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The Fall of the Stars: Capítulo 1 - Novo Mundo

  • Foto do escritor: AngelDark
    AngelDark
  • 14 de jul.
  • 36 min de leitura

Atualizado: 9 de out.

Volume 1: A Queda

Parte 1

“Há quanto tempo o mundo existe? Você já se perguntou se a realidade ao seu redor é, de fato, real? E se não for? Há alguma forma de autenticar isso?"

A indagação ecoava, lembrando discussões filosóficas. Como o artigo de Nick Bostrom, "Are You Living in a Simulation?", publicado em 2003. Nele, Bostrom argumenta a possibilidade de vivermos em uma simulação criada por uma civilização avançada. Ele postula que, com tecnologia suficiente, seria viável criar simulações indistinguíveis do mundo real, completas em detalhes visuais e sensoriais.

Contudo, a hipótese de Bostrom vai além da simples indistinguibilidade visual. Ele levanta a questão de já estarmos imersos em uma simulação plenamente desenvolvida – com sua própria história, eventos, habitantes e até mesmo nossas memórias implantadas. Neste cenário, não notaríamos qualquer anomalia. Possuímos memórias de anos, conhecimento histórico de séculos, mas, ainda assim, este mundo poderia ter sido instanciado há meros... cinco minutos. Todas as nossas lembranças, toda a tapeçaria da história humana, poderiam ter sido inseridas em nossas mentes nesse instante primordial, para que a natureza artificial de nossa existência passasse despercebida. O sol da manhã filtrava-se através de nuvens esparsas, projetando sombras longas e dançantes sobre o concreto rachado do terraço, enquanto o ar carregado de umidade fazia as páginas imaginárias de um livro filosófico virarem sozinhas na mente de quem ponderava tais enigmas.

Dante despertou com um solavanco, o corpo inteiro tremendo como se um choque elétrico o tivesse percorrido, e o ar frio da altitude invadiu seus pulmões como uma lâmina gelada, misturando-se ao cheiro acre de concreto úmido e poluição que pairava no ar como uma névoa invisível. Ele estava no topo de um prédio, sem a menor recordação de como havia chegado ali, o coração batendo descompassado contra as costelas, ecoando em seus ouvidos como um tambor distante. Seus olhos varreram a paisagem urbana, reconhecendo o local, enquanto uma brisa repentina bagunçava seus cabelos pretos e vermelhos, fazendo-os dançar levemente contra sua testa suada.

— Ah, o terraço de Babylon. Nostálgico — murmurou, um sorriso torto surgindo em seus lábios, os cantos da boca se curvando devagar como se relutassem em admitir a familiaridade. — Lembro de vir aqui quando tinha uns sete anos.

O lugar parecia o mesmo, exceto por algo que ele não lembrava ter feito, uma discrepância que fez sua sobrancelha se franzir ligeiramente. Gravados no chão, entalhados a faca, havia dezenas de cálculos complexos, as linhas irregulares e profundas no concreto refletindo a luz de forma irregular. Todas, no entanto, convergiam para uma única e insistente resposta: 5 minutos.

Dante sorriu, um sorriso com a boca fechada embora um dos caninos tivesse saído, ele observava o chão enquanto uma rajada de vento mais forte fazia suas roupas farfalharem contra o corpo, enviando um arrepio sutil pela espinha.

“Heh. Uma mensagem do meu eu do passado. Um enigma deixado para trás pelo grande sábio que um dia fui. Interessante.” ele pensava em sua mente como se estivesse imitando um narrador.

Aquela grande questão já havia sido implantada em sua cabeça desde a infância. Há quanto tempo o mundo existe? E se tudo isso... tivesse sido criado há cinco minutos? A ideia, absurda e filosófica, fincou-se em sua mente desde o momento em que a ouviu em um jogo. Todas as suas memórias, a história da humanidade, a sensação do vento no rosto... tudo poderia ter sido implantado um instante atrás, uma simulação perfeita para que ninguém notasse a farsa.

— pu pu pu, quer saber, que se dane — disse para si mesmo, Tirando e guardando as fotos do chão no celular como quem arquiva uma pista para o próximo arco da história, os dedos deslizando pela tela com um toque leve e distraído, enquanto uma brisa passageira fazia as bordas de sua camisa tremularem. — Ainda bem que não tem câmeras aqui, senão eu ‘tava’ ferrado.

Concentrado na tela, ele não ouviu a porta do terraço se abrir, o rangido metálico abafado pelo vento que soprava com mais intensidade agora, carregando o cheiro metálico de chuva iminente.

— IDIOTA!

Dante saltou, o coração na garganta, pulsando acelerado como se tentasse escapar do peito, enquanto uma gota de suor frio escorria por sua têmpora. Um garoto de cabelos vermelhos estava parado na entrada, o peito subindo e descendo em respirações ofegantes.

— O que você ainda ‘tá’ fazendo aí? A gente ‘tá’ atrasado!

— Atrasado? Pra quê? — Dante perguntou, genuinamente confuso, piscando rapidamente enquanto tentava processar.

— Meio-dia, seu imbecil! O pronunciamento do diretor!

— Ah, droga!

Sem pensar duas vezes, Dante disparou escada abaixo, os pés batendo contra os degraus de concreto com ecos rápidos e irregulares, o ar fresco do terraço dando lugar ao ar abafado e empoeirado da escadaria, com Luck em seu encalço, os passos dele mais ritmados e firmes ecoando logo atrás.

— Que droga! Por que não me avisou antes? — reclamou Dante, ofegante, sentindo o ar queimar nos pulmões enquanto descia.

— E desde quando eu sou sua babá? — retrucou Luck, a voz ecoando nas paredes estreitas da escada, enquanto ele inclinava a cabeça ligeiramente para evitar um degrau irregular. — Com todo esse seu problema com o tempo, já passou da hora de comprar um relógio! Usa o despertador, pelo amor de Deus!

— O quê!? Acorrentar meu pulso com um grilhão mundano e estragar essa silhueta perfeita? Jamais! — Dante protestou, fazendo uma pose dramática com a mão no peito, o gesto exagerado fazendo seu equilíbrio oscilar levemente. — Além do mais, não sou eu quem tem problemas. É o próprio fluxo do tempo que ainda não entendeu que deve se curvar perante o meu protagonismo!

Nesse exato instante de auto exaltação, seu pé prendeu no degrau de baixo, o solado escorregando em uma camada fina de poeira acumulada, e o mundo girou em um borrão de sombras e luzes filtradas pelas janelas estreitas. Dante tropeçou espetacularmente, rolando escada abaixo em uma sequência cômica de baques e gemidos, cada impacto enviando vibrações pelo corpo, o ar escapando dos pulmões em grunhidos abafados, enquanto poeira se erguia em nuvens leves ao seu redor.

Luck parou, cruzou os braços com um suspiro profundo que fez seu peito se expandir e contrair visivelmente.

— E lá vamos nós de novo.

Enquanto continuava sua descida caótica, uma epifania o atingiu, os pensamentos girando em sua mente como o próprio corpo.

“Pu pu pu pu, eu vejo! O roteiro cósmico está se desenrolando! O protagonista escorrega, desafia a gravidade e cai nos braços de uma donzela com grandes coxas! Tão clichê, mas tão delicioso! Se o destino exige fanservice, quem sou eu para negar?”

Ele se preparou para o impacto, um largo sorriso no rosto apesar da dor latejante nas costelas, os braços esticados como se abraçassem o ar, pronto para o abraço do destino, enquanto o vento da queda fazia suas roupas inflarem como velas.

