma tentativa desesperada de estancar o fluxo. 

— Rápido... — Cernunnos elogiou, sua voz rouca de excitação, antes de mover sua espada para perfurar a cabeça dela em um golpe final descendente.

Naquele instante, Elizabeth apareceu como um raio, materializando-se do nada, bloqueando a ponta da lâmina com a sola do pé em um chute preciso que ressoou como metal contra metal, chutando o Rei Demônio para trás com uma força que o fez skidar pelo chão, pedras voando. Ela tirou um cigarro do bolso com calma deliberada, acendendo-o com o éter residual no ar, a chama dançando em seus olhos frios enquanto inalava profundamente. 

— Não mexa com os meus pacientes — ela disse, a fumaça saindo de seus lábios em espirais preguiçosas, contrastando com a intensidade da batalha.

Cernunnos se levantou com um rugido, poeira caindo de sua forma imponente, e olhou em volta, vendo Anna, Levi, Hilda e Agrad de pé novamente, suas auras renovadas brilhando como faróis. Ele riu, uma gargalhada profunda que ecoava pelo platô.

— Finalmente! Encontrei a desgraçada da curandeira! Agora, se eu te matar, todos morrerão de forma definitiva! 

— Pode ser — Elizabeth respondeu, sua voz serena como uma lâmina afiada, enquanto duas espadas curtas e serrilhadas se materializavam em suas mãos, o metal rangendo com energia sinistra. — Mas que tipo de médica inútil eu seria, se morresse tão facilmente no campo de batalha? 

Parte 10 

A cúpula da Nevasca Eterna se estilhaçou, devolvendo os combatentes a um mundo de cinzas e ruínas. Os feridos, cuspindo sangue e fragmentos de gelo, caíam de joelhos, o choque da realidade tão brutal quanto o da batalha. Dante, observando das linhas de trás, correu na direção de Homura.

— Rápido! Os feridos! Você pode curá-los! — ele disse, a urgência em sua voz. Homura balançou a cabeça, o suor escorrendo por seu rosto. — Não... não posso mais. Meu éter... A cura que apliquei em você foi tudo que me restava.

A frustração atingiu Dante como um golpe físico. Ele olhou para Skadi, no chão ao lado de Elizabeth, para Bishamon, mal se mantendo de pé, e para Kai, que parecia tentar se arrastar para o campo de batalha — todos combatentes que poderiam ser muito mais úteis do que ele na continuação da batalha. "Droga... será que foi mesmo a melhor ideia ter me curado?"

"Não seja idiota." A voz de seu outro eu cortou seus pensamentos, fria e irritada. "Não é nisso que você deveria estar pensando agora. A questão não é se a decisão dela foi correta. A questão é como você vai ser útil para torná-la correta."

Dante cerrou os punhos. Ele se sentia inútil, um espectador enquanto Kai, Beatrice e os outros se superavam. "Eu não consigo... não consigo pensar em nada. Talvez eu seja mesmo burro comparado a ele..."

"Pare de falar bobagem!" a voz gritou em sua mente. "Ou já esqueceu? Nós somos a mesma pessoa! Se ele era inteligente, essa inteligência ainda está em algum lugar dentro de você! Pare de pensar no óbvio, no que está na sua frente! Você manipula o tempo, então pare de perdê-lo e pense de verdade!"

Irritado e frustrado, Dante fechou os olhos, forçando sua mente a ir além. Ele mergulhou em um fluxo de memórias aceleradas. Suas antigas lutas passavam por sua cabeça como um filme antigo: a batalha contra Nicklaus, a batalha contra o Avatar do Enigma, a batalha contra o Avatar da Vida… Ele começou a analisar o que poderia estar passando despercebido, o que ele estaria deixando de ver em tudo aquilo.



No planalto de comando, a atmosfera era igualmente tensa. Blade se levantou, sua decisão tomada. — Paracelso, prepare-se. Nós vamos para o campo de batalha. Eu, você, Lux e a garota, Tenma. 

— O quê? Agora? — Paracelso perguntou, um brilho de interesse em seus olhos. 

— Meus cálculos indicam que deveríamos ter reduzido a vitalidade do inimigo para 35%. Mas ainda estamos longe disso. Nesse ritmo, todos no campo de batalha morrerão. — Ele caminhou em direção à borda do platô. — Rani, o comando é seu.

— Espere — a voz calma de Rani o deteve. 