— Que seja uma beldade com coxas grossas!

Então, seus olhos focaram na figura que o esperava na base da escada, a visão se estabilizando em meio ao giro, o coração pulando uma batida ao reconhecê-la.

— Droga, é a Nero... Socorro!

A garota, vendo a avalanche humana despencar em sua direção, simplesmente ergueu a perna com uma graça letal, os músculos das coxas se contraindo visivelmente sob a roupa, o cabelo longo balançando levemente com o movimento rápido, e o chutou com precisão letal bem no estômago. O ar saiu dos pulmões de Dante em um sopro explosivo, o impacto enviando uma onda de choque pelo corpo, fazendo-o dobrar ao meio no ar antes de cair.

— E aí, Dante. Já teve seu momento de sorte hoje? — perguntou ela, a voz seca como o deserto, os lábios se curvando em um sorriso mínimo e sarcástico, enquanto ela baixava a perna devagar.

— Oi... Nero... — gemeu ele, antes de desabar no chão, um filete de sangue cômico no canto da boca, escorrendo devagar pela pele, enquanto ele piscava para conter as estrelas dançando em sua visão. — Um golpe digno… de uma heroína de um mangá de delinquente...

Luck finalmente desceu, parando ao lado de Nero com uma expressão de quem já sabia o final do filme, os ombros relaxados e um suspiro escapando dos lábios, enquanto o vento sutil da escada bagunçava levemente seus cabelos.

— E aí, Nero?

— O de sempre, Luck. Só o Dante sendo o Dante.

Parte 2

19 de julho de 19998, 14:30 da Tarde - Ilha Flutuante Apocalypse (Babylon)

Dante recobrou a consciência sentado em uma cadeira no vasto auditório, a cabeça latejando como se um martelo invisível golpeasse suas têmporas. O ar dentro do salão era denso, impregnado com o leve aroma de madeira polida e o murmúrio abafado de centenas de vozes ecoando contra as paredes altas. A ilha flutuante de Apocalypse, lar da Academia Babylon, pairava silenciosa nos céus, um monumento à fusão entre ciência e magia, sua estrutura desafiando a gravidade com uma graça austera.

E sua arquitetura gótica a tornava bem chamativa; ao olhar de relance pela janela de vitral, que se estendia do chão ao teto, era possível ver os drones patrulhando, suas luzes piscando em vermelho e azul contra o céu nublado, o zumbido mecânico quase imperceptível sob o rumor da multidão.

Antes que pudesse abrir a boca para perguntar o que aconteceu, Nero, sentada ao seu lado, respondeu sem tirar os olhos do palco, o cabelo escuro balançando levemente enquanto ela cruzava os braços, a postura rígida como uma estátua.

— Você desmaiou. Luck te arrastou até aqui. Agradeça a ele.

Dante virou a cabeça, massageando a nuca com uma careta, os dedos pressionando a pele onde a dor parecia pulsar. — Valeu, meu fiel companheiro — murmurou, a voz carregada de um sarcasmo brincalhão, mas uma nova pontada de dor o fez franzir o rosto, os olhos se estreitando em suspeita. — Espera aí. Luck, você bateu na minha cabeça?!

Luck, sentado do outro lado, inclinou-se para trás na cadeira, os braços cruzados atrás da cabeça. — Eu? Óbvio que não, você deve ter batido a cabeça na parede enquanto eu te carregava — disse ele, olhando para o lado, fingindo assobiar, os lábios formando um arco exagerado enquanto uma sobrancelha se erguia em uma expressão de inocência forçada.

— Como isso é fisicamente possível?! — exclamou Dante, a voz subindo uma oitava, ecoando pelo auditório e fazendo algumas cabeças virarem em sua direção. — Eu não bateria numa parede a menos que você me jogasse contra uma!

De repente, Dante sentiu um olhar pesado vindo da primeira fila, como uma corrente de gelo que o fez estremecer. A professora Lilith, sentada com os outros docentes, o encarava fixamente, seus olhos estreitos brilhando com uma intensidade que parecia perfurar sua alma. O cabelo vermelho dela caía em cascata sobre os ombros, e uma mecha balançou levemente quando ela inclinou a cabeça, o movimento quase imperceptível, mas carregado de ameaça.

“Ela percebeu que eu estava desmaiado?” — pensou Dante, o pânico subindo pela espinha como uma onda elétrica. Ele engoliu em seco, o som audível apenas para ele mesmo.

Como se lessem seus pensamentos, Luck e Nero responderam em uníssono, suas vozes sincronizadas em uma harmonia quase cômica:

— Sim.

— Sim.

— Agora ferrou. Estou muito morto. — Dante começou a esconder o rosto, afundando na cadeira como se pudesse se fundir ao assento, os dedos entrelaçando-se nervosamente enquanto tentava se tornar invisível.

— Pois é — confirmou Luck, o tom divertido, um sorriso torto curvando seus lábios enquanto ele tamborilava os dedos no braço da cadeira, o ritmo leve contrastando com o caos interno de Dante.

Dante então ouviu cochichos atrás de si, vozes abafadas que serpenteavam pelo ar como fumaça, carregadas de desdém. Ele inclinou a cabeça ligeiramente, enquanto tentava captar as palavras.

— Ei, aqueles não são os Scarlune?

— O que o Luck ‘tá’ fazendo com eles? Andar com gente dessa família...

“Hmm, fofocar sobre o protagonista em locais onde ele obviamente pode ouvir, típico de personagens secundários” — Dante ponderou, os olhos se estreitando enquanto ele cruzava os braços. A ideia o fez sorrir internamente, um brilho travesso surgindo em seus olhos. — Eu sei que meu carisma é nível SSS, mas de onde saiu todo esse interesse em você? — murmurou, a voz carregada de uma autoconfiança exagerada.

Luck soltou uma gargalhada, o som ecoando alto o suficiente para atrair mais olhares curiosos. Ele jogou a cabeça para trás, enquanto batia a mão na coxa. — Foi só isso que você entendeu da conversa?

A confusão de Dante foi interrompida quando um homem alto, de cabelos brancos que brilhavam como prata sob a luz dos lustres de cristal, subiu ao palco com passos largos e confiantes. O diretor Aleister Crowley, seus penetrantes olhos roxos varrendo a multidão como um predador avaliando sua presa.

— Bom dia a todos — começou ele, a voz carregada de tédio, cada palavra arrastada como se ele estivesse recitando um roteiro contra sua vontade. — Como sempre, sou forçado pela lei a dar as boas-vindas, falar da escola, passar avisos... um saco. Por que o chefe não pode delegar isso? Que tédio! Ao menos posso ver os rostos das novatas e apreciar as saias curtas que...

Ao seu lado, o professor Vlad, um homem de aparência severa, com cabelos negros com mechas roxas e olhos que pareciam cortar o ar, começou a desembainhar lentamente sua espada. O aço brilhava sob a luz dos vitrais.

— Foque no importante, Aleister. Ou eu corto sua cabeça e termino o discurso — disse Vlad, a voz grave e fria, sem um pingo de humor, enquanto ele inclinava a cabeça ligeiramente.

— Vlad! Uma decapitação? Isso é meio brutal para o primeiro dia! — exclamou Aleister, os olhos roxos arregalando-se em pânico enquanto ele levantava as mãos em rendição.

— Eles estão em Babylon. É bom se acostumarem — Vlad respondeu, impassível, a lâmina deslizando mais um centímetro para fora da bainha, o brilho do aço refletindo nos olhos de alguns estudantes da primeira fila.

— CALMA, CALMA, JÁ ENTENDI! — gritou o diretor, a voz ecoando pelo auditório enquanto ele limpava a garganta, tentando recuperar a compostura. Ele alisou o casaco com as mãos, os dedos tremendo levemente, e forçou um sorriso que parecia mais uma careta. — Pois bem! Eu sou Aleister Crowley. E ofereço boas-vindas a Babylon, não só uma escola, mas sim uma cidade inteira. Como sabem, queremos gente com poderes para pesquisar e desenvolver. Façam as missões do quadro, peguem suas recompensas, mas 20% é nosso. Vocês são livres para usar tudo que o prédio tem a oferecer, contanto que apareçam nas aulas uma vez por mês. Não reprovamos ninguém, nosso interesse é puramente científico e financeiro. Em troca, damos abrigo e conhecimento. Não nos responsabilizamos por mortes em brigas. E ser aluno de Babylon garante passe livre para qualquer lugar do mundo. Boa sorte em mais um ano de aventuras! Por fim, qualquer aluna que quiser aulas particulares pode vir até...

Antes que terminasse a frase, Vlad o chutou com uma força brutal, o movimento tão rápido que o ar pareceu sibilar. Aleister voou pelo palco, o casaco esvoaçante como asas quebradas, e se chocou contra a parede do fundo com um baque surdo que fez o auditório estremecer. Poeira subiu da parede, flutuando no ar como uma névoa fina, enquanto o impacto ecoava como um trovão abafado.

Vlad caminhou até o microfone, cada passo deliberado, o som das botas contra o palco ecoando como batidas de um tambor de guerra. Ele parou, os olhos varrendo a multidão com uma intensidade que fez alguns alunos desviarem o olhar.

— Como ouviram — disse ele, a voz gélida ecoando pelo silêncio, cortante como o fio de sua espada. — Liberdade máxima. Não há diferença entre crianças e adultos aqui. Somos todos pesquisadores. Novatos, seus quartos estão nos documentos. Dúvidas, perguntem. E um aviso: não visitem o porão à noite. A escola não se responsabiliza. Isso é tudo.

Os estudantes começaram a se levantar, o murmúrio voltando como uma onda que se ergue lentamente, enquanto cadeiras rangiam e papéis farfalhavam. O ar parecia mais leve agora, mas ainda carregado com a tensão do discurso.

— Que saco! Todo ano o mesmo episódio filler — resmungou Dante, bocejando e esticando os braços acima da cabeça, os músculos das costas protestando com o movimento enquanto ele jogava o peso do corpo para trás, fazendo a cadeira balançar perigosamente.

— Relaxa, é nosso terceiro ano. A partir do quarto, não precisamos mais vir — disse Luck, levantando-se com um movimento fluido.

Nero, prática como sempre, interveio, já de pé, o cabelo balançando quando ela virou a cabeça para encarar Dante. — E agora? Sala de aula?

— Pra quê? — disse Dante, espreguiçando-se com um sorriso. — O tutorial já acabou. A exploração de mundo aberto começa agora. Vamos farmar uns pontos por aí.

E assim, o trio se misturou à multidão, desaparecendo nos corredores labirínticos de Babylon, o eco de seus passos se perdendo no murmúrio dos outros estudantes, enquanto o vento frio que entrava pelas janelas altas do castelo fazia as cortinas pesadas balançarem como fantasmas silenciosos.

Parte 3

Vinte minutos depois, na biblioteca silenciosa de Babylon, o ar estava impregnado com o aroma de pergaminhos antigos e livros modernos, um silêncio quase palpável quebrado apenas pelo farfalhar ocasional de páginas viradas e pelo tique-taque distante de um relógio pendurado na parede. As estantes de madeira escura, altas o suficiente para se perderem nas sombras do teto abobadado. Dante estava absorto em seu celular, sentado em uma cadeira de carvalho que rangia a cada movimento, os fones de ouvido enfiados nos ouvidos, o fio balançando ligeiramente enquanto ele mexia a cabeça ao ritmo da música.

— Cara, que episódio incrível! — exclamou para si mesmo, gesticulando com as mãos no ar, os dedos traçando arcos exagerados como se estivesse conduzindo uma orquestra invisível. — A animação, a trilha sonora, tudo! — Sua voz ecoou um pouco mais alto do que pretendia, reverberando pelas estantes e fazendo uma estudante nas proximidades erguer a cabeça com uma careta de desaprovação.

Nero, sentada à mesa larga de mogno à sua frente, nem se deu ao trabalho de desviar os olhos do livro grosso que segurava, as mãos firmes segurando as bordas do tomo como se fosse uma arma. — Dá para acreditar — disse ela, a voz seca com um toque de sarcasmo, enquanto virava uma página com um movimento preciso, o som do papel rasgando o silêncio. — Você não parava de gritar como se eles pudessem te ouvir.

Dante pausou o episódio, os polegares pairando sobre a tela brilhante do celular. Ele inclinou a cabeça, o pescoço estalando levemente com o movimento, e olhou para o livro nas mãos dela. — Que livro é esse? — perguntou, a curiosidade genuína misturada a um tom provocador, enquanto ele se inclinava para frente, apoiando os cotovelos na mesa, fazendo-a ranger sob seu peso.

Luck, que vasculhava uma prateleira próxima, respondeu antes dela, sua silhueta parcialmente oculta pelas sombras das estantes. Ele segurava um livro empoeirado, o polegar roçando a capa de couro enquanto se virava. — Pela capa, algo sobre os Astreus — disse, a voz casual, mas com um toque de diversão, como se soubesse que a resposta provocaria uma reação.

— Que isso, Nero? Virou religiosa? — provocou Dante, um sorriso torto surgindo em seus lábios, enquanto ele batia os dedos na mesa em um ritmo rápido, o som abafado ecoando no silêncio da biblioteca.

Nero ergueu uma sobrancelha, o movimento lento e deliberado, o olhar cortante como uma lâmina enquanto ela fechava o livro com um estalo firme, o som reverberando como um trovão minúsculo. — E você não acredita neles? — retrucou, a voz carregada de um desafio sutil, enquanto cruzava os braços, o tecido da blusa roçando contra a pele.

Dante recostou-se na cadeira, o encosto rangendo sob seu peso, e cruzou as pernas com um ar de quem estava prestes a recitar um monólogo ensaiado. — Ah, os Astreus. O panteão de deuses desta realidade — disse, com um tom de quem analisa uma ficha de RPG, os olhos brilhando com um misto de ironia e fascínio. — Uma lore interessante, admito. Mas se fossem chefões de verdade, já teriam aparecido em algum lugar, não acha? Até agora tão sendo muito mal aproveitados — concluiu

Luck, que ouvia a conversa enquanto folheava o livro em suas mãos, interveio com um sorriso malicioso, os dentes brilhando por um instante sob a luz suave. Ele apoiou um ombro contra a estante, o movimento fazendo uma pequena nuvem de poeira se erguer ao seu redor. — Engraçado, vindo do cara que jurava ter conhecido a décima sétima Astreus — disse, a voz carregada de provocação, enquanto ele fechava o livro com um estalo e o devolvia à prateleira com um gesto preguiçoso.

Nero concordou com um leve aceno, o movimento preciso e contido, os olhos brilhando com um divertimento raro. — Pensando bem, eu também lembro disso — disse, o tom quase conspiratório, enquanto ela tamborilava os dedos na capa do livro, o som rítmico misturando-se ao tique-taque do relógio.