Ele se virou, impaciente. — Estou sem tempo. 

— Antes de ir, você precisa me ouvir. — Um sorriso sutil brincou nos lábios dela. — Afinal, fui gentil e deixei você se gabar sobre sua análise do Kai. Agora é a minha vez.

Blade a encarou, confuso. 

Rani continuou: — É verdade, eu não olhava para o Kai como você e Vivian faziam. Mas todos entenderam o motivo errado. Não era algo bobo, como ignorá-lo por não ter o talento natural de Dante. — Seu olhar se desviou para a figura de Dante, distante e concentrado no campo de batalha. — A razão pela qual sempre foquei em Dante, a razão que o tornou tão especial a ponto de eu desejar um clone... é algo muito mais simples e que nunca fiz questão de esconder. E agora, creio que é a oportunidade perfeita para você ver com seus próprios olhos.

Enquanto Rani falava, o mundo ao redor de Dante pareceu silenciar. O caos da batalha, os gritos, as explosões... tudo se tornou um ruído de fundo. Em sua mente, as peças começaram a se encaixar, não como uma tática de combate, mas como uma compreensão mais profunda, uma verdade que seu outro eu tentava lhe mostrar. Ele não era apenas um lutador. Ele era algo mais. E no olhar de Rani, a quilômetros de distância, havia a certeza de quem aguardava o desabrochar de sua maior criação.

Parte 11

No coração oculto de outro continente, envolto nas sombras eternas do esconderijo da Horizon, Love, Lucia, Rasputin e Delta se reuniam em torno de um espelho de água místico criado por Ceto. A superfície ondulante refletia o caos distante da batalha, como um portal vivo para o apocalipse. O ar estava carregado de uma tensão palpável, o silêncio quebrado apenas pelo eco distante de rugidos e explosões que reverberam através da visão mágica. De repente, passos ecoaram do breu profundo da caverna, lentos e deliberados, como o tique-taque de um relógio inexorável. Nicklaus emergiu das trevas, seguido por uma ceto silenciosa, sua presença imponente projetando sombras que pareciam dançar nas paredes úmidas. Seus companheiros congelaram, os olhares carregados de apreensão — ninguém sabia como o líder reagiria ao fracasso recente, e o ar parecia mais pesado, sufocante.

— Então, chefinho, como foi a reunião? Aposto que devem ter conseguido ótimos resultados, não é? — Rasputin tentou quebrar o gelo com uma risada forçada, sua voz ecoando de forma pífia nas paredes rochosas, uma tentativa desesperada de dissipar a nuvem de tensão que pairava sobre eles. Mas Nicklaus o ignorou completamente, seus olhos frios e calculadores fixos no espelho de água, onde as imagens da batalha se desenrolavam como uma tapeçaria de destruição.

— Então aquele é o novo rei demônio, Cernunnos — disse Nicklaus, sua voz baixa e ressonante, como o ronco de uma tempestade distante, carregada de curiosidade.

— É o que parece. A coroa de Oberon o forçou a se transformar — respondeu Delta, mantendo os olhos baixos, evitando o contato direto com o olhar penetrante de seu líder, sua postura rígida revelando o desconforto interno.

— Eu não entendo por que, ainda assim, nos tirou de lá! Só agora ele se transformou, antes ele ainda não era um rei demônio. Isso significa que ter continuado a lutar não quebrava nenhuma das suas regras! — gritou Love, sua voz explodindo em frustração, os punhos cerrados tremendo enquanto ele gesticulava em direção ao espelho, o rosto corado de raiva contida.

— Ei, Love, mantenha a postura! Lembre-se com quem está falando, idiota! — repreendeu Ceto, sua voz afiada como uma lâmina, os olhos estreitados em advertência, enquanto ela se posicionava protetoramente ao lado de Nicklaus.

— Está tudo bem, Ceto. Eu entendo a frustração dele — Nicklaus a interrompeu com um gesto aceno de mão, sua expressão impassível, como se a explosão de Love fosse mera brisa passageira.

— Ainda assim, ele não deveria exagerar só por isso. Deveria lembrar que, de qualquer forma, o resultado não vai importar caso tenhamos êxito. Mesmo que todos os Scarlunes morram, isso não faria diferença significativa — disse Kali, emergindo da mesma direção sombria de onde Nicklaus viera, seus passos leves e graciosos contrastando com a dureza de suas palavras, o ar ao seu redor parecendo se carregar de uma energia acusadora.

— Eu sei bem disso, mas… ainda assim… — Love murmurou, sua frustração evidente no modo como mordia o lábio inferior, os olhos fixos no espelho onde aliados caíam como peças de um jogo cruel.

— Se está incomodado com o fato de ter causado isso, mantenha-se calado e lembre-se que o causador foi você mesmo. Afinal, foram vocês que falharam no plano — falou Kali com um tom acusador, seus olhos brilhando com um desprezo velado, aproximando-se como uma predadora farejando fraqueza.

— O que você disse?! — Love rosnou, avançando um passo ameaçador, os músculos tensos como cordas prestes a romper, o ar entre eles crepitando com hostilidade iminente.

Mas, de repente, Nicklaus parou os dois apenas batendo palmas uma única vez, o som ecoando como um trovão na caverna, trazendo-os de volta à realidade com uma autoridade inquestionável. O gesto gesto dissipou a tensão como uma onda de choque, forçando-os a recuar.

— Kali e Love, entendo o ponto de vocês e seus sentimentos, mas lembrem-se das regras acima de tudo: sem a minha autorização, é terminantemente proibido lutar a sério contra um companheiro — declarou Nicklaus, sua voz firme e inabalável, os olhos percorrendo o grupo como um farol de comando.

— Eu já falei como eu amo essa regra — disse Rasputin, se intrometendo na conversa com um sorriso torto, tentando aliviar o clima mais uma vez, embora sua risada soasse nervosa no silêncio que se seguiu.

— Mas, respondendo às perguntas de antes: primeiro, Rasputin, a reunião em Marte foi proveitosa. Conseguimos coisas interessantes que gostaria de discutir com todos mais tarde — Nicklaus continuou, sua postura relaxada, mas os olhos ainda fixos no espelho. — Segundo, sobre o fato de Ceto ter tirado vocês, ela agiu de forma correta, Love. Afinal, se Kanade viu Daemon virando um rei demônio e soltou um alerta, independente do fato de vocês estarem ou não lá, o resultado seria o mesmo.

— Tsk! Mas ainda podíamos ter mudado o resultado final! Está vendo a situação atual? Talvez todos morram mesmo… Mesmo que isso seja irrelevante. E o Dante? Você já o considera como um membro oficial, não é verdade? Então, o que faremos? Se não invadirmos agora, talvez ele morra — Love insistiu, sua voz ganhando um tom de urgência, apontando para as imagens tremulantes onde a batalha se aproximava de um clímax sangrento.

— Hum… não diga bobagens — falou Nicklaus com um dos raros sorrisos que ele dava, um leve curvamento dos lábios que iluminava seu rosto de forma enigmática, como se ele visse além do caos, em um futuro que apenas ele compreendia.

— O quê? Eu não estou falando nenhuma bobagem! Dante pode ser forte, mas não pode me vencer em uma luta. Ele caiu até mesmo na armadilha de Delta! Do jeito que as coisas estão, não tem como eles vencerem. A cura de Elizabeth é poderosa, mas não cura a perda de ether. Agrad pode recuperar a stamina, mas não o ether dos aliados. A única que teria uma chance disso é Bishamon, que está nas últimas. Cernunnos não vai dar a Elizabeth a chance de curá-la, sabendo disso. Assim que ele acabar com ela, derrotar os demais só com o ether restante será fácil. Não tem que pensar muito para saber que a vitória agora é impossível — Love argumentou.

Todos que analisavam a luta até então chegaram à mesma conclusão, um murmúrio coletivo de concordância pairando no ar úmido da caverna, as imagens refletidas pintando rostos com tons de dúvida e resignação.

— O que me diz, Kali? Concorda com a afirmação dele? — Nicklaus olhou para Kali, apontando para o espelho com o queixo, seu gesto convidando-a a uma avaliação mais profunda.

Kali passou alguns segundos analisando os combatentes e o campo de batalha, seus olhos estreitados em concentração, o reflexo da batalha dançando em suas pupilas como chamas distantes.

“Não vai dar para ela dizer algo assim observando apenas o resultado. É claro que ela pode dizer outra coisa, mas isso não muda os fatos.” — Pensou Love internamente

— Ele tem razão — Kali falou, concordando com uma voz firme, quebrando o silêncio. — Pelo estado dos caídos e do rei demônio, eles não devem ter mais que 20% de seu ether, enquanto Cernunnos ainda deve ter uns 40% a 50%. A curandeira deles só deve ter capacidade de realizar mais duas curas antes de se esgotar.