Dante fez uma careta, desviando o olhar para a janela, onde o céu nublado lançava sombras escuras sobre os vitrais, o brilho opaco refletindo em seu rosto. — B-bobagem! E que memória seletiva é essa para lembrar de algo específico assim? — exclamou, a voz subindo um pouco enquanto ele agitava as mãos no ar, o movimento rápido fazendo os fones de ouvido se desconectarem do telefone, espalhando o áudio do episódio que estava vendo por toda a sala.

Naquele exato momento, uma voz fria e cortante ecoou pelo silêncio, afiada como uma lâmina atravessando o ar denso da biblioteca. — Então era esse anime que você estava vendo?

— Sim e estava ótimo! — respondeu Dante, distraído, sem se virar, tentando conectar o fone. — Um dos melhores episódios da temporada...

— E aposto que se atrasou para a reunião por causa de um anime também — a voz continuou, agora mais próxima, cada palavra carregada com um peso que parecia comprimir o ar ao redor.

— Não tenho certeza, mas... deve ter sido — murmurou Dante, ainda absorto, enquanto ele franzia a testa, tentando lembrar.

Um calafrio percorreu sua espinha, como se uma corrente de ar gelado tivesse invadido a biblioteca, fazendo os pelos de seus braços se arrepiarem. Ele finalmente percebeu de quem era a voz, o coração pulando uma batida, e virou-se lentamente, o pescoço estalando com o movimento hesitante. Seus olhos encontraram a figura da professora Lilith, parada a poucos passos, os braços cruzados e o olhar fulminante fixado nele como um raio pronto para atingir.

— Ah, não. — Dante começou a suar frio, uma gota escorrendo lentamente pela têmpora, enquanto ele engolia em seco, o som audível no silêncio opressivo.

Então, com um movimento rápido e fluido, Lilith desferiu um chute poderoso que o atingiu em cheio no peito, o impacto ecoando como um trovão abafado. Dante voou para trás, a cadeira tombando com um estrondo, os fones de ouvido arrancados de suas orelhas e caindo no chão com um estalo. Ele atravessou as portas duplas da biblioteca, o corpo girando no ar antes de aterrissar com um baque surdo no corredor, o som reverberando pelas paredes de pedra. Poeira se ergueu ao seu redor, flutuando como uma névoa enquanto ele gemia, o corpo esparramado no chão frio.

— Atrasado de novo, idiota — declarou Lilith, parada na soleira, a silhueta imponente recortada contra a luz suave da biblioteca. Seu olhar fulminante parecia atravessar Dante, o ar ao seu redor carregado com uma aura de autoridade inquestionável, enquanto o som de seus passos ecoava ao se afastar, cada batida como um martelo selando o destino de Dante.

Parte 4

Dante estava torto em sua cadeira na sala de aula, o corpo coberto de faixas e ataduras. O ar da sala era abafado, carregado com o cheiro de giz, enquanto a luz do sol da tarde filtrava-se pelas janelas altas, lançando longas faixas douradas que cortavam o chão de tábuas rangentes. Ele apontou um dedo acusador, o gesto lento e dramático, como se estivesse prestes a declarar uma verdade universal.

— Isso é abuso de poder! Violência contra um estudante! Saiba que eu tenho meus direitos! — gritava ele, a voz carregada de indignação teatral. Ele se endireitava na cadeira, que protestava com um rangido baixo.

— Cala a boca! — retrucou Lilith da frente da sala, parada diante do quadro negro, o giz em sua mão suspenso no ar como uma arma pronta para ser usada. Sua voz cortou o ambiente como uma lâmina, e ela inclinou a cabeça ligeiramente, os olhos estreitos brilhando com uma mistura de exasperação e autoridade. — Você mal aparece e ousa falar em direitos? — O tom dela era afiado.

Dante cruzou os braços, a camisa amassada roçando contra as faixas, e inclinou-se para frente, o que fez a cadeira balançar perigosamente. — Mas o diretor disse que eu só preciso vir uma vez ao mês! — protestou, o tom subindo em uma mistura de desafio e petulância, enquanto ele batia o pé no chão, o som abafado ecoando contra as tábuas.

— Que pena para você que eu sou sua professora, não ele — retrucou Lilith, a voz agora carregada de um sarcasmo gélido, enquanto ela apoiava uma mão no quadril, o movimento fazendo o tecido de sua blusa ondular levemente. — Se quer brincar de salvador do mundo, deveria ao menos prestar atenção nas minhas aulas para poder ficar mais forte.

Dante levantou-se com um salto, o punho cerrado em frente ao peito como se estivesse prestes a liderar uma revolução. — Não é que eu queira! É o meu fardo, o meu DESTINO! — declarou, a voz ecoando pela sala com uma intensidade exagerada, enquanto ele jogava a cabeça para trás, os olhos brilhando com fervor. — Eu sou o escolhido! Aquele que quebrará as correntes da causalidade e guiará a humanidade a um novo final verdadeiro! — Ele esticou o braço, apontando para o teto como se desafiasse os próprios deuses, o movimento fazendo o ar ao seu redor parecer vibrar com sua energia.

Lilith suspirou, exasperada, o som longo e pesado, enquanto ela esfregava a têmpora com dois dedos, como se tentasse afastar uma dor de cabeça iminente. Com um movimento rápido, quase imperceptível, ela arremessou o apagador de giz em direção a Dante, o objeto cortando o ar com um zumbido. Dante desviou com facilidade, inclinando-se para o lado com um sorriso presunçoso, o corpo movendo-se com uma graça instintiva. — Errou! — exclamou, o tom carregado de provocação, enquanto o apagador acertava a parede atrás dele com um baque seco.

Mas antes que pudesse saborear sua vitória, Nero se levantou de sua cadeira com um movimento fluido, o som das pernas da cadeira arranhando o chão ecoando como um aviso. Ela deu um soco preciso e brutal no estômago de Dante, o impacto enviou uma onda de choque pelo corpo dele, fazendo-o cair sobre a mesa em silêncio. Os outros alunos explodiram em aplausos, o som de palmas enchendo o ambiente como uma onda, enquanto Dante ainda deslizava lentamente pela mesa, gemendo.

No meio da comoção, uma aluna na primeira fila levantou a mão, o movimento hesitante, os dedos tremendo levemente enquanto ela ajeitava os óculos. — Professora, a Ais faltou de novo — disse, a voz tímida, quase engolida pelo burburinho dos colegas.

Lilith, ainda de pé diante do quadro, respondeu sem hesitar, o tom impassível, como se estivesse anunciando o clima. — Está tudo bem… — disse, cruzando os braços, o tecido da blusa esticando-se contra os ombros. — Parece que ela morreu na última missão.

A notícia caiu como uma pedra na sala, o ar parecendo ficar mais pesado, o murmúrio dos alunos silenciando-se instantaneamente. Dante, que se sentava direito em sua cadeira, apoiando-se na mesa, ficou sério, o sorriso brincalhão desaparecendo de seu rosto. Ele piscou, o movimento lento, como se tentasse processar a informação. — O corpo foi encontrado? — perguntou, a voz mais baixa agora.

— Não. Mas a professora Chloe sentiu o Ether dela desaparecer — respondeu Lilith, o tom neutro, mas com um peso que parecia carregar anos de experiência com tais notícias.

Nero, que mexia em seu celular, o brilho da tela refletindo em seus olhos, ergueu o olhar, o movimento tão sutil que quase passou despercebido. — Era a missão da Torre Dates. Esse é o sexto time a fracassar — disse, a voz firme, enquanto seus dedos pausavam sobre a tela, o toque leve fazendo o dispositivo emitir um clique baixo.

Luck assobiou, o som longo e agudo cortando o silêncio tenso, enquanto ele se recostava na cadeira, as mãos cruzadas atrás da cabeça, o corpo relaxado apesar da gravidade do momento. — Sexto time... A recompensa deve estar alta — comentou, o tom leve, mas com um brilho calculista nos olhos.

— Seis milhões — disse Lilith, consultando o terminal em seu pulso, a luz azulada do dispositivo iluminando seu rosto por um instante enquanto ela deslizava o dedo pela tela.

Um alvoroço tomou conta dos estudantes, vozes se sobrepondo em uma cacofonia de excitação e descrença. — Seis milhões! Um Caçador Rank S vai pegar essa! — gritou um aluno no fundo, o entusiasmo fazendo sua voz ecoar pelas paredes.

— De jeito nenhum! — gritou Dante, os olhos brilhando com uma determinação quase maníaca, enquanto ele se levantava de sua cadeira com um salto, ignorando as dores no corpo. Ele apontou para si mesmo com o polegar, o gesto cheio de confiança exagerada. — EU vou pegar essa missão!

Nero e Luck o encararam, as expressões contrastantes: Nero com uma sobrancelha erguida em ceticismo, Luck com um sorriso torto de quem já esperava algo assim. — Tem certeza? — perguntou Luck, inclinando-se para frente, o tom carregado de curiosidade genuína, enquanto ele tamborilava os dedos na mesa, o som rítmico ecoando no caos da sala.

— Óbvio! Seis milhões! Vocês têm noção de quantas Art Figures, volumes de mangá e pizzas de calabresa com borda recheada isso compra?! — exclamou Dante, os braços abertos como se estivesse abraçando o próprio futuro.

— Tenho certeza de que há coisas mais úteis para se comprar — disseram os alunos do fundo.

— Luck, Nero, O que me dizem? — Ele girou nos calcanhares, apontando para os dois com um entusiasmo que fazia o ar ao seu redor parecer vibrar.

Luck sorriu, o canto da boca se curvando em um arco, enquanto ele se levantava, a cadeira rangendo sob o movimento. — Eu sempre quis visitar a tal 'Torre do Terror' — disse, o tom leve, mas com um brilho de aventura nos olhos.

Nero deu de ombros, o movimento casual, mas com uma determinação silenciosa enquanto guardava o celular no bolso. — Se os dois malucos vão, eu também vou — disse, a voz prática, mas com um toque de resignação divertida.

— Então é melhor se apressarem — avisou Lilith, a voz agora com um traço de diversão, enquanto ela cruzava os braços, o terminal em seu pulso piscando com uma notificação. — O professor Vlad decidiu pegar a missão. Ele parte em uma hora.

Com um grito que ecoou pela sala, Dante agarrou Nero pelo braço, o movimento brusco fazendo-a tropeçar levemente antes de recuperar o equilíbrio. Ele saiu correndo, os pés batendo contra o chão de madeira com ecos rápidos, atropelando quem estivesse na frente. Nero resmungou, mas seguiu, seus passos firmes contrastando com a energia caótica de Dante. Luck os acompanhava com um passo mais calmo, mas rápido, o sorriso ainda no rosto.

Ao chegarem ofegantes ao salão de missões, o ar carregado com o zumbido elétrico dos portais de teletransporte, foram informados por um monitor que outro grupo já havia partido pelo portal, o brilho azul do dispositivo pulsando como um coração mecânico. Sem perder um segundo, Dante puxou Nero e Luck, disparando em direção ao portão de teletransporte, o som de seus passos ecoando pelo corredor de pedra enquanto o vento frio do salão fazia suas roupas farfalharem. A promessa de aventura pulsava no ar, tão tangível quanto o calor de seus corpos exaustos, enquanto eles corriam para alcançar o destino incerto que os aguardava.

Parte 5

19 de julho de 19998, 17:30 da Tarde - Torre Dates (Alexandria)

A Torre Dates. O nome soava como um desafio nos lábios dos veteranos, uma lenda sussurrada nos corredores de Babylon, carregada pelo eco de vozes abafadas e olhares furtivos, como se pronunciá-lo em voz alta pudesse invocar algo indizível. Éramos dez, um grupo de jovens tolos o suficiente para aceitar o convite da torre, atraídos pela promessa de glória e recompensa. Para a maioria, era apenas uma aventura de fim de semana, uma história para contar ao redor de uma fogueira, com risadas e exageros. O ar ao redor da torre era denso, saturado com o cheiro úmido de terra revirada e o leve toque metálico de ferrugem, enquanto o vento gélido uivava baixo, como um lamento preso na garganta da paisagem. Contra o céu cinzento, a silhueta da torre se erguia como uma cicatriz negra, suas janelas quebradas parecendo olhos vazios que nos observavam.

Seguíamos a liderança confiante de Carla, uma veterana que caminhava com a certeza de quem já havia enfrentado o pior e saído ilesa. Seus passos ecoavam com firmeza no solo irregular, o casaco longo roçando contra a grama alta, enquanto ela mantinha a cabeça erguida, os olhos brilhando com uma determinação que parecia desafiar a própria torre. Eu, uma caloura, tentava imitar sua postura, endireitando os ombros e forçando um passo firme, mas meus olhos teimavam em desviar para a silhueta ameaçadora da torre e para as incontáveis lápides que a cercavam, tortas e cobertas de musgo, como dentes podres emergindo da terra. Cada lápide parecia pulsar com uma presença silenciosa, e um calafrio percorreu minha espinha, um pressentimento que se alojou como uma pedra fria em meu estômago.

— Por que tem um cemitério aqui? — A pergunta escapou dos meus lábios como um sopro, frágil e trêmulo, enquanto eu apertava os punhos, as unhas cravando-se na palma da mão, tentando ancorar minha coragem.

Carla deu uma risadinha, o som leve e forçado, como se tentasse quebrar a tensão que pairava sobre o grupo. Ela virou a cabeça, o movimento rápido fazendo o ar ao seu redor ondular. — Não tem ninguém enterrado aí, caloura. É só uma lenda. Dizem que uma lápide nova aparece para cada um que morre lá dentro — disse, o tom brincalhão, mas com um toque de desconforto, enquanto ela chutava uma pedra solta no caminho, o som ecoando baixo no silêncio opressivo.

— E isso deveria me acalmar? — sussurrei para mim mesma, o vento frio levando minhas palavras, enquanto eu puxava o casaco mais apertado contra o corpo, o tecido roçando contra a pele arrepiada.

A recepção da torre era uma boca escura e sombria, um portal de sombras que parecia engolir a luz do dia. O ar fedia a poeira seca e a algo mais, algo metálico e adocicado que fez meu estômago revirar, como se o próprio ambiente estivesse impregnado de morte. Foi ali que a sensação de aventura começou a morrer, substituída por um peso que comprimia o peito. Atrás de um balcão de madeira carcomida, uma mulher nos esperava, a figura imóvel como uma estátua. Uma cicatriz medonha descia de sua sobrancelha até o queixo, repuxando seu rosto em uma máscara de perpétua indiferença, a pele pálida refletindo a luz fraca de uma lâmpada tremeluzente pendurada acima. Seus olhos, no entanto, eram poços vazios, desprovidos de qualquer luz ou emoção, e o olhar parecia atravessar cada um de nós, como se já soubesse o destino que nos aguardava. O tom de brincadeira do nosso grupo silenciou instantaneamente, o riso morrendo nos lábios como uma chama apagada.