Love se impressionou com a precisão que ela teve, mesmo sem ter visto a batalha por completo, seus olhos se arregalaram ligeiramente em admiração relutante.

— Tá vendo! — exclamou Love, gesticulando triunfante.

— Mas… eu sei que não é isso que o senhor acredita ou está pensando — completou Kali, sua voz ganhando um tom de intriga, virando o jogo com uma percepção afiada.

— O quê? — Love a encarou, confuso, o rosto franzido em incompreensão.

— Ah… e o que eu estou pensando? — Nicklaus falou, como se estivesse medindo a percepção de Kali, um brilho de aprovação sutil em seus olhos.

— O senhor está pensando que, mesmo nessa situação, eles ainda podem virar o jogo e vencer… pois Dante está lá — Kali respondeu, mas a última parte travou em sua boca antes de ser dita, como se as palavras carregassem um peso de inconformidade.

— Mas por quê? Por que toda essa fé no Dante? Tem alguma coisa de tão especial nele que eu não sei? — Love pressionou, sua curiosidade agora inflamada, inclinando-se para frente.

— Na verdade, eu também gostaria de saber. Se o senhor puder, poderia me contar o porquê de todo o interesse nele? Isso não surgiu do fato de ele possivelmente ser um Astreus não registrado, já que seu interesse já existia muito antes do recente aparecimento dele — interveio Lucia, sua voz suave, mas carregada de genuína curiosidade, rompendo seu silêncio habitual.

— O quê? Ele já tinha essa expectativa antes mesmo dele voltar… — Delta, que era uma novata, murmurava no canto, sua voz baixa como um sussurro, os olhos fixos em Nicklaus com uma mistura de admiração e confusão.

— Pois bem, falarei para vocês. Explicarei por que tenho um interesse em particular em Dante Scarlune — Nicklaus anunciou, sua voz ganhando um tom narrativo, como se estivesse desvelando um segredo antigo. O grupo se aquietou, o ar da caverna parecendo suspender-se em expectativa, o espelho de água agora um mero pano de fundo para a revelação iminente.

Como em um flashback, a mente de Nicklaus vagava para muito tempo no passado, as imagens do espelho se dissolvendo em memórias vívidas. Para ele, que viveu todos aqueles dias indo pelo caminho mais longo, cerca de vinte anos atrás, durante o incidente da Torre Dates. Naquela época, Nicklaus estava mais decidido do que nunca a completar sua bomba dimensional e, assim, alcançar o território dos seres divinos. Seus olhos brilhavam com sua determinação, um fogo inextinguível que iluminava as profundezas de sua alma. Não fazia muito tempo que ele fizera uma descoberta: os olhos de alguém podem, realmente, transmitir o brilho de sua determinação, de sua ambição. 

Talvez seja uma alteração do ether refletida em seus olhos, uma manifestação sutil de poder interior, ou a crença das pessoas de que os olhos são a janela da alma, mas independente do motivo real o importante é que foi assim que ele imediatamente soube escolher cada um de seus membros, pois dentro de seus olhos uma determinação sem igual brilhava, queimava com um fogo sem limite.

 A ambição, os sentimentos, esses eram os poderes mais fortes de um ser humano, e ele acreditava que só uma ambição sem limites poderia até mesmo matar um deus. Somente seres humanos imersos em desejos assim poderiam fazer a diferença verdadeira. No entanto, houve um garoto que lhe mostrou algo que ele nunca tinha visto antes — uma chama que transcendia o humano, uma loucura que desafiava o cosmos.

“— Cala a boca, velho! Não é você quem decide quem vai vencer!” — ecoou a voz jovem e desafiadora de Dante em sua memória, o momento congelado no tempo como uma fotografia eterna.

Aquele garoto com quem ele lutou, o primeiro em anos que quase frustrou seu plano na Torre Dates, tinha algo que parecia completamente diferente de tudo e de todos. A intensidade, a chama de seus olhos era diferente de todas que ele já vira — Foi quando olhou dentro daqueles olhos que ele percebeu uma determinação — ou loucura — que poderia mudar o próprio conceito de realidade, uma faísca capaz de incendiar o tecido do universo. 









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