— Este lugar é perigoso — disse ela, a voz monótona, cada sílaba caindo como uma pá de terra sobre um caixão, enquanto ela permanecia imóvel, as mãos repousando sobre o balcão, os dedos ossudos como galhos secos. — Só entrem se estiverem preparados para morrer.

Ela empurrou um pergaminho amarelado e frágil sobre o balcão, o papel rangendo sob seus dedos, como se protestasse contra o toque. Um registro para as lápides. A bravata de antes se dissipou como fumaça, o ar ficando mais pesado a cada segundo. Um por um, meus colegas assinaram, as mãos antes firmes agora hesitantes, os movimentos lentos, como se cada traço da pena fosse uma rendição. Quando chegou a minha vez, a pena tremia tanto em minha mão que meu nome saiu como um borrão disforme, uma mancha de tinta preta que parecia um grito silencioso contra o papel áspero. O som da pena arranhando o pergaminho ecoou em meus ouvidos, misturando-se ao pulsar rápido do meu coração.

A porta de carvalho maciço rangeu atrás de nós, um gemido longo e arrastado que parecia sair das entranhas da própria torre, selando nosso destino. A escuridão nos engoliu por inteiro, o ar tornando-se denso, hostil, difícil de respirar, como se estivéssemos submersos em um oceano de desespero. Sussurros começaram a dançar nas sombras, roçando nossos ouvidos como dedos gelados, não palavras, mas fragmentos de medo, dúvidas e arrependimentos que pareciam brotar de nossas próprias mentes, amplificados pelo silêncio opressivo da torre.

As horas se arrastaram como séculos, cada passo ecoando nas paredes úmidas de pedra, o som reverberando como uma ameaça. A torre era um labirinto vivo, um quebra-cabeça impossível projetado para estilhaçar a sanidade. Corredores se estendiam até o infinito, as paredes pulsando com uma textura quase orgânica, como se respirassem. Escadas levavam a lugar nenhum, os degraus rangendo sob o peso, enquanto o eco de nossos próprios passos parecia zombar de nós, voltando distorcido, como vozes de estranhos. A confiança do grupo se desfez, substituída por um medo corrosivo que nos isolava uns dos outros, cada olhar trocado carregado de desconfiança.

Foi então que eu a vi. Em um corredor lateral, banhada por uma luz pálida que não tinha fonte aparente, uma garotinha de cabelos tão amarelos quanto a luz de um sol moribundo caminhava sozinha, o vestido preto esfarrapado roçando contra o chão empoeirado. Ela não parecia ter mais de sete anos, os pés descalços deixando marcas leves na poeira. Uma onda de preocupação, um resquício da pessoa que eu era antes de entrar ali, me dominou, o instinto sobrepujando o medo.

— Espere! — Carla gritou.

Mas ignorei o aviso de Carla, o tom dela estava carregado de urgência, e ainda assim me afastei do grupo, meus passos rápidos ecoando no corredor estreito enquanto seguia a figura solitária. Eu só queria ter certeza de que ela estava bem, que uma criança não estava perdida naquele lugar aterrorizante. Que estupidez. Que ingenuidade fatal.

Aaaaaah!!!! — Um grito.

Não um grito de susto, mas um som agudo, gutural, de pura agonia, que rasgou o silêncio e o meu peito, como uma faca cortando carne. Virei-me e corri de volta, o coração disparado, o ar queimando nos pulmões. Cheguei a tempo de ver Kenji, um dos alunos, ser violentamente içado para o teto. Fios etéreos, quase invisíveis, o envolviam como uma marionete macabra, brilhando com um brilho doentio sob a luz fraca. Seus braços e pernas se debatiam descontroladamente, o rosto contorcido em terror, antes de ficarem imóveis, o corpo pendendo frouxo. E então, ele despencou. O som do seu corpo se espatifando no chão de pedra foi um trovão úmido e nauseante, o sangue se espalhando como uma pintura grotesca, manchando as paredes e o chão com um vermelho escuro que parecia sugar a luz.

Naquele momento, todos os alunos começaram a gritar em pânico.

— Aaaahhhhhhh!

— Não! Não, não, não!

— Não pode ser! Não!

— Que merda é essa? Ele realmente morreu?

Carla gritou tentando acalmar todos, erguendo as mãos. Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, uma lâmina espectral, feita de sombras e malícia, atravessou suas costas com um som úmido. Seus olhos se arregalaram em choque, a confiança se esvaindo junto com a vida, o corpo tremendo enquanto ela caía de joelhos na frente de todos, um murmúrio de incredulidade escapando de seus lábios antes de seu rosto colidir com o chão, o som abafado ecoando como um epitáfio.

O pânico explodiu como uma bomba. A ordem se desfez em caos, os gritos dos outros alunos ecoando pelos corredores enquanto corríamos cegamente, sem direção, empurrando uns aos outros na escuridão. O som de carne sendo rasgada, de ossos se partindo, preenchia o ar, cada grito abruptamente silenciado, como velas apagadas pelo vento. Eu me escondi em um armário mofado, encolhida, o cheiro de mofo e madeira podre invadindo minhas narinas enquanto eu tapava os ouvidos com as mãos trêmulas e fechava os olhos, o coração batendo tão forte que parecia que ia explodir. Mas não adiantava. Eu ouvia tudo. Sentia tudo. O terror de meus amigos se tornou o meu próprio, como se a torre amplificasse cada emoção até o ponto de ruptura.

Quando o silêncio finalmente retornou, era mil vezes mais aterrorizante, um vazio que parecia sugar a própria alma. Tremendo, e com, o coração batendo forte, saí do meu esconderijo, o armário rangendo ao abrir, o som ecoando como um lamento. O corredor estava salpicado de corpos, mutilados, despedaçados, o sangue formando poças viscosas que refletiam a luz pálida. Um pesadelo do qual eu não conseguia acordar. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, misturando-se com a sujeira e o suor, o gosto de bile subindo pela garganta enquanto eu cambaleava para frente, os joelhos fracos.

Eu estava sozinha. A constatação me atingiu com a força de um golpe físico, tirando o ar dos meus pulmões, o peso da solidão esmagando meu peito. Eu era a única sobrevivente, perdida, aterrorizada, quebrada.

Foi então que a vi novamente, surgindo da penumbra no fim do corredor, uma figura pálida como um espectro. Era a mesma menina de cabelos amarelos, a lamparina antiga em sua mão pequena lançando uma chama solitária que tremeluzia, projetando sombras longas e dançantes que pareciam garras se estendendo em minha direção. Seus olhos, antes vazios, agora me encaravam com uma curiosidade antiga, e um leve sorriso brincava em seus lábios, tão sutil que parecia um truque da luz.

No meio daquele pesadelo de sangue e silêncio, a voz da menina soou surpreendentemente calma, quase gentil, como um sussurro que atravessava o caos. — Eu posso te ajudar a sair.

Para Kurokawa, destroçada pelo medo, aquelas palavras foram como um bote salva-vidas em um oceano de desespero. Ela se agarrou àquela voz como um náufrago a um pedaço de madeira, assentindo freneticamente, incapaz de formar uma frase coerente, o corpo tremendo enquanto tentava se levantar, o chão frio sob suas mãos.

— Quem... quem é você? — conseguiu perguntar, a voz rouca pelo choro e pelo terror, enquanto enxugava o rosto com a manga, o tecido áspero roçando contra a pele.

— Caroline — respondeu a menina, a simplicidade de seu nome um contraste bizarro com o caos ao redor, enquanto ela girava a lamparina, a chama dançando e lançando reflexos dourados em seus olhos.

Elas começaram a caminhar, o som dos passos de Kurokawa ecoando alto contra o silêncio, enquanto os de Caroline eram quase inaudíveis, como se ela flutuasse. O ar ainda era pesado, mas a presença de Caroline parecia impor uma ordem estranha ao lugar, os corredores que antes se contorciam agora se desdobrando em um caminho claro. Ela nunca hesitava, nunca parecia perdida, seus movimentos precisos como os de um guia que conhecia cada canto da torre. Por um momento, Kurokawa permitiu-se sentir uma faísca de esperança, o peito se aliviando ligeiramente enquanto seguia a luz trêmula da lamparina.

— Por que... por que isso aconteceu? — perguntou Kurokawa, a voz ainda trêmula, com os olhos fixos nas manchas escuras no chão. O sangue seco parecia pulsar sob a luz fraca.

— Eles fizeram barulho demais — respondeu Caroline, a voz distante, como se estivesse contando a história de outra pessoa, enquanto ajustava a lamparina. O metal rangeu levemente. — Eles queriam comê-los porque eram monstros.

— Monstros? Do que você está falando? Aquelas criaturas é que eram monstros! — Kurokawa falava com o coração vacilando.

— Pessoas como nós são monstros, atraímos criaturas — disse Caroline, com um tom baixo e melancólico, enquanto continuava a andar. A luz da lamparina projetava sombras que pareciam dançar com vida própria.

O coração de Kurokawa acelerou, e um frio novo se espalhou por seu corpo.

— O que você quer dizer com isso? — Kurokawa estava tão assustada que não conseguia raciocinar sobre o que a garota estava dizendo.

— No lugar onde eu nasci, pessoas que nasciam com poderes eram chamadas assim. Por isso, tivemos que sair de lá.

“Espera... ela está se referindo aos 'Shapers'? Será que ela é uma refugiada de Gaia?”, Kurokawa concluiu ao ouvir aquilo.

— Viemos para esta torre... era um hotel na época. O dono nos deixou ficar. Ele foi gentil. Mas de manhã... quando acordei... — a voz dela falhou, e, pela primeira vez, uma emoção crua transpareceu, com os dedos apertando a lamparina com força. — Minha mãe estava morta.

Kurokawa sentiu um arrepio gélido, mas não de medo. Era pena, uma onda de empatia por aquela criança que parecia ter sofrido tanto. Mas então, uma peça não se encaixou. A história do "monstro do hotel", era uma lenda famosa entre os caçadores, contada em sussurros pelos veteranos. Uma lenda com mais de vinte anos. A esperança frágil em seu peito começou a azedar, transformando-se em uma suspeita gelada que fez seus passos diminuírem, o som dos pés arrastando contra o chão ecoando baixo.

Como Caroline, que parecia tão jovem, poderia estar lá, na época em que a torre ainda era um Hotel? Ela olhou para a pequena figura à sua frente, o coração acelerando, o pavor crescendo como uma sombra. Caroline parou em frente a uma porta pesada, o carvalho rachado rangendo sob suas mãos pequenas ao empurrá-la. Algo rolou pelo chão, parando aos pés de Kurokawa com um som úmido. Era a cabeça decepada de Carla, os olhos abertos e vidrados em uma expressão de eterno terror, o sangue seco manchando o chão como uma acusação silenciosa. Da escuridão da sala, um coro de rosnados guturais ecoou, e monstros disformes, feitos de sombras e carne retorcida, avançaram, seus movimentos erráticos como pesadelos ganhando forma.

— Não! — O grito de Kurokawa foi puro instinto, rasgando o ar enquanto o pânico tomava conta. — Socorro… alguém… por favor… — Em um ato de desespero, ela ergueu as mãos, a telecinese explodindo em uma onda de energia que arremessou pedaços de detritos contra as criaturas. Ela implorava por ajuda que sabia que não viria, o corpo tremendo enquanto se preparava para o fim.

Foi então que a entrada do corredor explodiu em movimento, o ar vibrando com o impacto. Com um chute poderoso que mandou um dos monstros voando contra a parede, o som do impacto reverberando como um trovão, um rapaz de cabelos pretos e vermelhos surgiu, a figura recortada contra a luz pálida do corredor.

— Temam, criaturas da escuridão! Pois a sua bandeira de morte acaba de ser ativada! — declarou Dante, fazendo um sinal de rock com os dedos, o gesto cheio de arrogância, acreditando estar parecendo como um herói, enquanto exibia um sorriso demoníaco, os dentes cerrados brilhando sob a luz fraca. — O Protagonista chegou para roubar toda XP!

Atrás dele, outros dois apareceram: Nero caminhava em silêncio, a mão firme no cabo de sua espada, o metal reluzindo com um brilho frio, enquanto Luck seguia com uma calma entediada, os olhos avaliando a cena com precisão. Eles absorveram o cenário em um instante: Kurokawa em choque, a cabeça de Carla no chão, Caroline parada e impassível, e os monstros se reagrupando, seus rosnados ecoando como uma promessa de violência.

— Quem são vocês? — perguntou Caroline, a voz infantil agora desprovida de qualquer emoção, enquanto ela inclinava a cabeça, a lamparina tremeluzindo em suas mãos.

— São mais… Estudantes de Babylon? — respondeu Kurokawa ao mesmo tempo que indagava, a voz um fio trêmulo, enquanto ela recuava, o corpo ainda tremendo.

Dante olhou para a cabeça de Carla, depois para Caroline, e estalou a língua, o som cortante no silêncio. — Hmm. Companheiros mortos, monstros genéricos e uma loli misteriosa... O roteiro está se esforçando, admito. — disse, o tom carregado de sarcasmo, enquanto ele cruzava os braços, o casaco farfalhando com o movimento.

— Cala boca e se concentra! — retrucou Luck, tirando as mãos dos bolsos, os dedos flexionando como se preparasse para algo, o ar ao seu redor vibrando com uma energia sutil.

Sem dizer mais nada, Dante cerrou os punhos, o som dos nós estalando ecoando baixo, e correu na direção dos monstros, os pés batendo contra o chão com uma determinação feroz. — Parem ele! É suicídio! — gritou Kurokawa, incrédula, o coração acelerado enquanto ela observava, as mãos ainda levantadas, prontas para usar sua telecinese novamente.

— Relaxa — disse Nero, com um meio sorriso que não combinava com a gravidade da situação, enquanto ela ajustava a postura, a espada reluzindo com um brilho frio. — Apesar da loucura, ele é forte.

Antes que as garras das criaturas pudessem tocar Dante, seus movimentos tornaram-se subitamente lentos, quase parando no ar, como insetos presos em âmbar, o ar ao redor vibrando com uma energia invisível. O olho direito de Dante brilhou com uma luz vermelha intensa, o brilho pulsando como um farol na escuridão. Aproveitando a chance, ele girou, o corpo movendo-se com uma graça letal, e chutou o monstro mais próximo com força suficiente para amassar sua carcaça disforme contra a parede de metal, o impacto ecoando como um trovão, enquanto rachaduras se espalhavam pela superfície.

Naquele momento, imersos no caos daquela batalha surreal, eles não faziam ideia das verdadeiras sombras que se moviam nos bastidores da torre.

Parte 6

Vinte anos depois.

20 de julho de 20018, 04:30 da Manhã - Torre Dates (Alexandria)

O ar ao redor da Torre Dates era ainda mais pesado, saturado com uma quietude opressiva que parecia sugar o som e a vida do ambiente. A estrutura se erguia contra o céu crepuscular, um monstro de pedra e metal corroído, suas janelas empoeiradas, agora eram incapazes de refletir o brilho alaranjado do sol poente. O vento soprava em rajadas lentas e frias, carregando o cheiro de terra úmida e musgo, enquanto as ervas altas ao redor da base da torre farfalhavam, como se sussurrassem. Três figuras observavam a estrutura de uma distância cautelosa, seus contornos recortados contra o horizonte flamejante, as sombras longas esticando-se pelo chão como dedos espectrais.

Nyan, a mais alta dos três, ajustou o capuz de seu casaco, o tecido áspero roçando contra a pele enquanto ela protegia os olhos do vento cortante. Seus passos eram leves, quase hesitantes, enquanto ele se aproximava da borda do terreno, o solo macio cedendo sob suas botas. — Então, essa é a famigerada Torre do Terror — comentou, a voz carregada de uma mistura de curiosidade e desdém, enquanto ela cruzava os braços, o som do tecido do casaco ecoando baixo no silêncio. Ela inclinou a cabeça, examinando a torre como se tentasse decifrar um enigma, os olhos estreitando-se.

Sora, ao seu lado, movia-se com uma graça silenciosa, seus passos quase inaudíveis contra o chão coberto de ervas. Ela se aproximou de três túmulos. A luz do crepúsculo banhava as inscrições em tons dourados, e Sora se ajoelhou lentamente, o tecido de sua capa roçando contra a grama úmida. Ela estendeu a mão, os dedos pairando sobre as pedras, como se temesse tocá-las, e sussurrou os nomes gravados, a voz suave, quase uma prece, carregada de uma dor que parecia ecoar no próprio ar. — Dante... Nero... Luck.

Cada nome caiu como uma gota de chuva em um lago parado, criando ondulações no silêncio pesado. O vento soprou novamente, como se os espíritos dos nomes gravados respondessem ao chamado. Sora fechou os olhos por um instante, o rosto tenso, as linhas de expressão aprofundadas pela luz fraca, enquanto suas mãos tremiam levemente, traídas por uma emoção contida.

Leon juntou-se a ela, seus passos firmes e decididos, o couro de suas botas rangendo contra o solo enquanto ele parava ao lado dos túmulos. Seus olhos, brilhando com uma determinação feroz, fixaram-se na torre, como se ele pudesse arrancar suas respostas com a força do olhar. Ele apertou os punhos, os nós dos dedos estalando baixo, e sua voz cortou o ar, firme e resoluta. — Acho que está na hora de descobrirmos o que realmente aconteceu aqui.

O peso de suas palavras pareceu fazer a própria torre estremecer, ou talvez fosse apenas o vento, que agora uivava com mais força, carregando o eco distante de algo que não era natural. As sombras ao redor da base da estrutura pareciam se mover, contorcendo-se como se fossem vivas, enquanto o céu escurecia, as nuvens pesadas engolindo os últimos vestígios de luz. Sora se levantou, o movimento lento e deliberado, o tecido de sua capa farfalhando enquanto ela ajustava a postura, os olhos agora fixos na entrada escura da torre, onde a escuridão parecia pulsar, convidativa e ameaçadora.

Nyan deu um passo à frente, o capuz caindo ligeiramente para trás, expondo seu rosto ao vento frio. Ela inclinou a cabeça, o olhar percorrendo as lápides ao redor, cada uma contando uma história silenciosa de fracasso e morte. — Vinte anos... — murmurou, o tom baixo, quase como se temesse que a torre pudesse ouvi-la. Ela enfiou as mãos nos bolsos, o gesto casual contrastando com a tensão em seus ombros, enquanto o ar ao redor parecia vibrar com uma energia invisível, um prenúncio do que os aguardava dentro daquelas paredes amaldiçoadas.

Entrelinhas

00 de algum mês de algum ano, 00:00 da 00000000 - Biblioteca Eterna

De repente, em uma sala de veludo cheia de livros, parecida com uma biblioteca, o ar era saturado com o aroma reconfortante de papel antigo e chá de camomila. As paredes, revestidas de painéis de mogno escuro, absorviam a luz suave, criando um ambiente acolhedor, mas com um toque de mistério, como se a própria sala guardasse segredos entre as páginas dos tomos alinhados nas estantes. Uma garota estava sentada em uma poltrona de veludo vermelho, o tecido macio rangendo levemente enquanto ela ajustava a postura, um livro pesado aberto em seu colo. Ela segurava uma xícara de chá, o vapor subindo em espirais delicadas. Seus movimentos eram calmos, deliberados, como se ela soubesse exatamente o momento em que você apareceria... Sim, especialmente você.

A garota ergueu o olhar do livro, os olhos brilhando com uma inteligência afiada, um sorriso travesso curvando seus lábios enquanto ela colocava a xícara no pires com um clique suave, o som ecoando no silêncio da sala. — Você sente que algumas coisas do capítulo mudaram? É óbvio que isso não aconteceu — disse ela, a voz leve, mas carregada de uma confiança que parecia desafiar as regras da própria realidade. — Olá, pessoal, aqui é a primeira e única Alpha! — Ela se inclinou para frente, o movimento fazendo o tecido do vestido roçar contra a poltrona, enquanto apontava para si mesma com um gesto teatral. — Eu sei, eu sei, alguns devem achar que outra pessoa deveria estar aqui. Fiz algumas brincadeiras só para poder aparecer antes da hora para você. Não está feliz? — O tom dela era provocador, quase conspiratório, como se compartilhasse um segredo apenas com você, enquanto ela piscava, o gesto rápido e cheio de charme.

Ela se recostou na poltrona, cruzando as pernas com um movimento gracioso, o livro ainda aberto em seu colo, as páginas amareladas refletindo a luz das velas. — E aí, o que acharam da história até aqui? Esperavam por esse final para o pessoal na torre? Meio pesado, né? — perguntou, inclinando a cabeça, o movimento fazendo a luz dançar nos contornos de seu rosto. — Será que isso significa que é o fim da linha para o Dante e companhia? — Ela fez uma pausa dramática, tamborilando os dedos na capa do livro, o som rítmico ecoando como um convite para refletir.

Alpha se levantou, o vestido farfalhando enquanto ela caminhava até uma estante, os dedos roçando as lombadas dos livros, como se escolhesse um segredo para revelar. — Bom, neste mundo maluco onde reis demônios, deuses antigos, fantasmas vingativos, naves espaciais e até uma garota muito fofa pode falar assim com você, quem pode realmente dizer o que é possível ou não, certo? — disse, virando-se para você com um sorriso que era ao mesmo tempo acolhedor e enigmático, os olhos brilhando com uma promessa de mais revelações.

Ela voltou à poltrona, pegando a xícara de chá novamente, o vapor subindo e se misturando ao aroma da sala. — Espero vocês no futuro da história, quando minha irmãzinha aparecerá para roubar a cena e quando for a hora de nos reencontrarmos! — continuou, o tom subindo com entusiasmo, enquanto ela apontava um dedo para o ar, como se declarasse um evento inevitável. — E, claro, isso se você tiver estômago para continuar acompanhando depois de tudo isso... hehe. — Ela riu, o som leve e musical, mas com um toque de provocação, enquanto inclinava a xícara para tomar um gole, o movimento lento e deliberado, como se estivesse brindando ao caos que viria.

Alpha fechou o livro com um estalo suave, o som ecoando na sala como um ponto final temporário. — Mas era só isso por hoje, pessoal. Então, Bye Bye! — disse, acenando com a mão, o gesto cheio de energia, enquanto se recostava na poltrona, o sorriso ainda brincando nos lábios.


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